Cinco produções assistidas que merecem destaque:
quinta-feira, 31 de julho de 2025
PL►Y: Gradiador II
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Paul Mescal: musculatura para sustentar um roteiro ruim. |
Reza a lenda que desde o sucesso de Gladiador (2000) especularam sobre uma sequência do sucesso protagonizado por Russell Crowe. Obviamente que Crowe estaria fora da produção, já que todo mundo sabe como ele termina ao final daquele filme. Muitas versões ao longo do tempo depois, finalmente tomaram coragem para realizar a famigerada sequência. Toparam a empreitada com Ridley Scott na direção novamente, Connie Nielsen no seu papel de Lucilia e agregaram nomes em alta para gerar ainda mais interesse na produção. O filme estreou no ano passado, mas todo mundo sabia que repetir todos os feitos do primeiro seria complicado. Apesar de toda pompa de superprodução, o primeiro Gladiador era um filme fora da caixinha, não se fazia épicos há tempos em Hollywood e ninguém imaginava se o filme teria apelo perante o público. Russell Crowe ainda era candidato ao posto de astro na época e a produção enfrentou tantos problemas que se não fosse um nome tão experiente como Ridley Scott à frente da produção, provavelmente, o filme teria se tornado um fiasco. Para se ter ideia, ficaram famosos os relatos de que o roteiro era alterado todos os dias, muitas vezes chegando ao elenco minutos antes de ser gravado. No fim das contas, o tom épico misturado ao trágico da jornada de Maximus foi abraçada pelo público que lhe rendeu 460,5 milhões nas bilheterias (nada mal para um orçamento de 103 milhões). No Oscar foi indicado em doze categorias e levou cinco para casa: filme, ator (Russell Crowe), figurinos, som e efeitos visuais. Se tornou um daqueles casos em que o Oscar reencontra um sucesso de bilheteria. Obviamente que a continuação todo este sucesso, mas o roteiro... não ajuda. Que texto mal escrito. O filme já começa com batalhas épicas intermináveis (o que considero um tanto tedioso, já que não faço ideia quem são aqueles personagens e porque estão lutando, sendo assim, não sei para quem ou para o que torcer diante do que vejo na tela) para depois descobrirmos que a narrativa será sobre Lucius (Paul Mescal), o filho de Lucilla (Connie Nielsen) que com a morte de Maximus (Joaquin Phoenix) se tornou herdeiro de Roma e suspeita-se de uma conspiração para assassiná-lo. Por conta disso ele foi mandado para longe, mas o destino se incumbiu de afastar o menino de vez e fazê-lo comer o pão que Plutão amassou. Ele se torna soldado, escravo e depois um dos gladiadores de Macrinus (Denzel Washington), que elevou o massacre nas arenas a outro nível para o "entretenimento" das plateias. Scott já deixou claro em produções anteriores que não está preocupado com fidelidade histórica (basta ver o que ele fez anteriormente com Napoleão/2023), mas se no filme de 2000 ele apresentava seriedade suficiente para não deixar tudo cair no ridículo, aqui ele perdeu as estribeiras e investe em tudo: de babuínos sanguinários aos tubarões em uma arena aquática, GladiadorII é surreal. Com tudo isso você até esquece como seria interessante a ideia das pendengas familiares de Lucius serem resolvidas na arena, mas essas questões acabam ficando em segundo plano perante o sangue jorrando em cenas ainda mais violentas que do primeiro longa. Diante de tudo isso dá até pena de Paul Mescal em cena, acostumado a viver personagens mais introspectivos (como na série Normal People/2020 ou na sua indicação ao Oscar por Aftersun/2022), aqui ele precisou crescer a musculatura para ter que lidar com diálogos pré-fabricados de um personagem com uma nota só. Pedro Pascal também não tem muita ajuda para construir o seu apaixonado General Acacius, que se meteu em uma treta familiar complicada misturada com os desmandos dos irmãos imperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger). Quem faz milagre é Denzel Washington em um papel pequeno que lhe valeu até indicação ao Globo de Ouro de ator coadjuvante, ao menos os figurinos foram lembrados no Oscar deste ano. Longe de ser destinado a virar clássico como o filme de 2000, talvez Gladiador II não queira ser mais do que um épico delirante.
Gladiador II (Gladiator II / EUA - Reino Unido - 2024) de Ridley Scott com Paul Mescal, Pedro Pascal, Connie Nielsen, Denzel Washington, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Derek Jacobi e Matt Lucas. ☻☻
Prêmio Grande Othelo 2025
Melhor filme
"Ainda estou aqui"
Melhor longa de documentário
"3 obás de Xangô"
Melhor longa de animação
"Arca de Noé"
Melhor longa infantil
"Chico Bento e a goiabeira maraviósa"
Melhor longa ibero-americano
"Grande Tour" (Portugal)
Melhor direção
Walter Salles, "Ainda estou aqui"
Melhor primeira direção de longa
Pedro Freire, "Malu"
Melhor atriz
Fernanda Torres, "Ainda estou aqui"
Melhor ator
Selton Mello, "Ainda estou aqui"
Melhor atriz coadjuvante
Juliana Carneiro da Cunha, "Malu"
Melhor ator coadjuvante
Ricardo Teodoro, "Baby"
Melhor direção de fotografia
Adrian Teijido, "Ainda estou aqui"
Melhor roteiro original
Pedro Freire, "Malu"
Melhor roteiro adaptado
Murilo Hauser e Heitor Lorega", "Ainda estou aqui"
Melhor direção de arte
Carlos Conti, "Ainda estou aqui"
Melhor figurino
Claudia Kopke, "Ainda estou aqui"
Melhor maquiagem
Marisa Amenta, "Ainda estou aqui"
Melhor montagem
Affonso Gonçalves, "Ainda estou aqui"
Melhor efeito visual
Claudio Peralta, "Ainda estou aqui
Melhor som
"Ainda estou aqui"
Melhor trilha sonora
"Ainda estou aqui"
Melhor série brasileira de ficção
"Senna"
Melhor série brasileira de documentário
"Falas negras"
Melhor série de animação
"Irmão do Jorel"
Melhor atriz de série
Adriana Esteves, "Os outros"
Melhor ator de série
Gabriel Leone, "Senna"
Melhor curta
"Helena de Guaratiba"
Melhor curta de documentário
"Você"
Melhor curta de animação
"A menina e o pote"
domingo, 27 de julho de 2025
CATÁLOGO: Meu Querido Companheiro
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David e seus amigos: o fantasma da AIDS nos anos 1980. |
Meu Querido Companheiro de Norman René entrou para a história do cinema como o primeiro filme de Hollywood a tratar a propagação da AIDS. Lançado em 1989, o filme trazia para as telonas um tema bastante atual, além de difícil e bastante espinhoso de ser trabalhado. Assistido nos dias atuais, percebe-se que apesar do ritmo arrastado e do tom novelesco, o filme até que envelheceu bem na forma como lida com o tema. O maior trunfo do filme é driblar os estigmas que ainda eram bastante presentes na época, chegando até mesmo a citá-los mas de forma que ainda hoje conseguimos ver como uma crítica ao olhar limitado que o período possuía com relação à doença e sua proliferação entre homossexuais. A narrativa inicia em 1981, quando começam as primeiras notícias em torno da estranha doença que afeta o sistema imunológico de suas vítimas. No centro da trama está um grupo de amigos gays que precisará lidar com aquela ameaça desconhecida, com as perdas que se seguirão no grupo e os preconceitos gerados por ela. O roteiro de Craig Lucas estrutura a história com passagens de tempo que atravessam a década de 1980, revelando os rumos que as vidas dos amigos com o HIV pairando sobre eles. O mais interessante é que o roteiro consegue construir identidades para seus personagens para além do fato de serem homossexuais (algo que até hoje é uma dificuldade em produções de estúdio), eles possuem suas vidas estruturadas, profissões, relacionamentos que perduram, terminam e recomeçam. Além disso, consegue retratar o temor de perceber que um amigo está emagrecendo demais ou a ameaça de uma mancha que aparece na pele, além de marcas bastante comuns sobre o período em que sabiam pouca coisa sobre a doença, o que tornava o uso de objetos um cumprimentos algo visto como "perigoso" entre membros da comunidade, afinal, ainda era um mistério a forma omo a doença era transmitida. Obviamente que por ser feito nos anos 1980, a maioria do elenco é formada por atores héteros, rendendo até uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante para Bruce Davison na pele de David, que terá que lidar com a doença de seu parceiro. O longa também recebeu o prêmio do Júri no Festival de Sundance e ainda é visto como uma das obras mais importantes de seu período de lançamento. A temática do filme já foi explorada outras vezes, seja na estupenda minissérie Angels in America (2003) ou em filmes como E a Vida Continua (1993) e The Normal Heart (2014). Uma curiosidade é que o filme independente Buddies (1985) recebeu menos projeção em sua época de lançamento, mas oferece uma visão bem mais sombria sobre o período do que a oferecida em Meu Querido Companheiro, que peca um pouco pela forma um tanto formal com que lida com o drama dos personagens.
Meu Querido Companheiro (Longtime Companion / EUA - 1989) de Norman René com Bruce Davison, Campbell Scott, Dermot Mulroney, Mary Louise Parker, Patrick Cassidy, John Dossett e Michael Schoeffling. ☻☻☻
PL►Y: Não Fale o Mal
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McAvoy: aquele dia de imitar a cena de Jack Nicholson em O Iluminado. |
Sou daquelas pessoas que nunca entendem muito bem os motivos de Hollywood fazer um remake de um filme estrangeiro recente. Eu sei, argumentam que é mais seguro investir em uma trama que já provou funcionar na telona, também já ouvi aquele argumento de que os sobrinhos do Tio Sam odeiam legendas e, por conta disso, consideram um acerto maior ainda fazer a versão em inglês de um filme gringo. No entanto a refilmagem do dinamarquês Speak no Evil (2022) evidencia uma motivação até então pouco discutida em um remake made in USA: alterar o final. O longa europeu de Christian Tafdrup se consagrou em festivais e premiações por ser um dos suspenses mais perturbadores dos últimos anos, especialmente por conta do seu final aterrador e impregnado de simbologias. O final é tão angustiante que muita gente teve pesadelos com aquele desfecho por meses. Tafdrup dirigiu apenas três filmes em sua carreira (estreou com Pais/2016 e depois lançou Uma Mulher Terrível/2017 antes de ganhar reconhecimento mundial com a história do casal que vai visitar um outro casal recém conhecido e acaba se envolvendo em uma trama sinistra ao lado da filha. Ao longo de sua carreira, Tafdrup já deixou claro seu gosto pela provocação e o pulso firme na hora de construir desconforto na plateia. Já a versão americana caminha para o lado oposto. Saem todas as camadas presentes nas entrelinhas e escancara-se o que o filme preferia manter em segredo até que o espectador se percebesse tão sem saída quanto a família de visitantes. O diretor e roteirista James Watkins tem bem menos destreza do que Tafdrup na condução da trama, o que faz com que o longa perca não apenas a sutileza, mas também a atmosfera de tensão que era construída milimetricamente ao longo da narrativa, porém, o maior problema está no horrendo desfecho cheio de perseguições, sanguinolência e histeria. O remake reserva ainda algumas surpresas para os espectadores do original, algumas delas desnecessárias e até mesmo confusas para não soarem politicamente incorretas. Muito do interesse se deve aqui ao elenco, capitaneado pelo sempre eficiente James McAvoy, que vive o truculento Paddy, casado com Ciara (Aisling Franciosi) e pai de Ant (Dan Rough). O trio está em uma viagem pela Itália quando conhecem Ben (Scoot McNairy) e Louise (Mackenzie Davis), pais de Agnes (Alix West Lefler). As famílias se aproximam e gera um convite para uma visita posterior à casa de campo de Paddy. Porém, durante a tal visita, a convivência revela que a família anfitriã é bem menos agradável do que imaginavam e, mais do que isso, que guardam segredos arrepiantes. O remake mantêm várias cenas clássicas do filme original, mas que geram um impacto menor do que o esperado pelo tom exagerado impresso pela direção. O Speak no Evil original funcionava justamente por ser enxuto e manter aquele tom de mistério até mesmo após o desfecho. Do jeito que está, parece que a nova versão foi feita para reparar os danos psicológicos deixados pelo filme de 2022. Há quem goste, mas eu ainda prefiro todo o desconforto elaborado por Tafdrup que pode ser conferido em sua versão original no streaming da Reserva Imovision.
Não Fale o Mal (Speak no Evil/ EUA - 2024) de James Watkins com James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough e Kris Hitchen. ☻☻
sábado, 26 de julho de 2025
CATÁLOGO: Aquário
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Katie e Michael: desconforto em forma de filme. |
Mia (Katie Jarvis) mora com a mãe, Joanne (Kierston Wareing) e a irmã caçula, Tyler (Rebecca Griffiths) no subúrbio e passa a maior parte do tempo se metendo em encrencas com os moradores locais. Na primeiras cenas fica evidente que Mia não tem muito o que fazer para passar o tempo, ao mesmo tempo fica claro que ela não tem alguém que preste muita atenção no que ela está fazendo. Depois dos momentos iniciais em que a história ainda parece não ter sido encontrada, a adolescente conhece o novo namorado de sua mãe: Connor (Michael Fassbender). Connor começa a ser figura sempre presente na casa e se aproxima cada vez mais de Mia, por vezes tendo atitudes que fazem a plateia começar a duvidar de suas boas intenções junto daquela família. Carente por atenção, Mia deixa que Connor preencha cada vez mais as lacunas deixadas em sua vida emocional sem perceber o quanto ele pode se aproveitar de toda aquela situação de vulnerabilidade em que se encontra. Aquário (na verdade o Fish Tank do título original) faz alusão à uma das cenas que demonstra mais sobre a personalidade de Connor do que se imagina, já que ele ensina Mia a pegar um peixe com as mãos ao perceber exatamente a hora certa de agarrá-lo. Este é o segundo longa-metragem de Andrea Arnold e se tornou a obra mais marcante de sua carreira. A diretora inglesa que ganhou um Oscar pelo seu curta-metragem Wasp (2004) e gosta de voltar sua câmera para personagens em situações sociais complicadas, o que geralmente se molda muito bem ao seu estilo áspero de direção. Arnold filma como se fizesse um documentário sobre a vida de seus personagens, o que imprime bastante realismo e uma certa angústia em suas narrativas. Confesso que tenho dificuldades para lidar com sua forma de fazer cinema, mas sempre tive curiosidade em assistir Aquário por conta das críticas positivas que sempre ouvi em torno dele. Considero que este seja seu melhor trabalho, já que após o início um tanto caótico, o filme se concentra cada vez mais em uma dinâmica perigosa entre Mia e Connor, dois personagens plenamente valorizados por seus intérpretes desconhecidos até então. Difícil acreditar que este foi o primeiro trabalho de Katie Jarvis como atriz devido a profundidade que apresenta, especialmente na última e desoladora parte do filme. Já Michael Fassbender estava prestes a se tornar mundialmente reconhecido após sua participação em Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino no mesmo ano. Aqui ele utiliza seu charme e talento habitual para construir um personagem execrável e tornar o filme ainda mais desconfortável para o espectador. Dolorido de assistir, o filme se desenvolve de forma hipnótica até que o drama ganha tons de suspense perto do desfecho. Aquário foi recentemente lembrado na lista do New York Times sobre os 100 melhores filmes do século XXI e merece ser descoberto.
Aquário (Fish Tank / Reino Unido - 2009) de Andrea Arnold com Katie Jarvis, Michael Fassbender, Kierston Wareing, Rebecca Griffiths, Harry Treadaway e Jason Maza. ☻☻☻☻
sexta-feira, 25 de julho de 2025
.Doc: A Movie About Movie Posters
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Mais do que cartazes de filme: objetos de culto. |