DeNiro: entre Liza Minelli e Jerry Lewis de papelão.
O Rei da Comédia deve ser o filme mais injustamente subestimado de Martin Scorsese, pelo menos se levarmos em consideração a acolhida no período em que foi lançado. Lançado depois do cultuado Touro Indomável/1980 (ganhador de dois Oscars e com outras seis indicações), O Rei da Comédia foi completamente ignorado pela Academia, despertando mais simpatia do BAFTA que lhe concedeu o prêmio de melhor roteiro. É verdade que o clima do filme está mais para o senso de humor britânico do que para o americano, mas com o passar do tempo, o público e a crítica começaram a perceber os méritos dessa comédia de humor negro sobre um comediante que sonha ficar famoso ao participar de um programa de TV. Robert DeNiro dá vida a Rupert Pupkin, aspirante a comediante, completamente desconhecido e que passa a se considerar amigo de uma celebridade televisiva, Jerry Langford (Jerry Lewis dando conta de um raro papel sério). Rupert e Jerry se conhecem em meio aos fãs ensandecidos que esperam o ídolo, religiosamente, à frente do estúdio em que o programa de Langford é gravado. Depois de ajudá-lo com uma fã inconveniente, Rupert começa a imaginar que Jerry virou seu amigo e que o ajudará a fazer sua carreira decolar. Não é bem assim. Como o nome já revela (Rupert parece Robert escrito errado e Pupkin é quase a grafia de abóbora em inglês, ou seja, revelam que existe algo de errado com o moço) e as cenas delirantes colaboram, existe um tom tão cômico quanto esquizofrênico no protagonista. Rupert causa estranheza por vários motivos, especialmente por sua persistência em encontrar com o ídolo ou quando não demora para que Rupert tenha a ideia de cometer um crime - com a ajuda de uma fã desvairada de Langford (vivida pela sempre esquisita Sandra Bernhard) - para tornar-se famoso. Para além da escrita ácida, Scorsese já demonstrava aqui que seu senso de humor está longe do facilmente digerido (como apresentou com ainda maior ênfase no recente O Lobo de Wall Street/2013) e cria várias provocações aos olhos do espectador (principalmente quando evita ao máximo revelar se, apesar de tudo, Rupert consegue ser realmente engraçado), mesmo quando revela isso, a imagem de DeNiro criando um sujeito sorridente, mas tão imprevisível quanto seus personagens mais violentos, torna-se bem marcante. Curioso mesmo é que na década de 1980, Scorsese já realizava um filme bastante atual sobre o que há de doentio no culto às celebridades e à fama a qualquer preço, sem perder de vista o que isso tem de relação com a solidão de seus personagens.
O Rei da Comédia (The King of Comedy/EUA-1982) de Martin Scorsese, com Robert DeNiro, Jerry Lewis, Sandra Bernhard e Diahnne Abbott.
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