terça-feira, 2 de junho de 2020

Ciclo Palma de Ouro: Taxi Driver (1976)

DeNiro: atuação antológica. 

Travis Bickle é um veterano de guerra que trabalha pelas ruas de Nova York como motorista de táxi. Todo dia ele observa pela janela do seu carro a realidade daquela metrópole e percebe que o ar de decadência é cada vez mais presente. Ver a rotina de assaltos, prostitutas, drogas e crimes começa a comprometer sua sanidade e causará mudanças radicais em sua vida - principalmente depois que encontra uma prostituta adolescente e encara a missão de a resgatar do submundo. O tom incisivo do roteiro de Paul Schrader cria a alma de Taxi Driver, um daqueles marcos do cinema que até hoje provoca a  mesma sensação de desconforto, especialmente porque não se preocupa em explicar diretamente o que vemos na tela, cabe ao público buscar as explicações ou apenas sentir as emoções que este clássico de Martin Scorsese desperta. O filme é um representante direto de uma época em que o cinema americano se reinventou sob influência do cinema europeu, se tornou menos glamouroso, tornando-se mais realista e explorando temas mais sombrios. Não foi por acaso que ao estrear no 29º Festival de Cannes a obra deixou a plateia surpresa. Havia vinte filmes na competição pelo prêmio máximo do Festival (entre eles "O Inquilinode Roman Polanski, "Cria Corvos" de Carlos Saura e "Feios Sujos e Malvados" de Ettore Scola), mas nenhum causou o mesmo impacto. Em seu sexto filme, Scorsese radicaliza a estética da violência amparado por um suspense psicológico que angustia justamente por nos colocar diante de um homem que flerta com a insanidade gradativamente. A cada cena, a cada diálogo se intensificam os olhares, os gestos, os sorrisos e indica que Travis Binkle não é mais o mesmo. Esta percepção passa pelo trabalho irretocável de Robert DeNiro que apresenta passo a passo o que se passa na cabeça do protagonista. Binkle tem cenas memoráveis (a risada no cinema em momento impróprio, o momento diante do espelho, o banho de sangue no final...) e contribui ainda para a mítica do filme a presença de uma jovial Jodie Foster, que com menos de quinze anos fez um papel difícil com a competência que se tornaria habitual em sua carreira. Jodie já havia trabalhado com Scorsese em Alice Não Mora Mais Aqui (1974) e por este aqui foi indicada ao Oscar  pela primeira vez. Taxi Driver provocou tanto impacto que foi indicado a quatro Oscars (filme, ator, atriz coadjuvante e roteiro original) e não levou nenhum, afinal, era controverso demais para a conservadora Academia, sorte que o tempo o transformou mais do que em um clássico, o fez  uma referência - o recente Coringa (2019) de Todd Phillips bebe diretamente nesta fonte ao seguir um personagem rumo à insanidade. Meu filme favorito do mestre Scorsese até hoje!

Taxia Driver (EUA-1976) de Martin Scorsese com Robert DeNiro, Jodie Foster, Harvey Keitel, Cybil Shepherd, Albert Brooks, Leonard Harris e Peter Boyle. ☻☻☻

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