The Americans
Não foram poucos os que estranharam a ausência de The Americans entre os indicados ao Globo de Ouro. Exibida no Brasil pelo FX (no horário ingrato de 10:30 da manhã de domingo) o programa é sucesso de audiência e de crítica. Criada pelo ex-agente da CIA Joseph Weisberg, a rejeição entre os votantes pode ser explicada pela semelhança que a produção tem com a atmosfera da badalada Homeland estrelada por Claire Danes, no entanto, The Americans tem vida própria ao lidar com o cotidiano de um casal de agentes da KGB que disfarçados de cidadãos americanos comuns, arquitetam estratégias, golpes e até atentados em nome da mãe Rússia no período da Guerra Fria. Além da reconstituição de época assustadoramente bem cuidada, o seriado conta com atuações sólidas de Keri Russel e Matthew Rhys perante os dilemas do casal. Keri interpreta Elizabeth, uma agente obstinada que não desvia por nenhum instante seu foco na Terra do Tio Sam, ao contrário de Phillip (Rhys) que aos poucos observa os americanos com um olhar diferente do maniqueísta para que foi treinado. Curiosamente, depois de tanto tempo escondidos (e com dois filhos para dar credibilidade), somente mais de uma década depois os dois começam a perceber que a companhia um do outro é o que tem para fortalecê-los numa terra estrangeira. Dessa forma se estabelece um romance entre os dois que pode comprometer o andamento de suas missões. O que mais gosto em The Americans não são os capítulos embalados por missões rebuscadas (as quais só entendemos o que está acontecendo no desfecho) e planos de sedução, mas a forma como os sentimentos aparece como algo que trai quem os sente. Isso serve tanto para o casal como para o agente Stan Beeman (Noah Emmerich), o vizinho agente da segurança nacional que nem suspeita que os vizinhos são russos infiltrados no pacato subúrbio em que vivem. Stan é casado, mas conforme encontra-se com uma informante russa, sua vida burocrática parece cair em tédio (ou seria tentação?). Para os fãs de enlatados, o maior atrativo é ver Keri Russel defendendo um papel bem diferente de sua antológica Felicity com um vigor invejável! A série possui treze episódios em sua primeira temporada, onde o destaque é o desenho elaborado dos personagens e o leque de possibilidades que abriu para a segunda - que começa a ser exibida em janeiro de 2014 nos EUA. Ao que parece, o Globo de Ouro e o Emmy (que rendeu ao programa duas mirradas indicações: atriz coadjuvante - para Margo Martindale, que interpreta a "chefe" do casal russo - e para a música de abertura criada por Martin Barr). Não é sempre que vemos uma série que fica melhor a cada capítulo!
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Les Revenants
É raro encontrar seriados franceses - e isso torna-se ainda pior quando vemos a qualidade com que Les Revenants é realizado. A série recebeu recentemente o Emmy de Melhor Série Estrangeira, o que foi muito merecido, já que desde Lost não vemos um programa com tantos enigmas. Baseado no filme de Robin Capillo de 2004 (que já ouvi dizer que era insuportável), Fabrice Gobert criou a história de uma cidade que começa a lidar com o retorno de pessoas que já morreram. Alguns faleceram recentemente, outros há décadas. O impacto psicológico dessa situação surreal entre familiares, amores e amigos (como era de se imaginar) é bastante confuso. Na primeira temporada, cada episódio era dedicado a esmiuçar cada personagem, assim conhecemos o silencioso Victor (Swann Nambotin), o assassino Serge (Guillaume Gouix), a menina gêmea Camille (Yara Pilartz), o roqueiro Simon (Pierre Perrier), uma senhora misteriosa... de início pensamos que todos precisam completar algum tipo de missão, mas não é nada disso. Aos poucos as relações entre os vivos e os mortos mudam a lógica do lugar e sentimentos pouco nobres começam a aparecer entre os moradores. Além da situação inusitada, o programa constrói meticulosamente sua narrativa, lenta e repleta de um suspense que nasce justamente dos dramas dos personagens. Situações como a represa que diminui seu volume de água e revela uma cidade inundada e animais mortos intactos, problemas com energia elétrica e um estranho vínculo de Victor com Serge alimentam ainda mais a trama. Sombria, Les Revenants não aborda questões religiosas, prefere concentrar-se nos sentimentos ambíguos de quem recebe novamente em sua vida aqueles que se foram. Na primeira temporada não existem explicações para o que está acontecendo, e no penúltimo capítulo um estranho segredo da cidade é revelado tornando toda situação ainda mais estranha. Sem dúvida, Les Revenants é um dos programas mais instigantes dos últimos anos. O canal MAX exibiu o último capítulo da primeira temporada na última quarta-feira, mas fique atento para as reprises que estão para começar. Obviamente que a ideia já recebeu a atenção de produtores estrangeiros interessados na trama, sendo assim os ingleses escalaram Paul Abbott (de Hit & Miss) para dar forma à They Come Back enquanto o canal americano A&E está preparando a versão americana. Eles vão ter trabalho... ☻☻☻☻☻
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