domingo, 12 de fevereiro de 2023

Na Tela: TÁR

Cate: terceiro Oscar da carreira?

Em sua carreira como diretor, Todd Field possui apenas três filmes no currículo: Entre Quatro Paredes (2001) que concorreu a cinco Oscars (incluindo melhor filme), Pecados Íntimos (2006) que concorreu em três categorias no Oscar (pelos dois, Field colheu indicações a melhor roteiro adaptado) e TÁR, indicado em seis categorias ao Oscar desse ano (filme, direção, roteiro original, melhor atriz, fotografia e montagem).  Desde que foi exibido no Festival de Veneza, o filme colheu vários elogios, sobretudo pela performance de Cate Blanchett no papel da maestrina Lydia Tár que acaba de assumir a orquestra sinfônica de Berlim e cria para si a tarefa de gravar ao vivo a 5ª Sinfonia de Gustav Mahler. O início do filme deixa claro que Lydia é um dos maiores nomes da música clássica de seu tempo, sendo um dos poucos artistas a receber o EGOT, os cinco maiores prêmios artísticos (Emmy, Grammy, Oscar e Tommy), seus feitos são expostos numa longa entrevista que abre o filme e estabelece desde ali a personalidade forte de Tár, assim como seu humor astuto e a seriedade com que encara seu trabalho. Nas cenas seguintes descobrimos um pouco mais de sua personalidade, sua forma um tanto áspera de lidar com as pessoas, especialmente alunos e sua assistente (Mélanie Merlant). Ela mantém um casamento de algum tempo com a musicista Sharon (Nina Hoss), com quem adotou uma filha e tenta viver uma vida normal longe dos holofotes. No entanto, tudo pode ser destruído quando alguns fatos nada edificantes de sua vida profissional começam a vir à tona. Com a precisão com que Field e Blanchett constroem a personagem, muita gente imagina que Lydia Tár exista de verdade, mas trata-se de uma personagem de ficção escrita por Field (em seu primeiro roteiro original para o cinema) exclusivamente para Blanchett. A atriz (elogiadíssima pelo trabalho e premiada no Festival de Veneza) aprendeu alemão e como conduzir uma orquestra para dar ao papel a intensidade necessária. O resultado realmente assusta. Cate está mais do que acostumada em desaparecer em seus papéis, mas a forma como ela constrói Lydia de forma tão íntima nos longos planos realizados pelo diretor, a veracidade das cenas fica ainda maior, o que torna-se ainda mais importante com a pressão crescente perante as denúncias que começam a existir em torno dela e não apenas sua carreira é posta em risco, como sua vida pessoal também. Esta mistura parece ser o foco do filme, que parece beber na fonte da (im)possibilidade de separar a arte do artista em tempos de denúncias de abuso e cancelamentos. Field não toma partido e alguns podem até considerar que o cineasta perdoa os pecados de sua personagem, mas o desfecho irônico está longe de parecer isso. Muita gente reclama que o filme é lento,  que falta cenas ilustrando crueldades cometidas pela personagem e a forma elitista como a música clássica é apresentada no filme. Destaco que nada disso afetou minha relação com a produção. Field não dirigia há dezesseis anos e aqui parece ainda mais preciso  e um tanto mais cortante quando utiliza humor em seu filme, mas seus filmes nunca foram apressados, sua preocupação em todos os filmes são outras, envolvem dilemas morais complicados, seja para os protagonistas ou para a plateia que se vê diante deles. TÁR não faz diferente, mas se eu fosse reclamar de alguma coisa seria da cena em que Lydia perde as estribeiras, desejava que ela fosse um tanto mais longa e catártica, mas minha mente já se encarregou de alongar a cena até onde devia. Me atrevo a dizer que entre os dez concorrentes ao Oscar de Melhor Filme deste ano, TÁR fica entre os três melhores do páreo. 

TÁR (EUA/2022) de Todd Field com Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Sophie Kauer, Mark Strong e Sylvia Flote.  ☻☻☻☻ 

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