Renner: o vício pela guerra sob as lentes de uma mulher.
Levando em consideração que a época de ouro está chegando não custa nada fazer uma resenha sobre o grande premiado do ano passado, Guerra ao Terror (nomezinho cretino que arranjaram em português). O filme de Kathryn Bigelow - a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção - tem uma das trajetórias mais interessantes de um oscarizado dos últimos anos, mais interessante até do que o roteiro do filme. Lançado em março de 2009 nos EUA o filme chamou atenção somente da crítica e de alguns gatos pingados, o filme chegou a concorrer ao Independent Spirit na época, mas passou em branco. Com essa repercussão modesta acabou sendo lançado por aqui direto em DVD em abril do ano passado sendo encontrado em poucas locadoras. O curioso foi que o filme foi ganhando força com a chegada do fim do ano e acabou concorrendo de frente com o maior blockbuster de todos os tempos: Avatar de James Cameron (ex-marido de Bigelow). No fim das contas tratava-se de uma disputa em Hollywood: os filmes de ação, cheio de efeitos especiais e atores quase virtuais X os filmes de roteiro ancorado em atores nos lugares certos. Como a maioria de votantes da Academia é formada por atores que não querem se limitar a ter seus movimentos captados por um computador o resto da história você já conhece. Considerado o Platoon do século XXI o filme acompanha três desarmadores de bombas no Iraque na mais recente empreitada dos EUA por aquelas bandas. O roteiro não se preocupa em ter uma historinha bem amarradinha, prefere enfileiras situações que mostram o clima caótico vivido pela região, a tensão do cotidiano dos soldados e a adrenalina que sustenta a carreira do protagonista (Jeremy Renner, indicado exageradamente ao Oscar de ator). Se há algo que merece ser ressaltado no filme é a competência de Bigelow, acho que a única mulher que tem estômago para fazer "filmes para machos" com um tom irônico tão sutil que poucos percebem sua crítica ao mundo de joguinhos que os homens constroem para disfarçar suas fraquezas. Prova de que o material é interessante foi a adesão de atores conhecidos em particiapações especiais (Evangeline Lilly, Ralph Fienes, Guy Pearce...). Com tensão na medida a diretora precisou de coragem de rodar o mundo atrás de financiamento para fazer história em Hollywood. O filme convenceu nas premiações por funcionar como um um espelho para o Tio Sam.
Guerra ao Terror (The Hurt Locker/EUA-2009) de Kathryn Bigelow com Jeremy Renner, Anthony Mackie, Bryan Geraghty, David Morse, Ralph Fienes e Guy Pearce.☻☻☻
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