sexta-feira, 14 de agosto de 2020

PL►Y: Retrato de uma Jovem em Chamas

Noèmie e Adèle: sucesso no Festival de Cannes e no mundo. 

Aclamado desde sua exibição no Festival de Cannes, Retrato de Uma Jovem em Chamas da cineasta Céline Sciamma se tornou um dos filmes mais falados do ano passado. O motivo para tantos elogios é a forma sensível como retrata o romance entre duas jovens no século XVIII. Acrescente este aspecto ao título sugestivo e acho que muita gente pode ter se decepcionado com o filme que está longe do sensacionalismo ou do erotismo barato, o filme opta pelo tom intimista, mesmo quando suas personagens estão cheias de desejo. O roteiro desenvolve aos poucos a relação das protagonistas, o interesse lidando com as inseguranças, os pudores e a repressão sexual. Diante destes elementos o que faz o filme realmente especial é a forma hábil como a diretora utiliza este romance para contar uma história que é cortada por vários vários temas pertinentes à situação da mulher na sociedade (da época e de agora), temas como casamento, aborto, maternidade, insatisfação, sororidade, amizade ajudam a compor o andamento da história ambientado em um lugar isolado e que renderá cenas geralmente protagonizadas por mulheres, como se fosse um mundo à parte. O filme acompanha Marianne (Noémie Merlant), uma jovem pintora que é designada para fazer o quadro de Heloïse (Adèle Haenel) que será enviado para o futuro esposo desta. A fama de temperamental de Heloïse a precede. Questionadora e insatisfeita com o casamento que o destino a reserva, ela se aproxima aos poucos de Marianne e o romance das duas segue meio sem maiores ambições. Sciamma desenha esta relação de forma bastante sutil, a forma como as duas se conhecem, como aos poucos uma ganha a confiança da outra, como se instaura um conflito aqui e outro ali e as cenas de intimidade entre as duas em nada lembram de outro hit romântico entre mulheres nascido em Cannes. Retrato de uma Jovem em Chamas não é explícito como Azul é a Cor mais Quente (2013), o que acho excelente. O longa também não é exuberante como outros filmes de época, seus figurinos são simples, assim como os cenários, mas  é nesta simplicidade que dispensa artifícios para se concentrar nas personagens. Existem momentos bastante poéticos (como o título apresentado de forma literal duas vezes), as aparições no vestido branco ou as últimas cenas reservadas às personagens. De quebra, mais um nome para ficar no caderninho de prestar atenção nos próximos anos, Noémie Merlant. Atriz promissora, dona de talento e espontaneidade cativantes.

Retrato de Uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu / França - 2019) de Céline Sciamma com Noémie Merlant, Adèle Haenel, Valeria Golino e Luàna Bajrami. 

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