domingo, 5 de março de 2023

#FDS Terror: Até os Ossos

 
Taylor e Chalamet: de amor e restos humanos. 

Maren (Taylor Russell) sempre foi criada por muito cuidado pelo pai (André Holland), mas bastou um incidente para que ele deixasse a filha à própria sorte. Ele sabia desde o início que a menina não era igual às outras crianças, provavelmente por uma herança genética herdada da mãe que a torna atraída pela carne humana. Ciente das consequências que este gosto peculiar traz para suas vidas, ele parte e deixa a menina seguir seu próprio caminho. Sem ter para onde ir, Maren conhece o estranho Sully (Mark Rylance) que a faz entender um pouco mais sobre si, mas que lhe provoca tanta repulsa que ela prefere ficar na companhia de Lee (Timothée Chalamet) um adolescente, tão perdido quanto ela, com quem poderá entender mais sobre si mesma e, de quebra, ainda viver uma história de amor. Talvez eu tenha escrito mais do que devia, mas o fato é que Até os Ossos é um filme complicado demais para comentar. A começar pela forma como o canibalismo é abordado na trama imaginada pela escritora Camila de Angelis quase como uma metáfora para o sentimento de inadequação vivido pelos seus jovens protagonistas. Agora, acrescente o gosto de Luca Guadagnino em estilizar cenas grotescas e você terá só uma ideia do que o filme tem a oferecer. O filme foi envolto em polêmicas desde que foi anunciado, especialmente por Luca e Timothée terem trabalhado juntos com Armie Hammer em Me Chame Pelo  Seu Nome (2017) e tempos depois a carreira de Armie implodiu com seus gostos semelhantes ao de Maren e Lee (e para saber um pouco mais sobre toda está polêmica vale assistir a minissérie documental House of Hammer disponível na HBOMax). Talvez, a tentativa de compreender o ex-colega de trabalho tenha ajudado os dois a mergulharem neste projeto. O fato é que Até os Ossos mistura o lirismo de Me Chame Pelo seu Nome com o horror da refilmagem de Suspiria (2018) feita pelo cineasta logo depois. Nas andanças do jovem casal existem cenas de revirar o estômago e, entre elas está o frio na barriga que se estabelece por conta própria. Na jornada de ambos existem personagens tão esquisitos que tudo parece uma grande ameaça aos dois que, em si, são ameaças para quem possa cruzar seu caminho. O fato é que enquanto filme de terror, o filme se constrói de forma original, como se fosse a adolescência de um jovem Hannibal Lecter, mas termina com o gosto amargo de um jantar que não acaba como o planejado. Muito do apelo do filme se deve à estética impressa por Guadagnino e as atuações de seu elenco, sobretudo de Taylor Russell que impressiona (tanto que foi eleita a artista revelação do Festival de Veneza e foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz no Independent Spirit) e nem vou citar o Mark Rylance (indicado ao Independent Spirit e Gotham Awards por seu trabalho de coadjuvante) por achar que ele está tão estranho, mas tão estranho que só de lembrar da cara dele, eu já tenho arrepios. Definitivamente não é para todos os gostos, mas quem assistir poderá se surpreender com as camadas impressas na trama e como o amor pode brotar das situações mais bizarras. 

Até os Ossos (Bones and All / Itália - EUA / 2022) de Luca Guadagnino com Taylor Russell, Timothée Chalamet, Mark Rylance, André Holland, Kendle Coffey, Ellie Parker, Michael Stuhlbarg e David Gordon Green. ☻☻

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