Cinco filme assistidos no mês que merecem destaque:
domingo, 30 de novembro de 2025
PL►Y: Sonhos de Trem
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| Felicity e Joel: a vida e o tempo. |
sábado, 29 de novembro de 2025
PL►Y: Belén - Uma História de Injustiça
PL►Y: A Melhor Mãe do Mundo
Sou fã do cinema de Anna Muylaert desde que assisti ao curta A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti (1995). Lembro até hoje quando fui ao cinema para assistir seu longa de estreia, Durval Discos (2002) que até hoje está entre os meus filmes brasileiros favoritos em sua guinada que separa o Lado A do Lado B. Muylaert ficou mais conhecida do grande público quando Que Horas Ela Volta? (2015) e tornou um sucesso ao mostrar-se um verdadeiro retrato de um país em mudança. A identificação foi tanta que o longa até foi indicado pelo Brasil à concorrer por uma vaga ao Oscar de Filme Estrangeiro. Alguns filmes depois, o cinema de Anna voltou a ser pauta com A Melhor Mãe do Mundo, que aborda temáticas delicadas com o jeito disfarçadamente inofensivo da cineasta. Quando somos apresentados à Gal (Shirley Cruz), ela está literalmente sem palavras diante da agressão que acaba de sofrer de seu companheiro. O rosto carrega as marcas da violência, mas também o cansaço de quem não aguenta mais e resolveu fazer uma denúncia. No entanto, é visível que Gal não tem um plano diante do que virá a seguir e o turbilhão de emoções que misturam em sua cabeça a fazem apenas repetir as palavras de uma atendente. O que vemos a seguir é apenas uma certeza: do jeito que está, não dá para continuar. Ela então busca seus filhos e parte rumo à sua única certeza: sair dali. Gal é uma catadora de recicláveis e enquanto carrega Benin (Benin Ayo) e Rihanna (Rihanna Barbosa) em seu "veículo" de trabalho, ela tenta garantir algum dinheiro para mantê-los por alguns dias até que consiga ajuda na casa de uma parente. Andando pelas ruas de São Paulo, as dificuldades são muitas e ela tenta fazer com que tudo seja disfarçado de uma aventura. Muylaert opta aqui por uma direção que parece "inexistente", as cenas soam improvisadas e dão impressão de que a câmera está escondida para registrar a vida daquela família que parece real. Se por um lado esta opção confere autenticidade ao filme, por outro, faz com que a maior parte do tempo tenhamos a impressão que a narrativa está um tanto dispersa, pelo menos até a chegada do trio ao local em que Gal terá que tomar uma das maiores decisões de sua vida. Difícil imaginar o filme sem Shirley Cruz no papel de Gal, ela vive uma mãe que guarda para si todas as incertezas daquele momento difícil, mas que ao mesmo tempo, encontra nos filhos uma espécie de espelho para enxergar e ponderar sobre sua realidade e seu amor próprio. As crianças também são um destaque a parte com uma espontaneidade que confere ao filme uma doçura irresistível. O posto de rosto mais famoso da produção vai para Seu Jorge como Leandro, o esposo agressor de Gal - e impressionante como ele confere uma presença ameaçadora desde a primeira cena em que ouvimos sua voz para somente depois vê-lo em cena. A Melhor Mãe do Mundo é mais um filme sensível de Anna Muylaert sobre mulheres fictícias que parecem de verdade, justamente por saber representar pessoas de carne e osso com bastante veracidade.
A Melhor Mãe do Mundo (Brasil/2025) de Anna Muylaert com Shirley Cruz, Rihanna Barbosa, Benin Ayo e Seu Jorge. ☻☻☻
10+: Paul Thomas Anderson
O primeiro filme de Paul Thomas Anderson foi lançado em 1988 e quando despontou no cinema independente nos anos 1990 ficou famosa aquela história de que ele abandonou a faculdade de cinema por não se adequar aos padrões. Desde sua estreia em 1996 ele chamou atenção por conta de seus jeito único de contar histórias. Se muitos consideraram sua estreia fria, nas obras seguintes era visível como buscava um calor cada vez maior na complexidade de seus personagens. Hoje, PTA já acumula onze indicações ao Oscar e nenhuma estatueta. Será que ano que vem ele leva algum? Porém, a qualidade de seu currículo não pode ser medida pelo careca dourado. A seguir seus dez filmes classificados pelo meu favoritismo (e só na hora de criar os links me dei conta de que dois deles não tem resenha por aqui, que feio...):
PL►Y: Uma Batalha Após a Outra
segunda-feira, 24 de novembro de 2025
4EVER: Jimmy Cliff
domingo, 23 de novembro de 2025
4EVER: Udo Kier
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| 14 de outubro de 1944 ✰ 23 de novembro de 2025 |
PL►Y: Depois da Caçada
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| Julia, Ayo e Andrew: camadas complicadas. |
sábado, 22 de novembro de 2025
PL►Y: O Filho de Mil Homens
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| Santoro e Martines: pedaços de uma família. |
segunda-feira, 17 de novembro de 2025
NªTV: O Lendário Martin Scorsese
PL►Y: Emanuelle
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| Merlant: protagonista repaginada para o século XXI. |
O filme Emanuelle (1974) tornou-se um clássico do cinema erótico ao longo do tempo. A história era simples, uma modelo (vivida por Sylvia Kristel) viaja de Paris para Bangcoc, na Tailândia para se encontrar com o marido. Lá ela vive situações tórridas com vários homens e mulheres, assim como o esposo, sem culpas ou maiores problemas já que possuem um relacionamento aberto. A ideia mexeu com as fantasias de muita gente e gerou uma verdadeira franquia do cinema erótico que habitava as madrugadas das emissoras de televisão. A ideia de refazer este clássico já rende publicidade de graça, mas quando você começa a escalar um elenco de prestígio, qualquer um começa a imaginar que é um filme a ser levado a sério. A responsabilidade de viver a protagonista ficou a cargo de Noémie Merlant, uma atriz competente que ficou conhecida por seu trabalho em Retrato de uma Jovem em Chamas (2019) e por não ter medo de aparecer em cenas provocativas. Colocaram ao lado dela uma das melhores atrizes de Holywood, Naomi Watts, em um papel de destaque e escalaram dois jovens atores interessantes, Will Sharpe (da segunda temporada de White Lotus) e Jamie Campbell Bower (o Vecna de Stranger Things). Se o elenco é interessante, o mesmo não se pode dizer do roteiro. A diretora Audrey Diwan (do premiado O Acontecimento/2021) admite não ter visto o original, mas conhecer detalhes que o torna uma obra bastante complicada quando observada nos dias de hoje. Baseado em um romance homônimo de 1967, a nova versão opta por um caminho completamente diferente, que ainda que possua cenas de sexo (que considerei bastante discretas) tem maior interesse em explorar a complicada relação de sua protagonista com o prazer. Ela se envolve com um estranho em um avião, aceita o convite de ir para cama com um casal, se envolve amorosamente com uma jovem e flerta com homens que parecem estabelecer um jogo de sedução que nunca chega às vias de fato. Dirigir tramas voltadas para a sexualidade é sempre complicado, se for muito despudorado corre o risco de ser vulgar, se for muito cerebral se torna frio e Diwan parece estar mais a vontade com a segunda opção. A Emanuelle da nova versão é enviada a trabalho para Hong Kong para avaliar um hotel de luxo. Ela aproveita a oportunidade para vivenciar algumas aventuras sexuais, mas entre as obrigações e a busca pelo prazer alguma coisa ficou faltando pelo meio do caminho para se tornar envolvente. É interessante ver a protagonista conversando com bastante franqueza sobre suas relações sexuais, assim como vê-la retratada como uma mulher independente e bem resolvida, mas fico imaginando que o filme receberia alguma atenção, seja do elenco, produtores ou público se não evocasse o nome de uma personagem tão famosa no gênero. Não que eu considere o filme original (o qual nunca assisti) uma obra-prima, mas acho difícil que cinquenta anos depois alguém ainda lembre deste aqui.
Emanuelle (França/EUA - 2024) de Audrey Diwan com Noémie Merlant, Naomi Watts, Will Sharpe, Jamie Campbell Bower, Chacha Huang, Adam Pak e Hugh Tran. ☻
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Pódio: Wagner Moura
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| Bronze: o bombeiro distante. |
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| Prata: o homem perseguido. |
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| Ouro: o icônico capitão. |
Na Tela: O Agente Secreto
Marcelo (Wagner Moura) viaja por horas nas estradas empoeiradas de Pernambuco em 1977. Ele para num posto de gasolina e se depara com um corpo que já faz dois dias que está ao relento. O atendente diz que no período de carnaval ninguém virá buscar o corpo. Eis que surge uma viatura e os dois policiais estão mais preocupados com Marcelo do que com o corpo que está no chão faz alguns dias. Some isso aos jornais que noticiam a contagem de mortos naquele carnaval e não fica difícil perceber que a vida vale pouco no período em que se passa O Agente Secreto. A partir de certo ponto, teremos clareza dos motivos que levam Marcelo a procurar a casa de Dona Sebastiana (a maravilhosa Tânia Mara) que abriga pessoas com diferentes histórias mas com algo em comum. Aos poucos conhecemos um pouco mais de Marcelo e de sua história e um tanto da realidade, com direito até a alguns elementos do que antes se chamaria de realismo fantástico - um gato de duas cabeças (uma analogia às identidades duplas dos moradores da casa?), as histórias folclóricas de uma certa perna cabeluda (evocação de um moralismo latente no calor dos trópicos?) que se choca com uma dura realidade, como a perna humana encontrada dentro da barriga de um tubarão. Falando em Tubarão, fala-se muito do filme de Spielberg durante a narrativa, especialmente por conta do filho de Marcelo, Fernando (Enzo Nunes), que sonha em ver o filme que lhe tiraria o sono. O filme de Spielberg é apenas uma das referências pop que Kleber Mendonça Filho utiliza para emoldurar o período da trama, das fotos de artistas contemporâneos na abertura, passando pela trilha sonora, pôsteres e reações de um cinema lotado ao ver A Profecia, o filme faz da cena cultural da época um elemento importante da reconstituição impecável que auxilia o espectador a mergulhar naquela atmosfera que oscila entre o acolhedor e o ameaçador. Kleber deixa claro como as pesquisas para seu longa anterior, Retratos Fantasmas (2023) ajudou a construir a ambientação e a história do filme que, assim como Ainda Estou Aqui (2024), olha para um outro lado da repressão vivenciada nos anos 1970, afinal, o motivo que coloca Marcelo entre pessoas procuradas não é ter cometido um crime, mas algo muito mais pessoal e mesquinho, o que esbarra com o submundo de uma realidade que já era em si assustadora. Assim como no filme de Walter Salles, protagonista aqui não tem grandes momentos de explosão emocional, Wagner Moura constrói um protagonista contido, desde o início preocupado com os acontecimentos que deverão leva-lo ao inevitável desfecho. Este caráter do personagem tão bem construído pelo ator lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes e o coloca na lista de apostas para o Oscar do ano que vem (lembrando que o filme foi indicado pelo Brasil para disputar uma vaga na categoria de filme internacional). O filme tem fortes chances, impulsionado também pelos prêmios de direção e da imprensa recebidos em Cannes, de fato, este é o filme mais bem estruturado e com mais camadas a serem exploradas na obra de Kleber. A diversidade do elenco em sintonia perfeita e a trama, que ainda destaca o papel das universidades e suas pesquisas (isso mesmo), se torna bastante envolvente na construção deste thriller político. Não posso deixar de falar do final, um tanto controverso e anticlímax mas bastante condizente com um filme sobre as fricções entre histórias e memórias, particularmente fiquei emocionado em ver que o último ato é dedicado ao menino Fernando crescido (que insere outro tema importante ao filme: a identidade). O Agente Secreto pode até não trazer o segundo Oscar para o Brasil, mas tem grande habilidade em nos envolver em uma viagem no tempo e pelo Brasil em suas contradições.
O Agente Secreto ( Brasil - 2025) de Kleber Mendonça Filho com Wagner Moura, Tânia Mara, Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes, Gabriel Leone, Alice Carvalho, João Vitor Silva, Thomas Aquino, Marcelo Valle, Carlos Francisco, Luciano Chirolli, Roney Villela e Udo Kier. ☻☻☻☻
domingo, 9 de novembro de 2025
PL►Y: Frankenstein
| Elordi: rapaz esforçado na pele da criatura. |
Alguns diretores parecem ter nascido para alguns projetos. Senti isso no ano passado com Nosferatu de Robert Eggers e agora em 2025 a coisa se repete com Guillermo Del Toro com a nova versão de Frankenstein feita para a Netflix. Vi uma entrevista recente em que o diretor relatou que ao ver o filme clássico de 1931 dirigido por James Whale (cineasta retratado magnificamente em Deuses e Monstros/1998) e estrelado por Boris Karloff e, ainda jovenzinho, decidiu que dirigiria aquela história. O tempo passou, os sucessos vieram, os prêmios também e Del Toro finalmente conseguiu realizar seu sonho. Embora o personagem tenha aparecido em releituras recentes (Frankenstein Entre Anjos e Demônios/2014 e Victor Frankenstein/2015) parece que a última versão do clássico de Mary Shelley que foi levado a sério foi aquele de 1994 estrelado por Robert De Niro e dirigido por Kenneth Branagh. Branagh que estava em alta por suas versões shakesperianas caprichou no visual do filme e da criatura (indicado ao Oscar de maquiagem), mas o filme estava longe de ser inesquecível. Já o que vemos nas mãos de Del Toro é uma concepção mais preocupada com a psiquê do criador e da criatura, com destaque para diversos momentos em que nos perguntamos quem é o monstro da história. Victor Frankenstein (Oscar Isaac) é apresentado como um cientista egocêntrico, tão genial quanto traumatizado pela morte da mãe. Sua revolta é o que lhe motiva a driblar a morte e gerar seu experimento mais ambicioso: devolver a vida a um corpo morto. A tarefa não é fácil e digna de descrédito entre a comunidade científica do século XIX. No entanto, a partir da criação de um experimento composto de partes "reaproveitáveis" de diversos corpos, Victor terá sucesso em seu experimento ao trazer à vida sua criatura (vivida com empenho por Jacob Elordi), mas visivelmente não sabe o que fazer com ela para além de usa-la para alimentar seu ego. Conforme a criatura demonstra ter suas próprias vontades e anseios, Victor a considera fora de controle e é capaz de tomar decisões drásticas por conta disso. Embora o filme invista bastante tempo na dinâmica entre os dois personagens, ainda consegue espaço para destacar outros personagens, como o irmão de Victor, William (Felix Kammerer) e sua noiva, Elizabeth (Mia Goth), além do tio Harlander (Christoph Waltz) capaz de bancar as sandices de Victor. Em duas horas e meia, Del Toro capricha na ambientação de cada cena e deixa claro seu carinho por uma das criaturas mais famosas do cinema e da literatura. Elordi faz um belo trabalho em cena e compensa a maquiagem estranha que o faz parecer como um dos engenheiros de Prometheus (2012), sorte que conforme o filme avança a imagem da criatura parece ganhar uma identidade estética diferente, ainda que pareça mais sombria, ela funciona muito bem no contraste de alguém consciente dos seus desejos perante um mundo que não o compreende. Considerei que em alguns momentos o filme peca pelo exagero (a tentação de transformar a criatura em um super-herói, os figurinos de Elizabeth...), mas não chega a comprometer o resultado final. Não é por acaso que o desfecho é o mais esperançoso (e bonito) que o personagem já recebeu no cinema. Não sei se as premiações irão se encantar com o resultado, mas considero que Del Toro ficou bastante feliz com o resultado (assim como seus fãs).
Frankenstein (EUA - México / 2025) de Guillermo Del Toro com Oscar Isaac, Jacob Elordi, Mia Goth, Christoph Waltz, Felix Kammerer, Lars Mikkelsen, David Bradley, Nikolaj Lie Kass e Ralph Ineson. ☻☻☻☻
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
PL►Y: Balada de Um Jogador
Pode se dizer que o alemão Edward Berger é um dos diretores que recebeu mais destaque dos últimos anos. Embora dirija filmes desde os anos 1990, foi somente em 2022 que foi descoberto por Hollywood com a nova versão de Nada de novo no Front (2022), que foi indicado a nove categorias no Oscar e levou quatro estatuetas para casa (filme internacional, trilha sonora, fotografia e design de produção). Neste ano, outro filme dirigido por ele caiu nas graças do Oscar: Conclave. O longa foi indicado em oito categorias e levou para casa o de roteiro adaptado. Após dois triunfos era de se esperar que o novo filme do diretor já fosse apontado a estar na lista de favoritos da Academia na próxima premiação e, com isso, o olho da Netflix cresceu em torno do projeto. No entanto, Balada de Um Jogador pegou muita gente de surpresa ao ser um projeto bem diferente dos anteriores. A começar pelo seu tom quase cômico (ou seria apenas, jocoso?). O filme gira em torno de Lorde Doyle (Colin Farreell), um apostador de alto risco que passa um tempo em Macau, na China. Hospedado em hotéis e apostando o que tem e o que não tem nas jogatinas, Doyle se aproxima de uma funcionária Dao Ming (Fala Chen) e de outros jogadores excêntricos enquanto desconfia que é perseguido por uma mulher desconhecida (Tilda Swinton). Se nos jogos ele considera ter sorte, por outro lado, o período de pagar por todas as contravenções que fez na vida parece ter chegado. Doyle vai descer até o purgatório, mas ainda terá sorte suficiente para retornar de lá? Embora eu considere o roteiro um tanto truncado em suas intenções, Colin Farrell consegue manter nossa atenção ao longo da narrativa, sua performance somada ao visual do filme torna a produção em um passatempo interessante, mas sem fôlego para ser levado a sério nas premiações. Considero a estética do filme bastante instigante em sua mistura de luzes e ambientações degradantes, além disso considerei o trabalho de figurino um verdadeiro achado ao destacar a identidade de seus personagens ao longo da narrativa. Para quem estranhou esta curva na cinematografia de Berger, vale a pena procurar outro projeto do diretor que foi lançado pouco antes das premiações caírem de amor por ele, a minissérie Patrick Melrose (2018) estrelada por Benedict Cumberbatch. Acredito que é possível estabelecer várias associações entre este filme o programa, o que torna bastante compreensível o interesse do diretor pelo roteiro de Rowan Joffe baseado no livro de Lawrence Osborne e seu personagem desajustado.
Balada de Um Jogador (Ballad of a Small Player / Reino Unido - Alemanha / 2025) de Edward Berger com Colin Farrell, Fala Chen, Tilda Swinton, Jason Tobin, Margaret Cheung, Jason Tobin, Alan K. Chang e Alex Jennings. ☻☻☻
PL►Y: Faça Ela Voltar
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| Wren e Hawkins: totalmente perturbador. |
O luto deve ser um dos sentimentos mais devastadores da raça humana, talvez por isso o terror invista tanto na temática. Além de provocar uma identificação quase imediata na plateia, o tema ainda serve para transitar naquela linha tênue entre a vida e a morte que é sempre associada ao gênero. Os irmãos australianos Danny e Michael Phillipou já haviam transitado pela temática no filme de estreia, o ótimo Fale Comigo que se tornou uma das grandes surpresas de 2023. Os manos que ganharam fama na terra natal por conta de vídeos para o Youtube, deixam claro mais uma vez que entendem do riscado, especialmente quando precisam construir uma narrativa assustadora. Não, não se trata daquele filme com jumpscare ou trilha sonora grotesca, a intenção dos diretores é tornar a história insuportável aos poucos até que todas as emoções e intenções se misturem e deixe o espectador simplesmente transtornado com o que vê na tela. O filme começa com alguns registros em vídeo que são arrepiantes por si só, mas eles servem apenas para introduzir o horror a que os personagens que conheceremos a seguir serão submetidos. Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) acabam de perder o pai. Os dois são menores de idade e, embora Billy esteja prestes a completar dezoito anos e consiga a guarda da irmã, ele ainda precisa esperar três meses sob a guarda de alguém considerado apto para a tarefa. O alguém considerado apto, ou melhor, apta é Laura (Sally Hawkins). No entanto, basta ver as primeiras cenas para perceber que existe algo fora do eixo naquela mulher e naquela casa. A começar por sua alternância simpatia e total rejeição à presença de Andy. A coisa piora quando eles conhecem o menino Oliver (Jonah Wren Phillips), que não fala e tem um comportamento estranho desde que a filha filha cega de Laura faleceu. Piper também é cega e isso faz com que algumas coisas que aconteçam ali não sejam vistas e ela continue imersa no desejo de que aquela casa seja acolhedora. Os Phillipou constroem um filme que se torna bastante opressor e por mais que o espectador já saiba o que irá acontecer, eles costumam reforçar a todo instante as sinistrices que se escondem por ali. Talvez por ter este caráter repetitivo o filme se torne um tanto cansativo, mas nada que impeça que o elenco mantenha a tensão a cada segundo perante a câmera. Vale registrar que Sally Hawkins apresenta aqui mais uma grande atuação, sendo bastante diferente da que estamos acostumados a ver em sua carreira. Por outro lado, o trio de adolescentes é realmente surpreendente. Sora Wong imprime grande vulnerabilidade à sua personagem, mas se torna realmente tocante pelo seu desejo de que tudo se ajeite da melhor forma possível após tantos problemas. O pequeno Jonah Wren também arrasa ao viver o personagem mais estranho do filme - levando em conta que ele tem doze anos e este é seu quarto trabalho como ator, o que ele faz aqui se torna ainda mais assustador e prodigioso. No entanto, a estrela da vez vai para Billy Barratt que está perfeito como o garoto que já sofreu nas mãos do pai e que precisa lutar contra seus próprios fantasmas para conseguir seguir em frente. Faça Ela Voltar é um terror que se alimenta do luto, de loucura e de um tanto de... amor (?!) e, talvez por isso mesmo, seja tão perturbador.
Faça Ela Voltar (Bring Her Back / Austrália - 2025) de Danny e Michael Phillipou com Sally Hawkins, Billy Barratt, Sora Wong, Jonah Wren Phillips, Stephen Phillips e Sally Anne-Upton. ☻☻☻
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
PL►Y: Casa de Dinamite
A Netflix costuma guardar seus trunfos para temporada de prêmios para o final do ano, tudo por conta do cobiçado Oscar de melhor filme que ela deseja há tempos (e foi lesado quando O Ataque dos Cães/2021 de Jane Campion foi derrotado por CODA). Em 2025 a gigante do streaming caprichou, guardando produções de cineastas que são queridos da Academia como Guillermo Del Toro (que lança seu Frankenstein amanhã), Edward Berger (em breve comento Balada de Um Jogador), Noah Baumbach (do inédito Jay Kelly) e este assinado por Kathryn Bigelow. Vale lembrar que Kathryn fez história ao se tornar a primeira mulher ao receber o Oscar de melhor direção com Guerra ao Terror/2009 e chegou muito perto de outra indicação com A Hora Mais Escura/2012. Faz um tempo que a cineasta não cai no radar da Academia, mas suas ambições só foram ampliadas com o tempo, tanto que ela apostava em Casa de Dinamite como seu grande retorno às premiações. O filme se passa em um dia aparentemente tranquilo em que o governo dos Estados Unidos percebe que um míssil nuclear foi lançado do Oceano Pacífico com a intenção de atingir o território do país. Quem lançou o míssil? Que local será atingido? Diante das incertezas, a narrativa acompanha um grupo de funcionários governamentais que tentam cumprir medidas para evitar que o pior aconteça. A trama se passa em tempo real e acompanha o andamento dos protocolos necessários a este tipo de situação, destacando as atitudes de diversos funcionários até a postura a ser adotada pelo presidente (vivido aqui por Idris Elba). No entanto, orquestrar tensão com base em diálogos e protocolos técnicos não são garantia de uma trama eletrizante que prenda a atenção. Quem curte políticas governamentais de defesa vai curtir, mas o resto da população mundial não deve ver muitos atrativos no filme que possui mais de uma dezena de personagens mas que não conseguem despertar qualquer empatia da plateia, talvez porque são construídos da forma mais óbvia possível com suas famílias correndo perigo e vendo o fim próximo. É a premissa que já vimos em qualquer filme catástrofe até aqui, mas a diferença é que não existem efeitos especiais mirabolantes ou cenas de ação, só especulações sobre o que irá acontecer e o que deve ser feito. Sei que os envolvidos devem ter realizado uma pesquisa árdua para dar veracidade ao material que vemos por aqui, mas faltou tornar isso envolvente.
Casa de Dinamite (A House of Dynamite / EUA -2025) de Kathryn Bigelow com Rebecca Ferguson, Idris Elba, Jared Harris, Gabriel Basso, Tracy Letts, Greta Lee, Anthony Ramos, Jason Clarke e Kaitlyn Dever. ☻



























