sábado, 31 de dezembro de 2016

MELHORES DO CINEMA - 2016

É inevitável fazer uma lista com o que você mais gostou  ao final de um ano cinematográfico - assim como é bastante difícil filtrar tudo o que foi assistido e chegar a um veredicto. Por isso prefiro ver todos os filmes citados abaixo como os meus favoritos do ano que termina, os citados são imperdíveis - e os escolhidos de cada categoria são os trabalhos que considero obrigatórios. A seguir os filmes e atores que fizeram meu 2016 muito mais interessante:

MELHOR ELENCO
Eu adorei Trumbo, especialmente pelo seu elenco estelar contando uma história estranha sobre Hollywood e política. Os outros cinco indicados também merecem destaque, seja por fazer rir com a colagem de  Ave, César! ou o pouco visto O Que Fazemos nas Sombras, na rígida tensão de A Bruxa, nos diálogos cortantes de Steve Jobs ou na plena sintonia de Mais Forte que Bombas

REVELAÇÃO DO ANO
Olhando as escolhas dos anos anteriores senti falta de uma categoria que contemplasse os novos talentos que chamaram atenção! Por isso criei esta nova categoria em que a estreante Anya Taylor-Joy (A Bruxa) merece o reconhecimento por criar uma personagem complexa demais para sua pouca experiência diante das câmeras. Mas é bom ficar de olho ainda em Christopher Abbot (talento saído da série Girls que tem um papel complicado em James White), o ator, roteirista, produtor e diretor (que assina o novo Thor) Taika Waititi (como o vampiro dândi de O Que Fazemos nas Sombras). A jovem Bel Powley que demonstra fôlego de veterana em Diário de uma Adolescente, o divertido Tom Bennett (que além de brilhar em Amor & Amizade é a coisa mais fofa de Mascotes) e o prodígio Jacob Tremblay, um dos atores mirins mais descolados que já pisaram no Oscar por O Quarto de Jack

ROTEIRO
O que seria de um filme sem roteiro? Nada.  Esse ano foi difícil escolher o meu favorito na categoria, entre a violência virada do avesso em Elle, o diálogo com alienígenas em A Chegada, o Holocausto como pano de fundo de O Filho de Saul, os laços de afeto em busca de fortalecimento em Mais Forte que Bombas ou os rumos da vida (ou da morte) diante da juventude de Eu, Você e a Garota que vai Morrer meu gosto pendeu para Deus Branco e a jornada de um cão cheia de simbologias sociais. 

ATOR COADJUVANTE
Acho que é a categoria que causará maior estranhamento nos leitores, já que escolhi atores que estão fora dos radares das grandes premiações. Mas como ignorar o horror que brota de John Goodman em seu abrigo na Rua Cloverfield, 10? Ou do carisma de Javier Camara visitando seu melhor amigo em Truman? Das risadas provocadas por Alden Ehrenreich em Ave, César!? Das doses cavalares de bom mocismo de Emory Cohen em Brooklyn? Ou da atuação com as limitações físicas de Sam Claflin no meloso Como Eu Era Antes de Você? Mas o meu escolhido do ano é o jovem Devin Druid que com 17 anos fez mais bonito do que gente grande como o filho caçula em busca de si em Mais Forte que Bombas (ele só não concorreu como Revelação porque presto atenção nele desde a minissérie Olive Kitteridge /2014). 

ATRIZ COADJUVANTE
Eu me rendo novamente a você, Kate Winslet! Depois que achamos já conhecer todas as suas facetas, você aparece ainda mais versátil como a voz da consciência de Steve Jobs! Assim fica difícil para suas concorrentes! A meiga Olivia Cooke (Eu, Você e a Garota que Vai Morrer), a louca Jason Leigh (Os Oito Odiados), uma devastadora Cynthia Nixon (James White),  a descolada Mya Taylor (Tangerine) e Margot Robbie que foi a melhor coisa de Esquadrão Suicida como a desmiolada Arlequina.

ATOR
Eu já disse que gosto de Trumbo, muito por conta da atuação de Bryan Cranston que está fenomenal como o roteirista perseguido por suas convicções políticas. Ele concorreu ao Oscar com Leo DiCaprio (que come o pão que o urso amassou em O Regresso), Eddie Redmayne por (filme que eu detesto) A Garota Dinamarquesa e Michael Fassbender na pele de Steve Jobs.  Entre eles destaco Omar Sy, arrasador na história real do primeiro astro negro da França em Chocolate e o estranho Alfredo Castro por De Longe Te Observo

ATRIZ
Aos 63 anos Isabelle Huppert está em plena ativa! Ela apareceu em seis filmes em 2016 e estará em outros seis em 2017! Haja disposição! Isabelle ainda é o tipo de atriz que topa qualquer desafio, afinal, quantas mulheres de sua idade entraria na espiral de acontecimentos surpreendentes de Elle? Mais uma vez, a musa francesa dá uma aula do que é atuar impregnando cada gesto e olhar com uma gama inalcançável de sentidos. O ano ainda trouxe mais uma performance memorável de Amy Adams (em A Chegada, na verdade duas se contarmos Animais Noturnos que ainda não pude assistir). Ainda teve Sonia Braga em pauta com as polêmicas políticas envolvendo Aquarius desde que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Ainda não podemos esquecer da consagração de Brie Larson como a mãe zelosa de O Quarto de Jack, a força de Cate Blanchett em Carol e a chegada à maturidade de Saoirse Ronan no saborosamente romântico Brooklyn.  

DIRETOR
Sempre me interessa o trabalho de um diretor que nos leva por caminhos incomuns ao contar sua história. Nesse ponto, Lenny Abrahamson merece ser lembrado por nos dar a sensação de conhecer o mundo pela primeira vez em O Quarto de Jack, assim como Robert Eggers lida com o horror do desconhecido em A Bruxa. Laszlo Nemes não poupa a plateia dos horrores da guerra que servem de cenário para O Filho de Saul e Alfonso Gomez Rejon enche de sensibilidade uma trama sobre a colisão dos mundos entre os personagens de Eu, Você e a Garota que Vai  Morrer. Já Kórnel Mundruczó chegou bem perto de ser o meu favorito do ano ao mostrar o nosso mundo sobre uma ótica canina em Deus Branco, mas minha escolha de direção do ano vai para a poesia filosófica impressa por Joaquim Trier em Mais Forte que Bombas.

FILME
Sei que tem gente que irá me xingar por considerar Eu, Você e a Garota que Vai Morrer o favorito do ano. Vale lembrar que o filme foi premiado em Sundance e foi lançado aqui direto em DVD após se tornar cult no exterior, especialmente pela forma peculiar como declara seu amor ao cinema e à amizade ao mesmo tempo. São tantos detalhes utilizados para contar uma história sobre adolescência, morte e vida que o filme trouxe leveza para lidar com assuntos difíceis num ano tão denso como 2016. Ressalto que minha escolha não desmerece a ousadia de A Chegada ou Elle, a tensão de A Bruxa, o terrir documental de O Que Fazemos nas Sombras, o desespero imersivo de O Filho de Saul, a sensibilidade de O Quarto de Jack, as camadas de leitura geradas por Mais Forte que Bombas, a crítica social de Deus Branco e  as discussões provocadas pelo brasileiro Aquarius. São esses dez filmes que tornaram meu ano cinematográfico mais interessante.

E quais foram os seus favoritos de 2016?

NªTV: Black Mirror

Black Mirror: hipnótica tecnologia. 

Quantas séries podem se gabar de tornar-se um adjetivo? Poucas, muito poucas. Entre elas está Black Mirror. Em 2016 eu escutei expressões como "acordar com Donald Trump como presidente dos EUA é como viver um episódio de Black Mirror?" ou "eu tive um ano Black Mirror?". O fato é que a série inglesa teve duas temporadas curtas de três episódios (em 2011 e 2013) e um episódio de natal em 2014 antes de ser sepultada pela inglesa Channel 4, mas graças à (ironicamente) tecnologia  ganhou o mundo anos depois quando chegou ao catálogo do Netflix, que logo demonstrou interesse em retomar os contos sombrios sobre a vida tecnológica no futuro visualizado por Charlie Brooker.  Em 2016 seis novos episódios de BM foram lançados e, diante da vasta distribuição mundial, fez com que este estranho universo fosse descoberto por milhões de pessoas. No entanto, existe uma espécie de quebra epistemológica entre as fases do programa, mas vamos começar do início. Tão logo os primeiros episódios chegaram ao Netflix eu comecei a assistir e ficou pautada uma regra no meu relacionamento com a série: não conseguir ver os episódios em sequência. O que Brooker faz é algo tão assustador que um episódio me consome por dias, às vezes semanas! No aterrador primeiro episódio (onde o primeiro ministro inglês precisa aparecer diante das câmeras tendo relações com uma porca para resgatar a princesa do país) já fica claro que o criador não esta de brincadeira ao abordar o fascínio quase hipnótico provocado pela vida online. Entre aplicativos que permitem ver o passado, a tecnologia de clonagem, passando por reality shows onde a vida está em jogo e personalidades televisivas que se tornam líderes autocráticos, Black Mirror ousa projetar para o futuro o que o comportamento tecnológico apresenta hoje. Parece algo simples, mas é o que há de mais caro na ficção científica. Quantas vezes não vemos críticos comentando sobre os acertos deste ou daquele filme sobre o futuro e seus carros que voam, videofones e apetrechos esquisitos. Quando vemos Black Mirror, a impressão é que os primeiros passos para o que vemos já foi dado e o próximo episódio está logo ali. Os sete episódios da temporada inglesa são maravilhosamente sombrios e dotados do humor negro tipicamente inglês, algo que seria bastante difícil de se fazer ao migrar a série para os Estados Unidos. Na nova temporada percebe-se que a série perdeu parte de sua atmosfera sufocante, investindo mais em cenas bem humoradas quando Bryce Dallas Howard surta para ter o maior número de "curtidas" numa rede social (mas que funciona como uma verdadeira prisão). Se você vive grudado no Facebook esse episódio será muito especial para você! Nas seis novas histórias somente uma parece realmente próxima dos outros capítulos (a do rapaz que se mete numa grande encrenca após ver um vídeo na internet), nas outras tudo parece um tanto diluído já que na maioria dos seis novos episódios Charlie Brooker flerta o tempo todo com o politicamente correto, o que torna o programa mais previsível (a história sobre o casal lésbico que viaja no tempo é forte candidato a um dos mais sonolentos da série em sua necessidade de não soar preconceituoso, tendo o único final feliz de toda a antologia do programa, o que poderia ser inovador torna-se uma verdadeira camisa de força para o episódio). Black Mirror ainda é  pertinente, mas perde pontos quando muda te tom para agradar um público mais amplo fora da Inglaterra, sorte que ainda assim ele assusta bastante por refletir a humanidade que vemos hoje num futuro próximo. 

Bryce (ao centro): presa às redes sociais. 

Black Mirror (Reino Unido / EUA - 2011/2016) de Charlie Brooker com Rory Kinnear, Hayley Atwell, Toby Kebell, Jon Hamm, Bryce Dallas Howard, Kelly MacDonald, Lindsay Duncan, Domhnall Gleeson, Rafe Spall, Mackenzie Davis e Alex Lawther. ☻☻☻☻

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

MELHORES DA TV - 2016

O ano está terminando e resolvi escolher os meus favoritos da televisão no ano que passou. Alguns repetiram o feito no ano passado, outros nem concorreram e alguns novatos apareceram entre no que considero os melhores da telinha no ano que passou. Os escolhidos estão no centro em destaque:

Série de Comédia
No ano em que as eleições americanas se tornaram filme de terror, Veep nos ajudou a entender um pouco mais dessa lógica maluca da democracia americana... ou simplesmente entender menos ainda. 

Atriz em Comédia
Podem brigar comigo, mas pela terceira vez seguida, Julia Louis-Dreyfus é a atriz que mais me faz rir ao assistir TV! Com as outras eu também gargalho bastante...

Ator em Comédia 
Eu não sou grande fã de Transparent, mas o trabalho de Jeffrey Tambor é realmente sensacional! Devo destacar a menção a Nick Sandow (que costuma ser esquecido nas premiações) por um dos poucos personagens masculinos de Orange is the New Black

Atriz Coadjuvante
Thandie Newton foi o principal motivo de eu assistir Westworld e ela não me decepcionou em instante algum: as angústias de sua personagens são vividas de forma sublime ao ponto de você questionar se não é ela a verdadeira protagonista da trama. 

Ator Coadjuvante 
2016 foi um ano árduo e isso pesou quando escolhi Titus Burgess que me fez dar algumas das maiores risadasgaralhadas do ano! Seu personagem é uma dos sujeitos mais sem noção que já vi numa série - e o ator se acaba em cena. 
Atriz em Drama
Não tem como não escolher Tatiana Maslany e sua dezena de personagens de Orphan Black. A quarta temporada foi ótima para a versatilidade da surpreendente atriz canadense. Ainda assim foi minha escolha mais difícil.

Ator em Drama
The Night Of foi um dos grandes destaques do ano, especialmente pelo seu elenco excepcional! Devo admitir que foi uma dúvida cruel escolher entre John Turturro e Ahmed por suas atuações inesquecíveis numa série que merece sua antologia na HBO. 

Série de Drama
Stranger Things se tornou um fênomeno em 2016 com suas referências dos anos 1980 e a gana por maratonar todos os seus capítulos no Netflix! Já cultuada (e com sua segunda temporada ansiosamente aguardada), a série teve concorrentes de respeito. Vale registro a despedida de Penny Dreadful que terminou precocemente em seu terceiro ano. 

PL►Y: O Contador

Anna e Ben: um quebra-cabeça interessante. 

Depois de ser celebrado como diretor (especialmente com o oscarizado Argo/2012), Ben Affleck tem dedicado sua carreira de ator para nos ensinar uma lição: a de que seu jeitão quase desprovido de emoção cai como uma luva em determinados papéis. É verdade que quando Hollywood achou que ele poderia ser astro o colocou em comédias, romances e tudo o mais que fosse capaz de fazê-lo cair no ridículo. Sorte que o californiano Benjamin Geza Affleck-Boldt não se faz de rogado e persiste em encontrar seu rumo na carreira em frente às câmeras. Assim, ele segue na sua recente jornada de mostrar que pode ser realmente convincente em personagens que exigem doses cavalares de ambiguidade. Foi assim em Argo, onde seu agente da CIA vivia tenso por dentro, mas transparecia a segurança numa missão perigosa, depois foi o esposo suspeito de matar a esposa em Garota Exemplar (2014), como o super-herói sem poderes num mundo habitado por aliens e deuses de Batman Vs. Superman (2016) e neste recente O Contador, no qual agradou público e crítica com sua trama que se desenvolve feito um engenhoso quebra-cabeça. Desde o início do filme percebemos que o protagonista Christian Wolff (Affleck) é uma pessoa diferente, diagnosticado com quadro de autismo desde a infância, sua sensibilidade aguçada transformou seu relacionamento com o mundo em um problema. No entanto, Christian se tornou um contador brilhante e... um exímio atirador, além de lutador habilidoso! Como essa trajetória, digamos, curiosa aconteceu é o quebra-cabeça que o diretor Gavin O'Connor propõe à plateia. Misture cenas de ação, tiroteios mirabolantes, uma investigação e uma chuva de referências à cultura pop (Guerra nas Estrelas, HQ, filmes de super-heróis e até Jackson Pollock...) e você terá um filme que se acompanha fácil através de uma narrativa esperta que brinca com os contrastes explorados a todo instante (sobretudo na relação entre o humor e a violência crua). O Contador pode ser ainda mais surpreendente se você se der conta do drama familiar que se esconde debaixo de tudo no meio da sessão. Ben Affleck (que está bem em cena com seu tipo sisudo) não está sozinho na luta pela credibilidade do filme, contando com um grande elenco para lhe dar apoio (com destaque para o ascendente Jon Bernthal como Brax, uma paródia do Justiceiro da Marvel que ele mesmo viveu na série Demolidor, que já foi filme com Affleck e que tem trajetória meio parecida com Wolff... e Batman vivido agora por Affleck em nova fase - onde J.K Simmons é o novo comissário Gordon e por aí vai...). Talvez o filme exagere na hora de embaralhar a história, mas se a ideia é um quebra-cabeça (construído de cabeça para baixo) isso faz todo o sentido. 

O Contador (The Accountant/EUA-2016) de Gavin O'Connor com Ben Affleck, Anna Kendrick, John Lithgow, Jon Bernthal, J.K. Simmons, Jean Smart, Jeffrey Tambor e Cynthia Addai Robinson. 
☻☻☻

HIGH FI✌E: DEZEMBRO

Cinco filmes assistidos no mês de dezembro que merecem destaque:

"A Chegada" de Dennis Villeneuve
☻☻☻

"Aquarius" de Cléber Mendonça Filho
☻☻☻

"Elle" de Paul Verhoeven
☻☻☻

"Marguerite" de Xavier Giannoli
☻☻☻

"Pelo Amor de Spock" de Adam Nimoy
☻☻☻

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

4EVER: Debbie Reynolds

1º de abril de 1932 28 de dezembro de 2016

Nascida no Texas, Mary Frances Reynolds chegou ao estrelato aos 16 anos após ganhar um concurso de beleza - que lhe rendeu um contrato com a Warner! Seu primeiro papel foi em 1948 no filme June Bride (), mas em 1952 ela se tornou estrela de verdade no clássico Cantando na Chuva. Ao longo das décadas, Debbie se tornou ícone do cinema, tendo papéis marcantes no cinema como em Mother (1996) e Será que Ele é? (1997). Sua filha, Carrie Fisher, havia se inspirado no relacionamento com a mãe para escrever uma peça de teatro - que depois virou um filme chamado Lembranças de Hollywood/1990. A obra foi aclamada por sua sinceridade e sensibilidade ao contar uma delicada relação ente mãe e filha. No entanto, o final da história só aconteceu na vida real, quando a mãe Debbie Reynolds faleceu um dia depois da filha em consequência de um Acidente Vascular Cerebral.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

4EVER: Carrie Fisher

21 de outubro de 1956 27 de dezembro de 2016

Nascida em Beverlly Hills, filha da atriz Debbie Reynolds e do cantor Eddie Fisher, Carrie Frances Fisher atravessou o divórcio dos pais aos dois anos de idade. Aos dezoito anos ela ingressou numa escola de arte dramática em Londres, onde estudou por dezoito meses. Sua estreia no cinema aconteceu em 1975 na comédia romântica Shampoo, estrelada por Warren Beatty, mas o sucesso absoluto só veio no filme seguinte: Star Wars - Uma Nova Esperança (1977), que a elevou ao patamar de musa da ficção científica ao viver a princesa Lea Organa. Com a chegada ao estrelato, Carrie enfrentou problemas em sua vida pessoal, mas nada que impedisse que ela vivesse Lea em outros quatro filmes da franquia (sua participação no episódio VIII da saga já está pronta). Além de atriz, Carrie Fisher ainda tinha uma sólida carreira como roteirista e escritora. A atriz faleceu em consequência de uma parada cardíaca num voo de Londres para Los Angeles. 

domingo, 25 de dezembro de 2016

4EVER: George Michael

25 de junho de 1963 25 de dezembro de 2016

George Michael nasceu como Giorgios Kyriacos Panayiotou ao norte de Londres, treze anos após o seu pai cipriota mudar-se para a Inglaterra. A mãe de George era uma dançarina e desde a adolescência o rapaz desejava dedicar-se ao mundo da música. Com o amigo Andrew Ridgeley ele criou a dupla Wham! em 1982 e no ano seguinte lançaram seu primeiro álbum - que fez história ao gerar o  primeiro show ocidental da China em 1985! No ano seguinte Michael partiu para a carreira solo e emplacou vários hits até o final da década de 1990. Indicado a vários prêmios ganhou três Brit Awards, um VMA da MTV e das oito vezes que concorreu ao Grammy, levou dois para a casa. Amparado pelos hits Freedom'90, Faith, Father Figure e muitos outros o cantor apresentou-se no Brasil em 1991 na segunda edição do Rock in Rio. No século XXI o cantor foi mais falado por sua vida pessoal, sua saída do armário, o envolvimento com drogas, acidentes e problemas de saúde desde 2011. Após mais de 100 milhões de discos vendidos e três décadas de carreira, o artista faleceu aos 53 anos de causa não divulgada para a imprensa.

PL►Y: Sing Street

A banda que dá nome ao filme: tudo por uma garota. 

Grande surpresa entre os indicados ao próximo Globo de Ouro, Sing Street é um filme sobre uma banda formado por garotos que estudam em uma escola católica na Irlanda dos anos 1980. É quase que por acaso que Conor (Ferdia Walsh Peelo) começa uma banda após ver um clipe do Duran Duran , na época em que a TV começou a tocar música com a MTV. Aquela mistura de música, imagem e estilo contamina Conor ao ponto do rapazinho resolver que não existe outro caminho para ele além de se tornar um astro da música - especialmente depois que precisa impressionar uma bela garota das redondezas. No entanto, ele ainda precisa juntar a banda que dá nome ao filme. É verdade que os conselhos do irmão (Jack Reynor), fã do rock que começava a dar as caras naquela década, ajuda bastante ao irmão caçula na busca de sua própria sonoridade - mas ela só ganha forma mesmo quando ele conhece Eamon (o estreante Mark McKenna), seu parceiro em melodias e letras. É interessante como o filme cria essa sintonia entre os dois personagens, como se fosse o encontro de Lennon e McCartney ou Morrissey e Johnny Marr, e ainda que a Sing Steet tenha outros integrantes, a alma musical do grupo é formada pelos dois. Claro que nesse ambiente juvenil a musa de Conor, a aspirante à modelo Ann (Kelly Thornton), torna-se cada vez importante a medida que inspira o mocinho em suas canções. O melhor do filme está além da história de amor juvenil que perpassa a narrativa, a nata da produção é como o grupo de adolescentes digere as influências que estavam em alta durante a década de 1980, a sonoridade de cada canção e o visual de cada vídeo realizado cruza David Bowie, The Cure, Roxy Music e gera momentos bastante agradáveis de assistir (embalado ainda por canções pop interessantes).  Assinado por John Carney, o diretor por trás de Apenas Uma Vez (2006) e Mesmo se Nada der Certo (2013), dois filmes que, assim como em Sing Street, aborda o universo de músicos que ainda procuram um lugar ao sol e que expressam suas emoções através de belas canções (que geralmente são indicadas ao Oscar da categoria). A diferença é que neste novo filme, os personagens ainda são adolescentes e não se preocupam muito mais do que criar músicas para animar a festa da escola e chamar atenção de uma garota especial. Dentro do universo musical criado por Carney este deve ser o filme mais leve e o que menos se aprofunda nos dilemas dos personagens. Longe de ser ruim, o filme torna ainda mais saboroso ver o nascimento de uma banda que cresce aos poucos diante da câmera, mas carecia de um pouco mais de desenvolvimento dentre o que apresenta ao espectador (os problemas da família de Conor, a relação de Ann com o namorado mais velho, a rigidez da escola católica...). O final ainda que poético também poderia ter sido um pouco mais trabalhado, mas nada que atrapalhe o filme de ficar alguns dias na sua memória. Sing Street é uma despretensiosa surpresa e pode ser vista no Netflix.

Sing Street (Irlanda - Reino Unido - EUA / 2016) de John Carney com Ferdia Walsh Peelo, Jack Reynor, Kelly Thornton, Maria Doyle Kennedy e Aidan Gillen. ☻☻☻

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Ladies & Gentlemen:Thandie Newton


Thandie Newton
Thandiwe Melanie Newton veio ao mundo em Londres no dia 6 de novembro de 1972, sua mãe nasceu no Zimbábue e o  pai trabalhou por lá como profissional da Saúde na tribo Shona. O descontentamento de ambos com a política local fizeram com que voltassem para o Reino Unido, onde Thandie estudou na Escola de Artes de Londres, onde cursou dança moderna - carreira que Thandie precisou deixar de lado após uma lesão nas costas. Com a carreira impossibilitada na dança, a jovem começou a investir na carreira de atriz, participando de várias audições e conseguindo seu primeiro papel no início dos anos 1990 em Flirting (1991), onde dividia a cena com Nicole Kidman e Naomi Watts. Durante toda a década ela apareceu com algum destaque em vários filmes. Seu quarto trabalho no cinema foi uma participação especial em Entrevista com o Vampiro (1994) pouco antes de conseguir destaque como a criada de Thomas Jefferson em Jefferson em Paris (1995). Neste mesmo ano ela chamou atenção como protagonista de Amor e Liberdade (1995) ao lado de Jason Patric. Ela também atuou em O Sedutor (1996) ao lado de Jon Bon Jovi e contracenou com Tim Roth no drama independente Gridlock'd (1997). Com tantos momentos expressivos, já estava na hora da atriz receber um papel que exigisse mais de seu talento, foi quando ela apareceu no cult Assédio (1998), de Bernardo Bertolucci, onde ela vive uma paixão além das palavras com o patrão vivido por David Thewlis. Com atuação bastante elogiada ela foi indicada ao seu primeiro prêmio de interpretação. No entanto, o filme que a tornou conhecida nos Estados Unidos foi a adaptação do romance Bem-Amada de Toni Morrison adaptado por Johnatan Demme em 1998. O filme foi produzido por Oprah Winfrey para marcar o seu retorno ao cinema, mas foi Thandie que roubou a cena com a estranha personagem que ressurgia dos mortos com manias muito estranhas. 

Thandie em Bem Amada: hábitos estranhos. 

A interpretação forte da atriz chamou atenção da crítica, com seus gestos e expressões impressionantes, via-se a total entrega da atriz que foi colocada na lista de atrizes mais promissoras de Hollywood. Se o filme não houvesse fracassado nas bilheterias, provavelmente a atriz teria recebido uma indicação ao Oscar por sua performance ousada diante da câmera. Pelo menos o filme serviu para lhe dar mais destaque entre as jovens estrelas do cinema, rendendo o convite para ser o par de Tom Cruise em Missão Impossível II no ano seguinte. Outros convites para grandes produções surgiram logo depois, repetindo a parceria com Demme em O Segredo de Charlie (2002), A Batalha de Riddick (2004) e Crash - No Limite (2004) premiado com o Oscar de Melhor Filme em 2005 com suas histórias cruzadas sobre racismo (e pelo qual ela recebeu o prêmio de melhor elenco no Screen Actor's Guild). Nos anos seguintes, a atriz apareceu como a esposa que abandona Will Smith no melodrama À Procura da Felicidade (2006), foi o par de Eddie Murphy na comédia Norbit (2007) e com Simon Pegg em Maratona do Amor (2007). Além do talento, Thandie sempre chamou atenção dos diretores por seu charme e elegância, tanto que Guy Ritchie a escalou para encarnar a personagem feminina mais importante de Rock'n'Rolla, onde flertava com Gerard Butler agressivamente. Cada vez mais conhecida, ela interpretou ela mesma em Um Louco Apaixonado (2008), adaptação pouco vista do livro Como Perder Amigos e Influenciar Pessoas. No mesmo ano, a atriz encarnou um controverso personagem real, a Secretária de Estado do governo George W. Bush, Condoleeza Rice no filme de Oliver Stone W. (2008). Depois ela presenciou o mundo acabar com o apocalíptico 2012 (2009), viu os habitantes de Detroit desaparecem em Mistério da Rua 7 (2010), apareceu no poético For Colored Girls (2010) de Tyler Perry (com Kerry Washington, Whoopi Goldberg e Janet Jackson), protagonizou o suspense Retreat (2011) ao lado de Cillian Murphy e voltou a trabalhar com Perry na comédia dramática Uma Boa Ação (2012). Seu último filme a aparecer por aqui foi Meio Sol Amarelo, drama familiar que se passa durante o movimento pela independência da Nigéria nos anos 1960. Com vários trabalhos com diretores importantes no cinema, não deixa de ser irônico que o papel que a tornou mais conhecida tenha aparecido na televisão! Thandie já havia participado de quatorze episódios de Plantão Médico entre 2003 e 2009, além de encarnar a instável detetive da série Rogue por três anos e  integrar o elenco da série The Slap (2015). No entanto, foi como a "anfitriã" dona de um prostíbulo na série Westworld, nova sensação do canal HBO, que Thandie surpreendeu muita gente. Aos vinte e cinco anos de carreira ela nunca esteve melhor, já que sua personagem, a cafetina Maeve rouba a cena e deve lhe render vários prêmios na temporada por seus conflitos (o Critic's Choice Awards de atriz coadjuvante ela já levou e está indicada ao Globo de Ouro na mesma categoria). Parece que agora a atriz será ainda mais respeitada em Hollywood.

Westworld: a arte de ser melhor a cada cena. 

NªTV: Westworld

Hopkins: Doutor Frankenstein moderno. 

Eu tentei acompanhar Westworld quando foi ao ar pela HBO mas eu não consegui. Dormi no primeiro episódio. Vi o pedaço que faltava em uma reprise. Assisti ao segundo e dormi novamente, dessa vez não tentei ver reprises. Resolvi encarar logo o terceiro e dormi em poucos minutos. Apesar da assinatura ilustre (Jonathan Nolan, roteirista parceiro e irmão de Christopher Nolan) a história não despertou meu interesse. Acompanhei todos os comentários animados que começaram a aparecer conforme a série chegava ao fim e depois que todos estavam impressionados eu só pensava nos carneirinhos que não precisei contar ao enveredar pelo programa. Então dois fatores me fizeram dar uma segunda chance a um dos programas mais falados do ano: meu amigo Michael Marins (que foi categórico em seus argumentos de que valeria a pena retomar a série) e o serviço de streaming do canal - que me permitiu administrar os episódios além da minha disponibilidade, mas também pelos momentos em que continuei adormecendo. Não sei se perceberam, mas Westworld tem dois momentos distintos em sua primeira temporada, um em que os arcos que se repetem entremeados por cenas quase aleatórias, até que lá pelo quinto episódio tudo se torna mais ágil e coeso, contando a que veio. Parece que a série levou ao ar um longo epílogo (e um tanto cansativo) sobre o mundo do parque de diversões que proporciona aos seus visitantes um pouco de aventura no mundo do faroeste, sem que estes corram o risco de serem feridos pelos "anfitriões"- robôs dotados de inteligência artificial que desde o primeiro capítulo revelam começar a ter algumas falhas em sua programação. O que poderia colocar em risco os visitantes é visto como algo contornável pelos programadores do parque, tão certos de que está tudo sob controle (assim como naquele outro parque temático criado pelo mesmo Michael Crichton, o Jurassic Park, que funcionava até que os "anfitriões" dinossauros burlassem o sistema). Depois de conhecermos o criador (Anthony Hopkins), seu fiel assistente (Jeffrey Wright), a mocinha (Evan Rachel Wood), o  mocinho sofredor (James Marsden, que morre sempre e gerou um bordão entre alguns amigos de "Oh my God, They kill Teddy"), o vilão (Rodrigo Santoro), o personagem misterioso (Ed Harris), a cafetina (Thandie Newton, cada vez melhor conforme sua personagem cresce na trama) e muitos outros, os capítulos se desenvolvem expandindo o universo em várias frentes e se retrai em outras (você percebeu como o povo que controla o parque perdeu espaço na segunda metade da história?). Dos interesses comerciais na tecnologia empregada no parque, na forma como uma dupla de amigos vivenciam as emoções de Westworld, mas a trama mais interessante é da cafetina que descobre tudo o que está por trás do que ela considera realidade - e toma as rédeas de seu destino como fez o T-Rex daquele outro parque temático.

Teddy e Dolores: os mocinhos?

Debaixo de toneladas de personagens mortos, reprogramados (ou não), cenas de nudez, violência e muito sangue, o mais interessante é a forma como a série explora a construção da identidade dos robôs a partir de suas memórias (implantadas ou não). Em alguns momentos o roteiro é propositalmente confuso e tenta distrair o expectador com uma série de artifícios dos filmes de ação, mas o que importa é o que está por baixo de toda essa pele sintética um tanto gorda. Westworld retoma algumas reflexões que já foram vistas em outras obras sobre inteligência artificial, sobretudo a relação dos humanos com suas criações e dos robôs com sua programação limitadora. Muitos dos desdobramentos já apareceram antes no espetacular Blade Runner (1982), no melancólico A.I. (2001), no intimista Ex-Machina (2015) e na excelente série sueca Real Humans (2012-2014) a diferença aqui é o verniz de ação impresso para agradar ao público HBO que fez a glória da cultuada Game of Thrones e o fiasco da segunda temporada de True Detective (que continua cancelada) e da decepcionante Vinyl. Ou seja, a HBO precisava de outro grande sucesso enquanto GoT caminha para o fim - e rápido. Tirando a violência explícita e as cenas de nudez (sobretudo a feminina) as duas séries tem pouco em comum. E a pausa estratégica nas gravações para que a série fosse reestruturada (lembro de quando os produtores acharam tudo confuso demais e algumas cenas precisaram ser refeitas e reeditadas) fez com que a trama melhorasse consideravelmente. De resto, o voo solo de Jonathan Nolan mostra mais uma vez sua habilidade em embaralhar camadas de narrativa e revelar no último episódio, mais uma vez, suas obsessões com memórias e lembranças (e a forma como utiliza a edição para embaralhar a mente do espectador). Existe algo de seus textos para Amnésia (2000) e A Origem (2010) em toda a trama - e enfatizada ainda mais no último episódio (e quem viu esses filmes sabe exatamente do que estou dizendo), especialmente na ideia do arco que se fecha e se reinicia como em uma espiral cai muito bem em uma série. Se a primeira temporada melhorou no decorrer dos capítulos, a segunda tem tudo para ser ainda melhor - ainda mais depois do gancho avassalador na última cena. Em Westworld nada será como antes - ainda bem.

Thandie e Santoro: anti-heróis do barulho. 

Westworld (EUA-2016) de Lisa Joy e Jonathan Nolan com Evan Rachel Wood, Anthony Hopkins, Thandie Newton, Jeffrey Wright, Ed Harris, Rodrigo Santoro e James Marsden. ☻☻☻☻

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

PL►Y: Zoolander I e II

Derek Zoolander: alfinetadas fashion. 

Quando Zoolander estreou em 2001 o humor de Ben Stiller chegava ao auge contando a história do modelo masculino de uma expressão só e que não conseguia girar para a esquerda. Além de fazer troça com o mundo da moda, o filme explorava a história de um personagem bastante peculiar. Filho de carvoeiros e totalmente sem noção, Zoolander (o próprio Stiller) era uma referência no mundo da moda e acaba se metendo numa truncada conspiração para eliminar um obstáculo para os lucros de uma sociedade secreta - de estilistas famosos liderados por Mugatu (Will Ferrell). O filme acumulava pilhas de besteirol e rendia muitas risadas por não se levar a sério e ser tão despretensioso em criar piadas bem sacadas com um mundo igualmente cultuado e considerado fútil pela maioria dos mortais. Some isso à rivalidade com o novo top masculino da vez, Hansel (Owen Wilson, dá para acreditar?) e participações especiais inusitadas que iam de David Duchovny (como um horroroso modelo de mãos) e David Bowie (como o árbitro de uma competição fashion cheia de testosterona) e você terá ideia do que foi ver o filme entre os lançamentos do primeiro ano do século XXI. Depois de consolidar na direção com Trovão Tropical (2008) e derrapar com A Vida Secreta de Walter Mitty (2013) a autoestima de Stiller achou que era a vez de retomar a história de Derek Zoolander quinze anos depois. Misturou participações especiais (Justin Bieber, Billy Zane, Susan Boyle, Kiefer Suterland...) , retomou alguns personagens importantes do universo criado por ele, misturou piadas com redes sociais e lançou um trailer de rolar de rir. Quando chegou aos cinemas o filme se mostrou um verdadeiro abacaxi sem graça. Desta vez, após uma tragédia pessoal Zoolander é recrutado por uma agente da Interpol, Valentina Valencia (Penélope Cruz) para descobrir o mistério por trás de estrelas do mundo pop (que na hora da morte fazem aquela cara característica do modelo em questão). Esse é o fio minúsculo que conduz a trama cheia de piadinhas infames. Stiller não se preocupou em construir uma história interessante para a sequência, investindo em algumas modernizações que já parecem datadas em sua época de lançamento. Tudo o que o filme anterior tinha de bem sacado, aqui aparece diluído em piadinhas auto-referenciais que são bem menos engraçadas do que seu diretor pensa. Obviamente que existem piadas com o mundo fashion que até funcionam (como a plastificada Antonia Atoz, vivida por uma irreconhecível Kristen Wiig, uma clara alusão à Donatella Versace - mas que lembra a Miley Cirus!!!), mas esses momentos são apenas pontos muito específicos de uma narrativa de colagem desgovernada e sem foco. Quem diria que Zoolander II só ressaltaria os méritos do primeiro filme, que hoje soa como um pretinho básico (ainda que espalhafatoso) que nunca sai de moda.

Zoolander 2: um tanto fora de moda. 


Zoolander (EUA-2001) de Ben Stiller com Ben Stiller, Owen Wilson, Will Ferrell, Christine Taylor, Milla Jovovich e Jon Voight. ☻☻☻☻

Zoolander 2 (EUA-2016) de Ben Stiller com Ben Stiller, Owen Wilson, Penélope Cruz, Will Ferrell, Kristen Wiig e Benedict Cumberbatch.

domingo, 18 de dezembro de 2016

10+ FILMES FAVORITOS DE 2016

É sempre trabalhoso escolher os filmes favoritos de um ano, por isso que estabeleço alguns critérios. Além das qualidades cinematográficas inerentes à obra, costumo levar em consideração o impacto que provoca ao ser assistido, sua permanência em nosso imaginário após vê-lo, as discussões que é capaz de provocar e, principalmente, a experiência única que foi mergulhar numa narrativa. Entre sequências, refilmagens e remodelagens, surgiram os dez filmes que faço questão de levar na minha maleta de 2016 até agora:  
(em ordem alfabética)

de Robert Eggers

de Denis Villeneuve

de Cléber Mendonça Filho

de Kornél Mundruczó 

de Paul Verhoeven

de Alfonso Gomez-Rejon

de Joachim Trier

de László Nemes

de Lenny Abrahamson

de Jemaine Clement & Taika Waititi

sábado, 17 de dezembro de 2016

PL►Y: Aquarius

Sonia: atuação magistral aclamada em Cannes. 

O ano que termina foi um ano estranho para o Brasil. Não apenas por impeachment, passeatas, lava-jatos, delações premiadas, PECs e todo o resto que sabemos muito bem. Também foi um ano estranho por discursos de boicote a artistas, filmes e livros que tivessem identificação com uma ou outra ideologia (temperado com discursos bastante equivocados sobre a Lei Rouanet). Uma postura esquisita que não combina com um país que diz prezar por sua democracia forjada a sangue e lágrimas, no entanto, na prática, o boicote serve apenas para que a visão de mundo de um cidadão só fique ainda mais limitada às certezas tão efêmeras. Tenho amigos de partidos diversos, sexualidades diferentes, cores e credos bastante variados e nenhum deles são ameaças, pelo contrário, me ajudam a ter uma visão mais diversificada do mundo, menos unilateral e muito mais interessante. Mas vá dizer isso para quem aprendeu com as redes sociais a bloquear ou desfazer amizade como a forma mais adulta de lidar com as diferenças... ou seja, "boicotes" só prejudicam a quem o faz, já que o outro, ou a obra, permanece existindo e dialogando com quem interage com eles, seja para gostar ou não. No isolamento de ideias, quem perde é quem se isola. No meio de todo esse racha que se diz ser entre a direita e a esquerda no Brasil (e tudo que se agrega a um lado ou outro), a equipe do filme Aquarius aterrizou no Festival de Cannes com folhas impressas que indicavam que havia um golpe político eminente no Brasil. Foi o suficiente para ganharem fama mundial e o ódio de quem era a favor do impeachment de Dilma Roussef no Brasil. O ato não feria o regime democrático, mas incomodou quem tem a dificuldade em aceitar a opinião dos outros, ainda mais artistas - já que para muita gente, Cinema ainda é mero entretenimento antes de comer uma pizza com os amigos. Os discursos de ódio cercou o filme, na mesma medida que o outro lado o exaltava pelo posicionamento político de seu diretor e elenco. Quando o filme estreou no Brasil a briga continuou e cabia ao filme aproveitar o marketing de tanta polêmica, até colocou em seu cartaz a fala do crítico que estabeleceu que pessoas de bem não devem assistir Aquarius. Sério? Com censura de 18 anos (por conta de uma cena de orgia, duas cenas de sexo e o despudor de mostrar genitais masculinos em cena) e não sendo o escolhido para concorrer a uma vaga no Oscar, a trajetória de Aquarius foi cercada de polêmicas que fizeram que uma parte da população o abraçasse na mesma proporção que a outra o rejeitava. Arrisco dizer que se não fosse toda a polêmica envolvida a trajetória do filme seria muito semelhante a de O Som ao Redor (2013), já que os dois filmes tem vários pontos em comum ao contar uma história de horror urbano no Recife contemporâneo.

Irandhir e Sonia: o par romântico do filme?

Aquarius também começa com fotografias sobre a transição do tempo e o crescimento da cidade, assim como exala aquela sensação de insegurança ao contar a história de Clara (Sônia Braga, em ótimo momento), vive em um edifício onde todos os moradores já aceitaram o acordo com uma grande construtora que pretende construir ali um grande empreendimento imobiliário. Clara não cogita sair do apartamento que viveu por décadas e o filme se concentra em seus conflitos com o jovem engenheiro (Humberto Carrão) que depende de sua saída do prédio e com a filha (Maeve Jenkins) que não consegue entender a atitude da mãe. Clara é irredutível, mas o diretor não quer contar aqui somente a história de uma senhora que não quer sair de sua comidade, ele pretende falar da sobreposição do novo sobre o velho. São nos momentos que tratam sobre isso que surge a alma de Aquarius: da cômoda que testemunhou silenciosa as histórias daquela família, dos LPs que abrigam as memórias da personagem, da entrevistadora que parece não fazer a mínima ideia do que Clara está falando... O prédio Aquarius é para a protagonista um templo de memórias e as emoções que evocam. Precisa ter coragem para contemplar o "velho", o "antigo" o histórico em tempos onde tudo soa tão descartável, da música às relações pessoais - é por conta disso que o filme recebeu elogios no exterior, já que se trata de um sentimento universal do século XXI. Clara é de fato uma rocha de resistência, sobreviveu a um câncer devastador (dos quais carrega a marca até hoje e cuja a vasta cabeleira da personagem é uma celebração à vitória), superou a morte dos parentes queridos, à saída dos filhos que foram seguir seus próprios caminhos... restou-lhe o apartamento e todas as lembranças que abriga. Julgar se ela está certa ou errada é uma questão de ponto de vista (e o filme dá elementos para os dois lados, acredite) e que pode render várias conversas bastante proveitosas, mas além da atuação de Sonia Braga o filme tem outros méritos, Kleber amadureceu bastante na forma como conduz o elenco, que está mais vívido em suas interpretações que no filme anterior. Existem transições brilhantes entre algumas cenas e o uso da trilha sonora é espetacular. No entanto, ele ainda precisa saber enxugar a narrativa, já que após a primeira hora existe pelo menos uns trinta minutos que poderiam ter ficado de fora da montagem final. Mas esse excesso é compreensível, já que Sonia Braga parece enfeitiçar a câmera do diretor, fazendo parecer que um simples gesto ou olhar seja fundamental para que possamos conhecer melhor a sua personagem. Reverente à sua estrela, o cineasta conseguiu criar um filme que rende várias leituras, ainda que a maioria enxergue  nele um manifesto esquerdista de resistência, Aquarius é mais sobre a passagem do tempo e suas cicatrizes, lembranças que ficam riscadas como em um vinil esperando para ser tocadas novamente. 

Aquarius (Brasil/2016) de Kleber Mendonça Filho com Sonia Braga, Irandhir Santos, Humberto Carrão, Maeve Jenkins, Zoraide Coleto e Carla Ribas. ☻☻☻☻

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PL►Y: Nosso Fiel Traidor

Ewan e Naomie: coadjuvantes do próprio filme. 

Aos 45 anos o escocês Ewan McGregor continua sendo um dos atores mais requisitados de Hollywood. Ano passado ele participou de cinco produções e em 2016 esteve em três, uma delas foi este Nosso Fiel Traidor, adaptação da diretora Susanna White para o romance de John le Carré. Embora tenha recebido bastante atenção antes do lançamento, o filme encontrou alguns problemas ao entrar em cartaz, principalmente pela falta de habilidade da diretora em lidar com uma história tão truncada. Existem várias intenções na história, mas poucos são os momentos em que são abordados de forma interessante. O início é agressivo com o assassinato de três personagens e depois nos deparamos com um casal em crise conjugal: Perry Perkins (McGregor) é um pacato professor e Gail (Naomie Harris) é uma advogada renomada, que numa viagem pelo Marrocos. Se a vida do casal ainda não se recuperou de um deslize recente, a situação só tende a piorar quando Perry faz amizade com um russo que também passa férias no mesmo local. Ele é Dima (o sueco Stellan Skarsgaard), sujeito expansivo, casado (e cheio de filhos) que enfrenta problemas com a máfia russa, da qual é membro. Em um encontro ele pede para que Perry entregue informações para a Inteligência Britânica e o casal Perkins se vê envolvido numa trama de espionagem e traições onde a moeda de troca será a segurança da família de Dima por informações sobre transações bancárias muito suspeitas. Curiosamente o filme deixa cada vez mais de lado o casal protagonista, que parece uma dupla de coadjuvantes que vão de um lado para o outro conversando com Dima e um agente da CIA (Damien Lewis) em negociações que poderiam ser tensas, mas que resultam apenas pouco interessantes. As personalidades de Perry e Gail são cada vez mais apagadas pelas performances de Skarsgaard e Lewis, que estão muito bem em seus personagens. Se o primeiro é exagerado (com direto até a uma cena de nudez frontal desnecessária) o segundo é todo cerebral e contido sobre a situação que tem em mãos, são os dois que conseguem segurar nossa atenção durante o filme. A esta altura o roteiro não está mais interessado em desenvolver seus personagens, apenas em girar em torno da família do mafioso russo que precisa ser salvo. Filmes sobre espionagem sempre costumam ser confusos por revelarem aos poucos a sua história, mas aqui o problema é que falta atmosfera em toda a história que você assiste com certa indiferença. Um diretor mais experiente no gênero teria feito um excelente trabalho! O mais curioso é que a presença de Ewan McGregor foi vendida como grande chamariz do filme, mas seu papel parece quase insignificante durante todo o filme. 

Nosso Fiel Traidor (Our Kind of Traitor / Reino Unido - França / 2016) de Suzanna White com Ewan McGregor, Naomie Harris, Stellan Skarsgaard, Damien Lewis e Jeremy Northam. ☻☻