quarta-feira, 30 de novembro de 2016

N@Capa: Pop Darth

Vilão pop: Onde está Vader?

A capa do mês de novembro foi dedicada a Darth Vader e seus Stormtroopers que serviram de inspiração para este quadro que pode ser encontrado no Mercado Livre para o delírio dos fãs! Falando em fãs e Darth Vader, o principal motivo da escolha do quadro é a proximidade de Rogue One: A Star Wars Story, o primeiro spin-off da série em muito tempo revisita a lendária história de como um grupo de rebeldes conseguiu uma cópia da planta da Estrela da Morte. Obviamente que a ideia nada mais é a forma mais viável de trazer Darth Vader de volta aos holofotes depois que a nova trilogia Star Wars lançou a história muitos anos após sua morte. Com data de estreia para o dia 15 de dezembro, o filme conta com Felicity Jones, Mads Mikkelsen, Alan Tudyk, Riz Amed, Diego Luna e Ben Mendelsohn ao lado do vilão em plena forma com suas maldades ! A direção ficou por conta de Gareth Edwards, que antes dirigiu a nova versão de Godzilla (2014) - e se você não curtiu a última aventura do monstro gigante nas telas, vale a pena procurar o primeiro filme do rapaz, o cult Monstros (2010).

Rogue One: expectativa. 

HIGH FI✌E: Novembro

Cinco filmes assistidos em novembro que merecem destaque:

"Citizenfour" de Laura Poitras
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"Doutor Estranho" de Scott Derrickson
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"O Equilibrista" de James Marsh
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"O Novíssimo Testamento" de Jaco Van Dormael
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terça-feira, 29 de novembro de 2016

PL►Y: Aliança do Crime

Joel (de peruca) e Johnny (sem cabelo): podia ser melhor. 

Aliança do Crime deve ter um dos melhores elencos já reunidos, mas toda a expectativa sobre o filme parece ter sido gerada na caracterização de Johnny Depp para viver William Bulger no cinema -  mas basta procurar a foto do verdadeiro Bulger para perceber que a maquiagem, lentes azuis (bizarras) e todo o resto conferem uma imagem mais grotesca do que propriamente aceitável, beira a caricatura. Depois de fracassos repetidos nas bilheterias americanas, Depp necessitava que o filme fosse um grande sucesso - e tinha tudo para isso: um elenco estelar, diretor em ascensão (Scott Cooper que ajudou Jeff Bridges a ganhar o Oscar pelo mediano Coração Louco/2009) e uma história real que parece de mentira onde um chefe da máfia irlandesa de torna informante do FBI e acaba fazendo um agente acobertar seus crimes. Parecia estar tudo no lugar certo até que o filme estreou e viram que ele não tinha nada demais. A história de Bulger realmente parece coisa de cinema, afinal, trata-se de um sujeito que dominava o crime organizado e matava seus desafetos sem firulas. O mais interessante é como seu amigo de infância, o agente John Connolly (Joel Edgerton), acreditava ser capaz de dominá-lo para conseguir promoções sucessivas dentro do FBI. Desde o início sabemos que tudo dará errado e, mesmo que a esposa (a estupenda Julianne Nicholson, que eu adoraria ver em uns cinco filmes por ano) sempre tente alertar Connolly, ele mergulha cada vez mais nos jogos de Bulger - deixando evidente o fascínio que o criminoso causava nele. Depp consegue ter uma boa atuação (mas que foi lembrada somente no prêmio do Sindicato de Atores... o que está de bom tamanho) em meio ao que fizeram com sua aparência, mas não chega a se sobressair do resto do ótimo elenco - veja por exemplo o que Peter Sarsgaard faz na cena em que percebe estar com os dias contados (e quando a Academia irá reconhecer o talento de Peter?) ou os poucos minutos de Juno Temple duelando com Depp. No entanto, o problema está longe de ser do astro, mas do roteiro que não consegue construir um Bulge para além das cenas ameaçadoras que encena. Todos ao seu redor ganham nuances mais variadas do que ele próprio - o que lá pela metade do caminho o faz parecer mais um coadjuvante de luxo do que propriamente o protagonista do filme. Por outro lado, se o roteiro não aprofunda todas as possibilidades que tem em mãos, Scott Cooper também precisa de mais alguns anos para dar conta de uma rede de personagens tão complexa. Ainda que encontre referências em Martin Scorsese, Cooper não tem a habilidade de gerar a tensão crescente necessária, deixando a narrativa um tanto episódica. Aliança do Crime é um filme que deixa aquele gosto de que poderia ter sido genial nas mãos de um diretor mais experiente, afinal, concentra-se na relação de um dos criminosos mais perigosos dos EUA e sua estranha relação com um agente do FBI. 

Aliança do Crime (Black Mass/EUA-2015) de Scott Cooper com Johnny Depp, Joel Edgerton, Julianne Nicholson, Benedict Cumberbatch, Peter Sarsgaard, David Harbour, Adam Scott, Corey Stohl e Dakota Johnson. ☻☻☻

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

10+ Divertidos de 2016

Com 2016 chegando ao film existe uma unanimidade de que não foi um ano fácil de enfrentar! Por conta de todas as más notícias que ele trouxe, resolvi fazer uma lista de filmes que chegaram por aqui este ano e que conseguiram me divertir em momentos difíceis. Tentei evitar comédias mais dramáticas na lista (mas confesso que não consegui deixar a minha favorita de fora).
 A lista ficou assim:

"A Intrometida" de Lorene Scafaria 
Susan Sarandon no seu melhor papel há décadas!

"A Pequena Morte" de Josh Lawson 
A melhor comédia sexual dos últimos tempos veio da Austrália!

"Ave, César!" de Joel & Ethan Coen 
Uma homenagem (debochada) à era de ouro de Hollywood.

"De Onde eu Te Vejo" de Luiz Villaça 
Uma verdadeira pérola brasileira que merece ser descoberta.

"Dois Caras Legais" de Shane Black 
Comédia policial com sabor de pastiche noir!

"Eu, Você e a Garota que vai Morrer" de Alfonso Gomez-Rejon 
E quem disse que não pode haver alegria nas tristezas da vida?

"Mascotes" de Christopher Guest 
Já disse que sou fã dos mockumentários de Chris Guest? 

"O que Fazemos nas Sombras" de Jemaine Clement & Taika Waititi 
Meu documentário favorito sobre vampiros na Nova Zelândia!

"Voando Alto" de Dexter Fletcher 
A bem humorada trajetória de um rapaz com alma de atleta!

"Zootopia" de Byron Woward & Rich Moore 
Minha animação favorita do ano!

PL►Y: Um Senhor Estagiário

DeNiro e Anne: conflitos indo pelo ralo. 

Eu queria saber o que se passa na cabeça de Nancy Meyers. A cineasta teve acertos em Alguém Tem Que Ceder/2003 e desde então segue uma receita ainda mais branda de água e açúcar em seus filmes. Em Um Senhor Estagiário ela arranha o eterno conflito de gerações, mas lida de forma tão bobinha com os elementos que tem em mãos que parece não ter a mínima ideia da história que quer contar. Vamos por partes. Ben (Robert DeNiro) é um homem de setenta anos que é escolhido para ser estagiário num site de moda liderado por Jules (Anne Hathaway), uma mulher cuja empresa cresceu tão rápido que ela mal tem tempo de acompanhar o rumo do que está acontecendo (mesmo que fique o tempo todo pendurada no computador ou no celular). Jules acabou se submetendo a coordenar o trabalho de Ben para dar um bom exemplo aos demais, mas desde a primeira cena ela não gosta de ter o senhor perto dela - e nem adianta perguntar o motivo, já que nem ela sabe. É implicância mesmo. Jules é quase uma versão juvenil de Miranda (a chefe de Hathaway vivida por Meryl Streep em O Diabo Veste Prada/2006), mas nem se dá conta do quão chata ela é (e nem adianta sorrir o tempo todo e andar de bicicleta no trabalho... ela é um saco). Mas a vida de Jules não é só trabalho, ela é casada e tem uma filha que fica sob os cuidados do pai (Anders Holm), os quais ela tenta dar atenção quando pode. Se você acha que o fato de ter um homem cuidando da casa é uma base feminista para o filme você está muito enganado, já que há uma revelação que irá jogar tudo no ralo mais antiquado possível (a cena em que ela chora imaginando o horror que seria ficar solteira o resto da vida é vergonhosa). Quando o filme já estava superficial no conflito geracional, ele escorrega mais ainda nas cores do empoderamento feminino que desejava. Diante disso a conclusão também é bem cretina, já que ela vê um provável CEO como uma ameaça à sua habilidade de tocar os negócios e tudo se resolve quando ela chora abraçada com o marido - e não é por perceber que terá que se sobrecarregar mais ainda para dar conta do serviço que se acumula! Sinceramente, não dá para entender! Mas na visão "feminista de butique" deve fazer algum sentido evitar lidar com os conflitos que aparecem pelo caminho. Além disso Anne Hathaway nunca me pareceu tão chata em cena. Suas caretas, gestos e sorrisos não dão conta da personagem que consegue ser bastante confusa. Sorte que o filme conta com Robert DeNiro que tem uma atuação discreta e, ainda que seu personagem seja pouco aproveitado, consegue ser bem mais interessante que seus colegas mais jovens em cena. Fico pensando que o filme poderia ser muito melhor se fosse dedicado ao seu romance com a massagista vivida por Rene Russo, mas ao invés disso Meyers prefere fazer piadinhas batidas sobre sexo e massagem. Um Senhor Estagiário é um filme que você vê para passar o tempo, dá uma cochilada ou duas e nem se lembra do que viu algumas horas depois.

Um Senhor Estagiário (The Intern/EUA-2015) de Nancy Meyers com Anne Hathaway, Robert DeNiro, Rene Russo, Anders Holm, Jojo Kushner e Adam Devine.

domingo, 27 de novembro de 2016

.Doc: O Equilibrista / Citizen Four

O Equilibrista: caminhando entre as Torres Gêmeas. 

Refilmar documentários em versões dramatizadas não chega a ser uma novidade (basta lembrar do filme Nos Tempos de Harvey Milk/1984 que depois ganhou sua versão estrelada por Sean Penn pelas mãos de Gus Van Sant em Milk/2008), no entanto, num mundo dominado por continuações, reboots e remakes, a prática tem se mostrado cada vez mais recorrente. Por isso mesmo, existem dados curiosos que tornam as versões recentes de Citizenfour (2014) e O Equilibrista (2008) ainda mais interessantes. Além de ambos terem levado para casa o Oscar de melhor documentário, ambos renderam filmes estrelados por Joseph Gordon Lewitt. O Equilibrista ganhou versão dirigida por Robert Zemeckis (A Travessia/2015) sobre a empreitada mais famosa do francês Phillipe Petit, que em sete de agosto de 1974 resolveu atravessar sob um arame o espaço que existia entre o World Trade Center. Dirigido por James Marsh, O Equilibrista torna-se superior ao filme de Zemeckis por criar um clima de suspense durante uma narrativa documental. Utilizando fotos de arquivo, entrevistas, vídeos e reconstituição, todo o planejamento de Petit torna-se uma história bastante atraente (especialmente pelo próprio contar suas peripécias com invejável animação). Marsh cria um filme ágil e bastante rico na intenção de transportar o espectador para dentro da ideia de seu personagem real. O resultado é ainda mais tenso que filme lançado no ano passado e ainda nos ajuda a conhecer melhor quem foram os cúmplices de Petit (que aqui ganham mais espaço dentro da aventura apresentada e, alguns, parecem saídos direto da ficção cinematográfica). Mesmo comparando os dois filmes, não deixa de ser interessante o apelo que a história de um sujeito que desafia as leis da física - e das autoridades - provoca nos produtores e na plateia. 

Citizenfour: traindo o Tio Sam. 

Esse aspecto não deixa de ser uma semelhança com Citizenfour, documentário dirigido por Laura Poitas e que serviu de base para Oliver Stone construir o seu recente Snowden, que já está em cartaz no Brasil. Citizenfour é basicamente uma entrevista com Edward Snowden a partir dos e-mails enviados para a documentarista (sob a identificação secreta que dá título ao filme). Snowden trabalhava para a NSA que prestava serviços à CIA e ficou incomodado com alguns procedimentos adotados pelo serviço de inteligência norte-americano após os atentados de 11 de setembro. O filme aprofunda as denúncias e discussões de Snowden perante Laura e os dois jornalistas que a acompanharam e traz revelações assustadoras sobre a vigilância acerca do cidadão comum (principalmente em sua vida online) e as consequências que isso pode gerar. As entrevistas foram realizadas antes que Snowden precisasse se exilar na Rússia, sob o risco de ser preso por traição ao governo americano e, provavelmente, executado. Ainda que narrativamente seja mais simples, afinal retrata os meandros de uma entrevista bombástica, Citizenfour resulta nervoso em suas denúncias e se alimenta da imagem inofensiva de um sujeito polêmico que teve sua vida arruinada por acreditar em fazer a coisa certa. Entre o documental e o dramatizado, os documentários possuem a vantagem de contar a história com antecedência, mas ainda que as refilmagens posteriores invistam em bons diretores e atores, além de incluir detalhes que ficaram de fora dos filmes lançados anteriormente, a base das narrativas são bastante semelhantes ao manter o tom de entrevista. Dificilmente quem assiste as narrativas contundentes de James Marsh e Laura Poitas sentirão o mesmo diante das novas versões com atores que chegaram ao cinema, mesmo que ambas contem com o carisma de Joseph Gordon Lewitt nos papéis principais.

O Equilibrista (Man on Wire / Reino Unido - EUA / 2008) de James Marsh com Philippe Petit, Annie Allix, David Forman, Alan Welner e Jean François Heckel.  ☻☻☻☻

Citizenfour (EUA-Alemanha-Reino Unido/2014) de Laura Poitras com Edward Snowden, Glenn Greenwald, William Binney e Jacob Appelbaum. ☻☻☻☻

FILMED+: Quatro Casamentos e Um Funeral

Grant e Andie: desconstruindo a estrutura de uma comédia romântica. 

Passado mais de vinte anos de seu lançamento, acredito que muita gente ainda guarda na memória o deleite que foi assistir Quatro Casamentos e Um Funeral, uma comédia britânica despretensiosa e de baixo orçamento que ficou entre Forrest Gump e Pulp Fiction no páreo de melhor filme no Oscar de 1995. O filme de Mike Newell fez história por colocar novamente a comédia britânica no mapa dos cinéfilos, afinal, fazia tempo que o cinema inglês era visto como sinônimo de filme de época.  O que resiste ao tempo na trama escrita por Richard Curtis é o bom humor com que faz troça com o gênero ao qual pertence. Desde o primeiro casamento, sabemos que nosso protagonista é Charlie (Hugh Grant), que sempre acompanhado pelo seu grupo de fiéis amigos, percorre casórios tecendo comentários sobre os demais convidados. O principal fio da narrativa é a atração que se estabelece entre Charlie e a americana Claire (Andie McDowell) com quem ele se encontrará ao longo de todo o filme em circunstâncias diferentes. No entanto, esse romance em tom cômico evita cair nas armadilhas da maioria das comédias românticas. Os desencontros amorosos entre os dois vão para além das discussões bobas, términos e recomeços - que tornam o final feliz quase sempre pouco convincente. Aqui o que vemos são duas pessoas que se gostam, mas que sempre se perdem no meio do caminho. Aliás, essa parece ser também a história de Fiona (Kristin Scott Thomas), sempre próxima de Charlie mas incapaz de fazê-lo perceber o quanto está interessada por ele - e ainda existe a conhecida Cara de Pato (Anna Chancellor), mas essa eu nem conto para não estragar. O elenco  é mais do que eficiente para lidar com os momentos engraçados da história (na verdade, uma espécie de coleção de gafes e situações constrangedoras que podem acontecer em qualquer festa), a trilha sonora pop também ajuda a entrar no clima de uma produção descontraída que se tornou um dos filmes referenciais dos anos 1990. No entanto, o mais interessante do filme ainda é como ele subverte algumas regras do gênero: a história é contada do ponto de vista de um homem (que é tímido mas, ainda assim, um conquistador vivido com saboroso desconforto por Grant), a mulher está longe de ser a mocinha ingênua (especialmente depois da enorme lista de amores que cita ao par romântico) e o casamento, que é o grande objetivo do final desse tipo de filme, está presente o tempo todo, menos no... bem se eu contar será um grande SPOILER! Talvez seja por essas características que o filme esteja entre os meus favoritos, ainda que pouca gente perceba o quanto ainda é engenhoso. 

Quatro Casamentos e Um Funeral (Four Weddings anda a Funeral/Reino Unido - 1994) de Mike Newell com Hugh Grant, Andie McDowell, Kristin Scott Thomas, John Hannah, Simon Callow, James Fleet, Charlote Coleman e David Bower. ☻☻☻☻☻

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Pódio: Hugh Grant

Bronze: o tímido conquistador.
03 Quatro Casamentos e Um Funeral (1994)
Apesar de ter aparecido em mais de dez filmes anteriormente, foi nessa comédia romântica de Mike Newell que Grant ficou conhecido mundialmente (e ganhou o Globo de Ouro de ator de Comédia). Na pele do tímido Charles, ele irá atravessar os eventos do título, conhecer Claire (Andie McDowell) - que pode ser o grande amor de sua vida - e ainda colocar sob nova perspectiva sua vida amorosa (e não se engane, Charles teve uma vida amorosa bastante movimentada, mas não tanto quando a de Claire...). O personagem marcou tanto a carreira de Grant que ele passou um bom tempo fazendo papéis de bom moço.

Prata: o adorável cafajeste.
02 O Diário de Bridget Jones (2001)
Quando disseram que o ator faria o canastra Daniel Cleaver  eu achei que seria um grande erro. Ainda bem que eu estava errado! Grant está ótimo como o chefe cafajeste da protagonista e que disputa seu coração com o bom moço Mark Darcy (Colin Firth). Com Grant no papel ficou fácil de entender o motivo da personagem sempre fraquejar quando ele aparece em cena! O ator faz o personagem tão deliciosamente cretino que repetiu o papel na continuação (Bridget Jones: No Limite da Razão/2004) mas recusou fazer parte do terceiro filme da série por implicar com o roteiro (por dois anos até desistir do projeto). 

Ouro: o "bon vivant".
01 Um Grande Garoto (2002)
Atuando desde 1982 e sem muita paciência para a mídia, Grant mostrou que era capaz de fazer uma grande mudança por um personagem: mudar o corte de cabelo! Esse é apenas um dos motivos para que sua atuação como o garoto grande Will Freeman funcionar tão bem! Will não precisa trabalhar (vive dos direitos de uma canção natalina composta pelo pai), troca de namorada como quem troca de roupa e lida com a vida de uma forma bastante superficial até que... conhece um menino (Nicholas Hoult com 11 aninhos) que irá lhe mostrar umas verdades sobre a vida (mas sem melodramas)! O ator foi indicado novamente ao Globo de Ouro e quase foi lembrado no Oscar (que indicou só o roteiro adaptado do livro de Nick Hornby). 

PL►Y: Florence - Quem é Essa Mulher?

Meryl e Grant: "se você disser que eu desafino amor..."

De vez em quando um ano cinematográfico nos reserva filmes gêmeos, foi assim com Vida de Inseto e Formiguinhaz (1998), Inferno de Dante e Volcano (em 1997), Capote e Confidencial (em 2005), em 2016 a sina ganhou cores de musical. O filme francês Marguerite teve a sorte de estear no Brasil um mês antes de que Florence: Quem É Essa Mulher estrelado por Meryl Streep chegasse às nossas salas. E o duelo entre os dois filmes perante a crítica foi acirrado, já que ambos contam a história de uma senhora excêntrica que resolve soltar a voz, mas com resultado... desastroso! Se o filme francês criava uma personagem fictícia para contar a mesma trama, Florence, tenta ser uma biografia bastante convencional da ricaça Florence Foster Jenkins. Filha de um banqueiro e herdeira de sua fortuna, Florence era bastante conhecida na Nova York na década de 1940, principalmente pelos seus recitais anuais onde oferecia aos seus fãs um repertório de primeira: Mozart, Verdi, Strauss... mas que era destruído pela sua garganta (que encontrava uma dificuldade enorme de emitir uma nota dentro do tom exigido). Florence ficou conhecida como "a diva do grito" e sua inabilidade vocal lhe rendeu fama e até uma peça teatral estrelada por Marília Pêra aqui no Brasil (Gloriosa, no de 2009). O filme de Stephen Frears não conta a história literal, mas mantém a sua essência: a voz desafinada de Florence. Para isso conta com Meryl Streep - atacando de cantora mais uma vez, mas aqui sob o desafio de torturar cada nota musical que atravessar sua garganta. Streep ainda se mostra uma escolha acertada por ter que dar conta dos dramas que a personagem enfrenta - entre eles os efeitos de uma doença contraída em seu primeiro casamento e o relacionamento complexo com o segundo esposo, St. Clair Bayfield (Hugh Grant em seu melhor papel em muuuuuito tempo). O relacionamento entre Florence e St. Claire é um dos pontos altos do filme, principalmente pelo misto de companheirismo, zelo e... melhor você ter a surpresa ao descobrir. O filme conta ainda com a presença de Simon Helberg (o Howard de Big Bang Theory) como o pianista Cosmé McMoon que tem lá os seus dilemas em acompanhar Florence em sua, digamos, carreira. Frears faz o filme com toda a pompa que se espera de um tradicional filme de época, mas deixa toda a seriedade de lado sempre que a personagem solta a voz. Meryl Streep disse em uma entrevista que Florence não era apenas ruim, ela era "ruim de coração", o que demonstra bem o espírito do filme - já que ela era apaixonada por música e amava cantar (ou pelo menos, ela pensava que conseguia). Frears, que demonstra mais uma vez seu interesse por personagens femininas marcantes, confia tanto no interesse em torno da personagem que cria uma narrativa bastante tradicional e pouco inventiva. No entanto o Streep, Grant (que tem uma cena de dança surpreendente no filme) e Helberg garantem o interesse num filme que mistura drama e comédia (ainda que de uma piada só) sobre a história de uma mulher que gostava tanto do que fazia que nem percebia o quanto era ruim no que estava fazendo. 

Florence - Quem é Essa Mulher (Florence Foster Jenkins / Reino Unido - 2016) de Stephen Frears com Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson e Nina Arianda. ☻☻☻

sábado, 19 de novembro de 2016

APOSTAS PARA O OSCAR: CAPÍTULO V

"Sete Minutos Depois da Meia-Noite" de J.A. Bayona
Sabe aquelas fantasias tristes que dá vontade de chorar de tão bonitas? Pois esta é a proposta do diretor espanhol para a temporada de prêmios. Contando a história de um menino perseguido na escola e que lida com a mortalidade de sua mãe (Felicity Jones) o filme utiliza a presença de um monstro para que o pequeno aprenda a lidar com seus sentimentos mais sombrios. 

"Lion" de Garth Davis
Davis foi co-diretor da excelente série Top of The Lake e estreia na direção de um longa de ficção com a história de um menino indiano que se perde há quilômetros de casa. Ele é adotado por um casal australiano (Nicole Kidman e David Wenham) e vinte e cinco anos depois resolve reencontrar sua família biológica. O filme tem colhido elogios e pode render indicações para Dev Patel no papel principal e até para o pequeno Sunny Pawar que vive o personagem quando pequeno.

"A Lei da Noite" de Ben Affleck
Depois de um ano badalado ao viver Batman e O Contador nada convencional, Ben Affleck volta ao radar da Academia com seu novo filme atrás das câmeras. Aqui ele adapta o livro de Dennis Lehane ambientado durante a Lei Seca dos EUA - onde existe uma verdadeira guerra no submundo das destilarias clandestinas. Numa trama onde ninguém é confiável Affleck divide  a cena com Zoe Saldana, Elle Fanning, Sienna Miller e Brendan Gleeson e cobiça sua indicação de melhor diretor (que lhe escapou no premiado Argo/2012)

"Aliados" de Robert Zemeckis
O affair entre um agente da CIA (Brad Pitt) e uma militante da Resistência Francesa (Marion Cotillard) durante a Segunda Guerra Mundial é o lançamento de Robert Zemeckis para o final do ano. Misturando drama, romance e cenas de ação Marion está cotada (como sempre) para conseguir uma indicação - mas o boato de que é pivô da separação de Brad pode azedar suas chances. Será?

"Passageiros" de Morten Tyldum
Jennifer Lawrence no Oscar novamente? Pode ser... existe uma campanha forte para que a atriz de 26 anos consiga sua quinta indicação ao Oscar pelo papel de uma astronauta que acorda no espaço 90 anos antes do previsto ao lado de Chris Pratt - isso com mais de cinco mil pessoas adormecidas até o aguardado planeta de destino. O que há de especial nessa ficção científica? A assinatura do dinamarquês Morten Tyldum, que surpreendeu todo mundo ao ser indicado ao Oscar de diretor por O Jogo da  Imitação/2014.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Na Tela: O Plano de Maggie

Ethan e Greta: quando os planos de vida fogem do controle. 

Deve haver algum tempo que Maggie (Greta Gerwig) tenta tocar a vida de forma independente. Se afastando cada vez mais dos 30 anos, ela percebe que está na hora de ter um filho - de produção independente, oras! Tão independente que ela nem recorre a um namorado ou clínica para ajudar. Ela prefere que um conhecido coloque seus genes dentro de um potinho que ela se vira depois como puder - e nem adianta ele sugerir o método mais antigo para se fazer um filho, Maggie está irredutível em seus planos (e até sugere que ele nem tenha contato com o filho quando ele for gerado). Também não adianta o futuro pai fazer os melhore picles que ela já experimentou, tão pouco ser meigo, atencioso e ter a cara do Travis Fimmel (ainda que parte dela esteja coberta pela barba desalinhada). Apesar do sorriso e da simpatia, Maggie ainda não percebeu que ter controle sobre todos os aspectos a vida é algo mais do que difícil,  é impossível mesmo. Talvez por isso seus romances nunca durem mais do que seis meses (ela até acha que possui alguma síndrome que a faça enjoar de estar apaixonada) e que seu relacionamento mais longo seja com um ex-namorado que se casou com Felicia (Maya Rudolph) - e os dois se tornaram os maiores confidentes da protagonista. Existe um aura de controlável bem estar na vida de Maggie, mas ela parece ir por água abaixo quando ela conhece John (Ethan Hawke), professor da mesma Universidade em que trabalha e que parece um tanto cansado dos debates intelectuais ao lado da esposa Georgette (Julianne Moore, plenamente relaxada após tantos papéis densos) e... a vida de Maggie pode mudar completamente - ainda que para um lado que ela nunca imaginou. O Plano de Maggie é uma comédia dramática que brinca o tempo todo com o que somos (ou o que pensamos ser) e o que seremos, mostrando que a vida tem lá suas guinadas surpreendentes que nem conseguimos nos dar conta de como fomos parar em determinado ponto. Dirigido por Rebecca Miller, que demonstra bastante desenvoltura em sua primeira comédia, o filme nunca cai na rotina tola das comédias românticas. É verdade que Rebecca também conseguiu reunir um ótimo elenco, com destaque para Greta que está se tornando especialista na criação de um tipo bastante específico: inteligente, articulada e um tanto desajeitada, que tem chamado cada vez mais atenção de público e crítica. Em alguns momentos o filme lembra os debates intelectualóides mais divertidos nos filmes de Woody Allen (especialmente quando Hawke e Julianne dividem a cena) e ao chegar no final deixa o espectador com aquela sensação de que desde o início sabia exatamente o que Maggie deveria ter feito no início de seu plano - e não me refiro ao plano de fuga mais esquisito da comédia romântica. Aos simpatizantes que aspiram uma indicação ao Oscar para Greta por sua atuação, posso dizer que ela deve ter fôlego somente para o Globo de Ouro de atriz de comédia, mas o roteiro pode cair no gosto da Academia (mas não se desesperem fãs, Greta tem chances de indicação ao Oscar por 20th Century Women novo filme de Mike Mills). 

O Plano de Maggie (Maggie's Plan/EUA - EUA) de Rebecca Miller com Greta Gerwig, Ethan Hawke, Julianne Moore, Bill Hader, Maya Rudolph e Travis Fimmel. ☻☻

PL►Y: Procurando Dory

Nemo, Marlin e Dory: nova aventura marítima. 

Não foram poucos que consideraram que a peixinha azul com problemas de memória Dory havia roubado a cena no (já?) clássico Procurando Nemo (2003) e, em uma época onde as sequências ocupam a maior parte das salas de cinema, nada mais óbvio que Dory receba um filme para chamar de seu. Forte candidato ao Oscar de animação no ano que vem, Procurando Dory repete o universo de Nemo, mas desenvolvendo um pouco mais a história da querida personagem desmemoriada. Aqui conhecemos um pouco mais da trajetória de Dory, descobrindo que seu problema de perda de memória recente acontece desde que era pequena (e com olhos enoormes) e que gerou até um drama familiar do qual ela lembra no decorrer do filme. A partir daí, ela parte em uma jornada que a coloca de frente com suas origens e muitos desafios. Assim como no filme anterior, a ambientação marítima é feita no capricho, deixando o filme muito agradável de se assistir, mas que perde o gosto de novidade por ser muito parecido com Procurando Nemo, do qual aproveita vários personagens e referências (afinal, nós descobrimos como Dory aprendeu a falar baleiês) a partir do momento que Dory se perde e o pequeno peixe palhaço, ao lado do pai zeloso passam a procurar a amiga. Aqui a diferença é que ela não termina presa no aquário, mas num parque aquático no qual reencontra uma antiga amiga. A estrutura entre os filmes é praticamente a mesma, a sorte é que ela continua funcionando pela habilidade da produção em construir uma aventura protagonizada com animais marítimos. No entanto, o que mais me chamou atenção é que muitos abraçaram Procurando Nemo por conta do peixinho ter uma nadadeira que não se desenvolveu como deveria, gerando o excesso de proteção por parte do pai viúvo. Esse detalhe motivou discursos inclusivos entre o público. Em Procurando Dory esse detalhe recebe mais destaque, além de Nemo aparecer em toda a sua esperteza, aparece a dificuldade de Dory em memorizar, como ainda surge uma personagem praticamente cega e outro que teve um membro amputado. Ao que parece a Disney e a Pixar perceberam na inclusão um campo vasto para novos personagens. 

Procurando Dory (Finding Dory) de Andrew Stanton e Angus MacLane com vozes de Ellen DeGeneres, Albert Brooks, Ed O'Neil, Ty Burrell, Diane Keaton e Eugene Levy. ☻☻

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

PL►Y: Yves Saint Laurent

Guillaume e Pierre: parceria espetacular. 

Nascido em 1º de agosto de 1936 na cidade de Orã na Argélia, Yves Saint Laurent foi um dos nomes mais influentes na história do mundo fashion. Ele começou a carreira como estilista aos 17 anos ao trabalhar com Christian Dior e desde então seu estilo sofisticado foi marcado por grandes inovações na moda - da criação do smoking feminino, à popularização do Prêt-à-Porter e o pioneirismo ao colocar modelos negras nas passarelas. Aos poucos, o rapaz esguio de jeito tímido e óculos de armação grossa se tornou um dos mais queridos ícones da moda - e que até hoje rende milhões de dólares ao redor do mundo com produtos que levam seu nome. Falecido em 2008, dois filmes assumiram o desafio de levar sua biografia para as telas de cinema. Este Yves Saint Laurent é o mais tradicional, assinado por Jalil Lespert, o filme concorreu a sete prêmios César (o Oscar francês), levando para casa o de melhor ator para Pierre Niney, que apresenta um bom trabalho ao viver o estilista, caprichando em sua timidez, nos conflitos e na genialidade de um homem que amava criar vestidos, mas que não tinha a mínima noção de como gerenciar os negócios. Sorte que ele conheceu Pierre Bergé (em ótima atuação de Guillaume Galliene, bastante diferente do que vimos em Eu, Mamãe e os Meninos/2014) que se torna seu parceiro não apenas nos negócios, mas na vida. Foi com a ajuda de Bergé que Yves superou sua primeira grande crise, quando teve problemas para servir ao exército e terminou em uma instituição psiquiátrica. Foi ao lado do companheiro que ambos fundaram a renomada grife Yves Saint Laurent em 1961. O filme dedica bastante atenção ao relacionamento dos dois, deixando claro que retrata o ponto de vista de Bergé sobre o biografado. Não que isso prejudique o filme, pelo contrário, provoca um distanciamento que torna a figura de Yves ainda mais curiosa, especialmente quando começa a entrar em crise por ter se tornado um estilista famoso e, por consequência, uma celebridade mundial cheia de responsabilidades e dilemas. Apesar de ser bastante correto e optar por apresentar a homossexualidade de forma bastante contida, o filme não deixa de enveredar por algumas polêmicas (a transição do rapaz tímido para o adulto complicado, o amante que Yves dividia com outro estilista famoso e a postura cada vez mais autoritária de Bergé). Existem alguns problemas de edição (principalmente no início quando aparece Bergé envelhecido com narrativa em off e não fazemos a mínima ideia do que se trata e o último ato apressado) e no trato com alguns coadjuvantes (principalmente com a musa Victoire vivida por Charlotte Le Bon que tem destaque na história mas é dispensada sem o desenvolvimento necessário), são deslizes assim que deixaram o outro longa, batizado apenas de Saint Laurent, alguns níveis acima perante público e crítica - o longa de Bertrand Bonello concorreu à Palma de Ouro em Cannes e foi indicado a dez César, incluindo filme e direção, mas viu seu protagonista, Gaspard Ulliel, perder para a versão de Pierre Niney durante a cerimonia (o que não deixa de ser uma ótima vantagem para o longa de Lespert). 

Ives Saint Laurent (França-Bélgica/2014) de Jalil Lespert com Pierre Niney, Guillaume Galliene, Charlotte Le Bon e Nikolai Kinski. ☻☻

terça-feira, 15 de novembro de 2016

PL►Y: O Tesouro

Toma e Adrian: caça ao tesouro pouco empolgante. 

Premiado no Festival de Cannes na mostra Un Certain Regard e aclamado mundialmente em festivais ao redor do mundo, o romeno O Tesouro é aquele tipo de filme que quando termina você pensa ter assistido ao filme errado. Forte candidato ao posto de filme mais sem graça que vi em 2016, O Tesouro começa com uma premissa interessante, mas deixa a impressão que não faz a mínima ideia do que fazer com ela. O filme gira em torno de um pai de família que recebe a visita de um vizinho que tenta convencê-lo a ajudar a encontrar um tesouro enterrado no terreno de sua família. Este é o ponto de partida de um filme que irá se arrastar por uma hora e meia investindo no realismo. Arrastado, com diálogos simplistas e atuações pouco marcantes, fica difícil ficar acordado durante o filme. A cena com o detector de metais parece durar uma eternidade e os dilemas dos personagens é sempre resolvida da forma mais simples possível até chegar ao desfecho que muitos consideram poético - mas eu não. Classificado como comédia (o que faz o humor romeno ser um verdadeiro enigma para mim) o filme recebe elogios por sempre subverter as expectativas da plateia, o que é verdade, mas sempre seguindo por um caminho que resulta pouco interessante. Talvez a piada do filme seja o tal tesouro, que somente alguns espectadores são capazes de enxergar. 

O Tesouro (Comoara / Romênia - França / 2015) de Corneliu Porumboiu, com Toma Cuzin, Adrian Purcarescu e Corneliu Gozmei.

PL►Y: Um Negócio Brilhante

Rudd e Giamatti: negócios e ressentimentos. 

Em 2016 o filme Natal, Outra Vez/2014 de Charles Poekel foi indicado ao Independent Spirit como melhor filme de baixo orçamento. O filme (que é ótimo) contava a rotina de um rapaz com o emprego temporário de vender árvores de natal. Não deixa de ser curioso que em 2013 outra produção focava nessa profissão bastante específica. Dirigido por Phil Morrison, Um Negócio Brilhante conta a história de dois amigos que resolvem ganhar dinheiro vendendo árvores de natal, no entanto, o filme conta bem mais do que isso. Dennis (Paul Giamatti) acaba de sair da prisão e fica bastante desapontado ao voltar para casa e descobrir que a esposa está prestes a se casar com seu melhor amigo Rene (Paul Rudd) e que a filha pequena acredita que ele está morto. Sem dinheiro, sem casa, sem família e sem rumo para seguir, Dennis acaba aceitando o convite do tal amigo para ajudá-lo com o negócio natalino. No entanto entre os dois amigos existe um poço de ressentimentos (envolvendo não apenas o futuro casamento de Rene, como também o motivo de Dennis ter ficado preso por vários anos). Na pendenga entre os dois que o filme se desenvolve, mantendo a atenção do espectador mais pelo carisma dos protagonistas do que pela história em si. Giamatti já se tornou expert em preencher de humanidade personagens que não seriam fáceis de gostar, em cena é rabugento e mal humorado - mas também triste e magoado, fica claro que ele nunca irá perdoar o amigo, mas, Rene é o único amigo que lhe resta. Já Rene é seu total oposto, bem humorado e otimista, cai como uma luva para o estilo de Paul Rudd - e serve de contraponto para a aspereza de Dennis. Além da dupla o filme ainda conta com a inglesa Sally Hawkins vivendo uma russa que cruza o caminho de Dennis e que será importante para o desfecho da história. Apesar dos atritos entre os personagens, Um Negócio Brilhante mostra-se um passatempo bastante leve, muito diferente da tensão domiciliar da estreia de Phil Morrison com o ovacionado em festivais Retrato de Família (2005), filme que em seu distanciamento causava grande estranhamento, mas serviu para revelar Amy Adams (que foi indicada ao Oscar de Coadjuvante pelo papel) para o mundo. Oito anos depois de seu primeiro e único lançamento até então, Morrison ressurge menos pretensioso e mais carinhoso com os personagens. Talvez por conta do espírito natalino evocado pela história. 

Um Negócio Brilhante (All is Bright/EUA-2013) de Phil Morrison com Paul Giamatti, Paul Rudd, Sally Hawkins e Amy Landecker. ☻☻

domingo, 13 de novembro de 2016

Na Tela: Doutor Estranho

Cumberbatch: Estranho perfeito. 

Não há dúvidas do esmero da Marvel com seus personagens no cinema e Doutor Estranho reafirma esta máxima com louvor! Afinal, o filme era um dos mais arriscados que o estúdio tinha nas mãos, já que o desafio de inserir aspectos mágicos em suas produções ainda era visto como um risco (a série Punhos de Ferro da Netflix que o diga...). No entanto, quando soubemos que Benedict Cumberbatch era o escolhido para viver o médico Stephen Strange a coisa começou a demonstrar que seguiria pelo caminho certo. Some ao seu nome os de Tilda Swinton, Mads Mikkelsen e Chiwetel Ejiofor que a coisa fica ainda melhor (e não digo isso apenas pelos nomes de pronuncia complicada que os une). Assinado por Scott Derrickson (diretor de um dos melhores filmes de terror do século XXI: O Exorcismo de Emily Rose/2005) o filme conta a origem do personagem da Marvel, o doutor tão brilhante quanto arrogante Stephen Strange. Ele sofre um acidente de carro que compromete para sempre suas mãos e, por consequência, a carreira como cirurgião meticuloso. Em busca de voltar a ter a mesma destreza manual de antes, Stephen parte para procurar tratamentos alternativos no oriente e descobre um mundo místico inesperado ao ser apresentado à Anciã (uma esplêndida Tilda Swinton), uma mestra da magia de idade desconhecida. Enquanto tenta melhorar suas condições, ele aprende a utilizar habilidades mágicas que não era capaz de conceber dentro da visão de mundo que abandona aos poucos. Essa jornada espiritual do personagem compõe o primeiro ato do filme com drama, humor (e de vez em quando a Marvel escorrega nisso) e efeitos especiais que evocam diretamente a arte dos quadrinhos que investia numa aura psicodélica incomum até então - e na tela, este mundo místico habitado pelos personagens resulta ainda mais impressionante e vertiginoso. Porém, não demora para que Strange descubra que nem tudo é luminoso nesse mundo, já que Anciã e seu grupo devem proteger a Terra de ameaças místicas que podem destrui-lo facilmente. É neste ponto que descobrimos a existência do devorador de mundos Dormammu e seu mais novo discípulo, Kaecillius (Mads Mikkelsen). Escrito tudo parece uma grande bobagem, mas todos aqui tem a difícil tarefa de tornar esse universo coerente e não cair no ridículo - senão o filme fracassaria redondamente (e não é por acaso que o filme possui um dos elencos mais premiados de um filme da grife Marvel). O filme possui efeitos especiais deslumbrantes, que multiplica à enésima potência o que vimos em A Origem/2010 - que agora parece apenas um aperitivo com o que vemos aqui. A forma como os personagens atravessam e manipulam o multiverso é espetacular! O que nos faz lembrar que Doutor Estanho pode até repetir os vários ingredientes dos filmes da Marvel (ação, humor, par romântico, efeitos especiais, lutas elaboradas...) e alguns defeitos (a namorada que nunca ganha muita consistência, o vilão que poderia ser mais complexo...) num formato místico, mas ousa ao direcionar todo o universo Marvel para outra direção que promete tornar seus filmes ainda mais interessantes (e eu aguentaria mais umas duas horas de filme facilmente). 

Doutor Estranho (Doctor Strange/EUA-2016) de Scott Derrickson com Benedict Cumberbatch, Rachel McAdams, Tilda Swinton, Chiwetel Ejiofor, Mads Mikkelsen, Michael Stuhlbarg e Benedict Wong. ☻☻☻☻

APOSTAS PARA O OSCAR 2017: CAPÍTULO IV

"Silence" de Martin Scorsese
Previsto para estrear no ano passado, o novo filme de Martin Scorsese parece que finalmente irá chegar aos cinemas - e já cotado para as premiações. O filme conta a história de um grupo de jesuítas que no século XVII vivenciam violência e perseguição ao propagarem o cristianismo no Japão (que pretendia dizimar qualquer influência ocidental em seu território). No elenco estão Liam Neeson, Andrew Garfield, Adam Driver e Tadanobu Asano.  

"Snowden" de Oliver Stone
Ano passado Joseph Gordon-Levitt esperava ter sido indicado ao Oscar por sua atuação em A Travessia. Não conseguiu. Esse ano existe torcida para que ele seja indicado por sua performance como o polêmico Edward Snowden, um rapaz que ficou famoso  por divulgar documentos confidenciais sobre ações ilegais da NSA. O curioso é que se A Travessia era a versão dramatizada do documentário oscarizado O Equilibrista (2008) e este é a versão de outro documentário premiado na mesma categoria Citizenfour (2014)...

"A Longa Caminhada de Billy Lynn" de Ang Lee
O cineasta Taiwanês volta ao páreo este ano com uma história que contrasta a realidade com a percepção que o povo americano tem sobre uma batalha no Iraque. O protagonista é Billy (Joe Alwyn), um rapaz de 19 anos, que empresta suas memórias ao espectador para revelar que nem tudo acontece como a mídia apresente. Só para lembrar, Ang Lee tem dois Oscars de melhor diretor no currículo. 

"Rules Don't Apply" de Warren Beatty
Dezoito anos após seu último trabalho atrás das câmeras, Warren Beatty volta com a história de amor entre uma aspirante a atriz (Lilly Collins) e um motorista ambicioso (Alden Ehrenreich). O problema no caminho dos dois é o milionário Howard Hughes (vivido por Beatty) que não aprova o relacionamento. A reconstituição da era de ouro de Hollywood pode colocar o filme entre os favoritos do ano.  

"20th Century Women" de Mike Mills
Depois de criar filmes com protagonistas majoritariamente masculinos, Mike Mills explora mais o universo feminino com um elenco  dos bons em sua nova obra. Annette Benning deve entrar na lista de favoritas do Oscar como uma das mulheres que exploram o amor na liberdade dos anos 1970. Acompanham a atriz veterana Elle Fanning, Greta Gerwig, Billy Crudup e Lucas Jade Zuman. 

Na Tela: Jovens, Loucos e Mais Rebeldes

Os jogadores de baseball: hora de curtir. 

Para entender porque Everybody Wants Some!! recebeu esse título ridículo no Brasil é preciso lembrar de um filme emblemático na carreira do cineasta Richard Linklater, um de nome bem parecido em terras tupiniquins... Muitos acreditam que Dazed and Confused (1993) é o primeiro longa metragem do cineasta, mas na verdade é o terceiro. Esse equívoco se deve ao fato de Dazed ter recebido melhor distribuição e maior atenção de público e crítica ao ser lançado, principalmente por conta de Linklater já demonstrar suas características marcantes de seu estilo: atores trabalhando da forma mais espontânea possível, histórias sem grande clímax ou arcos dramáticos convencionais e um fluxo narrativo de poucas oscilações. Excetuando os filmes que fez por encomenda (como Escola de Rock/2003 e Bernie/2011), Linklater segue essa fórmula há tempos e, se hoje parece algo natural no trabalho dele e de milhares de cineastas ao redor do mundo, em 1993 isso causou um grande estranhamento. No Brasil, Dazed and Confused recebeu um título que confundia ainda mais as coisas: Jovens, Loucos e Rebeldes. O filme acompanhava um grupo de adolescentes durante o último dia de aula em 1976 em uma série de aventuras (e desventuras) urbanas que vão de trotes nos alunos calouros de uma High School, passando pelo tédio de não ter nada o que fazer e algumas paqueras. Linklater parece deixar o filme desenvolver-se por si só, numa direção que quase não aparece e que deixa a história (propositalmente) frouxa entre as histórias que se cruzam. A ideia de um caleidoscópio juvenil de atitudes bobas, inconsequentes e, às vezes, divertidas hoje parece mais fácil de assistir do que no ano em que foi lançado. É curioso perceber que o filme envelheceu bem, quando há 23 anos já era um filme de época (e mesmo com o orçamento modesto) possui uma boa reconstituição de época, trilha sonora esperta e um grupo de atores que estavam começando a carreira e se tornariam mais conhecidos alguns anos depois (estão lá Ben Affleck, Matthew McConaughey, Milla Jovovich, Parker Posey, Adam Goldberg, Joey Lauren Adams, Jason London...) que ajudam a demonstrar outra grande virtude do diretor: lidar com elenco numeroso com bastante equilíbrio (às vezes, numa mesma cena). 

Dazed and Confused: McConaughey juvenil em cena. 

Eis que depois de tanto tempo, Linklater retoma a ideia de abordar um grupo de jovens num período específico de transição em suas vidas em Everybody Wants Some!! É claro que no Brasil o título viraria uma imbecilidade do porte de Jovens, Loucos e Mais Rebeldes que, assim como no filme de 1993 tem relação quase nula com a história (ok, vou considerar as bebedeiras, drogas e brincadeiras como algo que criou essa confusão). Longe de ser uma sequência do filme que virou cult, o novo filme acompanha um grupo de jogadores de baseball que aguardam a passagem dos poucos dias que os separam do início nas aulas na faculdade. O foco da narrativa recai sobre a chegada do novato Jake (Blake Jenner), que acaba de entrar para o time e terá que conviver com outros jogadores na mesma casa. Assim como o filme de 1993, os diálogos pretendem ser tão despretensiosos quanto divertidos e tudo compõe uma espécie de crônica sobre ritos de passagem com muitas festas de estilos diferentes (que ajudam a desenhar a mescla que foi o início da década de 1980), bebedeiras e investidas juntos às garotas. O filme reflete mais uma vez a obsessão do diretor com a passagem do tempo (que vimos no auge em Boyhood/2014) e sua tentativa de captar algo tão abstrato. A câmera está ainda mais esperta, amparada pelo cuidado com os figurinos (composto de muitos shorts curtos) deixando evidente o quanto Linklater amadureceu como cineasta, seja criando cenas mais elaboradas (a cena da paquera no estacionamento é um bom exemplo disso) ou deixando a trilha sonora dialogar ainda melhor com as imagens e atores ainda mais à vontade diante da câmera. Se Jenner (que antes atuou na série Glee) lembra um jovem Matt Dillon, vale ainda destacar a presença de Glenn Powell como o camarada Finnegan, que são fortes candidatos ao posto de futuras estrelas descobertas pelo diretor. Everybody Wants Some!! tem o sabor de uma versão de Dazed and Confused aprimorada pelos anos de carreira que Linklater possui nos dias de hoje e essa habilidade conquistada, Linklater conseguiu mesmo foi com seu amigo tempo. 


Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (Everybody Wants Some!! / EUA-2016) de Richard Linklater com Blake Jenner, Glenn Powell, Ryan Guzman e Zoey Deutsch. ☻☻☻

Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused / EUA -1993) de Richard Linklater com Jason London, Matthew McConaughey, Parker Posey, Adam Goldberg, Anthony Rapp e Milla Jovovich. ☻☻☻

sábado, 12 de novembro de 2016

PL►Y: Um Amor à Altura

Dujardin: altura é um problema tão grande assim?

O francês Jean Dujardin ganhou o Oscar de melhor ator em 2011 ao viver o ator de cinema mudo George Valentin em O Artista (2011) e desde então fez vários filmes franceses. Embora a maioria das pessoas possam lembrar dele nas participações especiais nos hollywoodianos O Lobo de Wall Street (2013) e Caçadores de Obras Primas (2014), Dujardin parece ficar bem mais a vontade em produções leves e despretensiosas de sua terra natal como este Um Amor à Altura, refilmagem do filme argentino de sucesso Coração de Leão - O Amor não tem Tamanho (2013). Assim como o original, o filme é uma comédia romântica descomplicada que aborda os preconceitos que podem aparecer no relacionamento com um homem, digamos, não muito alto. Alexandre (Dujardin) é um engenheiro renomado que encontra o celular de uma mulher e marca um encontro para entregar a ela o aparelho. Chegando lá Diane (Virginie Efira) ainda está instigada com o homem de fala articulada e humor inteligente que conversou pelo celular, mas ao vê-lo leva um susto ao perceber que ele possui pouco mais de um metro e trinta centímetros. A câmera brinca com o encontro deixando claro que Alexandre é da altura de sua pretendente somente quando ela está sentada. Quando ele senta, seu pés não conseguem tocar o chão e em breve ela irá descobrir que comprar roupas para seu novo namorado também será um problema (tendo que recorrer às lojas infantis). O diretor Laurent Tirard não altera o tom espirituoso do filme original, mas parece torná-lo ainda mais leve com os dilemas que passam a ser enfrentados pelo casal - sobretudo por Diane que embora esteja cheia de carinhos por Alexandre, está sempre hesitante em assumir o compromisso de lidar com a... desproporção vertical entre os dois. Virginie e Dujardin estão bem em cena e tornam o filme uma obra a que se assiste sem esforço, já que o roteiro sempre evita cair na baixaria ou vulgaridade, investindo discretamente em gafes, ironias e o desconforto dos outros personagens quando estão diante do protagonista. Sem dificuldades para viver o personagem principal, Jean Dujardin foi alterado por efeitos especiais mais do que convincentes para mudar o seu tamanho, no entanto, sua essência de galã num personagem bem resolvido, torna difícil acreditar que a sua altura iria prejudicar o apelo junto à mulherada. 

Um Amor à Altura (Un homme à la hauteur/França-2016) de Laurend Tirard com Jean Dujardin, Virginie Efira, Cédric Kahn, Stéphanie Papanain e César Domboy. ☻☻☻

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Pódio: Leonard Cohen (Soundtracks)

Com canções em mais de duzentas produções, Leonard Cohen é o homenageado desse Pódio diferente onde não se classifica os filmes dentro do meu singelo favoritismo, mas canções que cairam como uma luva numa tela de cinema:

03 Waiting for the Miracle (Garotos Incríveis / 2000)
A canção foi utilizada várias vezes em filmes e séries, mas eu gosto mesmo é quando ela toca durante  a famigerada festa que o editor Terry Crabtree (Robert Downey Jr.) promove na casa do professor escritor Grady Tripp (Michael Douglas). A cena é bem rápida, mas é marcante e serve para ressaltar a excepcional trilha sonora do longa de Curtis Hanson (que também se despediu recentemente dos fãs).


02 The Future (Assassinos por Natureza / 1994)
A primeira vez que reparei na voz grave de Leonard Cohen foi com o uso desta música ao subir dos créditos do polêmico filme de Oliver Stone. A própria canção The Future causou controvérsia ao ser lançada por seus versos sobre drogas e sexo, mas ao tocar no longa parece ter sido feita sob medida para embalar o amor entre o casal serial killer Mickey (Woody Harrelson) e Mallory (Juliette Lewis). A junção de canção e filme funciona tão bem que um fã fez esse vídeo com cenas do casal perturbado.


01 Hallellujah (Watchmen / 2009) 
Eu sei, eu sei... é óbvio demais colocar a canção mais falada de Leonard Cohen na primeira posição! Mas vocês precisam concordar que a utilização feita por Zack Snyder funciona como bela ironia durante  a projeção de Watchmen! Lembro das gargalhadas no cinema quando finalmente os super-heróis Coruja (Patrick Wilson) e Spectral (Malin Akerman) se rendem ao sex-appeal das máscaras e uniformes justos, gerando a cena mais tórrida de um filme de super-herói! Se você não curte cenas de sexo no cinema melhor nem ver o vídeo do trecho do filme...

4EVER: Leonard Cohen

21 de setembro de 1934 07 de novembro de 2016

Leonard Norman Cohen nasceu na cidade de Montreal em Quebec, Canadá. Embora mundialmente por suas canções emolduradas pela voz  grave e solene, Cohen começou a se dedicar à música somente após os trinta anos. Até a década de 1960, Leonard ganhava a vida como romancista e poeta. Musicalmente o cantor manteve uma sonoridade folk, misturada ao country e o rock. A antológica canção "Hallellujah" deve ser a mais famosa do seu repertório e após ser gravada em 1984, ganhou versões de diversos artistas, entre eles Jeff Buckley e Rufus Wainwright. Vale lembrar que o cantor emprestou sua voz sussurrante para mais de duzentas músicas utilizadas em filmes e produções para a TV.  Cohen faleceu no dia 07 de novembro, mas sua família anunciou a perda à imprensa somente três dias depois, sem revelar a causa da morte aos 82 anos. 

Na Tela: Cães de Guerra

Miles e Jonah: negócio lucrativo. 

David Packouz (Miles Teller) é um massagista que está prestes a ser pai pela primeira vez. Vivendo com a esposa, os seus rendimentos parecem nunca dar conta das despesas - imagine com as que vem pela frente. Por isso mesmo, seu reencontro com o amigo de infância Efraim (Jonah Hill) num funeral promete mudar sua vida. Enquanto David percebe que seu novo empreendimento não irá para frente (venda de lençóis mais confortáveis e macios para asilos), Efraim lucra milhões negociando armas pelo mundo. Quando David e Efraim se tornam sócios, o céu parece o limite para a dupla de amigos que pretende ganhar cada vez mais no mercado de armamentos, mesmo que para isso precisem fazer algumas manobras perigosas pelo lucro que desejam. Entre viagens pelo deserto e negociações com tipos sombrio, os dois topam qualquer coisa por dinheiro. A trama de Cães de Guerra soa tão absurda que ele se torna um daqueles casos que é importante dizer que a história é baseada em fatos reais para que você não considere tudo uma grande invenção sem pé nem cabeça. O diretor Todd Phillips (diretor da trilogia Se Beber Não Case) é esperto o suficiente para manter o tom de comédia absurda durante o filme, sempre deixando um pouco de surpresa aos passos da dupla de amigos, que no fim das contas começa a ter lá os seus conflitos. A narrativa do filme é tão ágil que em vários momentos o espectador pode ficar perdido com o que está acontecendo, porém o mais importante está sempre evidente: a guerra é uma indústria milionária onde vários interesses (às vezes opostos) se cruzam. Baseado no artigo de "Arms and The Dudes" do jornalista Guy Lawson para a revista Rolling Stone, o filme retrata bem como dois jovens de vinte e poucos anos enriqueceram com o mercado de armas, sobretudo para o governo americano em meio a fortunas e deslizes. Senti falta de um posicionamento mais reflexivo sobre o que vemos na tela sobre a indústria de armamentos (só a esposa de David comentando de forma branda me pareceu pouco), mas o filme consegue contornar essa falha quando ganha proporções assustadoras em sua reta final. A dupla de atores dá conta do recado, mas o destaque fica mesmo para Jonah Hill que comprova, mais uma vez, não ter medo de viver tipos desagradáveis em seus filmes. Hill aqui aparece ainda mais gordo e, apesar da sua risada (postiça repetida quase mecanicamente), ele vive um tipo assustador em sua obsessão pelo lucro e que em momento algum reflete sobre as consequências do que está fazendo. Um desses sujeitos que se não acaba na prisão pode até se tornar presidente americano!

Cães de Guerra (War Dogs/EUA-2016) de Todd Phillips com Jonah Hill, Miles Teller, Ana de Armas, Kevin Pollack e Bradley Cooper. ☻☻☻

domingo, 6 de novembro de 2016

Combo: Deus?

05 O Novíssimo Testamento (2015) Inspirado pela Bíblia afirmar que Deus fez a humanidade a sua imagem e semelhança, imagino que os cineastas devem quebrar a cabeça quando precisam escolher um ator para viver o Criador. Nessa comédia provocativa feita pelo belga Jaco Van Dormael, ele preferiu escolher o conterrâneo Benoît Poelvoorde para viver um Deus rabugento, que vive em Bruxelas e que é claramente inspirado no velho testamento: irascível, raivoso e capaz de fazer quem está ao redor ser temente a ele. Se para ele o filho falhou na missão por ser bondoso demais, você pode imaginar o resto...

04 Êxodo: Deuses e Reis (2014) O filme de Ridley Scott é cheio de altos e baixos ao recontar a história de Moisés (aqui vivido pelo galês Christan Bale) e foi muito criticado por ter apenas atores caucasianos vivendo personagens egípcios. No entanto, em meio às polêmicas e efeitos especiais desta super produção, talvez a ideia mais bem sacada foi colocar o pequeno Isaac Andrews vivendo a personificação Divina que conversa com Moisés durante o filme. Ainda que novato no cinema, Andrews consegue dar conta do personagem de forma marcante e imponente, alcançando bons resultados em cada cena que aparece. 

03 Dogma (1999) Lembro como se fosse hoje a polêmica danada que Kevin Smith conseguiu quando disse que em seu filme sobre anjos rebeldes (vividos por Ben Affleck e Matt Damon quando começavam a virar astros) Deus seria encarnado pela cantora canadense Alanis Morissette. Alanis ainda estava no auge com o CD Jagged Little Pill quando topou a empreitada e, quando o filme estreou, sua performance causou menos polêmica do que esperavam. Smith disse ter escolhido a cantora por conta de sua voz emotiva, no entanto, o mais legal da iniciativa foi colocar uma mulher no papel do Todo Poderoso. 

02 Deus é Brasileiro (2003) Pois é, tem brasileiro na lista de Deuses cinematográficos: Antonio Fagundes! Baseado no conto de João Ubaldo Ribeiro, o filme de Cacá Diegues conta o que acontece quando Deus se cansa de lidar com a humanidade e resolve tirar merecidas férias! Só que antes de descansar (afinal, ele não descansa desde o sétimo dia após a criação do mundo!) ele precisa encontrar alguém para substituí-lo. Não por acaso ele vem para o Brasil, país marcado pela religiosidade, tendo como guia o pescador Taoca (Wagner Moura) que o ajudará na busca. O filme se tornou um sucesso graças à química entre a dupla de atores! 

01 Todo Poderoso (2003) Morgan Freeman tem mais de cem filmes no currículo, já foi herói, vilão, motorista, presidente, presidiário e Deus em pessoa nesta comédia estrelada por Jim Carrey. Carrey vive Bruce Nolan, um jornalista que começa a questionar Deus e a forma como ele conduz o mundo. Isso é suficiente para que o criador do céu e da terra apareça para ele e lhe dê o poder de governar o mundo por um dia. Acontece que Bruce descobre que ser Deus é mais difícil do que ele imagina... por isso mesmo ninguém melhor que Morgan Freeman para ser tão convincente como o ser Divino (por isso mesmo, o ator reviveu o papel em Todo Poderoso 2)!