Cinco filmes assistidos que merecem destaque:
sábado, 31 de maio de 2025
PL►Y: Tudo que Imaginamos Como Luz
Confesso que assisti Tudo que Imaginamos Feito Luz assim que estreou o TeleCine, mas demorei muito para escrever sobre ele. Pensei que fosse bom até revê-lo, já sabendo do tipo de filme que se trata, mas não cheguei a fazê-lo. Comecei a escrever sobre ele algumas vezes desde então, mas sempre apagava o texto. Recomeçava. Desistia. Nas últimas semanas resolvi que ele seria um daqueles longas a que assisto e que não escrevo no blog, ou por não merecer muito comentário ou porque simplesmente não consigo escrever o texto certo para falar sobre ele (e isso acontece mais do que você imagina, tanto que somente recentemente, ao comentar Baby descobri que nunca terminei e publiquei meu texto sobre Corpo Elétrico). Mas por que eu devo escrever sobre este filme? Simplesmente por muitos considerarem que a Índia fez uma baita mancada quando não o indicou para uma vaga ao Oscar de Filme Internacional no ano passado, mesmo com o sucesso do filme em festivais, a começar por seu lançamento no Festival de Cannes - de onde saiu com o Grande Prêmio do Júri (espécie de medalha de prata). A Índia preferiu indicar Laapataa Ladies, que ficou de fora das peneiras iniciais o Oscar, mas ao assistir ao filme de Payal Kapatia fica fácil entender o motivo do país não o escolher. Famoso pelas características de Bollywood, Tudo que Imaginamos como Luz é o oposto do que lembramos quando vemos um filme indiano. Não existe aquele visual multicolorido, as danças e os sorrisos fartos, talvez por isso o país não o tenha considerado um representante digno do seu cinema (o considerou europeu demais?), no entanto, muita gente gotou da sensação de ver um cinema indiano diferente, mais contido, introspectivo – o que não deixa de ser uma ousadia. O filme opta por apresentar Bombaim por outra ótica, mais noturna e diversa. A cidade serve de cenário para duas enfermeiras, Prabha (Kani Kusruti) e Anu (Divya Prabha), que trabalham juntas e dividem o mesmo apartamento. O roteiro tem a preocupação de apresenta-las como mulheres antenadas, que defendem anticoncepcionais e rejeitam casamentos arranjados pela família, trocam mensagens de celular, usam metrô, escutam músicas, são apresentadas como tantas mulheres que vivem em uma grande metrópole para depois o roteiro aprofundar os dilemas das personagens com raízes bastante culturais. O marido de Prabha foi para a Alemanha e faz tempo que não manda notícias, colocando a personagem em um conflito de sentimentos entre o casamento e a ideia de abandono, enquanto isso, Anu se apaixona por um muçulmano a contragosto da família deseja que se case com outro rapaz. Apesar de todas as possibilidades melodramáticas perante a vida amorosa das personagens, o filme segue por uma linha diferente, o diretor estica o tempo, a narrativa não acelera e lida com o drama de forma bastante discreta até que a narrativa muda de cenário para aprofundar as metáforas do texto, mesclando o que é real com a imaginação das personagens e do espectador. A forma como o filme lida com o amor e a sexualidade das personagens, assim como a cultura local, fazem com que o filme destoe da vasta produção de seu país. A fotografia pode parecer mais sombria que o habitual e os diálogos mais simples do que o esperado, mas isso reforça o realismo do diretor em abordar o cotidiano de seus personagens. Acredito que para muita gente o filme não traz nenhuma novidade, mas o mérito do longa está justamente nisso: ser um filme indiano que consegue apresentar suas personagens como se pudessem viver em qualquer lugar do mundo.
Tudo que Imaginamos Com Luz (All We Imagine As Light / França - Índia - Itália - EUA - Suíça / 2024) de Payal Kapatia com Kani Kusruti, Divya Prabham, Hridhu Haroon, Chhaya Kadam, Azees Nedumangad, Anand Sami e Madhu Raja. ☻☻☻
sexta-feira, 30 de maio de 2025
MOMENTO ROB GORDON: Personagens icônicos de Harrison Ford
Nascido na cidade de Ilinois em Chicago em 13 de julho de 1942, Harrison Ford começou sua carreira como ator nos anos 1960 e na década seguinte já estava participando de sucessos na telona. Ford ajudou a escrever a história do cinema desde então e poucos atores coleciona tantos papéis icônicos no cinema. Alguns dos trabalhos do ator se tornaram verdadeiras referências ao longo do tempo e este Momento Rob Gordon serve para lembrar cinco de seus trabalhos mais marcantes:
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#05 John Book (A Testemunha) |
PL►Y: Capitão América - Admirável Mundo Novo
domingo, 25 de maio de 2025
PL►Y: Herege
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Grant: labirinto retórico que funciona. |
Herege (Heretic / EUA - Canadá / 2024) de Bryan Woods e Scott Beck com Hugh Grant, Sophie Tatcher, Chloe East, Topher Grace, Elle Young e Elle McKinnon. ☻☻☻
PL►Y: Here
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Liyo e Stefan: de humanos e musgos. |
Confesso que tenho um pouco de dificuldade em acompanhar as narrativas dos filmes do belga Bas Devos. Sei que ele tem fãs ao redor do mundo e realmente os admiro por enxergar atrativos em suas narrativa quando, na maioria das vezes, o que geram é minha desatenção. Tenho um amigo que é muito fã do cinema de Devos e vê-lo falar tão entusiasmado do último filme do cineasta (que acabou de chegar no Filmicca), tornou assistir Here uma verdadeira questão de honra. O curioso foi que se tornou o primeiro longa do diretor que consegui assistir completo (como ele possui apenas quatro longas no currículo, talvez eu possa dar uma segunda chance aos outros). Se não fosse o comentário do tal amigo, mais uma vez, eu não veria nada demais na história que temos aqui: Stefan (Stefan Gota) é um trabalhador da construção civil que está prestes a sair de férias e ir visitar à família na Romênia. Paralelo a isso conhecemos Shuxiu (Liyo Gong), que leciona microbiologia na faculdade de manhã e ajuda a tia em um restaurante chinês à noite. Se ele habita um ambiente urbano, com muitos prédios e concreto (ampliado pelos planos abertos utilizados pelo diretor), Shuxiu volta-se cada vez mais para o micro, um universo tão pequeno em comparação aos arranha-céus que passa desapercebido pela grande maioria das pessoas. O encontro dos personagens faz com que a narratia estabeleça uma espécie de zoom, que vai da construção de um prédio na cidade, passando para os núcleos familiares de seus personagens até chegar ao estudos de Shuxiu sobre musgos. Não é por acaso que o roteiro explora o encontro de um rapaz que está de férias e volta às suas origens e uma microbiologista de origem estrangeira. Existe entre os dois uma busca por conexão com os lugares que habitam (e com o mundo em si) e o diretor estabelece um quase romance entre os dois personagens de forma bastante discreta e singela, mas que não deixa de ter uma certa sensualidade ao explorar o sorriso irresistível de Shuxiu ou as pernas sempre à mostra de Stefan (a quem a personagem se refere como "o rapaz de short"). Bas Devos sempre mostrou-se um diretor que gosta de criar belas imagens, muitas vezes estando mais preocupado com a estética dos filmes do que com seus roteiros. Aqui ele consegue conciliar isso de forma quase terapêutica, estabelecendo uma viagem do macro ao micro da vida na Terra, seja da vida dos seres humanos em seus encontros, idas e vindas ou da presença de musgos que irão herdar o mundo quando as pessoas partirem. Essa sensação de respiro que o filme proporciona rendeu no Festival de Berlim o prêmio de melhor longa na mostra Encounters, do qual saiu também com o prêmio da crítica.
Here (Bélgica - 2024) de Bas Devos com Stefan Gota, Liyo Gong, Cédric Luvuezo, Teodor Corban, Saadia Bentaïeb, Alina Constantin e ShuHuan Wang. ☻☻☻
sábado, 24 de maio de 2025
PREMIADOS FESTIVAL DE CANNES2025
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Um Simples Acidente: Palma de Ouro em Cannes 2025. |
Parece que o páreo da 78ª Edição do Festival de Cannes foi acirrado! Ouvi tantos comentários entusiasmados da crítica sobre os filmes exibidos que foi difícil prever quem seria o ganhador. No fim das contas, o apelo do cinema iraniano clandestino de Jafar Panahi prevaleceu. Com isso, Panahi se tornou o raro tipo de diretor que conquista os principais prêmios dos maiores festivais de cinema do mundo (antes, ele já recebeu o Leão de Ouro por Taxi Teerã/2015 no Festival de Berlim e o Leão de Ouro no Festival de Veneza por O Círculo/2000). Se muitos apontavam o novo de Joachin Trier como o favorito, ele ficou com um honrado segundo lugar com o Grande Prêmio do Júri (que este ano foi presidido por Juliette Binoche e contava ainda com nomes como Halle Berry, Alba Rohrwacher e Jeremy Strong). O representante brasileiro não levou o prêmio principal mas não fez feio, levando três prêmio importantes que selam seu passaporte no início de sua repercussão na temporada. Abaixo todos os premiados do maior Festival de Cinema no mundo... (e já podemos começar a campanha do Wagner para melhor ator no Oscar do ano que vem?):
Melhor Atriz | Nadia Melitti (The Little Sister)
Melhor Ator | Wagner Moura (O Agente Secreto)
Melhor Roteiro | "Young Mothers" de Luc e Jean-Pierre Dardenne
Câmera de Ouro | "The President's Cake" de Hasan Hadi