domingo, 3 de abril de 2011

CATÁLOGO: A Época da Inocência


Pfeiffer e Lewis: o desejo esmagado por uma sociedade conservadora.

Perdido em um canal de tv aberta sem grande público era exibido A Época da Inocência, um dos filmes mais inusitados de Martin Scorsese (o outro é o budista Kundun  de 1997). Scorsese ficou famoso na década de 1970 por fazer filmes recheados com muita violência, talvez por isso essa sua aventura pelo filme de época com toda a pompa e circunstância ficou em minha memória como um marco do cinema da década de 1990. Foi um desses filmes em que eu assisti ao lado de amigos e que todos me olharam com cara esquisita. Dizem que é parado, arrastado... será que os tontos não percebem a violência do filme de Scorsese? Pois é, ela permanece ali só que desta vez de forma mais sutil - e auxiliada pelo romance publicado por Edith Warthon ganhadora do pulitzer. Além dessas assinaturas ilustres, não é sempre que podemos ver um filme com os talentos de Daniel Day Lewis, Michelle Pfeiffer e Winona Rider no auge do estrelato. O filme conta a história de um romance fadado ao fracasso no fim do século XIX. A industrialização nos Estados Unidos crescia a todo vapor e a sociedade nova-iorquina já dava traços de que seria uma referência mundial. Os ideais progressistas modificavam a vida social e ao mesmo tempo se deparava com um protestantismo cada vez mais conservador. Neste mundo em transformação Scorsese conta com detalhes um triângulo amoroso na alta sociedade burguesa. Newland Archer (Lewis) é um advogado em ascenção em Nova Iorque e está noivo da inocente May (Rider, indicada ao Oscar de coadjuvante pelas nuances que tornam sua personagem mais esperta do que parece), prima da Condessa Olenska (Pfeiffer, lindíssima), uma americana de origem francesa que amarga a má reputação criada pelo seu divórcio. Olenska cria polêmica por seus vestidos ousados e hábitos inaceitáveis para a época (como iniciar uma conversa com um homem). A atração de Archer (e a nossa) por uma mulher tão fascinante será inevitável. Além de iluminar a tela, a presença de Michelle serve para manter sempre em mente o contraste do filme com outro longa protagonizado por ela: As Ligações Perigosas (1988). Enquanto Ligações era repleto de luxúria, Scorsese segura todo o desejo de seu filme com atuações sutis que deixam em evidência como as convenções sociais sufocam a atração que nasce entre Archer e a condessa. O filme só poderia ser um pouco mais curto (tem 130 minutos) e ter enxugado a narrativa em off, mas nada que prejudique a apreciação. Com a ajuda de um trio de atores perfeito, o filme capta o microcosmo de uma sociedade em transformação que esmaga os sujeitos com gestos polidos, mas igualmente agressivos.    

A Época da Inocência (The Age of Inocence/EUA-1993) de Martin Scorsese, com Daniel Day Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Rider e Richard E. Grant. ☻☻☻☻

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