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| Jude e Vanessa: ódio de vizinhos. |
Décadas depois da Primeira Guerra Mundial, a Europa ainda era um território bastante pessimista. Se você lembrar que os sentimentos envolvidos neste período entre guerras foram os mesmos que alimentaram a ascensão dos regimes fascistas por lá, você já imagina que a atmosfera não era das mais agradáveis. Decepcionado com os rumos da humanidade, o doutor Friedrich Ritter (vivido aqui por Jude Law) resolveu viver isolado na civilização ao lado da esposa, Dore Strauch (Vanessa Kirby) na ilha Floreana em Galápagos. Longe da sociedade, ele imaginou que poderia viver em paz e elaborar melhor seus ensaios filosóficos sobre a humanidade e a civilização. No entanto, ele não imaginava que nos anos 1930 sua experiência o transformaria em uma espécie de lenda que despertava curiosidade e uma certa admiração de quem presenciava o nascimento de um dos momentos mais obscuros da História. Foi buscando um pouco de paz que o casal Heinz (Daniel Brühl) e Margret (Sidney Sweeney) chegam com o filho em Floreana. Porém a presença de vizinhos não estava nos planos de Ritter e ele começa a fazer de tudo para estragar a experiência dos recém chegados. Se os dois vieram em busca de sossego, a coisa piora bastante com a chegada de uma excêntrica baronesa, Eloise (Ana de Armas) que junto aos seus amantes chega com o intuito de estudar o local para a abertura de um hotel, o Hacienda Paradiso. Com o objetivo de empreender e levar turistas para aquele local, os conflitos se tornam inevitáveis e o que se vê é a reprodução naquele microcosmo de todas as disputas, mesquinharias e trapaças que vemos em uma sociedade mais ampla. As intrigas crescem para roubos e assassinatos, o que vai contra tudo o que os personagens buscavam e, sobretudo, o que Ritter pregava em seus ensaios publicados fora daquela ilha. Ninguém mistura um elenco destes por acaso e, o maior trunfo de Eden é o calibre das atuações. A história (baseada em fatos reais) demora para engrenar com aquela tradicional direção corretinha de Ron Howard, deixando para os atores manterem o interesse do espectador sobre o que irá acontecer. Se Jude Law exagera, pelo menos se despe (literalmente) de qualquer vaidade para compor um personagem que já perdeu a noção do que é conviver com outras pessoas, Vanessa Kirby repete a austeridade que já vimos em outros trabalhos dela, Ana de Armas convence como uma mulher ambiciosa e perigosa, Daniel Brühl mais uma vez é o bom moço (que não tem muito o que fazer em cena) e o destaque fica por conta de Sydney Sweeney que aos poucos percebe que o marido a levou para um verdadeiro inferno. As paisagens paradisíacas contrastam com as relações ásperas entre os personagens e ajudam a distrair um pouco a cabeça quando toda a pretensão resulta num filme que se estica mais do que deveria. Fico pensando o que um diretor do naipe de Lars Von Trier ou Michael Haneke faria com um material desse nas mãos, com certeza o resultado seria bem mais explosivo e perturbador.
Eden (EUA - 2024) de Ron Howard com Jude Law, Vanessa Kirby, Ana de Armas, Sydeney Sweeney, Daniel Brühl, Felix Kammerer, Toby Wallace, Jonathan Tittel, Ignacio Gasparini, Richard Roxburgh e Nicholas Denton. ☻☻☻

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