domingo, 14 de dezembro de 2025

Na Tela: Bugonia

Emma: as teorias conspiratórias do absurdismo. 

O grego Yorgos Lanthimos entra fácil no páreo de diretores mais interessantes da atualidade, muito por conta de seu caráter provocador, no entanto, quem acompanha a carreira do diretor desde a fase da estranha onda grega (e como eu queria que outros diretores do "movimento" filmassem com mais frequência) sabe que suas obras possuem um senso de humor bastante peculiar, que lhe rendeu o título de absurdista.  Se em Tipos de Gentileza o resultado foi desajeitado, com Bugonia a coisa volta a entrar nos trilhos. Curioso que em sua origem a trama é um remake do sul-coreano "Save the Green Planet" e que (pasmem) é bem mais agressivo que esta versão em inglês. O filme conta a história de uma CEO prestigiada, Michelle (Emma Stone) que é sequestrada por Teddy, um rapaz adepto de teorias conspiratórias que acredita que ela é na verdade uma alienígena disposta a acabar com a Terra. Em seu plano de sequestro, ele conta com a ajuda de um primo, Don (Alain Delbis) para capturar e manter Michelle até que a verdade seja revelada. No meio do caminho existe uma dinâmica interessante entre a mulher que tenta provar que é humana e o homem que acredita piamente em suas convicções mais estranhas. Óbvio que Lanthimos vai exibir uma penca de cenas desagradáveis e alfinetar o expectador com cenas envolvendo retórica, tortura e narrativas que entram em conflito todo o tempo. Mais uma vez um filme do diretor embaralha gêneros distintos, com suspense, comédia, drama e até ficção científica, alcançando um resultado interessante e incômodo. A estética e a fotografia do filme ressaltam estranheza criando uma tensão claustrofóbica em tono dos ambientes e da lógica de seus personagens até chegar ao desfecho controverso que faz toda a diferença para m continuar mane a proposta funcionando (e aquela última cena consegue equilibrar tristeza e brilhantismo em tempos de Terra plana). Acho que este é o filme em que Lanthimos demonstra estar mais relaxado na direção, de fato, parece que ele quer apenas se divertir enquanto provoca a plateia sobre o que é exibido na tela. Para isso, ele conta a com a ajuda de ouro de Jesse Plemons na composição do estranho Jimmy, que provoca arrepios com sua postura irredutível diante das atrocidades que é capaz de cometer em nome da "salvação" da humanidade, mas se Jesse é ouro, Emma Stone é um diamante plenamente lapidado. Esta é a quarta parceria da atriz com Yorgos. Depois do Oscar por Pobres Criaturas (2023), Emma corre o risco de ser indicada ao prêmio novamente com mais um trabalho de fisicalidade impecável (desculpem, mas eu acho hilária aquela parte em que ela anda mancando ao som da trilha sonora comicamente tensa composta por Jerskin Fendrix). A dinâmica entre Plemons e Stone é o ponto alto do filme que eleva às últimas consequências as ambiguidades de seus personagens,  Outro ponto que gostei muito foi a presença de Alicia Silvertone mais uma vez no papel de uma matriarca estranho universo de Lanthimos, assim como em O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), a atriz vive mais uma personagem que deixa aquela vontade de vê-la em um papel de maior destaque em um filme do cineasta.

Bugonia (Irlanda / Reino Unido / Canadá / Coreia do Sul / EUA - 2025) de Yorgos Lanthimos com Emma Stone, Jesse Plemons, Alain Delbis, Vanessa Eng, Cedric Dumornay e Alicia Silvertsone. 

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