Moura e Schick: cenas tórridas.
Praia do Futuro deve ser o filme brasileiro mais polêmico do ano, menos por sua história tratada com sutileza pelo diretor Karim Aïnouz e mais pelas cenas tórridas estreladas pelo astro Wagner Moura e o alemão Clemens Schick. O fato de algumas salas exibidoras carimbarem nos ingressos que os espectadores foram avisados sobre as cenas protagonizadas pelas cenas de sexo gay renderam grande burburinho na mídia e gerou comentários sobre homofobia e anti-homofobia durante a trajetória do filme nas telas. O fato é que apesar de toda a confusão, Praia do Futuro tem uma história de amor bastante simples, se não fosse pelos preconceitos que evoca na plateia mais conservadora (ironicamente é o medo desse preconceito que move o protagonista a viver a vida em outro lugar). Wagner Moura interpreta com grande competência o protagonista Donato, um salva-vidas da célebre praia cearense que fica atormentado ao enfrentar a sua primeira tentativa de salvamento fracassado. O afogado em questão é o amigo do alemão Konrad (Schick), de quem Donato se aproxima por conta das providências a serem tomadas sobre o corpo. Os dois acabam tendo relações no carro de Donato e começam um relacionamento conturbado pelos pudores do salva-vidas assumir sua homossexualidade diante da família, especialmente do irmão caçula, Ayrton. Entre a vida que tem e a vida que gostaria de ter, Donato parte para a Alemanha e, embora pareça satisfeito com a vida ao lado do namorado, o contraste entre o ensolarado litoral nordestino e a beleza sisuda de Berlin é inevitável para o seu desgaste emocional. Esse desgaste é mostrado vagarosamente por Aïnouz, que pontua o filme com longos silêncios, cenas simples do cotidiano que parecem servir para mostrar o quanto Donato está deslocado diante de sua escolha - e Wagner Moura merece aplausos por seu destemor em encarnar um personagem totalmente diferente de seu icônico Capitão Nascimento de Tropa de Elite (2007) seja em cenas de nudez ou de alcova com outro homem. As coisas complicam ainda mais com o passar do tempo e a visita de Ayrton (agora adolescente vivido pelo elogiado Jesuíta Barbosa) que forçará o irmão a pensar mais uma vez nos rumos que pretende tomar. A Paria do Futuro pontua seus silêncios e tom arrastado com cenas de amor brutas entre seu casal protagonista e explora bastante os contrastes das escolhas de Donato. Apesar de se distanciar dos clichês com maestria, o diretor pesa demais a mão em alguns momentos, fazendo com que o filme perca um pouco em sua fluência e se torne longo demais. No entanto, acho interessante como o filme começa e termina com locações em praias completamente diferentes - é impossível não pensar que a que vemos no final é a do título, semelhante ao deserto emocional que aflige tantos donatos dentro de seus desejos proibidos.
Praia do Futuro (Brasil-Alemanha/2014) de Karim Aïnouz com Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa, Fred Lima, Demick Lopes e Emily Cox. ☻☻☻
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