domingo, 16 de março de 2025

PL►Y: Nosferatu

Lily: performance respeitável.

Com A Bruxa (2015) e O Farol (2019) o diretor Robert Eggers se tornou um dos nomes mais prestigiados do terror atual. Sua obsessão em construir uma narrativa moderna que reverencia os clássicos do gênero sempre lhe rendeu elogios, mas depois que ele se aventurou pelo incompreendido O Homem do Norte (2022), saber que ele faria uma nova versão do clássico Nosferatu já era um deleite. A história em torno do original de 1922 dirigido por F. W. Murnau já rendeu até um filme, A Sombra do Vampiro/2000 que rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante para Willem Dafoe. A trama gira em torno de Ellen Hunter (Lily Rose Depp), que é perseguida por uma entidade diabólica desde a adolescência. O tempo passa, a moça se casa com um corretor imobiliário, Thomas (Nicholas Hoult), e tudo parece estar na mais completa paz... até que Thomas é enviado para um serviço em terras longínquas e percebemos que tudo é um plano da tal entidade vampiresca (desta vez encarnada por Bill Skarsgård) para ter Ellen novamente para si. Já é público e notório que a história é inspirada no clássico Drácula escrito por Bram Stoker (motivo pelo qual cópias originais do filme foram destruídas por conta de direitos autorais) e isso compromete um pouco a experiência, já que involuntariamente eu mesmo imaginava o encadeamento da história com referência no Drácula feito por Coppola em 1992. A sorte é que Eggers vai para um caminho oposto, nada operístico e mais  gótico sem pudor de criar belas imagens sombrias e flertar com o gótico o tempo todo. O diretor capricha mais uma vez em sua produção com a direção de arte, figurinos e uma fotografia que impressiona no trabalho meticuloso entre luzes e sombras. Vale dizer que o elenco está mais do que eficiente, mas o destaque vai mesmo para Lily-Rose Depp com um trabalho corporal arrepiante (o que esta menina faz aqui meus caros, honra definitivamente o fato de ser a filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis e espanta de vez aquela mal agouro da série The Idol/2023). Falando nisso, é em torno da personagem que o filme constrói a sua nuance mais interessante em torno do desejo feminino como algo ameaçador. Em diversas cenas, o novo Nosferatu escancara a alusão à insatisfação sexual e a presença do vampiro como a personificação deste desejo proibido (a ideia da mordida no pescoço nunca me pareceu tão erótica em um filme do gênero, basta conferir os encontros ou os momentos em que Ellen sente a presença do dentuço). O filme poderia ser um pouco mais enxuto, já que por vezes ele parece estar enrolado em si mesmo, mas visualmente o filme se torna um verdadeiro espetáculo do horror. Se a ideia de refazer um clássico já soa como um mal presságio para muita gente, Robert Eggers demonstrou que ele dá conta do recado com bastante desenvoltura. 

Nosferatu (EUA - 2024) de Robert Eggers com Lily-Rose Depp, Bill Skarsgård, Nicholas Hoult, Aaron Taulor-Johnson, Emma Corrin, Willem Dafoe, Ralph Ineson e Simon McBurney. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário