sexta-feira, 8 de junho de 2012

FILMED+: Magnólia

Tom Cruise: de raspão no primeiro Oscar de sua carreira. 

Dizem que na porta da geladeira de Tom Cruise existe uma lista com os melhores cineastas em atividade e que, gradativamente, ele risca os nomes presentes ali. É fácil entender o motivo dessa anedota, ele já trabalhou com Francis Ford Coppola (Vidas sem Rumo/1983), Martin Scorsese (A Cor do Dinheiro/1986) Steven Spielberg (Minority Report/2002 e Guerra dos Mundos/2005), Brian dePalma (Missão Impossível/1996), Stanley Kubrick (De Olhos Bem Fechados/1999) e da safra mais recente Cameron Crowe (Jerry Maguire/1996),  Bryan Singer (Operação Valquíria/2008) e Paul Thomas Anderson (Magnólia/1999). Neste último chegou mais perto do que nunca do primeiro Oscar de sua carreira na pele de um misógino que ensina como os homens devem tratas as mulheres como uma espécie de, digamos, recipiente de fluídos masculinos. Acho que nem o matador profissional de Colateral (2004) consegue superar o personagem como o mais antipático da carreira de um ator que construiu a carreira com papéis heróicos e destemidos. Mas existe um motivo para seu personagem Frank MacKey ser tão desagradável, assim como existem motivos diversos para que os outros sete protagonistas de Magnólia sejam do jeito que são. Parece que Paul Thomas Anderson apresenta estereótipos à plateia e aos poucos descasca esses personagens expondo suas angústias e fraquezas, embaralhando seus rancores e destinos como se fossem coincidências. No entanto, Magnólia está longe de ser um filme comum. Não pelo fato de seguir a escola caleidoscópica de Robert Altman, mas, principalmente, por romper com o realismo tão presente nesse tipo de filme - num momento depressivo todos os personagens cantam a melancólica Wise Up de Aimée Mann (que por coincidência estava na trilha de Jerry Maguire) e perto do final, o roteiro faz chover sapos sobre Los Angeles como se a história ocorresse no Egito do velho testamento. O mais curioso é a forma como Anderson consegue costurar tantos personagens com maestria num filme de três horas de duração onde cada minuto é crucial para a trama (fique atento para perceber como a edição sempre retoma a trajetória de um personagem exatamente onde havia parado a cena anterior). Com a história ambientada em apenas um dia, o roteiro (indicado ao Oscar de roteiro original) consegue desenvolver seus personagens com uma eficiência rara. Depois de um dos melhores epílogos da histórias do cinema (onde tramas sobre coincidências são apresentadas) conhecemos a história de Earl Partridge (Jason Robards) que está nos momentos finais da luta contra o câncer. Earl é casado com Linda Partridge (Julianne Moore) e está aos cuidados do enfermeiro Phil Parma (Phillip Seymour Hoffman) que está convencido de que precisa reencontrar o filho de Earl antes que o paciente deixe este mundo. Earl é o produtor de um consagrado programa de TV onde as crianças respondem perguntas de conhecimentos gerais - se no passado o programa fez a glória do prodígio Donnie Smith (vivido por William H. Macy quando crescido) - que acabou sendo atingido por um raio - , o favorito da temporada atual é Stanley Spector (Jeremy Blackman) , um menino que tem um relacionamento complicado com o pai (que o enxerga apenas como uma forma de ganhar dinheiro). O tal programa é apresentado pelo veterano Jimmy Gator (Phillip Baker Hall) que tem problemas com a filha (Melora Walters) - que desperta o interesse de um policial de bom coração (John C. Reilly). Onde o personagem de Tom Cruise entra nessa história? Se contar, estraga. Por sempre fugir do convencional, o filme divide opiniões desde que ganhou o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim em 2000. Curioso é que os personagens foram inspirados nas canções da cantora Aimée Mann (que compôs a bela Save Me - que concorreu ao Oscar de canção e merecia ter ganho) e o resultado tornou-se original e envolvente pela forma como desenvolve sua narrativa cheia de personagens complexos e auto-referências (não é por acaso que o programa se chama "O que as crianças sabem?" ou aparece a placa "Tudo precisa ir embora" antes do momento mais surreal do filme). Magnólia é o nome de uma avenida de Los Angeles, mas não foi por acaso que Anderson escolheu o nome de uma flor para entitular seu terceiro filme. Existem estudos que dizem que as magnólias sejam as primeiras flores a existirem no planeta. Essa busca pela sobrevivência através do tempo é o que o título expressa de seus personagens. Entre mágoas, tropeços, perdão e recomeços a vida continua - mesmo para os que precisam vestir uma máscara para prosseguir.

Magnólia (EUA-1999) de Paul Thomas Anderson com Tom Cruise, Julianne Moore, Phillip Seymour Hoffman, Jason Robards, Melora Walters, John C. Reilly e Phillip Baker Hall. ☻☻☻☻☻


os personagens: versão cartoon.

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