O cinema vive um período estranho. Imagine um filme que tem a assinatura de um diretor com alguma notoriedade em Hollywood, famoso por seus trabalhos no ramo de suspense e do terror. Agora coloque nas mãos dele uma adaptação de uma obra do cultuado Stephen King. Coloque nos créditos um ator popular como Tom Hiddleston e agora conceda a esta produção o prêmio de melhor filme no Festival de Toronto, um dos mais influentes na corrida pelo Oscar. Agora considere que o filme teve problemas de conseguir distribuição nos Estados Unidos e que quase ninguém falou dele. Dirigido por Mike Flanagan (que se redime aqui do horroroso Doutor Sono/2019 também adaptado de uma obra de King), A Vida de Chuck é um daqueles filmes que poderia ser um grande sucesso se tivesse caído nas mãos de um grande estúdio com uma campanha de marketing gigantesca, como este não é o caso o sucesso do filme foi modesto e dependeu mais o boca a boca do público para conseguir algum sucesso de bilheteria. O filme é contado em três atos, no primeiro o planeta está passando por um momento estranho com problemas de comunicação como se estivesse à beira de um colapso. Em meio a tudo isso, o professor Marty Anderson (Chiwetel Ejiofor) fica intrigado com toda a atenção que é dada à aposentadoria de Charles Krantz, mais conhecido como Chuck (Tom Hiddleston), que após 39 anos se serviços prestados está encerrando seus trabalhos. Afinal de contas, quem é Chuck? O que ele fez de tão especial? Essas são as perguntas que nascem em meio ao estranhamento que os acontecimentos apocalípticos provocam nos personagens. Se o desfecho do ato é confuso, ao menos deixa o espectador instigado para entender o que está acontecendo ao se deparar que talvez a aposentadoria de Chuck não seja bem o que pensamos... no ato seguinte conhecemos um pouco mais sobre o personagem do título, descobrimos que ele é um contador, casado e apaixonado pela esposa e que dança muito bem (e se você já viu os vídeos de Hiddleston dançando animado na internet sabe que ele arrasa nas coreografias), mas é o ato final que amarra todas as pontas da vida de Chuck. Conhecemos os dramas do personagem desde sua infância, em que cresceu aos cuidados dos avós (e que grata surpresa foi ver Mia Sara e Mark Hamill nestes papéis), descobrimos as influências que lhe constituíram como sujeito ao longo do tempo, da influência de uma professora ao episódio no sótão em que prometeu a si mesmo que teria uma vida maravilhosa. Flanagan faz uma abordagem bastante emocional do material que tem em mãos e consegue driblar qualquer traço de pieguice, nesta construção vale destacar os trabalhos do sumido Jacob Tremblay (o menino de O Quarto de Jack / 2015 que agora já é um adolescente) e mais ainda de Benjamin Pajak, que é o grande responsável por nos fazer gostar de vez do personagem. Mantendo mistérios ao longo de sua narrativa e não perdendo a dimensão humanista da trama, fica fácil entender porque o público do Festival de Toronto se rendeu ao filme, pena que o sucesso esperado do filme não se concretizou.
A Vida de Chuck (The Life of Chuck / EUA -2024) de Mike Flanagan com Tom Hiddleston, Benjamin Pajak, Chiwetel Ejiofor, Karen Gillan, Mia Sara, Mark Hamill, JAcob Tremblay, Kate Siegel, Matthew Lillard e Carl Lumbly. ☻☻☻☻
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