sexta-feira, 30 de abril de 2021

HIGH FI✌E: Abril

 Cinco filmes assistidos no mês que merecem destaque:



PL►Y: Um Inverno em Nova York

Zoe e os meninos: o peso do açúcar. 

A dinamarquesa Lone Scherfig conseguiu um feito e tanto ao se tornar a responsável pelo filme mais simpático do movimento Dogma 95. Sua direção sensível em Italiano para Principiantes/2000 com seus seis personagens tentando se encontrar em uma vida marcada por opressões. O longa  a tornou conhecida da crítica e dos produtores que perceberam sua capacidade de abordar temas delicados com leveza. No entanto, sua consagração absoluta veio com Educação (2009), filme que concorreu a três Oscars, Oscars (melhor filme, roteiro adaptado e rendeu a primeira indicação de melhor atriz da carreira de Carey Mulligan, se tornando um divisor de águas na carreira da atriz de Bela Vingança/2020). O sucesso do filme em língua inglesa a credenciou a tomar frente de produções cobiçadas como a versão para o cinema do best-seller Um Dia (2011). No entanto, não são poucos que acusam a cineasta de se repetir cada vez mais em seus filmes recentes. Vejamos o que ela faz neste Um Inverno em Nova York. Aqui ela retoma uma roteiro que segue vários personagens em seus dilemas - não poderiam faltar a sua protagonista bondosa que precisa se livrar de problemas e o tom moldado para ser adorável mesmo quando a coisa deveria ser um pouco mais, digamos, densa. O que poderia ser um caleidoscópio no melhor estilo Robert Altman, logo se torna um universo que gira em torno de Clara (Zoe Kazan), mulher casada com um sujeito agressivo que resolve fugir por Nova York enquanto o  esposo a procura feito um louco. Ela acaba dependendo da bondade de outros personagens para não dormir nas ruas. Assim encontra um rapaz azarado quando o assunto é emprego (Caleb Landry Jones), a médica que participa de terapias de grupo para lidar com a rotina estafante (Andrea Riseborough), um estrangeiro cheio de amor para dar (Tahar Rahim), um advogado sem muita expressividade na história (Jay Baruchel) e um porteiro que precisa imitar sotaque alemão (Bill Nighy). Embora tenha alguns momentos tensos, o filme dá voltas em torno de si mesmo sem apresentar muita consistência aos personagens e os laços que os une  tão repentinamente. Embora tenha um bom elenco, nenhum deles parece ter muito entrosamento com o outro em cena - quando na verdade este deveria ser o maior trunfo do filme. Embora seja repleto de boas intenções, as relações são bastante frias durante a sessão - e ainda precisam lidar com a forma rasa com que o roteiro trata temas complicados como violência doméstica e abuso infantil. A impressão é que nada pode estragar o tom otimista e a cadência simpática da narrativa que tem uma cota considerável de temas pesados para tratar. Ao exagerar no açúcar, o filme acaba rendendo menos do que deveria, especialmente por não aprofundar as tristezas de seus personagens e seus desdobramentos. Um Inverno em Nova York pode até ser agradável de assistir com sua bela fotografia e trilha sonora otimista, mas gera certo incômodo pela forma como se esquiva de tratar os temas a que se propõe. Este temor acaba rendendo um filme tão genérico quanto seu título em português (o original seria A Bondade de Estranho... não sei se faria grande diferença) e difícil de lembrar depois que termina.

Um Inverno em Nova York  (The Kindness of Strangers / Dinamarca - Canadá - Suécia - França - Alemanha - Reino Unido - EUA / 2019) de Lone Scherfig com Zoe Kazan, Tahar Rahim, Andrea Riseborough, Bill Nighy, Caleb Landry Jones, Esben Smed, Jack Fulton, Finlay Wojtak-Hissong e Jay Baruchel. ☻☻

segunda-feira, 26 de abril de 2021

GANHADORES DO OSCAR 2021

O time Nomadland: mais prêmios para a coleção de 227!

Acho que a Academia soube como vencer o desafio de inovar perante os tempos de pandemia e a crise de audiência. A cerimonia foi rápida e dinâmica, ainda que não mantido o embalo da ótima introdução realizada por Regina King (que foi espetacular)! No entanto, o tom descontraído e nada engessado cumpriu o seu papel de entreter e celebrar o papel do cinema em um ano tão conturbado. Achei legal as curiosidades sobre os indicados quando eram apresentados, mas senti falta dos trechos do filme que dão um gostinho especial à cerimonia. Óbvio que aconteceram surpresas e elas acabaram estragando meu volume de acertos neste ano (embora não tenha desgostado delas). A seguir os ganhadores, meus acertos (☻) e meus breves comentários sobre o que aconteceu na noite de ontem em Los Angeles: 

Melhor Filme: “Nomadland” 
Eu não levava fé que o filme levaria o prêmio máximo da noite (que não foi o último prêmio da festa e causou estranhamento em nome da audiência curiosa para saber quem seriam a melhor atriz e melhor ator da edição). Apesar dos mais de 200 prêmios internacionais, o selo da Academia demonstra que o Oscar soube se renovar nos últimos anos. 

Melhor Direção: Chloé Zhao — "Nomadland" 
Acho que não havia dúvida que que Chloé levaria o prêmio. Ela estava animadíssima e vibrava ao ver seu estilo de cinema quase documental ser reconhecido na maior premiação do cinema americano. Com isso ela fez história ao se tornar a segunda mulher  a ser reconhecida na categoria em 93 anos de premiação. Além disso é a primeira não americana a ser premiada como cineasta no primeiro ano em que duas mulheres concorriam - a parceira de recorde foi a inglesa Emerald Fennell (Bela Vingança) 

Frances acabou de empatar com Meryl Streep e ter sua terceira estatueta de atuação na estante (e mais uma de brinde pela produção do filme). Seu trabalho como a nômade contemporânea Fern ganhou força na reta final (o BAFTA que o diga) e se destacou por colocar a atriz em meio aos personagens reais e desaparecendo em sua interpretação. Não foi desta vez que Carey Mulligan (que ganhou o Critics Choice), Viola Davis (que ganhou o prêmio do sindicato), Andra Day (que levou o Globo de Ouro de atriz dramática) e Vanessa Kirby (melhor atriz no Festival de Veneza) levaram (mas em breve estarão de volta na categoria, mas dificilmente num páreo tão imprevisível).

Olha o BAFTA aí de novo! Impossível não celebrar o segundo Oscar da carreira de Hopkins! Ele está arrasador como o senhor que começa a lidar com a senilidade numa narrativa imersiva e envolvente. Chadwick que levou quase tudo na temporada de ouro acabou perdendo seu prêmio póstumo - o que estragou o clímax da cerimonia - que deixou o prêmio para o final contando com o discurso emocionado da esposa de Chadwick para fechar a noite... não rolou e para piorar, Hopkins nem foi na cerimonia deixando o final aligeirado e sem graça. 

Melhor ator coadjuvante: Daniel Kaluuya (“Judas e o Messias Negro”)  
Surpresa para ninguém! Daniel estava arrasador em sua performance como Fred Hampton e fez um dos discursos mais imprevisíveis da noite (a mãe dele que o diga).

Melhor atriz coadjuvante: Yuh Jung Youn (“Minari”) 
Outro momento histórico! A vovó de Minari se tornou a dona da primeira interpretação de origem oriental a levar o Oscar para casa. O trabalho sensível e o discurso bem humorado da veterana do cinema sul coreano selaram a certeza de que a estatueta foram para as mãos certas.  

Melhor roteiro original: "Bela Vingança" 
Emerald Fennell promete fazer barulho nos próximos anos! A única mulher do páreo desbancou o Aaron Sorkin comprovando as especulações crescentes perante a popularidade do filme no exterior. Foi o único prêmio do filme, mas foi bom demais na abertura da cerimonia!

Melhor roteiro adaptado: "Meu Pai" 
O filme era meu favorito na categoria principal, mas suas chances eram pequenas, portanto o prêmio de roteiro para o também roteirista Florian Zeller (ao lado do bamba Christopher Hampton) foi um reconhecimento mais que desejado.  Omas fi

Melhor filme em língua estrangeira: “Druk - Mais Uma Rodada” (Dinamarca) 
Não bastasse ganhar a estatueta, Thomas Vinterberg ainda fez o discurso mais emocionado da noite ao lembrar da morte da filha em um acidente quando a produção começava a ser realizada. Radiante com a também indicação a melhor diretor, o prêmio confirma mais uma vez a qualidade  do cinema dinamarquês. 

Melhor Animação: “Soul” 
Surpresa zero. Muita gente considerava que o filme poderia ter figurado na categoria principal e também em roteiro original (o que faria justiça ao trabalho de Kemp Powers que enquanto co-diretor nem foi indicado ao prêmio).

Melhor curta de animação: "If anything happens I love you" 
Em um ano duro como 2020 a vitória do curta da Netflix era quase inevitável. Sua narrativa de traços simples e muita sensibilidade na abordagem do luto geraram aplausos acalorados da plateia. 

Melhor curta-metragem em live action: "Dois Estranhos"
Olha a Netflix aí de novo. Não imaginei a goleada do streaming em duas categorias de curtas, mas aconteceu. Imaginei que a presença de Oscar Isaac influenciaria na votação de The Letter Room, mas o filme com uma trama atual fez bonito. 

Melhor documentário de curta-metragem: "Colette"
O filme de Anthnoy Giacchino derrotou os favoritos da categoria com a história da ex-membro da Resistência Francesa Colette Marin-Catherine em sua viagem à Alemanha pela primeira vez em 74 anos e sua visita ao campo de concentração de Mittelbau-Dora, onde seu irmão morreu nas mãos dos nazistas. Cara total de Oscar e fez história ao dar o prêmio pela primeira vez a um estúdio de videogame. 

Melhor documentário: "O Professor Polvo" 
Quando assisti ao documentário em cartaz na Netflix, eu nunca imaginei que ele ganharia o Oscar. Dissonante entre os outros concorrentes, a história de um mergulhador e seu amigo polvo ganhou força nos últimos meses, desbancando os favoritos Collective e Time

Melhor Trilha Sonora: “Soul” 
Trent Reznor e Atticus Ross já tinham um Oscar na estante por A Rede Social e quem diria que os parceiros de Nine Inch Nails levariam o prêmio por uma animação? Favoritos da categoria (e também indicados pela trilha de Mank), a dupla deixou o discurso por conta de Jon Batiste, que não apenas foi parceiro na trilha e dono das mãos utilizados pelo protagonista ao piano na animação.  

Melhor som: "O Som do Silêncio" ☻ 
Surpresa nenhuma na junção das categorias de edição de som e mixagem de som, o filme de Darius Marder foi feito para esta categoria ao retratar a perda de audição de seu protagonista em uma jornada sensorial junto à plateia. 

Categoria acirrada nessa edição, a premiação gerou surpresa, mas não descontentamento. Foi justo e confirma a boa fase da jovem artista.  Coitado de Uma Noite em Miami que ficou sem nada... 

Melhor figurino: "A Voz Suprema do Blues"
Eu imaginei que os figurinos de "Emma" poderiam surpreender, mas foi para o favorito da categoria mesmo. Ponto perdido na pirraça...
 
Maquiagem e cabelo: "A Voz Suprema do Blues" 
Esperado e merecido, muito por mérito de Viola Davis que pediu para não terem pudores de alterarem a sua imagem no filme. Uma Diva!

Efeitos visuais: "Tenet" 
O pior filme de Christopher Nolan ganhou o que dava pelo seu efeito rewind nas cenas de ação.

Melhor fotografia: "Mank"
Apesar de não ter empolgado, o filme de David Fincher foi o mais indicado da noite com dez categorias e  ganhou a que talvez rendeu o trabalho mais complicado da produção em preto e branco. Desbancou até o favorito de Nomadland. 

Melhor edição: "O Som do Silêncio" 
Fiquei surpreso com o prêmio! Mas bastante feliz de ver o filme levar duas estatuetas para casa. Estou bem curioso para ver o próximo filme de Darius Marder!

Melhor design de produção: "Mank" 
Eu torcia para Meu Pai, mas indo para Mank é bastante justo. Os detalhes dos cenários realmente chamam a atenção e se torna um dos seus maiores trunfos. De dez indicações, levou duas... mas com sete estatuetas na noite, a Netflix deve ter ficado um pouco desapontada, mas quebrou de vez a barreira junto à Academia. 

Placar: 
"Meu Pai" - 2 
"O som do Silêncio" - 2
"Minari" - 1
"Tenet" - 1
“Druk" - 1

Meus Palpites: 16 acertos / 07 erros
☻☻☻☻☻☻☻☻☻☻
Ano passado o blog estava inativo e não fiz apostas. 
Mas o resultado deste ano é bem melhor do que o fiasco de 2019 (acertei 11).
Bora começar as especulações para o ano que vem...

sábado, 24 de abril de 2021

PALPITES PARA O OSCAR 2021

Oscar 2021: façam suas apostas!

Depois de mudar a data, mudar o período de consideração de seus indicados e ter que se adaptar, assim como as produtoras e o público no ano conturbado da pandemia. O Oscar acontecerá neste domingo, dia 25 e eu gostaria de escrever sobre mais indicados antes da cerimonia, mas acho que não terei tempo. Então, prefiro apostar em quem deverá sair premiado na cerimonia de amanhã. Quero deixar claro que esses palpites não tratam dos meus favoritos, mas quem deve ser celebrado pela Academia como o melhor da temporada. Meu favorito na categoria de melhor filme é Meu Pai - mas só acredito vendo que Nomadland levará melhor filme (mas creio que Chloé Zhao é imbatível no páreo de direção). Queria muito ver Vanessa Kirby levar o prêmio para casa por Pieces of a Woman, mas sei que é impossível... então, vamos aos que devem receber suas estatuetas amanhã: 

Melhor Filme

Melhor ator coadjuvante

Melhor atriz coadjuvante
Yuh Jung Youn (“Minari”)

Melhor roteiro original

Melhor roteiro adaptado

Melhor filme em língua estrangeira
“Druk - Mais Uma Rodada” (Dinamarca)

Melhor Animação
“Soul”

Melhor curta de animação
"If anything happens I love you"

Melhor curta-metragem em live action
"The Letter Room'"

Melhor documentário de curta-metragem
"A Love Song for Natasha"

Melhor documentário

Melhor Trilha Sonora
“Soul” 


Melhor Canção Original

Melhor figurino

Maquiagem e cabelo

Efeitos visuais

Melhor fotografia

Melhor edição

Melhor design de produção

INDICADOS AO OSCAR 2021: Melhor Filme

Depois de abordar os atores, atrizes e cineastas indicados ao Oscar deste ano, chegou a vez das produções que estão na disputa do prêmio mais cobiçado da noite. Este ano a Academia escolheu oito filmes na categoria principal e deixou alguns de fora que bem que poderiam ter completado a lista de dez. No entanto, diante do ano complicado que o cinema viveu por conta da pandemia, ter filmes lançados já é uma verdadeira vitória. A seguir os oito indicados em ordem alfabética (e um que todos acharam que estariam na disputa e ficou de fora): 

Bela Vingança  se uma surpresa acontecer, muitos apontam que o filme de estreia de Emerald Fennell seria o favorito com sua história atual e bastante cáustica de uma garota que resolve se vingar da cultura de abusos às mulheres. O filme concorre ainda em melhor direção, roteiro original (que tem fortes chances de levar), edição e Carey Mulligan com chances ampliadas na disputa mais imprevisível do ano, a de melhor atriz (ela já levou o Critic's Choice pelo papel). 

Judas e o Messias Negro O segundo filme de Shaka King apareceu na disputa na reta final e, graças à sua força narrativa, surpreendeu ao conseguir seis indicações ao Oscar: filme, roteiro original, canção, fotografia e a disputa de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield no páreo de ator coadjuvante. Kaluuya levou todos os prêmios de coadjuvante da temporada como o líder dos Panteras Negras Fred Hampton - que é traído por um informante do FBI (Lakeith).

Mank é produzido pela Netflix (em ano de pandemia), com direção de David Fincher sobre o roteiro (do pai dele) acerca do processo criativo do famoso roteirista responsável pelo texto de um clássico do cinema. Não tinha o que dar errado... mas a produção não empolgou. Lembrado em dez categorias é o mais indicado: filme, direção, ator (Gary Oldman), atriz coadjuvante (Amanda Seyfried), fotografia, design de produção, som, trilha sonora, maquiagem e penteados e figurino. 

Meu Pai é o meu filme favorito da disputa! Gosto muito da forma como o diretor Florian Zeller transporta sua peça para a tela utilizando todos os recursos para causar a mesma sensação de desorientação do protagonista. Anthony Hopkins está brilhante como o senhor que não entende muito bem o que acontece ao seu redor (e ele pode surpreender na disputa de melhor ator). O filme ainda concorre à atriz coadjuvante (Olivia Colman), edição, design de produção e roteiro adaptado.  

Minari conta a história de uma família de imigrantes coreanos que investe em uma fazenda nos EUA na década de 1980. Sensível e com excelente trilha sonora, o filme de Lee Isaac Chung tornou-se o favorito no páreo de atriz coadjuvante ao longo da temporada e deve premiar a veterana Yuh-Jung Youn. Steve Yeun também se tornou o primeiro ator de origem oriental indicado ao prêmio de melhor ator. Com seis indicações, o filme ainda concorre à direção, roteiro original e trilha sonora. 

Nomadland já recebeu mais de 200 prêmios internacionais desde que levou para casa o Leão de Ouro no Festival de Veneza e conta a história de Fern (Frances McDormand), uma mulher que perdeu tudo e mora em uma van e busca por empregos provisórios nos EUA. Este retrato pós-crise quase documental é o favorito da disputa! Concorre em seis categorias, incluindo atriz, roteiro adaptado, sendo também o favorito para direção (Chloé Zhao que deve fazer história) e fotografia.

O Som do Silêncio é a prova de que a Amazon aprendeu a divulgar seus filmes durante a temporada de ouro. Dirigido por Darius Marder, o filme investe num tom imersivo que se torna uma verdadeiro experiência sensorial sobre um baterista que perde a audição e precisa aprender a lidar com isso. O filme também concorre em seis categorias incluindo ator (ótimo trabalho de Riz Ahmed), ator coadjuvante (Paul Raci), som (em que é favorito), roteiro original e edição. 

Os Sete de Chicago é o segundo longa do premiado roteirista Aaron Sorkin na direção. Produzido pela Netflix, o filme ganhou força com acontecimentos recentes na terra do Tio Sam. O filme conta a história de sete manifestantes contra a Guerra do Vietnã que se deparam com um julgamento de cartas marcadas (e um juiz inconcebível). Ganhador do SAG de melhor elenco, o filme tem chances em roteiro original. Ainda concorre a ator coadjuvante (Sacha Baron Cohen), edição, fotografia e canção original. 

O ESQUECIDO: Uma Noite em Miami merecia mais do que as indicações recebidas (ator coadjuvante/Leslie Odom Jr., roteiro adaptado para Kemp Powers e canção original), afinal a boa estreia de Regina King na direção resulta num dos filmes mais elegantes e bem resolvidos do ano ao imaginar o encontro de quatro ícones afro-americanos nos anos de luta da década de 1960. Além das ótimas atuações, Regina constrói uma narrativa dinâmica que merece atenção no catálogo Prime Video.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Premiados Independent Spirit Awards 2021

Nomadland: levando tudo, de novo...

E no meio de tantas mudanças por conta da pandemia, o Independent Spirit Awards resolveu fazer sua celebração sobre a nata do cinema independente americano não na véspera do Oscar, mas na sexta-feira que precede aos prêmios da Academia. Resultado, eu esqueci desta mudança. Basta ver os indicados para perceber que o Oscar deve agradecer à produção independente pela safra de 2020. Sem grandes produções entrando em cartaz, filmes com filmagens interrompidas e tudo mais, os indies foram responsáveis pelo que a sétima arte fez de melhor durante a pandemia.  Este ano o Indie Spirit premiou pelas primeira vez produções televisivas que refletem o espírito da premiação e todos os premiados estão logo abaixo:

Melhor filme: Nomadland

Melhor direção: Chloé Zhao (Nomadland)

Melhor atriz: Carey Mulligan (Bela Vingança)

Melhor ator: Riz Ahmed (O Som do Silêncio)

Melhor atriz coadjuvante: Yuh-jung Youn (Minari)

Melhor ator coadjuvante: Paul Raci (O Som do Silêncio)

Melhor roteiro: Emerald Fennell (Bela Vingança)

Melhor fotografia: Joshua James Richards (Nomadland)

Melhor montagem: Chloé Zhao (Nomadland)

Melhor filme de estreia: Darius Marder (O Som do Silêncio)

Melhor roteiro de estreia: Andy Siara (Palm Springs)

Melhor filme internacional: Quo Vadis, Aida? (Bósnia) 

Melhor documentário: Crip Camp

Prêmio Robert Altman: Uma Noite em Miami

Prêmio John Cassavetes: Residue

Revelação: Ekwa Msangi, diretora de "Farewell Amor"

Melhor nova série de TV: I May Destroy You

Melhor atriz em nova série de TV: Shira Haas (Nada Ortodoxa)

Melhor ator em nova série de TV: Amit Rahav (Nada Ortodoxa)

Melhor elenco em série de TV: I May Destroy You

Melhor série documental: Immigration Nation

PL►Y: Better Days

Chen e Zheng: pacto antibullying. 

Representante de Hong Kong no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, Better Days é mais uma prova de que o olhar do Oscar para os filmes estrangeiros mudou muito nos últimos anos. Se ano passado o premiado Parasita acabou levando o prêmio de Melhor Filme também, neste ano o grande favorito é um filme dinamarquês sobre um bando de marmanjos que se rendem sem pudores ao prazer do álcool (DRUK) que cravou também uma indicação ao prêmio de direção. Nota-se um rompimento com aquela ideia de que os filmes estrangeiros indicados ao Oscar precisam ter aquele tom hermético de outros tempos (que representava muito o olhar dos votantes mais idosos do Oscar, plateia que costumava ver e votar nos concorrentes da categoria - o que remetia diretamente ao olhar deles sobre o que era um bom filme não feito nos Estados Unidos). A categoria de Filme Estrangeiro se tornou um verdadeiro deleite nos últimos anos, muitas vezes com concorrentes melhores do que os mais indicados ao Oscar de determinado ano, especialmente pela capacidade e universalizar seus temas (o que é fundamental na categoria) de forma atrativa pra o público mundial. Confesso que fiquei muito surpreso com o filme de Kwok Cheung Tsang, que constrói sua história como um verdadeiro manifesto antibullying, sem medo de por vezes ser um tanto sensacionalista na abordagem do tema. A trama tem como pano de fundo o vestibular nacional chinês (espécie de ENEM local), que serve como um verdadeiro divisor de águas na vida dos milhares de estudantes que realizam a prova todos os anos com a esperança de galgar uma vaga numa boa universidade e ter um bom emprego no futuro. O filme demonstra bem o processo exaustivo dos adolescentes de uma escola, a pressão que sofrem e o medo do fracasso. Se só isso já poderia render um filme interessante, o roteiro ainda apresenta como ponto de partida um suicídio na escola. Assim, a atenção volta-se para a insegura Chen Ian (Dongyuy Zhou), que teve contato com a menina suicida minutos antes do ocorrido. Por conta de um ato de solidariedade à colega, ela chama a atenção de um grupo que será capaz das piores torturas físicas e psicológicas sobre Chen Ian. Neste ponto surge o medo, a dor, mas também o medo de denunciar e sofrer represálias, além da passividade de quem observa aquelas ações hediondas. A trama toma outro rumo quando ela encontra Zheng Yi (Fang Yin), jovem um tanto perdido que abandonou os estudos e não tem muitas perspectivas de vida. Chen e Zheng aos poucos se tornam bastante próximos e ele se torna uma espécie de guarda costas dela. Esta união no entanto terá desdobramentos inusitados na vida de ambos, especialmente quando as provas se aproximam, o estresse aumenta e um crime ocorre na reta final da história. Filmes sobre bullying costumam pecar pela sua estrutura protocolar e um tanto repetitiva, cabendo ao diretor abusar da criatividade para prender a atenção do público perante o sadismo das cenas. Assim,  foram feitos o brasileiro Ferrugem (2018) e o insuportável Depois de Lucia ( que já abandonei várias vezes no meio da sessão). Better Days, no entanto, segue um caminho oposto dos dois, ampliando rumos e acontecimentos, aumentando também o número de personagens e situações para administrar, deixando sua duração extensa (duas horas e quinze minutos) e um tanto irregular, mas acerta ao apontar o bullying no espaço escolar como uma espécie de reflexo da violência (física ou simbólica) nas relações sociais banhadas em competitividade, status, hierarquias e poder.  Assim, Better Days constrói uma espécie de cadeia alimentar juvenil sem poupar a plateia de cenas angustiantes, dilemas morais e doses de romance para atenuar a maldade.  Apesar de tropeçar por vezes no trato com os personagens que vem e vão durante a história, o longa cumpre o seu papel e faz pensar sobre como uma série de atitudes ofensivas evoluem para a criminalidade crime da forma mais descarada, mas "não foi esta a intenção". Esta é a primeira vez que a obra de um diretor nascido em Hong Kong concorre ao Oscar - mesmo que enfrentando uma dura censura na China para a distribuição do filme. Ainda que saia do Oscar com as mãos vazias, é um filme que merece atenção, seja pelo tema que aborda ou pela pressão depositada nos ombros de adolescentes em suas escolhas para o futuro (sejam pessoais ou profissionais). 

Better Days (Shaonian de ni / Hong Kong - China /2019) de Kwok Cheung Tsang, com Dongyu Zhou, Fang Yin Jackson Yee, Ye Zhou, Yue Wu, Yao Zhang, Runnan Zhao e Ran Liu. ☻☻☻☻

quarta-feira, 21 de abril de 2021

PL►Y: Shaun, O Carneiro: O filme - A Fazenda Contra-Ataca | A Caminho da Lua

Shaun: um amigo que veio do espaço

Não bastasse a Netflix ter alcançado indicações o Oscar com suas produções originais (sendo o estúdio mais indicado do ano), por conta dos problemas com a pandemia e a abertura das salas de cinema, ela também obteve para o seu catálogo outros filmes que estão na disputa do maior prêmio do cinema americano. Entre longas, documentários e curtas estão dois filmes que estão no páreo de melhor animação. Quem ainda pensa que animação é coisa da criança vai se deleitar com os indicados  Shaun, O Carneiro: O filme - A Fazenda Contra-Ataca (título longo e complicado demais para lembrar) e A Caminho da Lua, ambos misturando fantasia e ficção científica. Shaun é um velho conhecido da criançada, além de ter seu desenho animado exibido ao redor do mundo, suas incursões pelo cinema caem no gosto da Academia. A primeira indicação veio com Shaun, O Carneiro - O Filme (2015) (eu sei,eu sei o título é repetitivo mesmo) que já exibia o estilo consagrado do estúdio inglês Aadrman com base no uso de massa de modelar e a exaustiva técnica de stop-motion (a mesma utilizada com a clássica dupla Wallace e Gromit que a Academia também adora). Além disso, os filmes investem num cinema sem diálogos, o que confere um estilo ainda mais diferente às animações calcado em grunhidos, expressividade, trilha sonora e demais recursos para manter a ação acontecendo. O filme nos leva de volta à fazenda em que Shaun e seus amigos vivem, mas desta vez eles precisam lidar com  a chegada de um alienígena, o que renderá muitas confusões. Quem gosta dos personagens não irá reclamar do filme repetir a mesma essência de sempre com a diferença de brincar com citações de filmes de ficção científica. O filme parece voltado especialmente para os pequenos, o que pode deixar os adultos com a sensação de que já assistiu tudo aquilo antes. Colorido e ágil, o filme é divertido e prende a atenção até o final. O mesmo não posso dizer de A Caminho da Lua, produção chinesa em parceria com os Estados Unidos que conta a história de uma menina que sofre pela morte precoce da mãe. Com a iminência de um novo casamento do pai e a chegada de outra criança na casa, ela se prende às histórias que sua mãe contava sobre uma deusa que vive na Lua e cria uma forma de ir até lá encontrá-la. Ela chega a criar um foguete para a viagem lunar e nada sai como o esperado. Se a premissa promete uma verdadeira aventura, o filme escorrega na mistura de lágrimas e açúcar, tendo como maior problema os vários momentos musicais que não empolgam (e confesso que eu já começava a rir quando uma frase soava como deixa para mais uma musiquinha desanimada). Enfim, não é fácil fazer um musical em formato de animação, ao menos o filme surpreende ao criar uma deusa que mais parece uma diva pop temperamental. O filme exige um bocado de paciência para aguentar suas voltas em torno de um tal presente mágico que a deusa quer e o aparecimento de monstrinhos simpáticos que forçam a nossa simpatia a todo custo. A aventura logo fica de lado entre um chorinho aqui e outro ali no meio das várias músicas. Não chega a empolgar, mas caiu na graça da Academia que deixou o filme com a quinta vaga da disputa de melhor animação do ano (mesmo que na desconfortável posição de azarão). Acho que não precisa dizer que o favorito da categoria é Soul e se qualquer um dos dois ganhassem seria uma grande surpresa na cerimonia do próximo domingo. 

A Caminho da Lua: lágrimas e açúcar. 

Shaun, O Carneiro: O filme - A Fazenda Contra-Ataca (Shaun, The Sheep Movie: Farmageddon / UK | France | Belgium | USA | China | Australia | Japan | Finland | Germany | Ireland - 2019) 

A Caminho da Lua (China | EUA - 2020) de  Glen Keane, John Kahrs com vozes de  Glen Keane, Brycen Hall e Ruthie Ann Miles. 

PL►Y: Radioactive

Pike: resgatando Marie Curie. 

Não resta dúvidas de que Rosamund Pike é uma das atrizes mais interessantes da atualidade. Ela não vende uma imagem sensual, não aparece em páginas de revistas explorando seu estilo de vida ou um novo relacionamento com o galã do momento (ela é casada com o matemático e empresário Robie Ubniackie desde 2009), mas ouvimos falar da atriz por seus trabalhos em filmes em que sua atuação costuma ser o ponto alto. Foi assim quando o Oscar achou que sua performance era a única coisa digna de voto em Garota Exemplar /2014 de David Fincher, filme que lhe concedeu uma indicação ao prêmio de melhor atriz. De certa forma a situação se repetiu no Globo de Ouro deste ano em que ninguém esperava que ela fosse premiada como melhor atriz de comédia pelo deliciosamente maldoso Eu Me Importo/2020 (nem ela mesma).  Tanto este quanto o recente Radioactive estão em cartaz na Netflix e são dignos de uma maratona com a atriz. Nas especulações antes das premiações, até cogitaram que ela tivesse chance no Oscar deste ano, mas as críticas mornas e a disputa acirradíssima deste ano a deixaram de fora. Aqui ela vive a famosa cientista polonesa Marie Curie, que conquistou a proeza de receber duas vezes o Prêmio Nobel. Nascida Maria Sklodowska e formada em Química, Marie nasceu em 1967, quando a Rússia ainda era um Império e para ganhar a vida trabalhou como governanta. Foi em 1891 que ela partiu com a irmã para Paris em busca de formação acadêmica, lá mudou de nome e após o casamento com o físico Pierre Curie realizou o estudo da radioatividade, o que lhes rendeu um Nobel (em parceria com Henri Becquerel que ficou de fora do filme). Em 1903 concluiu seu doutorado e se tornou a primeira professora mulher da Universidade de Paris. Fascinada em estudar usos práticos dos elementos químicos Marie (como a utilização para gerar radiografias), ela foi responsável por identificar dois novos elementos da tabela periódica: o rádio e o polônio (batizado em homenagem à sua terra natal). Obviamente que condensar uma vida destas, repletas de desafios e pioneirismos deixaria muita coisa de fora em menos de duas horas de filme (uma minissérie seria o ideal!), talvez por isso a diretora iraniana Marjane Satrapi (do excepcional Persépolis/2007) segue por outros rumos que podem gerar estranhamento. Além de lidar com um texto completamente fora da sua zona de conforto, ela tenta encontrar um equilíbrio entre o retrato da mulher e da cientista em um período em que desafios e preconceitos eram  muitos, seja por ser mulher num universo extremamente masculino e machista, seja por ser estrangeira. O filme oferece destaque ao seu relacionamento com Pierre (outro  trabalho charmoso de Sam Riley) e mais tarde com a filha, Irène (Anya Taylor Joy), tem uma preocupação quase didática com as descobertas da cientista e ousa ao projetar suas descobertas para o futuro, relacionando com bombas nucleares e o desastre de Chernobyl. Neste ponto o filme se coloca em uma espécie de corda bamba, já que os desavisados podem achar que é Marie a responsável por aquelas catástrofes. Neste ponto, o filme patina sobre o valor da ciência, mas também a responsabilidade das políticas sobre estas descobertas. As intenções de Curie sempre foram nobres (e o filme destaca isso ao apresentar seu trabalho com as unidades móveis de radiografias na Primeira Guerra Mundial). Se o roteiro deixa muita coisa de fora e a montagem por vezes se atrapalha, o melhor é o excelente trabalho de Rosamund Pike. É verdade que Marjane consegue fugir do óbvio e imprime sua personalidade no que poderia ser apenas mais uma cinebiografia protocolar. Ouso dizer que aqui ela se distancia ao máximo de sua zona de conforto (que sempre flertou um pouco com o poder evocativo da fantasia na construção de suas tramas - mesmo no tosco A Gangue dos Jotas/2012). Com a leveza e força de costume na construção de suas personagens femininas, Radioactive não é um filme perfeito, mas consegue resgatar parte da vida e obra de Marie Curie, a destacando como uma das mentes mais brilhantes da História.

Radioactive (Reino Unido / França / EUA / China / Hungria - 2020) de Marjane Satrapi com Rosamund Pike, Yvete Feuer, Mirjam Novak, Sam Riley, Simon Russell Beale e Anya Taylor-Joy. ☻☻☻

domingo, 18 de abril de 2021

INDICADOS AO OSCAR 2021: Melhor Direção

Chloé Zhao (Nomadland) Faz tempo que a cineasta preza por um cinema quase documental. Nomadland é seu premiado terceiro longa-metragem e, embora tenha a alma muito semelhante aos dos anteriores, é a primeira vez que trabalha com atores conhecidos num roteiro adaptado, mas ainda assim, o elenco de apoio é praticamente todo de pessoas vivendo a si mesmas. Pelo resultado que descasca o american way of life, Chloé concorre ao Oscar de direção pela primeira vez - e em outras três (melhor filme, roteiro e edição). Favorita na categoria, ela deve ser a segunda mulher a ser premiada com o Oscar de direção (e a Marvel já está de olho nela há tempos e lhe deu a tarefa de dirigir o aguardado Os Eternos). 

David Fincher (Mank) Esta é a terceira vez que Fincher é indicado ao Oscar de direção (concorreu anteriormente por A Rede Social/2010 e O Estranho Caso de Benjamin Button/2008). Desta vez ele utiliza todo seu perfeccionismo para reproduzir a aura do clássico Cidadão Kane/1941 para contar a história do problemático roteirista  Herman J. Mankiewicz. O roteiro é do pai de David (o jornalista Jack Fincher) que transforma este filme produzido pela Netflix em sua obra mais pessoal. A técnica impecável e a narrativa em torno do cinema podem ajudar na disputa, mas o fato de muita gente não ter se empolgado com o filme pesa contra o cineasta. 

Embora estreante como cineasta, a inglesa esteve envolvida nos últimos anos em produções de sucesso. É uma das roteiristas da série Killing Eve e ficou conhecida como a Camila Parker-Bowles de The Crown. Muita gente ficou surpresa com a indicação pelo tom diferente do que a Academia costuma apreciar. Na trama de vingança à cultura de abusos contra as mulheres, Fennell foge do óbvio e não teme usar de humor e ironia para atiçar ainda a narrativa ácida. Fennell também concorre a melhor roteiro original e melhor filme, além de fazer história ao lado de Chloé Zhao no único ano em que duas mulheres aparecem na categoria e já foi convidada para dirigir Zatanna para Warner/DC Comics. 

Lee Isaac Chung (Minari) Há quem diga que o filme não traga em si nenhuma novidade, mas é tão encantador ver a forma como Lee conta a história de uma família que muda de vida ao investir numa fazenda que é impossível não ficar feliz com sua indicação. Responsável pelo tom terno e sensível do filme, além da bela sintonia entre o elenco, Lee se junta ao clube de cineastas de origem oriental indicados ao Oscar. Este é o quarto filme do cineasta Filho de imigrantes coreanos e nascido na cidade de Denver no Colorado (EUA). O diretor em breve adaptará o live action do celebrado anime Your Name. Lee também concorre ao Oscar de roteiro original. 

Thomas Vinterberg (Druk) Grata surpresa entre os indicados a melhor direção, o diretor dinamarquês já era conhecido por ser um dos fundadores do movimento Dogma95 (pelo qual dirigiu o primeiro longa do movimento, o elogiado Festa de Família/1998) e já chamou a atenção da Academia ao ver seu filme A Caça (2012) concorrer a melhor filme estrangeiro. Agora o mesmo se repete com a história dos amigos que flertam com a alegria proporcionada pelo álcool e as consequências disso. A lembrança no Oscar de direção é o reconhecimento de uma carreira que sofreu uma tragédia pessoal do cineasta: a morte da filha quando Druk começava a ser produzido. Está é a primeira indicação de Thomas ao Oscar. 

A ESQUECIDA: Regina King (Uma Noite em Miami) Imaginei que a oscarizada atriz (melhor coadjuvante por Se a Rua Beale Falasse/2018) estaria no páreo pelo seu filme de estreia na direção. A versão para o cinema do encontro imaginário de Malcolm X, Jim Brown, Sam Cooke e Cassius Clay flui bem em sua transição para a tela, tem elegância, carisma e engajamento na medida certa. Porém, foi lembrado somente nas categorias de ator coadjuvante, roteiro adaptado e canção original. Outros que também poderiam estar na disputa são são Florian Zeller (Meu Pai), Darius Marder (O Som do Silêncio), além de Kelly Reichardt (First Cow) e Eliza Hittman (Nunca, Raramente, Às Vezes,  Sempre) que assinaram ótimos filmes totalmente esquecidos no Oscar.

#FDS Oscar2021: O Homem que Vendeu Sua Pele

Ali: refugiado como objeto de arte. 

Entre as surpresas do Oscar deste ano está a indicação do tunisiano O Homem que Vendeu Sua Pele que, em momento algum durante as especulações sobre os candidatos às cinco vagas da categoria de filme estrangeiro, foi cotado como um dos favoritos. O filme conta a história de Sam Ali (Yahya Mahayni), um refugiado da Guerra Civil da Síria que vende suas costas para que um artista renomado (Koen De Bouw) tatue nela sua mais controversa obra: um visto. Ironicamente com a tatuagem nas costas, Sam tem a permissão de cruzar o mundo enquanto uma obra-de-arte, mas precisa obedecer algumas regras: estar disponível para todas as exposições que forem necessárias, zelar pelas suas costas mais do que pela própria vida e até permitir que suas costas a obra seja vendida (e ele ganhará um terço do valor, além de ter a pele removida para o dono da obra após sua morte). Some isso à uma história de amor proibido com e você terá os elementos que fazem o longa da cineasta  Kaouther Ben Hania desenvolver-se de forma bastante provocativa. As provocações existem a todo instante, desde o momento em que o artista explica sua obra, afinal, Sam enquanto ser humano não tem permissão para transitar legalmente entre os países que visita, mas a partir do momento  que torna-se uma obra de arte, ele pode. Além disso, um sujeito marginalizado pelo sistema, logo torna-se valorizado não enquanto pessoa, mas enquanto... coisa. Obviamente que a obra chama atenção de organizações dos direitos humanos que entram em conflito com o artista que recebe cada vez mais projeção pela sua ideia, que pode até parecer uma denúncia, mas que funciona mais em seus interesses próprios do que qualquer outra coisa (e o próprio Sam não parece muito preocupado com "a causa"). Por outro lado, Sam passa de um sujeito apaixonado do início do filme para uma pessoa cada vez mais insatisfeita com sua objetificação, sua história, suas emoções, sua vida não importa para quem contempla suas costas, o que importa é a obra. Estigmas e preconceitos  que recaem sobre ele permanecem, assim como seus dilemas pessoais se ampliam - algo que explode naquela cena em que assusta toda uma plateia de endinheirados. Infelizmente, depois deste acontecimento o filme caminha apressado para um desfecho um tanto fantasioso em nome de um final feliz que vai contra todo o tom dramaticamente satírico que apresenta ao longo de seus primeiros noventa minutos. O final pode não estragar o filme, mas reduz muito o impacto da obra que até então era provocativa. Embora seja baseado na história real de Tim Steiner (que exibe nas costas a obra do artista belga Win Delvoye - que foi vendida em 2008 por 50 mil euros ao colecionador de arte alemão Rik Reinking) a diretora Kaouther Ben Hania insere outro contexto para a história com romance e temáticas sociais, pena que faltou o pulso firme para criar um desfecho tão impactante como o longa merecia. A indicação além de prestigiar os méritos do filme, ainda incentiva a produção cinematográfica local que após a Revolução de Jasmin (2010-2011) iniciou uma nova fase no país e tem em Kaouther uma voz ativa no incentivo do cinema como forma de expressão, especialmente entre as mulheres do país. 

O Homem que Vendeu sua Pele (The Man Who Sold His Skin / Tunísia - França - Bélgica - Alemanha - Suécia - Turquia / 2020) de Kaouther Ben Hania com Yahya Mahayni, Dea Liane, Monica Bellucci e Koen De Bouw. ☻☻☻☻

sábado, 17 de abril de 2021

#FDS Oscar2021: Amor e Monstros

 
Dylan: torcendo pelo cachorro. 

Você sente que está ficando velho quando a garotada adora um determinado filme e rasga elogios por ele em redes sociais, vídeos e comentários em geral e quando você assiste você apenas pensa: ok. Acho que é mais ou menos o que sentem quando você adora aquele filme denso e cerebral, que ganhou prêmios e tudo mais e as pessoas dizem "achei muito lento". Enfim, o que seria do azul sem o amarelo. Quando me perguntaram sobre o filme que acaba de chegar à Netflix eu fui bastante honesto em dizer que gostei do cachorro. Quem ouviu não gostou muito, mas eu explico, o filme não é ruim, mas meu vínculo emocional durante toda a sessão aconteceu assim que o cachorro apareceu e, confesso, que temi por sua vida até o final (e achei que o filme perdeu parte da graça quando ele some por um tempo). Sendo um filme pipoca com problemas de exibição nos cinemas por conta da pandemia, Amor e Monstros surpreendeu quando cravou seu nome entre os indicados na categoria de Melhores Efeitos Especiais - ao lado de filmes badalados como o desalmado Tenet (2020) e o morninho O Céu da Meia-Noite (2020), mas posso dizer que entre os seus oponentes ele é digno de respeito. Seu ponto de partida é bastante simples e sua execução é honesta, lembra um pouco Zumbilândia/2009 (com insetos gigantes no lugar dos zumbis), até mesmo pelo senso de humor que apresenta no que poderia ser somente um filme de terror. Tem também um pouco de romance, já que o protagonista precisa andar por vários quilômetros para encontrar com uma garota pelo qual está interessado e... deixa pra lá. Este Ulisses pós-apocalíptico vive num mundo em que a reação química de bombas que deveriam salvar a humanidade perante a queda de asteroides, mas acabaram causando mutações em bichos variados, que transformados em monstros acabaram devorando milhares de pessoas, entre eles, a família do protagonista, Joel (Dylan O'Bryen). Desde a morte dos país ele vive num bunker com outros sobreviventes antes de partir para encontrar sua amada. No caminho ele encontra vários monstros, mas também um fiel companheiro, o cãozinho chamado Boy (e o filme melhora bastante com ele). A trama não é muito mais do que isso, mas ela funciona pelo ritmo de aventura, mas escorrega quando tenta colocar algo mais surpreendente na reta final. Se Dylan não faz nada muito diferente do que já vimos na trilogia Maze Runner (2014), pelo menos ele continua convencendo como um herói juvenil franzino que não fraqueja diante dos desafios. Quanto aos efeitos especiais, eles são muito bem realizados e merecem a lembrança da Academia ao construir criaturas interessantes em cenas divertidas, tensas e até arrepiantes. O filme não é o favorito da categoria, mas deve garantir a torcida de quem assistir depois de um longo jejum de aventuras no cinema (além disso, ainda tem o fator identificação de que sair de casa é sempre um perigo nos últimos doze meses de nossas vidas). Serve para passar o tempo e está é mesmo a intenção deste segundo filme do cineasta sul-africano Michael Matthews (que antes chamou atenção por Guerreiros de Marselha/2017) e que já deve estar preparando a sequência deste empreendimento que é pura pipoca. 

Amor e Monstros (Love and Monsters / Canadá - EUA / 2020) de Michael Matthews com Dylan O'Bryen, Jessica Henwick, Michael Rooker, Dan Ewig e Tre Hale. ☻☻