Sam (Elliot Page) é um homem trans. Faz quatro anos que ele não visita a família e está disposto a revê-la na comemoração de aniversário do pai. Ele sabe que o reencontro após todo o processo de transição será complicado, ao mesmo tempo, já vivenciou situações entre os familiares que lhe geraram desconforto. Durante a viagem ele reencontra Katherine (Hillary Baack), um amor do passado e que o faz reviver sensações para as quais não havia se preparado. Ela está casada e aparentemente bem resolvida, mas também vive um turbilhão de emoções ao rever Sam em sua nova vida. É este reencontro que proporciona algum fato surpresa ao filme, já que os momentos em que Sam está na casa da família, tornam o filme bastante previsível com os momentos episódicos do protagonista junto aos membros da família. Os diálogos isolados seguem exatamente o que as primeiras cenas do personagem sugerem: todos dizem compreender e aceitar toda a transformação pela qual atravessou, mas em vários momentos as conversas lhe cortam feito uma navalha. Seja com a mãe (Wendy Crewson) que chora por ainda ver em Sam a sua menina ou a conversa árdua com outros homens da família. A exceção é a conversa com o pai (Peter Outerbridge) que narra a complicada depressão pela qual o filho atravessava antes de ter coragem para enfrentar as mudanças que precisava. Dirigido por Dominic Savage e escrito por ele ao lado do próprio Elliot Page, o filme investe em uma atmosfera triste, com locações gélidas e fotografia quase sem cor. A estética somada aos rumos da narrativa podem causar um pouco de cansaço no espectador ao acompanhar os martírios de Sam e, assim como o personagem, o público não vê a hora de que aquele tormento acabe. Em determinados momentos a ideia me parece o reencontro de É Apenas o Fim do Mundo/2016, peça de Jean Luc-Lagarce que virou filme pelas lentes de Xavier Dolan, mas sem o punch sufocante. O filme recebeu atenção na estreia no Festival de Toronto em 2023 por ser o primeiro filme de Elliot Page após o seu processo de redesignação sexual, mas não teve muito fôlego para ir além do lugar comum sobre os conflitos familiares em torno desta situação. Ainda espero o dia em que Elliot voltará a viver personagens mais versáteis na telona, acho louvável que sua militância dentro e fora da tela, mas adoraria vê-lo em filme mais diferenciados, assim como era no início de sua carreira. Espero que lembrem do que ele é capaz para além de sua identidade sexual e de gênero.
Perto de Você (Close to You / Canadá - Irlanda - Reino Unido - EUA / 2023) de Dominic Savage com Elliot Page, Hillaey Baack, Wendy Crewson, Peter Outerbridge, Janet Porter, Alex Paxton-Beesley, Daniel Maslany, Andrew Bushell, David Reale e Jim Watson. ☻☻