terça-feira, 28 de outubro de 2025

NªTV: Boots

Miles Heizer (em destaque): crescimento árduo. 
 
Baseado no livro The Pink Marine sobre as experiências de seu autor Greg Cooper White como fuzileiro naval, a série Boots se tornou uma das séries mais aguardadas do ano por conta da ideia de contar a história de um jovem gay que ingressa na vida militar. White foi militar nos anos 1970, um período em que ser homossexual nas forças armadas era ilegal. Mantendo sua sexualidade em segredo até os anos 1980, ele chegou a se tornar sargento, mas depois se tornou roteirista de TV e considerou importante incentivar os jovens que se viam em situações parecidas com a dele. Por conta disso escreveu o livro que deu origem à série da Netflix. Obviamente que o material original sofreu alterações em sua transição para outro formato, mas nada que atrapalhe o desenvolvimento da história em torno de Cameron Cope (Miles Heizer) que se alista na marinha ao lado do amigo heterossexual, Ray (Liam Oh) e lá descobre que a situação é bem mais tensa do que imaginava (tanto com relação ao treinamento quando à exposição dos corpos masculinos). A série demonstra como o treinamento é árduo para qualquer um, mas o bullying e a perseguição sofrida por Cameron piora um pouco mais as coisas para ele, especialmente quando ele mesmo percebe que está ali mais para provar algo a si mesmo do que para qualquer outra pessoa. Cameron sofre um bocado, mas pode-se dizer que os outros personagens também tem doses consideráveis de desafios. Entre colapsos nervosos, acidentes e brigas por qualquer motivo, a ideia de uma masculinidade que não alcança o ápice do que se espera dela se torna um verdadeiro fardo para a maioria dos personagens. Neste ponto, as interações entre os personagens em seus dramas pessoais faz com que a trama caminhe bem por boa parte dos oito episódios, embora eu considere que nos três últimos a coisa comece a se tornar um tanto repetitiva e arrastada. É preciso dar os parabéns para Miles Heizer que realiza um ótimo trabalho como o protagonista em amadurecimento diante de um espaço tão opressor. O ator consegue transmitir toda a transformação do personagem personagem e, além disso, vive até uma outra versão de si mesmo (uma que encara o fato de ser gay com muito mais naturalidade, sem as preocupações com os outros) que lhe faz companhia de vez em quando. Quem também merece destaque é Blake Burt (John Bowman) que de início parece o vilão da história até que os episódios começam a descascar sua personalidade através de uma investigação. Pode se dizer que na segunda metade da série, Blake começa a receber mais destaque na trama e toda sua perseguição em torno de Cameron muda de contexto ao olhar do espectador. Bem produzida e com bom elenco, Boots se tornou um acerto da Netflix que soube se destacar para além das eventuais polêmicas sobre sua temática (precisa lembrar que Donald Trump se deu ao trabalho de dizer que odiou a série?). Ambientado nos anos 1990 (período em que houve a política do "Don't Ask, Don't Tell" em torno da sexualidade de militares nos Estados Unidos), Boots termina a primeira temporada com um gancho interessante para a próxima temporada. Resta saber o que a vida sexual de Cameron lhe reserva para a próxima leva de episódios, já que durante os treinos desta aqui ele foi um rapaz bastante comportado. 
 
Boots (EUA - 2025) de Andy Parker com Miles Heizer, Blake Burt, Ana Ayora, Cedrick Cooper, Dominic Goodman, Nicholas Logan, Kieron Moore, Angus O'Brien, Liam Oh, Max Parker e Vera Farmiga. ☻☻ 

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