O Mestre: afinal, o filme é sobre o que mesmo?
Muita falação aconteceu em torno do novo filme de Paul Thomas Anderson. Desde que começou a selecionar o elenco, o diretor dos antológicos Boogie Nights (1997) e Magnólia (1999) teve que ouvir de gente como o amigo Tom Cruise, para deixar de lado sua ideia de criar um longa pautado na biografia de L. Ron Hubard, criador da cientologia (aquela religião que cresce em Hollywood). Mas Anderson estava obstinado. Quando o filme estreou, curiosamente o falatório diminuiu. Elogiava-se os atores (Joaquin Phoenix e Phillip Seymour Hoffman dividiram o prêmio da categoria no Festival de Veneza), a grandiloquência da narrativa do cineasta e quanto a abordagem da cientologia percebeu-se que o filme tinha uma história sobre algo maior: a busca de dois homens por uma redenção que talvez nem exista. É verdade que o filme mostra algumas amostras das teorias do que os personagens costumam chamar de "a causa", os métodos estranhos, as crenças em torno da regressão às vidas passadas e o culto de uma figura que parece mais contraditória do que digna de fé. No entanto, o filme deixa tudo tão em aberto (o que não chega a ser um defeito) que se a intenção era tecer alguma crítica ou deixar o espectador criar sua própria opinião sobre "a causa" o roteiro não disponibiliza informação nem para uma coisa nem para outra. Quem esquecer toda a campanha de marketing (até a capa do DVD diz: "o filme que aborda a polêmica da cientologia", mas que polêmica?) verá que a "causa" no filme não provoca nem mais nem menos estranhamentos do que a maioria das religiões que conhecemos de longa data. Deixando essa parte de lado, o que temos é um filme provocador, menos pela sua temática e mais pelo que exige do seu espectador ao jogo que o diretor estabelece entre seus personagens. O destroçado Freddie Quell (Joaquin Phoenix, excepcional) sobrevive às feridas de sua vida pessoal, que parecem ter se agravado com o fim da Segunda Guerra Mundial. Seu relacionamento com as pessoas e consigo mesmo é sofrível. Nesta parte onde somos apresentados ao personagem, o filme transborda a desconexão desse sujeito com o mundo, as cenas parecem soltas, despropositadas, mas fica claro que o sexo é um ponto de conexão de Freddie com o mundo que o cerca. Depois de uma bebedeira , ele conhece Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman, excelente), o mestre do título, que está formulando os preceitos de uma nova religião. É através dos preceitos do que O Mestre costuma chamar de "a causa" que ele pretende fazer Freddie lidar com seus vários conflitos. Os duetos entre Phoenix e Hoffman já valeriam o filme, já que são tensos e bastante aflitivos, mas Anderson oferece mais. Existe um jogo de influência entre os dois, uma manipulação entre um e outro que torna o filme bastante difícil para quem esperava um filme denúncia ou do tipo edificante. Há momentos que beiram o irritante pela repetição a que Quell é submetido como seu fosse uma cobaia de Dodd. É verdade que ainda em outros momentos, Quell se torna o cão de guarda de Dodd, somente um ator como Phoenix seria capaz de trabalhar emoções tão contraditórias! Destaca-se ainda no elenco a ótima Amy Adams como a dominadora Srª Dodd que alcança momentos assustadores, bem diferentes da maioria dos papéis que a atriz já interpretou. O trio foi todo indicado no Oscar, mas acabou saindo de mãos vazias. Ao final, percebe-se que Paul Thomas Anderson fez seu filme mais difícil - e a grandiloquência que fez de Sangue Negro (2007) um novo clássico, aqui parece direcionar o filme para uma espécie de limbo. A fotografia é belíssima, a trilha sonora de Johny Greenwood é de arrepiar (e torna tudo ainda mais estranho), mas na condução de sua história, Anderson se perde em alguns momentos em sua própria pretensão. O filme vale pelos atores (e se Phoenix não houvesse fingido um surto anos atrás ele teria até levado o Oscar de ator pelo filme) e a defesa do jogo de influências entre os dois protagonistas, o resto é pura pompa.
O Mestre (The Master/EUA-2012) de Paul Thomas Anderson com Joaquin Phoenix, Phillip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern e Jesse Plemons. ☻☻☻
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