sexta-feira, 31 de maio de 2019

HIGH FI✌E: Maio

Cinco filmes assistidos em maio que merecem destaque:

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BREVE: Sorry to Bother You

Tessa e Lakeith: comédia maluca com algo a dizer. 

Faz algum tempo que o desempregado Cassius Green (Lakeith Stanfield) vive na garagem do tio Sergio (Terry Crews) e seus melhores momentos são ao lado da namorada, Detroit (Tessa Thompson), uma artista performática que está longe de fazer o sucesso esperado. Quando Cassius é contratado para trabalhar com telemarketing, o que poderia ser o início de uma fase melhor na vida se torna a mais confusa (graças ao roteiro inventivo do estrante Boots Riley). Embora receba crédito por alguns trabalhos como compositor em produções variadas, este é o primeiro longa metragem dirigido por Riley, que busca sempre o caminho mais inesperado para sua história, beirando o surrealismo em vários momentos. Pelo trabalho ele foi indicado ao prêmio de cineasta estreante no Prêmio do Sindicato de Diretores dos EUA. Ele utiliza tantos artifícios para contar a ascensão e queda de Cassius que em alguns momentos soa caótico, afinal, o mundo construído pelo filme é por si só distópico em sua abordagem sobre o trabalho no século XXI. Embora estejam lá a ambição pela promoção e as manifestações por melhores condições de trabalho, por outro lado, está a organização que promove a contratação vitalícia de seus empregados, lhe oferecendo um lugar para dormir e comida tendo em troca a disponibilidade constante para serviços - e esta é apenas a superfície de  uma estratégia produtiva de contornos absurdos. Também não posso esquecer da estratégia praticada pelo protagonista para ser promovido, a "voz de branco" para causar "maior identificação" com quem está do outro lado da linha" (e o filme não se inibe a mostrar o rapaz invadindo literalmente o ambiente dos possíveis clientes com suas ligações, mesmo nos momentos mais impróprios). Cheio de alfinetadas sobre preconceitos e explorações, Sorry to Bother You é de uma criatividade que eu não via desde Quero Ser John Malkovich (1999), embora seja menos "sutil" que as loucuras que Spike Jonze apresentava naquele filme, ele tem lá o seu charme no visual colorido e um verniz que faz lembrar outro filme protagonizado por Tessa Thompson, o pouco visto Cara Gente Branca (2014) e seu enredo que se equilibrava sobre o fio da navalha (prova disso é o rap sem vergonha improvisado por Cassius na pior festa de sua vida). É engraçado como a trama parece se desenvolver de forma improvisada em seus diálogos e acontecimentos bizarros, mas ao final da sessão o filme revela-se bastante contundente sobre o mundo atual e seus discursos que se montam e desmontam para criar verdades aceitáveis (por mais canhestros que pareçam), das celebridades surgidas ao acaso (?) num vídeo viral da internet, nas humilhações apresentadas na televisão, nos absurdos que são aceitos como salvações (repare os efeitos das denúncias feitas contra o visionário empreendedor vivido por Armie Hammer). Sorry to Bother You tem lá suas mancadas (as criaturas que ganham espaço na história parecem feitas de borracha e algumas atitudes de personagens não levam a lugar algum...), mas sua criatividade destrambelhada cria um filme surpreendente (e com direito à cena pós-crédito). 

Sorry to Bother You (EUA-2018) de Boots Riley com Lakeith Stanfield, Tessa Thompson, Armie Hammer, Jermaine Fowler, Steven Yeun, Terry Crews e Danny Glover.  

PL►Y: Viagem para Agartha

Asuna e Shun: mundo entre a vida e a morte. 

As animações japonesas tem uma longa tradição em exuberância visual e se Hayao Miyazaki é o mestre máximo desta arte em seu país, podemos dizer que Makoto Shinkai desponta como um diretor para se ficar de olho. Viagem Para Agartha é o seu terceiro longa metragem e está disponível no catálogo da Netflix. O filme chama atenção não apenas pelo belíssimo visual impresso em cada quadro, mas também pela forma como mistura fantasia com um tema pesado: a morte. O longa conta a aventura vivida pela menina Asuna (voz de Hisako Kanemoto), que após voltar da escola costuma ter somente sua gata de estimação como companheira enquanto a mãe trabalha no hospital local. Um dia ela conhece um menino diferente, Shun (voz de Miyu Irino), uma espécie de guardião de um mundo místico chamado Agartha. Além do menino, alguns monstros que começam a aparecer nas redondezas também são responsáveis pela segurança da passagem para este mundo, afinal, conforme descobrimos logo depois, Agartha é um lugar mágico que fica entre a vida e a morte. Embora ninguém acredite quando Asuna conta esta história, existe um grupo de pessoas que está disposta a ir para este lugar e trazer de volta as pessoas amadas que já faleceram. No entanto, a jornada até o território da morte não será muito fácil. É quase sem querer que Asuna vai parar naquele mundo e este mundo paralelo ao nosso, cheio de encantos e perigos tem muitas histórias para contar. Sorte que a protagonista tem um coração nobre e coragem para enfrentar o que aquele lugar pode ter de mais assustador. Viagem para Agartha tem vários personagens cativantes, de forma que até o (quase) vilão da história é capaz de ter sua cota de torcedores na plateia - por mais desmedidas que sejam as suas ações. Não precisa nem mencionar que a cada manobra do roteiro, o filme surpreende pela construção de um mundo que consegue ser belo e assustador ao mesmo tempo, mas para além disso, fiquei surpreso como a narrativa tem momentos de sangue, tiros e doses de violência numa ambientação tão deslumbrante, a ideia cria um contraste que funciona bem, mas que pode chocar alguns espectadores. Makoto Shinkai também possui outros títulos que fizeram sucesso na Netflix, como O Jardim das Palavras (2013) e Seu Nome (2016), este último deve ganhar uma versão live action em breve pelas mãos de Marc Webb. O cara é bom mesmo.  

Viagem para Agartha (Hoshi o ou kodomo / Japão - 2011) de Makoto Shinkai com vozes de Hisako Kanemoto,  Miyu Irino, Kazuhiko Inoue e Aki Kaneda. 

quinta-feira, 30 de maio de 2019

KLÁSSIQO: A Conversação

Hackman: tempos de paranoicos. 

No século XXI, Francis Ford Coppola se tornou o "pai da Sofia". Desde Drácula (1992) que seus filmes não chamam atenção, podendo se dizer que este foi seu último grande filme (afinal, a criança envelhecida de Robin Williams em Jack/1996 serve apenas para passar o tempo e o tribunal de O Homem que Fazia Chover/1997 está longe de ser empolgante... restando ao século XXI filmes que pouca gente assistiu). Não que Coppola precise provar alguma coisa para alguém, afinal, a pessoa responsável pela cultuada trilogia Poderoso Chefão e pelo maior filme de guerra de todos os tempos (Apocalipse Now/1979) já tem crédito suficiente para o resto da vida. Coppola também fez história ao se tornar um dos poucos cineastas a ter ele mesmo como concorrente na categoria de melhor diretor no Oscar. Em 1975 ele concorreu pelo primeiro O Poderoso Chefão e este A Conversação.  Pelo primeiro, Coppola levou para casa os prêmios de direção e roteiro adaptado (derrotando  a ele mesmo nas duas categorias). Ao longo da história, A Conversação ficou meio de lado, embora tenha em si uma ideia interessantíssima que retrata bem o período de paranoia em que os americanos viviam após o escândalo de Watergate - que levaria ao fim a era Nixon. Embora aqui não apresente este teor político, Coppola cria sua história em torno de Harry Caul (Gene Hackman), um detetive particular que trabalha em um caso que o público descobrirá aos poucos. Até lá, Coppola irá brincar com a edição de som, com idas e vindas, novas camadas de som até que a plateia descubra junto ao protagonista com o que está lidando. O interessante é que embora dê a impressão que não existe nada demais nos registros que Harry realizou, não são poucos os que dizem que aquilo poderá custar a vida de alguém. Embora ele pareça bem resolvido com o que tem em mãos, o roteiro irá se dedicar a apresentar como este homem, que vive de descobrir segredos de estranhos, conduz sua vida particular. Em sua vida pessoal, cada diálogo, brincadeira ou momento com os amigos, sempre passam por uma releitura que instiga Harry a desconfiar de todos ao seu redor. Seria só um excesso de vigilância ou seria mesmo uma perseguição? A paranoia se torna algo comum na vida dele e o faz mergulhar em um verdadeiro abismo. Coppola constrói um verdadeiro labirinto narrativo em torno de Harry e lhe dá contornos inspirados nas obras do mestre Alfred Hitchcock. Gene Hackman está ótimo no papel título, humanizando seu personagem por camadas cada vez mais incertas diante de um verdadeiro dilema (que logo depois se vira do avesso). Destaque também para Harrison Ford num papel pequeno e ambíguo bem antes de se tornar um astro mundial com o sucesso de Guerra nas Estrelas (1977). Embora esquecido entre seus irmãos mais vistosos, A Conversação é um filme interessante (e um tanto perturbador) até hoje. 

A Conversação (The Conversation/EUA-1974) de Francis Ford Coppola com Gene Hackman, John Cazale, Frederic Forrest, Harrison Ford, Teri Garr, Cindy Williams e Robert Duvall. ☻☻

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Na Tela: Brightburn - Filho das Trevas

Brandon Breyer (Jason A. Dunn): Superboy do mal.  

É até engraçado que com os filmes da DC Comics se tornando mais leves e divertidos estreie um Superman malévolo nos cinemas. Brightburn parte da ideia de o que teria acontecido se o filho de Krypton houvesse seguido um caminho diferente e se tornado um vilão com superpoderes. Embora o filme não faça cite um dos heróis mais famosos dos quadrinhos, as referências estão todas lá, desde o início. Em uma noite um casal de fazendeiros levam um susto com um objeto voador não identificado que despenca no quintal. Nela estava um bebê, que é adotado pelos dois. Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (David Denman) o criam com todo amor e carinho sem entrarem em detalhes sobre sua origem. As coisas começam a se complicar quando Brandon (Jackson A. Dunn, que interpretou o Homem-Formiga menino naquela rápida cena de Vingadores: Ultimato) começa a demonstrar um comportamento estranho acentuado pelo fato de não ser um menino comum. Em sua primeira parte o filme funciona bem, com seu suspense discreto e a descoberta gradativa dos poderes que o menino possui. Superforça, olhar de raio laser, habilidade de voar... coloque uma capa vermelha e nada nega a inspiração para compor o menino. No entanto, ele identifica em suas particulares uma forma de se impor no mundo destruindo os mais fracos, especialmente aqueles que o incomodam. Daí em diante o filme mergulha em requintes de crueldade com  mortes elaboradas que dão ao filme uma tonalidade desnecessariamente trash. Embora o filme tenha ótimas soluções para driblar o modesto orçamento, ironicamente é no momento que o menino se torna um assassino descontrolado que o filme perde fôlego, se torna repetitivo, inclusive na postura dos pais - já que enquanto Kyle desconfia que existe algo de estranho com o guri, a mãe está sempre disposta a dissipar as suspeitas que são inevitáveis. Jackson consegue compor um menino estranho, distante e sem emoção que não empolga muito, mas combina com o personagem que se torna cada vez mais alheio à humanidade. A trama produzida por James Gunn (de Guardiões da Galáxia e do novo Esquadrão Suicida) não alcança todas as notas que anuncia, mas abre nossa imaginação para uma nova possibilidade nas adaptações dos quadrinhos para o cinema. Com a repercussão do filme (especialmente pelas ótimas cenas que aparecem nos créditos finais) se especula que ele marcaria a origem da Liga Sombria formada pelas versões vilanescas dos heróis da DC Comics, na verdade o filme é só uma brincadeira com o que o Superman representa para a cultura pop, mas eu não duvido que algum produtor fique interessado pela ideia depois de assistir Brightburn, produção baratinha (sete milhões de dólares) que deve render bem mais ao redor do mundo.

Brightburn - Filho das Trevas (Brightburn/EUA-2019) de David Yarovesky com Elizabeth Banks, Jackson A. Dunn, David Denman, Jennifer Holland e Matt Jones. ☻☻

Na Tela: Cemitério Maldito

Jeté e Jason: versão zumbi de um clássico do terror. 

Além de ser uma das adaptações mais conhecidas da obra de Stephen King, a primeira versão para o cinema de Cemitério Maldito se tornou um pequeno clássico do terror. Lançado em 1989 e exibido dezenas de vezes na TV o filme foi um dos mais populares das locadoras nos anos 1990 em diante. Nada mal para um filme com trinta anos de idade. Dirigido por Mary Lambert, o filme ainda tem um importante valor emocional para minha história de cinéfilo, afinal, foi o primeiro filme de terror que assisti (meio forçado no conforto de casa ao lado de minha irmã sete anos mais velha). Lembro que quando o filme terminou eu estava mais triste do que com medo, afinal, a história do misterioso cemitério onde quem é sepultado volta à vida, mostra-se um verdadeiro pesadelo para o protagonista que gostaria de estender a vida de quem ficou pelo caminho. Na minha mente esta é a alma do livro, já que muita gente, apesar das consequências faria a mesma coisa para ter quem lhe era querido ao lado novamente. A nova versão da obra traz algumas surpresas para quem leu o livro e para quem assistiu ao primeiro filme, particularmente eu não curti muito estas alterações, especialmente as que tornaram a produção ainda mais sanguinolenta e com uma pegada zumbi no desenvolvimento da história. No entanto, o filme funciona e deve agradar os fãs do gênero. Jason Clarke entrega mais um bom trabalho como Louis, o médico que se muda para uma cidadezinha junto com a família. O início da história é muito bem feito, conhecemos a casa confortável, a estrada com caminhões sempre acelerados cortando o terreno e a família formada pela esposa, Rachel (Amy Seimetz) e os adoráveis filhos, Ellie (Jeté Laurence) e Gage (vivido pelos gêmeos Hugo e Lucas Lavoie), assim como o gato Church (quem conhece a história sabe que ele tem papel importante). Também conhecemos o solitário vizinho, Jud (John Lithgow alvo de um easter egg que me fez rir, mas não vou citar aqui) que nascido e criado na região, sabe que o terreno dos novos vizinhos é bastante extenso e guarda alguns segredos em sua parte mais afastada. Embora crie uma boa atmosfera, a necessidade de criar sustos com certa regularidade faz com que nem todos funcionem como deveriam (o paciente que assombra o doutor não faz muito sentido e o trauma de Rachel mais embola do que enriquece a história), mas o pior é a uma mudança de tom um tanto grotesca depois que Louis visita o cemitério do pela segunda vez. O que antes era um exercício sobre a dificuldade em lidar com a morte se torna uma história de matança sem espaço para refletir. No fim das contas, o grande destaque do filme é o trabalho da precoce Jeté Laurence que demonstra desenvoltura de veterana em cenas que causam grande desconforto na plateia. Nesta versão (que perdeu os Ramones tocando no final) é  a menina que faz o filme ficar acima da média. 

Cemitério Maldito (Pet Sematary/EUA-2019) de  Kevin Kölsch, Dennis Widmyer com Jason Clarke, John Lithgow, Jeté Laurence e Amy Seimetz.  

sábado, 25 de maio de 2019

10+: Cannes 2019

Todo ano Cannes serve de vitrine para todo cinéfilo escolher quais são os filmes que ele ficará de olho durante o ano. Esta é minha singela lista de prioridades do Festival:  

"A Hidden Life" de Terrence Mallick
Mallick fazia filmes esporadicamente e seus lançamentos costumavam ser aguardados ansiosamente. Depois do magistral Árvore da Vida (2011) ele lançou filmes com maior frequência e amargou críticas negativas. Agora, ele voltou à velha forma com a história real de um homem que se recusou a lutar ao lado de nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Longo, reflexivo e elogiadíssimo o filme já está cotado para o culto dos fãs mais exigentes de Mallick - o que inclui os votantes do Oscar. 

"Atlantique" de Mati Diop
A francesa Mati Diop tem descendência senegalesa e chamou atenção quando apareceu entre as fortes concorrentes do Festival. Ela pode não ter levado a Palma de Ouro para casa, mas foi celebrada com o Grande Prêmio do Júri por Atlantique, um drama sobre personagens que atravessam o oceano em busca de uma vida melhor em outro continente. Centrada em um tema bastante atual, Mati Diop demonstra bastante criatividade e se tornou uma das maiores surpresas do Festival deste ano. 


"A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" de Karim Aïnouz
O brasileiro Aïnouz sempre foi mestre na construção de imagens marcantes. Por vezes seu estilo lhe rende críticas por se preocupar mais com a forma do que com  conteúdo, mas seus  detratores estão completamente enganados. Faz tempo que Cannes flerta com o diretor e neste ano o premiou na Mostra Un Certain Regard. A adaptação do livro de Martha Batalha sobre mulheres em busca de independência estreia por aqui em novembro e traz no elenco Carol Duarte e Fernanda Montenegro. 

"Bacurau" de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
O pernambucano Kleber Mendonça Filho tem uma das assinaturas mais marcantes do cinema brasileiro atual. A expectativa gerada com "O Som ao Redor"/2013 se confirmou com o sucesso de "Aquarius"/2016 e ganha contornos ainda mais intensos em sua crítica social presente neste Bacurau. Ganhador do prêmio especial do júri em Cannes, a simbologia de uma cidade onde matar pessoas se torna esporte, coloca o diretor novamente no posto de diretor mais provocador do nosso cinema. 

"Dor e Glória" de Pedro Almodóvar
Depois de dois filmes filmes esquecíveis, o cineasta espanhol está disposto a demonstrar que ainda pode ser considerado um dos diretores mais influentes do cinema, para isso, ele se une novamente ao  muso Antonio Banderas. Banderas (ganhador do prêmio de melhor ator em Cannes) vive um diretor que revisita o passado e reflete sobre o presente neste drama intimista. O filme ainda conta com Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia e Cecilia Roth  e já mira as grandes premiações do ano. 

"Jeanne" de Bruno Dumont 
O francês Bruno Dumont é um dos queridos do Festival de Cannes mas está longe de ser muito conhecido por aqui. Adepto de filmes cerebrais que costumam aborrecer muita gente, ele mudou de tom neste ano e chamou atenção pelo filme que retrata a infância de uma das figuras históricas mais populares da França, Joana D'Arc. Aclamado por um novo olhar sobre uma história tão conhecida, Dumont deve dar o que falar neste ano. 

"O Farol" de Robert Eggers
Depois de chamar atenção de todo mundo com sua estreia em A Bruxa (2015), o diretor Robert quer provar que sabe fazer muito mais neste drama de suspense ambientado em uma ilha deserta habitada somente por dois faloreiros. Os dois precisam lidar com suas diferenças, isolamento e delírios do local. Considerado o melhor filme do festival pela crítica, o filme deve aparecer nas principais premiações - que ainda devem lembrar das atuações de Willem Dafoe e Robert Pattinson. 

"Once Upon a Time in Hollywood" de Quentin Tarantino
Tarantino é amado pelo Festival de Cannes, basta lembrar que todo o furor em torno de sua carreira começou por lá com Pulp Fiction (1994) levando a Palma de Ouro. Embora muita gente considerasse que o seu novo filme giraria em torno de um dos episódios mais sombrios de Hollywood (o assassinato de Sharon Tate, vivida aqui por Margot Robbie) o filme parece ser muito mais sobre um importante período histórico para a capital do cinema. No elenco ainda estão Brad Pitt, Leo DiCaprio e Al Pacino. 

"Parasite" de Bong Joon-Ho
Considerado um dos cineastas mais inventivos do cinema atual, o coreano concorreu pela primeira vez ao prêmio máximo de Cannes em 2017 com o excelente Okja e infelizmente se viu envolvido em polêmicas lamentáveis por conta do filme ser produzido para a Netflix. Agora ele levou a Palma de Ouro para casa com este filme que demonstra o encontro de suas famílias, uma rica e outra em dificuldades, mas com resultados surpreendentes. Joon-ho se tornou o primeiro coreano a ganhar a Palma de Ouro no Festival.

"Rocketman" de Dexter Fletcher
Exibido pela primeira vez em uma das mostras paralelas de Cannes, a cinebiografia  do astro pop Elton John emocionou muita gente com sua estética colorida e doses de fantasia. Centrado nos altos e baixos de uma carreira que atravessa décadas, o filme recebeu muitos elogios e deve ter fôlego até as premiações de fim de ano (especialmente para Taron Egerton em sua nova parceria com Dexter Fletcher, mesmo diretor que assumiu a direção de Bohemian Rhapsody/2018 após a saída de Brian Singer). O filme estreia no Brasil no dia 30 de maio!

Premiados Festival de Cannes 2019


Bong Joon-Ho: premiado em Cannes2019.

Terminou hoje a 72ª edição do Festival de Cannes, celebrando o novo filme do sul-coreano Bong Joon-Ho, um dos cineastas mais inventivos da atualidade. O diretor começou a chamar atenção do mundo com a poesia triste de Mother (2009), depois enveredou pela ficção científica com o pouco visto O Expresso do Amanhã (2014) e, sem querer, se meteu em uma das maiores polêmicas do Festival de Cannes quando exibiu seu excelente Okja (2017), que colocou um filme produzido pela Netflix concorrendo no maior festival de cinema do mundo. Desde então as produções do serviço de streaming foram banidas da mostra competitiva em Cannes (motivo que deixou Roma de Alfonso Cuarón de fora no ano passado, filme que ironicamente foi considerado o melhor do Festival de Veneza e mais tarde ganhou os Oscars de Filme Estrangeiro, Direção e Fotografia). Joon-Ho neste ano voltou com um drama com toques de crítica social e ficção científica que encantou a todos, deixando pesos pesados em segundo plano. Destaque também para os nossos conterrâneos que fizeram bonito com dois filmes premiados nas principais mostras do Festival, nada mal diante da crise que se anuncia no cinema brasileiro. A seguir todos os premiados desta edição:

Palma de Ouro: "Parasite" de Bong Joon Ho
Grande Prêmio: "Atlantique" de Mati Diop
Prêmio do Júri: "Bacurau" de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Direção: Jean Pierre & Luc Dardenne ("Le Jeune Ahmed"
Ator: Antônio Banderas ("Dor & Glória")
Atriz: Emily Beecham ("Little Joe")
Roteiro: "Retrato de Uma Dama em Chamas" de Céline Sciamma
Cámera D'Or: "Our Mothers" de Cézar Díaz
Menção Honrosa: "It Must be Heaven" de Elia Suleiman
Quinzena dos Realizadores: "O Farol" de Robert Eggers
Prêmio Ecumênico: "A Hidden Life" de Terrence Mallick
Palm Dog: Brandy ("Era Uma Vez em Hollywood")

Un Certain Regard 
Filme: "A Vida Invisível de Eurídice" de Karim Aïnouz
Direção: Kantemir Balagov ("Beanpeople")
Atuação: Chiara Mastroianni ("Chambre 212")
Menção Honrosa: "Jeanne" de Bruno Dumont

Carol Duarte em "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão"

terça-feira, 21 de maio de 2019

§8^) Fac Simile: Bill Hader

Thomas William Hader
Bill Hader atua desde os anos 1990, já trabalhou com dublagem, fez séries de televisão, filmes, mas ficou famoso mesmo foi exercitando o seu humor no Saturday Night Live por quatro anos. Nos últimos tempos ele resolveu exercitar seus músculos dramáticos em alguns trabalhos até criar a série Barry (HBO), que já tem a terceira temporada garantida sobre um assassino profissional que tenta ser ator. Em uma das festas sobre a nova temporada, nosso repórter imaginário encontrou o ator que lhe concedeu esta pequena entrevista que nunca aconteceu:

§8^) Em primeiro lugar quero dizer que sou um grande fã seu desde que assisti Irmãos Desastre (2014)...

Bill Puxa! Muito obrigado, poucas pessoas assistiram este filme e foi um dos trabalhos mais complicados que já fiz. Foi uma das experiências mais densas da minha carreira, vive um personagem que sofreu abuso me ajudou a me concentrar em outros tipos de personagens, com histórias mais sombrias, sabe? Talvez até Barry tenha nascido daí.

 §8^) Agora que você já é um assassino famoso, você gostaria de interpretar algum super-heroi no cinema?

Bill Interessante você dizer isso! Eu adoraria fazer um super-herói, mas eu queria fazer o Homem-Borracha! Acho que eu criaria um conceito bem interessante para ele, ele é um ex-criminoso, tem um lado mais familiar também, tem senso de humor... seria muito legal. Mas se eu pudesse ser um vilão eu adoraria ser o novo Duas Caras na nova versão do Batman... e nem precisaria maquiagem!

§8^)  Você poderia escrever o texto, assim como criou o de Barry! Gosto muito da forma como as coisas inesperadas acontecem no programa! Fico ansioso por cada episódio! Foi difícil compor um personagem tão diferente dos outros que já fez?

Bill É engraçado, quando eu tentei vender a ideia as primeiras pessoas diziam: "Você como assassino?! Quem vai acreditar nisso?" "As pessoas vão rir quando você atirar em alguém!" "Você segurando uma arma? Qual a graça disso?". Hoje vejo que a série nasceu meio como uma brincadeira e fico muito feliz em ver como as pessoas a acolheram, além de ter mudado o olhar de muitas pessoas sobre mim.

§8^) Mudou mesmo? 

Bill Sim, não apenas como ator sério, mas experimentei algo curioso já com Descompensada, quando o assédio aumentou consideravelmente! A cantada mais engraçada que eu recebi foi de uma mulher que disse assistir Saturday Night Live e me achava "um alto desengonçado, dentucinho com olhos esbugalhados" e agora estava apaixonada por mim!  

§8^) E com Barry? 

Bill  Sei que estou longe, muito longe do tipo que faz filmes e conquista a mulherada, mas como ator eu sei como usar um olhar, um gesto, um sorriso... eu sei que muita gente não acredita nisso, mas eu já vi mulheres que me desprezaram começarem a repensar seus conceitos quando me viam em algum personagem menos cômico. Dia desses uma fã me disse que eu ficava muito sexy só com uma arma na mão... só com uma arma na mão... eu pensei no sentido daquela frase por horas...! Outra disse que não via a hora de me ver sem roupa na série... quando me dizem estas coisas sempre imagino que é alguma pegadinha e uma câmera vai aparecer do nada com pessoas rindo da minha cara... 

NªTV: Barry

Hader: o passado que condena. 

Eu sei que todos estão falando do final de Game of Thrones, mas no último domingo eu estava mesmo ansioso era para o final da segunda temporada da comédia Barry na HBO (que foi ao ar logo depois da saga de sucesso mundial baseada no obra de George R. R. Martin - e se me permitem fazer um parêntese, não sou capaz de opinar sobre ela porque não a acompanhei, mas tem um bando de gente que está comentando o final por aí). Voltando à Barry, eu não dei muita atenção para a primeira temporada por puro preconceito. Eu não estava nem um pouco interessado em acompanhar a história de um matador profissional que resolve mudar de vida quando tenta se tornar ator. A primeira temporada já tinha terminado, a série já havia recebido atenção nas premiações (Globo de Ouro, Emmy...), mas nada motivava a minha curiosidade... até eu pegar o bonde andando numa tarde aborrecida de domingo em que assisti o quarto episódio da primeira temporada, por sorte era uma maratona e esperei a segunda estrear. Tenho que registrar que a condução da série é surpreendente, que existe um verdadeiro brilhantismo na forma como o ator Bill Hader e seu comparsa, Alec Berg, constroem as histórias de forma sempre inesperada. A segunda temporada começa quase que em seguida ao último episódio da primeira, onde Barry (Bill Hader) tem que lidar com as consequências de um crime que não foi encomendado por ninguém, mas que serviria para garantir a sua transição para uma nova vida. Não foi bem assim. Ele não imaginava que o crime quase colocaria tudo por água abaixo. Sabiamente a série se tornou mais complexa, aprofundando ainda mais os laços que existiam entre os personagens.  Se o protagonista se percebe cada vez mais sugado para dentro das consequências de uma carreira bem-sucedida no mundo do crime, por outro lado, o tal assassinato do final da temporada anterior se torna uma espécie de vácuo que envolve personagens que são as referências dos caminhos que a vida de Barry se dividiu, no caso, o mentor Fuches (Stephen Root) que abraçou e estimulou tudo o que o personagem precisava para se tornar um matador e o professor de teatro Cousineau (Henry Winkler) que enxerga talento legítimo do protagonista no palco (mal sabendo que é uma forma do sujeito exorcizar seus fantasmas). Neste embate pessoal, Bill Hader está excelente como  o matador que sempre se vê obrigado a matar novamente (e o episódio final só reforça isso, afinal, ele mata mais pessoas neste episódio do que na temporada inteira). Ao longo da temporada o drama ganhou mais espaço, seja pelas viuvez de Cousineau ou o relacionamento complicado com a egocêntrica colega de classe Sally (Sarah Goldberg), mas sempre encontra espaço para um humor obscuro e, por vezes, surreal (que o diga o hilariante episódio 5: Ronny/Lilly, talvez o melhor deste lote de desventuras). Com uma terceira temporada que promete extrapolar ainda mais os limites, Barry já está entre minhas séries favoritas (ei HBO, dá para ter dez episódios na próxima temporada e dar mais destaque para Anthony Carrigan como o estranho NoHo Hank? Desde já, agradeço). 

Barry: Segunda Temporada (EUA-2019) de Alec Berg e Bill Hader com Bill Hader, Henry Winkler, Stephen Root, Sarah Golberg e Anthony Carrigan.  

segunda-feira, 20 de maio de 2019

PL►Y: Jovem e Bela


O cineasta François Ozon é o mais prolífico dos diretores europeus. Desde os anos 1990 ele mantém um ritmo de trabalho que o faz entrar em cartaz com um novo filme uma vez por ano. Nesta tarefa pessoal quase obsessiva ele já fez de tudo, dramas (Sob a Areia/2001 ), musical (8 Mulheres/2002), thriller (Dentro da Casa/2012), comédia (Potiche/2010), fantasia (Ricky/2009)... num comparativo sua cinegrafia pode até ser irregular, mas sempre tenta distanciar o espectador da área de conforto. Esta sensação fica bem clara em Jovem e Bela, seu filme de 2013 que causou certo alvoroço quando foi exibido em Cannes. Muito do estardalhaço se deve à forma fetichista como o diretor trata a imagem de Marine Vacth, jovem atriz que era pouco conhecida e aqui recebeu a tarefa de fazer variadas cenas sensuais, seja com a imagem de uma adolescente comum ou de mulherão.  Ela interpreta Isabelle, uma adolescente que tem uma primeira vez frustrante com um jovem alemão enquanto passa férias no litoral. Depois de sua primeira experiência não demora para que vejamos Isabelle se encontrando com homens mais velhos por dinheiro. É perceptível que ela não vive dificuldade financeiras junto à mãe (Géraldine Pailhas), o padrasto (Frédéric Pierrot) e o irmão caçula (Fantin Ravat) - único que sabe das aventuras sexuais da irmã. Isabelle também não parece um furacão sexual, pelo contrário, é bastante discreta e demonstra um certo distanciamento emocional de sua vida "profissional". O fato é que ao invés de aprofundar esta relação da jovem e bela do título com a prostituição, Ozon prefere explorar o que se encontra abaixo da superfície desta história. Ele aproveita ao máximo a química da protagonista com o veterano Johan Leysen (apenas 41 anos mais velho do que Marine) e quando parece que cairá na mesmice, Ozon encontra novos fios para trabalhar. Alguns segredos são apresentados (e não aprofundados), existem questionamentos (que ficam sem respostas) e até um encontro surpreendente da jovem com a esposa de um dos seus clientes favoritos (e o fato dela ser vivida por Charlotte Rampling tem um efeito quase mágico em cena). Em termos de narrativa o filme não inventa - apesar utilizar atos separados por estações do ano (o que está longe de ser original) e músicas que fecham cada parte de forma meio brega. Marine Vacht está um tanto inexpressiva, talvez para deixar que projetem as fantasias em torno dela, a atriz está bem melhor em O Amante Duplo (2017), outro filme de alta carga sexual de Ozon. Em seus melhores momentos o filme parece uma releitura juvenil de A Bela da Tarde/1967, só que aqui não é a dona de casa entediada que se rende aos prazeres carnais com vários homens. Quando o filme acabou eu só imaginava o que Cinquenta Tons de Cinza (2016) seria nas mãos de François Ozon.  

Jovem e Bela (Jeune & Jolie / França - Alemanha / 2013) de François Ozon com Marine Vacht, Géraldine Pailhas, Johan Leysen, Fantin Ravat, Charlotte Rampling e Laurent Delbecque. 

domingo, 19 de maio de 2019

Pódio: Robert Pattinson

Bronze: o parceiro sensato.
Admito que eu ainda estava desconfiado de Robert Pattinson quando assisti a este filme sobre o lendário explorador Percy Fawcett (vivido por Charlie Hunnan) que acreditava estar prestes a descobrir a lendária Eldorado na Amazônia nos anos 1920. Embora o filme de James Gray nem tenha arranhado o sucesso que esperava, o filme deu para o ator inglês um papel em que demonsteou que estava maduro para encarar desafios mais adultos em seu currículo. Na pele do sensato Henry Costin, o ator consegue ser um companheiro de aventuras bastante confiável numa perigosa jornada em um trabalho discreto na medida certa. 

Prata: o comparsa abandonado. 
Sabe aquele filme que você pensa que um ator topou apenas para ficar feio? Agora imagine quando o ator faz isso e você realmente pensa: "Caramba, ele é bom"! Foi exatamente o que aconteceu quando vi Pattinson neste filme do australiano David Michôd. Num mundo em colapso, um homem (Guy Pearce) deseja vingança a um grupo de bandidos que cruzaram o seu caminho e... ironicamente um deles é deixado para trás na mira deste homem com sede de revanche. Este esquecido pelos comparsas é Rey, um jovem bastante peculiar... e que se torna um inusitado parceiro para o protagonista. Pattinson está ótimo em cena e não se surpreenda se ele fizer você chorar. 

Ouro: o ladrão perdido.
Depois de uma sucessão de papéis que ajudaram a deixar o vampiro de Crepúsculo (2008) para trás, a cereja do bolo na carreira de Pattinson foi este drama criminal dos irmãos Safdie. Pattinson concorreu em 16 prêmios pela atuação  como um ladrão que se envolve numa espiral de acontecimentos que lhe foge ao controle. Nesta longa jornada noite adentro as coisas sempre se complicam para o protagonista no que parece um verdadeiro desafio para o ator - que se sai muito bem nas surpresas que o roteiro lhe reserva. Nervosamente cru, o filme lhe rendeu um trabalho exemplar, que até o levou a concorrer ao título de melhor ator no blog em 2017

BREVE: High Life

Pattinson: rumo ao buraco negro da existência. 

Robert Pattinson deve ter sido o ator mais comentado na internet durante esta semana. Passada a avalanche de Vingadores: Ultimato (2019), a notícia de cinema de maior projeção dos últimos dias não foi a nova adaptação de Stephen King ou uma repaginada nos Pokemons, o assunto foi mesmo a escolha do ator inglês de 33 anos para encarnar o jovem Batman da DC Comics. As especulações já apareciam faz tempo, desde que Ben Affleck abandonou o papel houve até brincadeiras em primeiro de abril sobre a escalação de Pattinson (e estendia para uma Mulher-Gato vivida pela Deusmelivre Kirsten Stewart...). A chacota em cima de Pattinson não faz sentido. Eu até mencionei no blog ao ver Bom Comportamento/2017 que Pattinson havia amadurecido muito como ator. Escolhendo papéis que podem não ter lhe rendido sucessos de bilheteria, mas que lhe tiraram a aura de galã adolescente perante os produtores. Robert se tornou um ator de verdade, mas isso não impede que ele seja perseguido pelo papel que o tornou conhecido - no caso, o vampiro Edward da saga Crepúsculo, que acabou faz tempo, mas muita gente acha que a carreira do moço parou ali. Grande engano. Ao final do ano passado, Pattinson chegou às telas com esta ficção científica cerebral dirigida pela diretora parisiense Claire Denis e ela conjuga vários elementos capazes de despertar interesse. O primeiro deles é que aos 71 anos, Claire não tem medo de se aventurar por um gênero diferente do que está acostumada. Celebrada por dramas densos, desta vez ela escolhe como cenário uma nave espacial abandonada no espaço. Quando o filme começa conhecemos Monte (Robert Pattinson) e um bebê, os dois vivem solitários ali e não fazemos a mínima ideia do que os levou para lá e tão pouco a relação que existe entre os dois. Aos poucos o filme revela alguns flashes que são prévias do mergulho no passado dos personagens. Descobrimos que aquela nave era um misto de prisão e laboratório para a geneticista Dibs (Juliette Binoche) e... deste ponto de partida o filme se desenvolve sem pressa. É lento. Claustrofóbico. Agressivo e... estranhamente sexual. Neste último ponto há de se destacar uma cena impressionante de Binoche, um misto de luxúria e bruxaria que qualquer outro diretor tornaria grotesca, mas que Claire a faz tão sublime quanto o êxtase deve ser. É interessante como o filme explora o isolamento daqueles personagens, o distanciamento entre eles e a violência das relações que explodem de forma inesperada em alguns momentos.  Tão fragmentado quanto contemplativo, High Life é um filme interessante por seguir caminhos inesperados e pouco explorados no gênero, além de deixar muito nas entrelinhas. Robert Pattinson está bem em cena, demonstrando bem a exaustiva passagem do tempo para o seu personagem, os efeitos da solidão e um pouco de falta de perspectivas. Ele tem aqui mais uma parceria com Binoche (os dois apareceram juntos no superestimado Cosmópolis/2012), mas aqui a liga entre os dois funciona muito melhor.  Outros destaques do elenco são André Benjamin (que hoje deve trabalhar mais como ator do que como vocalista da banda Outkast) e a talentosa Mia Goth que dá carne e osso a uma personagem sem substância para tanto. Com certeza este entrará para lista de filmes interessantes de Robert Pattinson que pouca gente vê, mas talvez ele tenha mais sucesso com O Farol (2019) filme elogiadíssimo do diretor de A Bruxa  (2015) que foi exibido nesta semana em Cannes e será uma boa prévia do que o moço pode fazer na pele de Bruce Wayne. 

High Life (Reino Unido / França / Alemanha / Polônia / EUA - 2018) de Claire Denis com Robert Pattinson, Juliette Binoche, André Benjamin, Mia Goth, Lars Eidinger e Ewan Mitchell. ☻☻

terça-feira, 14 de maio de 2019

Festival de Cannes 2019

72º Festival de Cannes
O Festival chega à sua 72ª edição mantendo a atmosfera de ser o mais influente do mundo. Dá para imaginar que um filme que é exibido pela primeira vez no mês de maio consegue fôlego para chegar nas premiações de final de ano? Em 2019, o júri é presidido pela primeira vez por um mexicano, Alejandro González Iñárritu estará à frente do grupo que conta ainda com a italiana Alice Rohrwacher, o grego Yorgos Lanthimos, o polonês Pawel Pawlikowski, a americana Elle Fanning, além de outros membros de nacionalidades diferentes. O cartaz desta edição homenageia o talento da cineasta Agnés Varda e inicia os nove dias de Festival (de hoje até 25 de maio) com a exibição de um filme de zumbi dirigido pelo ícone indie Jim Jarmusch, mas outros conhecidos do Festival irão aparecer por lá, Almodóvar, Javier Dolan, Karim Aïnouz, Bruno Dumont, irmãos Dardene, Kleber Mendonça, Terrence Mallick, Nicolas Winding Refn... enfim, seguem os candidatos a filmes mais falados do ano:

Mostra Competitiva
The Dead Don’t Die, de Jim Jarmush
Dolor y Gloria, de Pedro Almodóvar
Il Traditore, de Marco Bellocchio
Gisaengchung, de Bong Joon Ho
Le Jeune Ahmed, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Roubaix, une Lumière, de Arnaud Desplechin
Nan Fang Che Zhan de Ju Hu, de Diao Yinan
Matthias et Maxime, de Xavier Dolan
Little Joe, de Jessica Hausner
Sorry We Missed You, de Ken Loach
Les Misérables, de Ladj Ly
A Hidden Life, de Terrence Malick
Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
The Whistlers, de Corneliu Porumboiu
Frankie, de Ira Sachs
Portrait de La Jeune Fille en Feu, de Céline Sciamma
It Must Be Heaven, de Elia Suleiman
Sibyl, de Justine Triet

Un Certain Regard
A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz
Evge, de Nariman Aliev
Dylda, de Kantemir Balagov
The Swallows of Kabul, de Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec
A Brother’s Love, de Monia Chokri
The Climb, de Michael Covino
Joan of Arc, de Bruno Dumont
Chambre 212, de Christophe Honoré
O Que Arde, de Oliver Laxe
Port Authority, de Danielle Lessovitz
Papicha, de Mounia Meddour
Zhuo Ren Mi Mi, de Midi Z
Liberté, de Albert Serra
Bull, de Annie Silverstein
Adam, de Maryam Touzani
Liu Yu Tian, de Zu Feng

Fora da Competição
La Belle Époque, de Nicolas Bedos
Rocketman, de Dexter Fletcher
Diego Maradona, de Asif Kapadia
The Best Years of a Life, de Claude Lelouch
Too Old To Die Young, de Nicolas Winding Refn

Exibições da Meia-Noite
The Gangster, The Cop, The Devil, de Lee Won-Tae

Exibições Especiais
For Sama, de Waad Ai Kateab e Edward Watts
Share, de Pippa Bianco
Être Vivant et Le Savior, de Alain Cavalier
Tommaso, de Abel Ferrara
Family Romance, LLC., de Werner Herzog
Que Sea Ley, de Juan Solanas

"A Hidden Life" de Terrence Mallick

segunda-feira, 13 de maio de 2019

PL►Y: Dogman

Marcello: do domesticado ao raivoso. 

Marcello (Marcello Fonte) é um tímido cuidador de cachorros. A maior parte do dia ele trabalha em uma petshop decadente que cuida dos cachorros da vizinhança. Atencioso com os bichos, Marcello parece incapaz de fazer mal a qualquer pessoa. Com uma filha pequena, fruto de um casamento desfeito, sua vida poderia se resumir ao tempo em que cuida dos caninos e se diverte ao lado da menina. No entanto, existe uma nota que destoa neste universo, esta nota se chama Simon (Edoardo Pesce), um amigo viciado em cocaína que passa a maior parte do tempo causando problemas da vizinhança. Dizer que Marcello e Simon são amigos é uma ideia até reducionista da relação estranha que existe entre os dois, talvez estejam mais para cúmplices. Não vale dizer aqui as coisas que os dois personagens farão durante o filme, mas posso dizer que se o grandalhão está sempre arrumando confusão e o protagonista franzino aceitará a maior parte do tempo as bobagens que aparecem pelo caminho, até que... O diretor Matteo Garrone ficou famoso com o celebrado Gomorra (2008) e aqui ele retoma um certo fetiche pela violência. Embora Dogman (nome da loja em que o protagonista trabalha) seja um drama, aos poucos ele avança para o suspense motivado pelas personalidades opostas dos dois amigos. Marcello é todo internalizado, sempre sorrindo meio sem jeito e com um olhar que parece motivar a piedade diante de sua miséria humana (um belo trabalho que valeu ao ator o prêmio de atuação em Cannes no ano passado). Simon é truculento, agressivo e quase sempre não demonstra emoções para além de uma raiva intensa pelo que está ao redor. O que motiva a amizade entre os dois personagens não é explicada, mas a violência que aos poucos toma conta da relação se justifica por vários ressentimentos acumulados ao longo do tempo. O que prende mesmo o interesse à narrativa são as mudanças gradativas na personalidade de Marcello, o homem passivo que aos poucos perde as estribeiras  e se torna capaz de atitudes que ele mesmo não saberia explicar se lhe perguntassem o que houve. Com locações externas áridas e ambientes cinzentos o filme esteve cotado para ser indicado ao Oscar de filme estrangeiro, mas acabou ficando de fora, talvez por sua estranheza, no entanto, concorreu ao BAFTA de melhor filme em língua não inglesa.

Dogman (Itália - 2018) de Matteo Garrone com Marcello Fonte, Edoardo Pesce, Nunzia Schianno, Adamo Dionisi e Aniello Arena. ☻☻ 

4EVER: Doris Day

03 de abril de 1922  ✰ 13 de maio de 2019

Estrela dos anos 1950 e 1960, Doris Mary Ann Kappelhoff nasceu na cidade americana de Cincinnati. O pai era professor de música e a mãe era dona de casa, a filha se tornaria um marco em Hollywood com seu sorriso, simpatia e cabelos louros. O sucesso veio como cantora nas rádios de sua cidade, depois de fazer shows ela chegou aos sucessos de bilheteria. Entre seus maiores sucessos no cinema estão Ama-me ou esquece-me (1955) e Confidências à Meia-noite (1959), pelo qual foi indicada ao Oscar. Além da indicação ao maior prêmio do cinema americano, o filme marcou a estreia da parceria da atriz com o amigo Rock Hudson, graças a química irresistível entre os dois, eles fizeram ainda Volta meu Amor (1961) e Não me Mandem Flores (1963), sucessos que flertavam com a ingenuidade enquanto zombava de convenções sociais. A atriz estava afastada dos holofotes desde que deu fim ao seu programa The Doris Day Show em 1973, desde então ela se dedicada à sua fundação de proteção aos animais. Doris faleceu aos 97 anos em decorrência de uma pneumonia. 

NªTV: Veep

Selina e Jonah: de palhaçada à aula de política. 

Enquanto a maioria da audiência ligada na HBO especula sobre o final de Game of Thrones, eu já esteou de luto por conta do término de Veep. Após sete temporadas e sessenta e cinco episódios, uma das séries mais engraçadas, ácidas e inteligentes da televisão chegou ao fim. O mais engraçado é que durante o período em que esteve no ar, o que era apenas um grande besteirol mostrou-se ter um chocante fundo de realidade com as notícias dos telejornais nos últimos anos. Criada pelo escocês Armando Ianucci (que ganhou prestígio com sua indicação ao Oscar de roteiro adaptado por Conversa Truncada/2009 e recentemente lançou o provocador A Morte de Stalin/2018), a série contou as desventuras de Selina Meyer (a ótima Julia Louis-Dreyfus), vice-presidente dos Estados Unidos e suas tentativas de se tornar a primeira mulher presidente do país. Entre tentativas de golpe, um curto período na presidência e a tentativa com unhas e dentes de ser eleita muita coisa aconteceu, muita coisa... entre piadas politicamente incorretas, alfinetadas na política mundial, delírios e um bando de assessores que pareciam disputar quem era o mais incompetente (nunca se sabia muito bem quem fazia o que), a série explorou o máximo que pode de cada situação e personagem, sempre tendo ao centro a trajetória desta sagaz candidata americana. Aos poucos novos personagens surgiam, outros desapareciam, depois voltavam, alguns ganhavam destaque em outras áreas, outros caiam em desgraça... mas Selina permanecia firme em seu propósito. O humor por vezes ofensivo dava um tom cada vez mais jocoso às jogadas política, houve mortes pelo caminho, traições e conchavos inacreditáveis que deram o tom especialmente do último capítulo. Se já não bastava os atropelos da protagonista, ainda vimos a ascensão do patife Jonah Ryan (Timothy Simons) cujo discurso beirava a acefalia nesta última temporada. Jonah passou de estagiário à um forte candidato para a Casa Branca  e quanto mais se conhecia sua família de tipos estranhos ou ouvíamos suas  atrocidades, mais seguidores ele garantia em sua campanha. Com o tempo as temporadas de Veep deixaram de ser apenas uma brincadeira com política e se mostraram verdadeiras aulas sobre os bastidores da política, especialmente sobre o complicado processo democrático eleitoral americano - "a gente não é bem uma democracia, mas..."  disse Selina antes de cogitar fraudar as eleições sem pudores de promover um massacre no Tibete. No fim das contas, nunca ficava claro qual era o partido dela ou sua ideologia, no fundo seu interesse era ser presidente da maior potência mundial e ter o poder de fazer o que lhe desse na telha. Minorias? Direitos dos Homossexuais? Nobel da Paz? Feminismo? Tudo se tornava artifício para discursos eleitoreiros que pouco depois eram desconstruídos diante do que lhe fosse mais interessante. Apesar de tudo, sentirei saudades de Selina, de Amy (Anna Chlumsky, a menininha de Meu Primeiro Amor/1991 que se tornou uma atriz incrível), do garanhão Dan  (Reid Scott), do capacho Gary (Tony Hale) e todo um staff hilariante mais perdido que eleitor em tiroteio. Descanse em paz, Selina. Obrigado pelas risadas. 

Veep (EUA/2012-2019) de Armando Ianucci com Julia Louis-Dreyfus, Anna Chlumbsky, Tony Hale, Timothy Simons, Reid Scott, Matt Walsh, Gary Cole, Kevin Dunn, Sufe Bradshaw, Sarah Sutherland, Clea Duval, Diedrich Bader e Hugh Laurie. ☻☻☻☻

sábado, 11 de maio de 2019

4EVER: Lucio Mauro

14 de março de 1927   11 de maio de 2019

Nascido em Belém do Pará, Lúcio de Barros Barbalho tem uma história que se confunde com a da própria televisão brasileira O ator trabalhou nas pioneiras TV Rio, Tupi, Excelsior e primórdios da Rede Globo. Ele já participava de teatro estudantil antes de aos vinte e poucos anos ser convidado para trabalhar em uma companhia teatral. Em 1960 começou a trabalhar na TV em um programa humorístico. Seus personagens cômicos marcaram época, muitos deles em parceria com Chico Anysio (como na Escolhinha do Professor Raimundo e Chico Anysio Show). Também participou de sucessos como Balança mas não Cai e nos primeiros anos do Zorra Total. Nos anos 1980, interpretou um papel dramático no sucesso Além da Vida e dividiu o palco com  filho, Lucio Mauro Filho em 2008 no espetáculo Lúcio Mauro 80-30. No cinema fez treze longas,  incluindo os sucessos recentes, como Redentor (2004), o dramático Feliz Natal (2008) e A Mulher Invisível (2009). Sua última participação no cinema foi em Vai que Dá Certo 2 (2016) em que repete o papel de Seu Altamiro e pouco depois o ator sofreu um AVC que prejudicou sua fala. Ele faleceu aos 92 anos por problemas respiratórios. 

domingo, 5 de maio de 2019

Pódio: Ellen Burstyn

Bronze: a mulher antenada.
Nascida em Detroit em 1932, a atriz começou a carreira nos anos 1950 com o nome de Ellen McRae até atuar no cinema nos anos 1970, momento em que mudou seu nome artístico para Ellen Burstyn. Ellen logo ficou conhecida como uma das atrizes mais versáteis de sua geração, colecionando sete indicações ao Oscar ao longo da carreira. Uma delas veio por conta de sua divertida atuação como Doris, mulher casada que encontra seu amante uma vez por ano. Ao longo do filme, Ellen dá conta de várias mudanças de sua personagem, num verdadeiro histórico das mulheres no século XX: dona de casa, platinada, mãe, hippie... ela vive tudo ao seu tempo. 

Prata: a forte viúva.
Tinha cinco anos que o cinema havia descoberto a atriz quando ela levou para casa o Oscar por este filme de Martin Scorsese. Alice teve que amadurecer ao lado do marido grosseirão e ao se tornar viúva faz o que poderia ser um momento de dor se tornar um verdadeiro recomeço. Bem humorada, Ellen carrega o filme nas costas na difícil tarefa de tornar interessante uma mulher comum. Depois de ser indicada ao Oscar como coadjuvante por A Última Sessão de Cinema (1970) e pela famigerada mãe de O Exorcista (1972), a atriz se via com poucas chances e nem apareceu na cerimonia do Oscar ao ser indicada na categoria de atriz principal. 

Ouro: a mãe viciada.
Depois de sua indicação ao Oscar por Ressurreição/1980, Ellen continuou na ativa em vários filmes para o cinema e TV, mas nenhum deles explorava plenamente seu talento. Quando Darren Aronofsky lhe ofereceu o papel principal de Réquiem a atriz ficou um tanto assustada e perguntou: "você quer mesmo me ver fazer isso?". Na pele de uma senhora viciada em anfetaminas, Ellen está arrasadora em uma das atuações mais impressionantes da história do cinema - o que lhe valeu vários prêmios e indicações, incluindo uma indicação ao Oscar que deveria ter se convertido em mais um prêmio em sua estante. Simplesmente inesquecível!

PL►Y: Nostalgia

Hamm: a música sob a luz da memória. 

Embora esquecido, o americano Mark Pellington é um bom diretor. Ele já fez muitos filmes para cinema e TV, mas seus longas mais conhecidos ainda são O Suspeito da Rua Arlington (1999) e A Última Profecia (2002), no entanto, sua fama é maior como diretor de clipes premiados como Best of You do Foo Fighters e Jeremy do Pearl Jam. Enfim, o homem sabe lidar com som e imagem de forma bastante envolvente como podemos ver em Nostalgia. De certa forma, este é seu filme mais ousado, ao ponto de provocar um certo estranhamento em imaginar que um diretor americano se aventuraria em construir uma história tão lenta e introspectiva sobre um grupo de personagens e seus relacionamentos com objetos e as histórias que os cercam. Não bastasse lidar com uma ideia tão abstrata, a narrativa ainda segue uma linha interessante e pouco utilizada no cinema, linha esta que consiste em um personagem encontrar o outro e lhe ceder o centro da história nos minutos seguintes. Assim, Nostalgia começa com uma personagem contando a história por trás das joias de família a um agente de seguros (John Ortiz), que depois conversa com um senhor (Bruce Dern) rodeado de objetos pessoais e logo depois encontra uma senhora que perdeu praticamente tudo em um incêndio (Ellen Burstyn). Depois conhecemos um comerciante (Jon Hamm) de raras de colecionador, mas que está prestes a encontrar a irmã (Catherine Keener) para decidir o que fazer com as coisas deixadas pelos pais falecidos. O filme reserva boa parte do seu tempo para promover uma reflexão sobre o relacionamento dos personagens com os objetos que estão ao seu redor. As histórias, vida, morte, as lembranças,  a saudade, as memórias, os segredos, o que foi esquecido e o que permanece são os verdadeiros personagens da trama. Não é o tipo de filme que empolga grande parte do público, mas é capaz de promover uma identificação imediata com o que aqueles personagens tem a dizer. Afinal, o que você salvaria de seu lar em chamas se só tivesse um minuto? Qual o motivo de uma bola de beisebol ter mais valor que um álbum de artista esquecido? O que faz de um lugar seu e não do outro? Talvez por tratar por tantos minutos da relação afetiva que objetos evocam, a personagem da jovem Annalise Basso cause estranhamento quando aparece em cena, afinal ela pertence a um tempo que uma música pode ser baixada na internet e seus pais não fazem a mínima ideia de seus gostos (embora vastamente divulgados em redes sociais), filha de um tempo virtual a personagem destoa propositalmente dos demais. O roteiro de Mark Pellington e Alex Ross Perry, às vezes perde a sutileza e se repete mais do que devia, mas funciona como um momento contemplativo sobre nossa relação com as coisas que temos e, de certa forma, nos tem.   

Nostalgia (EUA-2018) de Mark Pellington com John Ortiz, Ellen Burstyn, Jon Hamm, Katherine Keener, Annalise Basso, James Le Gros e Bruce Dern. ☻☻