terça-feira, 30 de abril de 2019

HIGH FI✌E: Março / Abril

Cinco filmes assistidos em março e abril que merecem destaque:





Na Capa: Lançamentos 2019

Faz um tempo que a capa do blog é dedicada aos filmes que veremos em 2019! Alguns até já estrearam  por aqui. Diante do furacão Vingadores: Ultimato, vale a penas descobrir o que o ano ainda nos reserva:


01 Tarantino revisita um dos crimes mais chocantes da história em Once Upon a Time in Hollywood 02  Robert DeNiro e Scorsese voltam a trabalhar juntos na produção Netflix, The Irishman 03 A animação russa O Labirinto das Tartarugas conta como Luis Buñuel fez seu segundo filme 04 Jesse Eisenberg é um jovem judeu na Segunda Guerra mundial em Resistance 05 Cate Blanchett desaparece dirigida por Richard Linklater em Where'd yo Go, Bernadette? 06 Joaquin Phoenix é o aguardado novo Coringa em filme solo 07 O novo Hellboy já estreou nos EUA e divide opiniões 08 Elisabeth Banks sofrerá um bocado em O Filho das Trevas 09 Doug Liman volta à direção com Chaos Walking estrelado por Tom Holland 10 Dia de Muertos é mais uma animação inspirada na tradicional festa mexicana 11 Operação Fronteira juntou um ótimo elenco, mas será que agradou como deveria? 12 Tom Hardy é Al Capone em Fonzo 13 Capitã Marvel supera desconfianças e se torna um sucesso mundial 14 Robert Pattinson se junta à cineasta Claire Denis no prisão espacial de High Life  15 Collin Firth volta a espionar em Kingsman3 16 Tim Burton dirige o sucesso live-action de Dumbo em cartaz no Brasil. 


17 Viola Davis é um dos grandes nomes de The Report 18 Tom Hanks espera ser lembrado no Oscar por Um Belo Dia na Vizinhança 19 Greta Gerwig dirige a nova versão de Adoráveis Mulheres 20 Kylo Ren está de volta em Star Wars: A Ascensão Skywalker 21 The Levelling conta um amargo reencontro familiar 22 O Homem de Ferro é um dos heróis à frente do bilionário Vingadores: O Ultimato 23 Taron Egerton vive Elton John em Rocketman 24 Will Smith é o gênio da nova versão de Alladin 25 Tilda Swinton estrela o drama romântico The Souvenir 26 O Rei Leão é mais uma adaptação live-action da Disney 27 A animação brasileira Tito e os Pássaros traz vozes de Denise Fraga e Mateus Solano 28 A comédia The Farewell fez sucesso em Sundance e traz um elenco oriental de peso 29 X-Men: Fênix Negra fecha a saga dos X-Men na Fox 30 Falando em Marvel, Homem Aranha: Longe de Casa estreia em julho por aqui 32 The Parts you Lose é um filme sobre um fugitivo e suas amizades com Aaron Paul. 


33 Gina Rodriguez é Miss Bala, o novo filme de Catherine Hardwicke 34 A Família Adams volta ao cinema em versão animada 36 O polêmico Harmony Korine volta às telas com Beach Bum estrelado por Matthew McConaughey vivendo em suas próprias regras 37 Brad Pitt parte em busca do pai em outro planeta em Astra 38  Chloe Grace Moretz está em um estranho relacionamento em Greta 39 Alita: Anjo de Combate já passou nos cinemas brasileiros - com menos sucesso do que o esperado 40 Você tem medo do Escuro? é a versão para a telona da série exibida pelo Nickelodeon 41 Matthias Schoenarts é um viciado em violência em busca de recuperação em The Mustang 42 Julianne Moore estrela o remake do dinamaquês Depois do Casamento 42 Adiado tantas vezes, o controverso Clímax de Gaspar Noé já está disponível on demand  43 Andrew Garfield descobre uma estranha conspiração em Under the Silver Lake 44 Another Day of Life traz a jornada de um repórter em meio à uma gerra em Angola.


46 Depois de tantos imprevistos parece que Novos Mutantes será lançado somente em streaming 47 sucesso em Sundance, Luce traz Naomi Watts e Tim Roth lidando com o destino do filho adotivo 48 Taika Waititi resolveu fazer uma comédia dramática no papel de... Hitler? A sandice se chama Jojo Rabbit 49 Nem só de Marvel vivem Tessa Thompson e Chris Hemsworth, a dupla estrela nova versão de Homens de Preto em MIB: Internacional 50 Toy Story 4 vem aí... 51 Dá para acreditar que Honey Boy é a história da infância de Shia LaBeouf? 52 Keira Knightley estrela o drama de espionagem Oficial Secrets 53 Will Smith enfrenta Will Smith em Projeto Gemini, novo filme de Ang Lee 54 John Wick está de volta em Capítulo 3: Parambellum 55 Eva Green ficará um ano em uma Estação Espacial em Proxima 56 Cemitério Maldito de Stephen King ganha nova versão estrelada por Jason Clarke 57 Lupita N'Yongo está excelente em Nós, novo terror de Jordan Peele 58 John Turturro retoma seu personagem Jesus Quintana na direção de Going Places 59 Ashton Sanders estrela Native Son, adaptação do famoso livro de Richard Wright 60 Sucesso nos cinemas, Shazam marca a nova fase da DC Comics no cinema 61 Florence Pugh estrela Midsommar, pesadelo em tons pastéis de Ari Aster, um dos meus filmes mais aguardados deste ano! E quais são os seus?

O que o ano nos reserva? 

PL►Y: O Peso do Passado

Nicole: quando o passado volta. 

Uma policial experiente se depara com um caso de assassinato que remete diretamente a uma investigação do início de sua carreira. A investigação, que alterou os rumos de sua vida pessoal e profissional, mostra-se a chave para a resolução deste novo caso, no entanto, resgatar aspectos do passado pode ser mais perigoso do que ela imagina. O ponto de partida do novo filme da diretora Karyn Kusama pode até não ser um primor de originalidade, mas a cineasta consegue manter um clima de tensão crescente ancorada por um elenco interessante, capitaneado por uma Nicole Kidman quase irreconhecível. Kusama (que estreou com Girlfight/2000 para logo ser absorvida pelos grandes estúdios com Aeon Flux/2005 e Garota Infernal/2009) demonstra aqui grande habilidade para inserir camadas em sua narrativa, ao contar sua história, ela sabe exatamente como utilizar flashbacks para que possamos conhecer ainda mais os acontecimentos que deixaram a protagonista do jeito que a conhecemos. Desde a primeira cena, a detetive Erin Bell (Kidman) parece destruída. Seu andar é arrastado, sua voz é sem energia, seu olhar é cansado, mas em nenhum momento deixamos de perceber que debaixo daquela aparência em frangalhos existe astúcia suficiente para desvendar o caso que tem em mãos. O problema é que conforme ela mergulha nos efeitos do passado no presente, ela lidará com algumas verdades que preferia deixar escondidas. Afinal, toda a vida de Erin parece ter sido sugada por uma espiral de acontecimentos que lhe fugiu totalmente ao controle. Do relacionamento com o ex-marido passivo (Scoot MCNairy), das explosões com a filha adolescente rebelde (Jasde Pettyjohn) vemos que  tudo é afetado pelas figuras do passado que Erin reencontra pelo caminho. Entre amigos, traficantes, assaltantes, informantes o tom conjuga drama, suspense e boas cenas de ação, sem perder o tom seco da narrativa sem floreios. Vale ressaltar que a fotografia não está ali para embelezar nada e a edição é áspera de propósito. Todo este estilo combina com uma Nicole Kidman desconstruída impressiona ainda mais no contraste da personagem entre passado e presente. O trabalho rendeu para atriz vários elogios e algumas indicações a prêmios (incluindo ao Globo de Ouro de atriz dramática) e pode se dizer que sua atuação é a espinha dorsal da trama. No fim das contas, O Peso do Passado pode não ser tão original quanto ambicionava, mas é conduzido com firmeza pela diretora, que compõe aqui seu trabalho mais ambicioso e autoral. Aquele tipo de filme que te deixa curioso para o próximo passo de um cineasta. 

O Peso do Passado (Destroyer / EUA – 2018) de Karyn Kusama com Nicole Kidman, Sebastian Stan, Toby Kebbell, Tatiana Maslany, Scoot McNairy, Jade Pettyjohn e Toby Huss. ☻☻☻

4EVER: Beth Carvalho

05 de maio de 1946   30 de abril de 2019

A carioca Elisabeth Santos Leal de Carvalho é uma destas artistas que transcendem o título de cantora e compositora, ela se tornou um ícone. Uma das maiores referências do samba em nosso país, Beth Carvalho lançou álbuns que se tornaram clássicos, músicas que se tornaram hinos e fez shows que fizeram história. Beth começou sua carreira em ritmo de Bossa Nova e aos poucos rendeu-se ao samba. Em sua carreira fez parceria com grandes nomes da música e ajudou a revelar vários artistas (Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz... uma lista realmente extensa). Desde 2009 a cantora sofria de problemas graves na coluna, ao ponto de se submeter a uma cirurgia em 2012. Seis anos depois, a cantora chamou atenção em um show em que cantava deitada seus maiores sucessos. A atriz faleceu de infecção generalizada aos 72 anos. 

Na Tela: Cafarnaum

Treaure e Zain: talentos precoces em drama libanês. 

Me arrisco a dizer que neste ano os concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro não fariam feio se figurassem no páreo de melhor filme (um deles, Roma, até apareceu nas duas categorias e acabou levando o prêmio de filme estrangeiro para a casa junto com outras cobiçadas estatuetas). Outro concorrente deste ano foi Cafarnaum, um dos filmes mais tristes que já assisti na vida e, ao mesmo tempo, um dos mais instigantes pela forma como a diretora Nadine Labaki consegue extrair atuações genuínas de seus protagonistas mirins. É verdade que há tempos existe a premissa de que filmes com crianças protagonistas são irresistíveis para os votantes da Academia (e eu poderia passar horas escrevendo sobre filmes com meninos e meninas que levaram o prêmio para casa e outros pré-indicados que nem foram indicados, inclusive brasileiros...), mas arrisco a dizer que nenhum deles possuía um protagonista do quilate de Zain Al Rafeea, um franzino garoto de quatorze anos que tem os olhos mais expressivos dos últimos tempos. Ele interpreta Zain, um menino morador da cidade de Cafarnaum que trabalha para ajudar a família a sustentar uma infinidade de irmãos e irmãs. Não demora muito para saber que a situação do guri não foi das melhores, já que somos apresentados a seus pais num tribunal, ali descobrimos que ele foi preso por um ato violento cujas motivações descobriremos aos poucos. Parte da história apresenta como o relacionamento com a família se desgastou, para depois termos um respiro de tranquilidade quando aparece em cena Rahil (a excelente Yordanos Shiferaw), uma imigrante ilegal que trabalha num parque de diversões enquanto esconde o seu bebê, que torna sua situação no país ainda mais preocupante. O trio irá formar uma família incomum, até que novas surpresas atrapalham a trajetória de todos eles. Falando nisso, a outra interpretação infantil que impressiona no filme é do bebê de Rahil, Yonas (Boluwatife Treasure Bankole), que deixa o trabalho da cineasta ainda mais impressionante. Labaki conta a história com sensibilidade impressionante em uma linguagem quase documental. O filme tem momentos ternos e até bem-humorados, mas que em momento algum disfarça a tragédia humana que nos é apresentada. O nó na garganta é inevitável e o desfecho só ressalta que precisamos estar mais atentos à atenção que oferecemos para as futuras gerações. Em meio aos caos emocional apresentado pelo filme (ambientado em uma cidade conhecidamente bíblica), Cafarnaum alcança um resultado devastador, doloroso e inesquecível. Embora o penúltimo ato pudesse ser um pouquinho mais enxuto, a obra apresenta uma força bastante incomum. 

Cafarnaum (Capharnaüm / Líbano - França - EUA / 2018) de Nadine Labaki com Zain Al Rafeea, Boluwatife Treasure Bankole, Yordanos Shiferaw e Kawsar Al Haddad. ☻☻☻

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Na Tela: Vingadores - Ultimato

Chris, Robert, Rocket...: sobreviventes contra Thanos. 

Considero até difícil escrever sobre Vingadores: Ultimato (foi difícil até a escolha da foto que vocês estão vendo acima). Quando se fala do filme que conclui tudo o que se viu na tela do cinema da Marvel Studios até aqui, uma palavra resume tudo: espetacular. Tudo é tão grandioso que todo mundo já sabe que o filme baterá recordes de bilheteria e fincar outros que serão bastante complicados para qualquer outro filme destinado às massas superar. Foram vinte e dois filmes em dez anos que criaram uma escala única para os filmes de super-herói. A esta altura não resta dúvida que o planejamento foi tudo para o estúdio, a forma como apresentou cada personagem, o jeito que inseria um novo herói neste universo, como os repaginava e amadurecia seus personagens a cada nova aventura. Estava tudo ali para gerar novos parâmetros para o gênero (a Warner/DC que o diga). Por isso mesmo é tão interessante assistir ao filme no cinema, que além da grandiosidade que só a sala escura permite, nos faz ver adultos e crianças, pais e filhos curtindo a aventura juntos na mesma plateia. Vi crianças emocionadas e marmanjos chorando ao longo de três horas de projeção. Precisa dizer que bateu aquele desespero no final de Guerra Infinita quando metade dos nossos heróis (assim como metade das criaturas do universo) viraram pó com o estalo de dedos do vilão Thanos (Josh Brolin)? Vários heróis ficaram pelo caminho e sobraram os Vingadores originais ao lado de outros que sobreviveram de forma quase aleatória. Depois da catástrofe o mundo não é mais o mesmo. Cinzento e amargando a dor da perda, resta ao Capitão América (Chris Evans) fazer terapia de grupo, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) padecer no espaço, a Viúva Negra (Scarlett Johansson) perceber-se impotente diante do destino, Thor (Chris Hemsworth) encher a cara... pelo menos até certo ponto, já que o filme subverte nossas expectativas ali, logo nos primeiros vinte minutos. Ali percebemos que o principal não é acabar com o vilão, mas voltar à vida depois que metade dela foi extinta. Eis que quando o Homem-Formiga (Paul Rudd) reaparece e surge a esperança, ainda que arriscada. A sorte é que ela não apenas é arriscada como também é o caminho para se fazer uma homenagem a tudo o que vimos nos filmes da Marvel durante esta década. Neste ponto, não deixa de ser engraçado que alguns personagens tenham sofrido mudanças consideráveis (Hulk e Thor principalmente) e irão rever alguns fatos de sua história sobre uma nova ótica. É complicado escrever sem spoilers, mas será que alguém ainda não viu o filme? O fato é que a Marvel oferece o maior número de fan services possível para o seu público, além de deixar várias pistas pelo caminho do que teremos pela frente (alguém mais percebeu Namor rondando Wakanda?). Não bastasse seus dois atos iniciais, o terceiro ato reserva o final mais apoteótico de um filme baseado em HQ! Foi arrebatador ver o público gritando, aplaudindo e vibrando com o desfecho do filme. Era tudo que ficou engasgado desde a vitória de Thanos no filme anterior, houve uma catarse coletiva que nunca vivenciei numa sala de cinema. No entanto, o filme serve para arrematar a jornada do trio vingador inicial. É verdade que estas conclusões tem muito do contato dos atores com a vida real e suas agendas, projetos e... pagamentos (o cachê de Downey Jr. ficou estratosférico com o percentual de bilheteria, o que o estabeleceu como o artista mais bem pago de Hollywood), no entanto, as despedidas também inserem uma renovação deste universo.  Vingadores: Ultimato é um filme onde tudo é superlativo, praticamente um fenômeno pop que se tornou um evento mundial em sua estreia. A mistura de aventura, ação, bom humor e drama consolida aqui um  equilíbrio que o estúdio tanto desejava, mas, depois dos créditos, de toda a emoção e euforia começo a me perguntar como será esta nova fase sem alguns de seus maiores ícones. A ausência de cena pós-crédito só me faz pensar que eles ainda estão pensando neste problema técnico. A expectativa só aumenta. 

Vingadores - Ultimato (Avngers: Endgame / EUA - 2019) de Joe e Anthony Russo com Robert Downey Jr, Chris Evans, Chris Hemsworth, Brie Larson, Paul Rudd, Josh Brolin, Mark Ruffalo, Scarlet Johansson, Jeremy Renner e Bradley Cooper. ☻☻☻

10+ Meus Favoritos da Marvel

Foram três fases, dez anos e vinte e dois filmes até que a Marvel Studios arrematasse sua primeira década nas telonas. Até chegar a Vingadores: Ultimato (2019) todo mundo deve ter seus dez filmes favoritos do estúdio. Alguns eu aprendi a gostar mais com o tempo, outros eu fui gostando menos quando revia, enfim, estes são os que mais gosto de rever: 










4EVER: John Singleton

06 de janeiro de 1968   29 de abril de 2019

John Daniel Singleton nasceu em Los Angeles. Filho de um corretor e uma executiva da indústria farmacêutica, ele cresceu com os pais separados e assim que terminou o ensino médio em 1986 frequentou um curso de roteiros - no qual recebeu três prêmios ao longo de sua duração. Seu talento logo foi percebido. Em 1991 a Columbia Pictures comprou o seu roteiro de Boyz in the Hood, que ele mesmo dirigiu em sua estreia como cineasta. O filme baseado em suas próprias vivências surpreendeu pela maturidade, gerando boa bilheteria e conseguindo duas indicações ao Oscar: direção e roteiro original. O feito o fez entrar para história aos 25 anos de idade! Antes dele nenhum cineasta afro-americano fora indicado ao Oscar de Melhor Diretor. Com Cuba Gooding Jr, Angela Bassett, Ice Cube e Laurence Fishburne no elenco, Os Donos da Rua marcou época (e lembro até hoje quando a minha tia o indicou para assistir, dizendo que era "um filme diferente"). Singleton dirigiu mais oito filmes, incluindo o sucesso +Velozes +Furiosos (2003), clipes para artistas consagrados e nos últimos anos se dedicava às séries de TV. O cineasta faleceu em consequência de um AVC. 

quinta-feira, 25 de abril de 2019

NªTV: Special

Ryan: Paralisia cerebral leve e muito bom humor. 

Já escrevi aqui no blog que a vida anda bastante corrida e está cada vez mais complicado conseguir assistir a um filme chegando em casa depois do trabalho. No fim de semana os afazeres domésticos também tomam mais tempo do que eu gostaria... no meio desta correria seguida de cansaço tenho procurado ver séries com poucos episódios e de capítulos mais curtos. Sendo assim, quando vi Special no catálogo da Netflix ela caiu como uma luva. Porém, antes de continuar este post, aviso que se você tem problemas com séries com personagens homossexuais você não precisa assistir a série ou ler o que escrevo, mas se você está mais preocupado com outras questões, Special será uma boa surpresa. Após ver o primeiro episódio eu pesquisei sobre o ator criador da série, Ryan O'Connel, que realmente tem paralisia cerebral e assumiu a homossexualidade publicamente aconselhado pelo amigo Jim Parsons (o Sheldon de Big Bang Theory) - que assina esta série baseada em muitas desventuras vividas pelo próprio Ryan. Este tempero pessoal recebe doses cavalares de humor e sinceridade, o que proporciona ao espectador uma ótica bastante diferenciada sobre o personagem. Sem deixar de tocar em assuntos sérios como auto-estima, virgindade, mentiras, autonomia e preconceito, a série consegue fluir com uma naturalidade desconcertante. Episódios com a tentativa de perder a virgindade com alguém que conheceu na internet ou quando Ryan decide morar sozinho, são tratadas de forma bastante espontânea, mais eficiente que muito filme indie que se acha descolado. Os episódios curtinhos juntos parecem compor uma longa metragem de duas horas que se assiste tranquilamente. Carismático e bem-humorado, O'Connell já provou anteriormente não ter medo de tocar em suas feridas quando lançou o livro "Eu Sou Especial e Outras Mentiras que Contamos a Nós Mesmos" que foi lançado em 2015, ano em que começou a construir uma bem sucedida carreira de roteirista de séries de TV (escreveu para Awkwards, Daytimne Divas e Will & Grace). O tom da série é bastante pessoal, o que torna a interpretação de Ryan um verdadeiro achado e vale ressaltar que ele está muito bem acompanhado. Jessica Hecht está ótima como a mãe que precisa deixar o filho crescer e viver a própria vida - e percebe que ela terá que fazer o mesmo, especialmente quando aparece um vizinho bombeiro aposentado (Patrick Fabian). Punam Patel também transborda carisma como a colega de trabalho do protagonista que aos poucos se torna sua melhor amiga. Devagar os personagens rompem padrões e estereótipos, seja da pessoa com deficiência, a mãe devotada, a mulher acima do peso se tornam personagens mais complexos e com novas nuances nesta série bastante divertida e humanista. Um verdadeiro acerto da Netflix.  

Special (EUA-2019) de Ryan O'Connell com Ryan O'Connell, Jessica Hecht, Punam Patel, Patrick Fabian, Marla Mindelle e Augustus Prew.  ☻☻☻

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Na Tela: Um Banho de Vida

Anglade, Almaric, Canet, Benoît: atletas, mas nem tanto. 

Quem já passou dos trinta deve lembrar da comédia inglesa Ou Tudo ou Nada (1997) que conseguiu até indicações ao Oscar ao contar a história de um grupo de desempregados que resolviam ganhar dinheiro fazendo strip-tease para a vizinhança, com humor parecido o filme francês Um Banho de Vida conta a história de homens pouco atléticos que compõem um curioso grupo de nado sincronizado. No entanto, o maior problema dos personagens está longe de ser a barriguinha avantajada ou as articulações menos flexíveis com o peso anos, afinal, sobram problemas pessoais  e familiares que os deixam cada vez mais desanimados. Bertrand (Mathieu Almaric) está afastado do trabalho há algum tempo e só recebe o desprezo do filho mais velho. O explosivo Laurent (Guillaume Canet) não consegue dialogar com a esposa ou o filho que está cada vez mais afetado pela gagueira. Marcus (Benoît Poelvoorde) tem cada vez mais problemas com o trabalho prestes a falir. Simon (Jean-Hugues Anglade) tenta seguir carreira na música há décadas, mas não consegue empolgar nem a filha. Thierry (Phillipe Katerine) parece ter perdido um parafuso nas inúmeras vezes que o time de pólo aquático o jogou na piscina... embora os outros personagens do nado sincronizado não recebam igual destaque na história, nota-se que a vida deles também está longe de ser um sucesso. Em meio aos rumos que a vida lhes reservou, este grupo de homens se encontra por acaso em torno do esporte bem menos difundido que sua versão feminina. As mulheres até dão a cara neste time como treinadoras determinadas: uma está à beira do abismo (Virginie Efra) e outra (Leïla Bekhti) não faria feio diante dos generais mais durões que o cinema já apresentou. Embora seja um passatempo no início, a coisa muda de figura quando o grupo se inscreve numa competição oficial em que irão representar a França. Dirigido por Gilles Lellouche o filme segue um tanto frouxo com seu senso de humor inofensivo e os dramas de seus personagens, mas tem a sorte de contar com uma verdadeira coleção de bons atores franceses para impulsionar o interesse... e funciona! Embora nenhum ator tenha um grande momento em cena, o desfecho do grupo é apoteótico e compensa qualquer tropeço na cadência da narrativa. Ao assistir o filme tive a impressão que em breve ele ganhará uma versão hollywoodiana, mas pesquisando sobre ele na internet descobri que se trata da versão de um filme sueco que já se tornou até matéria-prima para um documentário britânico. Curiosamente, no mesmo ano que este filme francês se tornou sucesso na Europa, uma versão inglesa, chamada Nadando com Homens, naufragou nas bilheterias na terra da Rainha (também, com um nome destes... aff!). Enfim, nada impede que Hollywood recicle a ideia e coloque Steve Carrell como o deprimido Bernard e o sumido Tobey Maguire como um temperamental Larry em breve. 

Um Banho de Vida (Le Grand Bain / França - Bélgica / 2018) de Gilles Lellouche com Mathieu Almaric, Guillaume Canet, Jean Hughes Anglade, Benoît Poelvoorde, Phillipe Katerine, Virginie Efra, Leïla Bekhti e Jonathan Zaccaï. ☻☻☻

terça-feira, 23 de abril de 2019

Na Tela: O Retorno de Ben

Julia e Lucas: luta contra as drogas. 

É interessante perceber como Julia Roberts deixou de ser a namoradinha da América para interpretar papéis maternais sem maiores conflitos. Quando começou a se aventurar por esta seara ganhou até um Oscar de atriz (por Erin Brockovich/2000) e treze anos depois foi lembrada pela Adademia pelo papel da mãe amarga de Álbum de Família (2013) - só que desta vez na categoria de coadjuvante. Ela quase repetiu a dose com O Retorno de Ben, mas o fato de ninguém ter se empolgado muito com o filme prejudicou o longa nas premiações. Mas nem só de Julia Roberts vive o filme, Lucas Hedges também está ótimo em cena, embora seja jovem (22 anos), Lucas tem uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante por Manchester à Beira-Mar (2016) e no ano passado procurou papéis mais desafiadores. Foi o jovem homossexual em sofrido tratamento em Boy Erased e aqui interpreta um rapaz que afundou no mundo das drogas. Responsável por ser o Ben do título, o ator consegue dar conta de várias nuances do protagonista. Convence como o jovem simpático de que é bastante fácil gostar nos momentos iniciais do filme, para aos poucos revelar o quão sombria foi sua descida ao inferno, descida que a mãe devotada, Holly (Roberts) descobrirá os detalhes mais sórdidos praticamente junto com o público. Lucas e Julia são responsáveis por tudo o que funciona no filme, os dois tem uma boa química em cena e estão bastante convincentes. Ela em seus exageros de mãe zelosa, ele no tom escorregadio de alguns diálogos e olhares sombrios. Graças aos dois que o filme engrena fácil em sua primeira hora, ao ponto de acharmos até injusta a forma como outros membros da família tratam o rapaz (especialmente o padrasto vivido por Courtney B. Vance). O roteiro cresce nos encontros reservados pela trama, um amigo que  continua nas drogas, uma mãe que perdeu a filha para a heroína, um antigo conhecido da família, uma casa específica, uma rua... só pela desconfiança constante da mãe sobre o filho o filme já valeria a pena ao instigar o espectador a confiar ou não no moço. No entanto, lá pelo meio do caminho, o roteiro faz uma guinada que por vezes ganha momentos absurdos, quase risíveis (a cena da menina rastreando os celulares é de lascar). O tom de suspense ganha espaço após um roubo na casa da família, fato que colocará mãe e filho numa longa jornada noite adentro em que as verdades mais dolorosas virão à tona. A partir deste ponto, o filme se afasta das sutilezas de outrora e tenta fabrica uma tensão desengonçada, que combina pouco com o que vimos anteriormente. A sorte é que Julia Roberts e Lucas Hedges imprimem tanta dignidade em suas interpretações que o público fica apreensivo pelo que acontecerá naquela dinâmica de mãe e filho. Curiosamente o filme tem outro laço familiar em sua produção: Lucas é filho do diretor Peter Hedges, que foi indicado ao Oscar de roteiro pelo excelente Um Grande Garoto (2002) e depois dirigiu filmes comédias tristes como Do Jeito que Ela é/2003 e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada/2007. 

O Retorno de Ben (Ben is Back/EUA-2018) de Peter Hedges com Lucas Hedges, Julia Roberts, Courtney B. Vance, Kathryn Newton e Michael Esper. ☻☻☻

segunda-feira, 22 de abril de 2019

PL►Y: O Vale das Sombras

Aslak (Adam Ekeli): em busca do desconhecido. 

Sempre achei interessante ver filmes de países variados. É verdade que o cinema americano domina a maioria das exibições por aqui (e não estou falando só de cinema), sei que a grande maioria do público está acostumado com filmes Made in Hollywood, mas é sempre interessante ver como os outros países trabalham as narrativas, o uso de silêncios, do tom mais contemplativo, de uma narrativa sem pressa para construir climas e atmosferas. São estes motivos que fazem deste filme Norueguês uma boa pedida para os fãs de suspenses mais sutis. A história é contada a partir do ponto de vista de um garotinho da área rural da Noruega, lugar que está sofrendo com ataques às ovelhas da região. O menino e um amigo acreditam que aqueles ataques destruidores são feitos por um lobisomem que habita as redondezas. A ideia ganha forma na cabeça do garotinho, que passa a ouvir barulhos diferentes durante a noite que o faz crer que realmente existe um monstro andando por perto. Colabora ainda mais para isso a existência de uma floresta nas proximidades. Embora o filme tenha algumas cenas sobre o drama familiar do pequeno protagonista - e que pode ser um dos pontos para que o menino fantasie para fugir daquela realidade -, o filme ganha corpo no trabalho minucioso do diretor Jonas Maltzow em criar uma atmosfera que nos convida a embarcar na imaginação do protagonista. Sem sustos fáceis, ele cozinha o suspense até torná-lo sufocante quando Aslak (o expressivo Adam Ekeli) entra pela floresta. Neste ponto, o filme lembra um pouco o recente A Bruxa (2015) na forma como aquela natureza em si já representa algo ameaçador. A escuridão, os sons, as árvores que deixam tudo cada vez mais claustrofóbico só nos preparam para o susto do que o lourinho encontra por lá. Até que o filme revela uma guinada diferente da que esperamos. Enquanto não sabemos ao certo o que vai acontecer e não fazemos a mínima ideia do que de fato Aslak encontrou, o diretor segura nossa respiração sem piedade. O ruim é que depois deste momento de angústia (motivada pela nossa imaginação plenamente alimentada pela sugestão do diretor), o filme desce o tom para chegar ao seu desfecho inesperado. O final despretensioso revela a verdadeira intenção do filme: um encontro com o desconhecido que é tão assustador, mas que visto de perto, pode causar até nossa identificação, afinal, a forma como vemos o diferente revela mais de nós mesmos do que do diferente em si. Esqueça os sustos fáceis e os monstros, apenas embarque na atmosfera do filme.

O Vale das Sombras (Skyness dal / Noruega - 2017) de  Jonas Matzow Gulbrandsen com Adam Ekeli, Kathrine Fagerland, John Olav Nielsen e Lennard Salamon. ☻☻☻

Na Tela: Suspiria

Dakota (ao centro) e suas colegas: o que a arte evoca? 

Ninguém refilma um clássico querendo sair ileso. Bem, pelo menos eu acredito nisso. Espero que o italiano Luca Guadagnino também, afinal, depois da aclamação absoluta de seu trabalho em Me Chame Pelo Seu Nome (2017) - que recebeu quatro indicações ao Oscar (filme, ator, canção e levou o de roteiro adaptado) o diretor me inventou de refilmar Suspiria (1977) de Dario Argento. Enquanto um bando de cinéfilos se dividiam entre a expectativa e a desconfiança eu só me perguntava o que Guadagnino tinha na cabeça. Sou do tempo que Suspiria era chamado de trash, o que não o impediu de se tornar um cult do gênero com exibições reservadas para as madrugadas. A história do filme de Argento era bastante simples: uma aluna americana resolve estudar em uma companhia de dança alemã. Chegando lá (debaixo de um baita temporal) ela se depara com uma colega surtada e, aos poucos, percebe que existe algo de muito estranho naquele lugar. Dali em diante, o filme apresentará um trabalho de cores interessantíssimo, além de locações internas que impressionam e... mortes macabras ao longo de toda a sessão. Com fãs fiéis, Guadagnino tinha uma verdadeira batata quente nas mãos. Quando comecei a assistir ao filme percebi que ele não estava nem aí para o suspense do original, já declarando logo no início que existem bruxas naquela escola. O interesse do diretor está em outro ponto: criar um espetáculo de horror elegante até desabar na sanguinolência mais bizarra dos últimos tempos. Guadagnino sempre foi conhecido por sua preocupação com a estética, com a forma e a beleza de seus filmes. Em cena, tudo precisa ser perfeito aos seus olhos. O que deixa a escolha de recriar um filme de terror ainda mais interessante. A história é praticamente a mesma com a chegada da  nova aluna (Dakota Johnson) na tal escola, só que o diretor incrementa mais ainda a história. Cria flashes sobre o passado desta garota (que no original nem existia) e amplia um personagem pequeno do filme anterior, que desta vez recebe um verniz histórico. O contexto histórico parece ser uma grande preocupação do diretor, já que ele insere até comentários sobre o grupo Baader Meinhof  na trama. De resto, ele desfia lentamente o cotidiano daquele lugar, arranha um pouco nos conflitos, nos egos (coloca Tilda Swinton em três papéis diferentes), mas sem perder de vista que existe algo de muito sinistro, sobretudo quando você percebe que aqueles números de dança conjuram feitiços e maldições. Sei que muita gente irá perder a paciência com as duas horas e trinta minutos do filme (o original tinha pouco mais de hora e meia de projeção), com a lentidão de algumas cenas e, principalmente, com o desfecho que é uma ode pagã sangrenta... Guadagnino se distanciou o máximo que pode daquele clássico do terror e criou um filme totalmente diferente. Ele aprofunda algumas questões, cria outras para abandonar ao longo do caminho e alcança um resultado que soa como um extenso pesadelo (que funcionaria melhor se algumas maquiagens não parecessem ser feitas da borracha mais descarada). Fiquei com o filme na cabeça por um bom tempo e com a trilha sonora tristonha de Thom Yorke ecoando na minha cabeça por dias. Enfim, um assombro. 

Suspiria - A Dança da Morte (Suspiria / EUA-Itália / 2018) de Luca Guadagnino com Dakota Johnson, Tilda Swinton, Chloe Grace-Moretz, Angela Winkler, Alek Wek, Elena Fokina e Mia Goth. ☻☻☻☻ 

domingo, 14 de abril de 2019

4EVER: Bibi Andersson

11 de novembro de 1935  14 de abril de 2019

Famosa por suas treze parcerias com o diretor Ingmar Bergman, a sueca Beret Elisabeth Andersson ficou conhecida como uma das grandes atrizes da história do cinema. Mesmo em personagens difíceis e de gestos contidos, ela era sempre capaz de iluminar a tela com suas interpretações. O talento de Bibi foi moldado em cursos de arte dramática e décadas dedicadas ao teatro. Antes de se tornar estrela de cinema, a atriz chegou a dedicar-se profissionalmente à dança... até trabalhar com Ingmar Bergman num comercial de detergente. Ali, o cineasta conheceu uma de suas musas mais inspiradoras. Com sucessos no cinema sueco na década desde os anos 1950, a estrela aceitou convites para trabalhar em Hollywood vinte anos depois, trabalhando com diretores importantes como Robert Altman e John Huston. Mesmo tendo participado de clássicos absolutos como Persona (1966),  O Sétimo Selo (1957) e Morangos Silvestres (1957), Bibi nunca foi indicada ao Oscar. Com mais de cem produções no currículo, a atriz não atuava desde 2009, quando sofreu em AVC e permaneceu hospitalizada até seu falecimento. 

Na Tela: Suprema

Armie e Felicity: casal espetacular. 

Com o discurso do empoderamento feminino em alta, em 2018 duas produções resolveram explorar uma personagem real por linguagens distintas, de um lado, estava um filme de tribunal que investe na reconstituição de um caso real que deu à Ruth Bader Ginsburg o início de um reconhecimento brilhante em sua carreira. Do outro lado está um documentário que conta a história da mesma Ruth, que se tornou a segunda mulher à servir a suprema corte nos EUA. Vou evitar ficar comparando os dois filmes por aqui, mas o que posso adiantar é que os dois são complementares, vale a pena conferir este drama assinado por Mimi Leder para depois enriquecer ainda mais seu conhecimento sobre esta mulher na ótica documental. Posso adiantar que quase tudo o que aparece aqui é verdade, de forma que o roteiro altera somente alguns detalhes que não prejudicam o todo.  Ruth (vivida aqui por Felicity Jones) cursou direito em Harvard e Columbia, praticamente ao mesmo tempo que o esposo, Martin Ginsburg (Armie Hammer) e desde ali, o filme consegue ressaltar bem a parceria que existia entre os dois, seja nos tempos de estudo, em casa ou no trabalho, o laço entre os dois fica ainda mais  fortalecido com o diagnóstico de câncer em Marty. Embora gire em torno de um casal interessantíssimo, infelizmente o roteiro e a direção são um tanto frouxos, parecendo várias vezes que estamos diante de um telefilme pouco inspirado. Assim, o filme depende bastante do talento do casal protagonista para prender a atenção. Em alguns momentos o filme cansa com suas frases feitas, mas em outras consegue ser realmente interessante pela forma como Ruth se depara com o caso que mudaria sua carreira para sempre: a de um homem que foi discriminado por não poder declarar no imposto de Renda os gastos com a enfermeira que cuidava de sua mãe. Quando esta premissa absurda cai nas mãos de Ruth e Marty, o filme cresce e ganha corpo, mas até lá já se passaram mais de uma hora de filme, ou seja, a produção enrola bastante até engrenar. Um detalhe importante do filme é  localizar historicamente a luta por igualdade de direitos, esclarecendo que a luta feminista é bem maior do que a versão simplista que insistem em questionar nas redes sociais - e se você considera algumas situações do filme inacreditáveis, saiba que elas foram questionadas e, por isso mesmo, você as considera inacreditáveis nos dias de hoje. Felicity está ótima em cena, provando que pode viver todo tipo de personagem e por pouco não foi indicada novamente ao Oscar. Armie Hammer também parece bastante a vontade e personifica o marido perfeito à frente do seu tempo em plena década de 1950. Vale ressaltar que tem dois elementos que parecem truques narrativos, mas que aconteceram de verdade! Um deles é o famigerado jantar em que as alunas do curso de direito precisam justificar porque estão ali e tiraram a vaga de um homem. O outro é o delicioso fato de Marty aparecer várias vezes cuidando de atividades domésticas. Os dois realmente dividiam as tarefas em casa - e para uma mulher que ficou conhecida por sua luta de igualdade entre os gêneros, sua cara metade não poderia ser diferente. 

Suprema (In Basis of Sex/EUA-2018) de Mimi Leder com Felicity Jones, Armie Hammer, Justin Theroux, Kathy Bates, Sam Waterston e Cailee Spaeny. 

Pódio: Jude Law

Bronze: o amante robótico
3º Inteligência Artificial (2001)
É uma pena que nesta ficção científica de Steven Spielberg o personagem Gigolo Joe tenha um desfecho tão sem graça, afinal, desde a primeira cena nós torcemos para que, assim como o pequeno protagonista de Haley Joel Osment, Joe tenha um final interessante, mas... não é bem isso que acontece. Neste mundo futurista onde os robôs tem papéis importantes na forma como os humanos lidam com suas emoções, Joe é fabricado para proporcionar prazer, mas não demora para que o filme demonstre que ele tem uma gama de emoções bem mais interessantes do que ser apenas uma máquina de fazer sexo.  

Prata: o gângster esquentado. 
Em meio a tantos papéis periféricos, Jude provou que ainda tem fôlego para carregar um filme nas costas. Este aqui está longe de ser perfeito, mas o ator interpreta com um vigor impressionante o ex-presidiário disposto a reencontrar seus comparsas e ganhar muito dinheiro para compensar o tempo que passou na prisão. Na pele de Don Hemingway, Jude fala palavrões, aparece sem roupa, tem ataques de fúria e ainda consegue ter algum charme debaixo de tudo isso. É a atuação dele que eleva o filme para além do mediano sem medo de assumir as marcas do tempo em sua aparência. 

Ouro: o galã irresistível. 
1º O Talentoso Ripley (1999)
No melhor filme do diretor Anthony Minghella era necessário um ator que fosse capaz de transformar o jovem ricaço de caráter duvidoso na pessoa mais atraente do universo. Este era quase um pré-requisito para que a nova visão sobre a obra de Patricia Highsmith funcionasse no cinema. Jude Law já fizera alguns filmes, mas era um ilustre desconhecido quando apareceu na pele de Dickie Greenleaf, o objeto de desejo do personagem do título. O trabalho lhe valeu fama e sua primeira indicação ao Oscar (na categoria de coadjuvante) e quatro anos depois, foi lembrado no páreo de melhor ator por Cold Mountain (2004), dirigido pelo mesmo diretor. 

sábado, 13 de abril de 2019

Na tela: Vox Lux

Natalie Portman: diva pop do século XXI.  

Brady Corbet estreou como ator em 2000 aos doze anos de idade em séries de TV e três anos depois apareceu em seus primeiro filme nas telonas, o polêmico Aos Treze (2003). Desde então manteve trabalhos frequentes em filmes interessantes, apareceu em Martha Marcy May Marlene (2011), trabalhou com Lars Von Trier em Melancolia (2011), com Michael Haneke fez a refilmagem de  Violência Gratuita (2007) e com Olivier Assayas apareceu em Acima das Nuvens (2014), são destes filmes sérios de pendores reflexivos que seu cinema como diretor se espelha. Quando estreou na direção com A Infância de um Líder (2015), Corbet deixou claro que tinha grandes pretensões para sua carreira de cineasta, pretensões que o disfarce pop de Vox Lux consegue intensificar ainda mais, ressaltando principalmente o que aprendeu com os cineastas que atravessaram sua carreira. De Trier ele moldou  a história separada em capítulos e o apetite por narradores (aqui a voz de Willem Dafoe confere ao filme uma solenidade quase irônica), de Haneke ele transborda a frieza em apresentar cenas escabrosas com a naturalidade de quem come jujubas. De ambos ele tem a ousadia, aqui empregada para contar uma alegoria sobre o século XXI calcada na ascensão de uma estrela pop nascida da tragédia. Desde o início o filme deixa claro que a pequena Celeste tinha interesse pela música, ela só não imaginava que vivenciaria uma tragédia na aula de música quando um colega dispara contra a professora e a turma numa dessas tragédias que evocam os horrores de Columbine. Atingida no pescoço, Celeste terá que conviver com as dores constantes de uma bala alojada em sua espinha. Diante das dores da tragédia, ela escreve uma música em memória aos amigos perdidos que expressa a dor de todos que assistiram perplexos aqueles acontecimentos. De olho no apelo daquela menina inocente (vivida com competência pela novata Raffey Cassidy) de apelo nacional, uma gravadora irá contratá-la para se tornar uma cantora de sucesso. Do sangue de inocentes, nasce uma estrela que sempre disfarça sua cicatriz com adornos diferenciados. Um ícone pop seguido por milhares de fãs, que seguem suas batidas e clipes estilosos com verdadeira devoção enquanto outros dois atentados atravessam sua história. Ambientado no alvorecer do século XXI, Corbet cria uma alegoria bastante instigante sobre o mundo neste século com suas  batidas, luzes e cores que se intensificam para uma plateia em transe, sedenta por imagens e sons na velocidade do celular. No entanto, grande parte do apelo do filme no exterior se deu por conta da presença de Natalie Portman, que aparece na narrativa somente em sua segunda parte, vivendo uma  transmutada Celeste de 31 anos, com uma filha de dezesseis (vivida pela mesma Raffey Cassidy) com quem mal consegue conversar e uma coleção de histórias que só demonstram como está perdida. Natalie capricha nos maneirismo, nos gestos amplos, no sotaque e cria uma personalidade pública que parece por si só ensaiada, uma personagem interpretando outra personagem. Como já fez em outros trabalhos, Natalie sobrepõe camadas e emoções com habilidade e expande seu talento nas últimas cenas convencendo que é uma estrela da música pop de conotações faustianas. No fim das contas, Corbet constata que o século XXI é povoado por uma plateia que esquece a história e contempla ídolos de personalidades dissipadas entre luzes e sons, numa catarse de massa regada que capitaliza até as maiores tragédias em busca de fama e sucesso. Ainda que todas as intenções de Vox Lux pareçam absurdas em sua caótica estrutura narrativa, a trama me fez lembrar de muita gente. 

Vox Lux (EUA-2018) de Brady Corbet com Natalie Portman, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Jude Law, Jennifer Ehle, Christopher Abbott e Willem Dafoe. 

PL►Y: Prospect

Pascal e Sophie: química inusitada. 

Na lua de um planeta desconhecido, um minerador (Jay Duplass) e sua filha, Cee (Sophie Thatcher), buscam por uma substância valiosa que pode lhes garantir, entre outras coisas, a volta para casa. O problema é que neste universo, eles não são os únicos a procurarem a tal substância e o preço que podem pagar pode ser a própria vida. Esta seria a premissa mais simplista do que vemos em Prospect, filme de ficção científica independente produzido pelo canal de vídeos Dust (não conhece? O que você está esperando?). Exibido em festivais independentes e em poucas salas nos Estados Unidos, o filme chamou atenção da crítica e dos fãs do gênero, se tornou cult sem muito esforço, especialmente pelo vigor de sua jovem protagonista vivida com garra pela estreante nas telonas Sophie Thatcher. Ela  não apenas dá conta da tensão entre pai e filha longe de casa, mas também da mudança inevit´vel quando surge no caminho deles o explorador Ezra (Pedro Pascal). Faz tempo que Ezra está perdido esperando uma nave que possa leva-lo de volta para casa e será capaz de fazer tudo por ela. Após o  fatídico encontro o que vemos é uma verdadeira luta pela sobrevivência em um ambiente hostil e repleto de inimigos - que não se importam muito com os atos cruéis que terão que cometer para atingir seus objetivos. Escrito e dirigido pela dupla Zeek Earl e Christopher Caldwell, o filme deixa aparente seu orçamento modesto, mas sabe driblar suas limitações ao brincar com o imaginário da plateia, afinal, cabe a ela preencher todas as lacunas sobre aquela ambientação. No entanto, o maior diferencial que o filme possui é realmente girar em torno do protagonismo de uma adolescente perdida no espaço, tendo que tomar decisões radicais e tentando manter a sanidade e o domínio das situações o maior parte do tempo. Neste ponto, a interação entre Cee e Ezra dão ao filme um apelo dramático interessantíssimo que o sustenta mais do que qualquer efeito especial. Prospect é tem originalidade suficiente para driblar a grana curta e seus envolvidos tem talento suficiente para fazer ainda mais bonito em produções futuras. Uma pequena pérola do gênero. 

Prospect (EUA-2018) de  Zeek Earl e Christopher Caldwell com Sophie Thatcher, Pedro Pascal, Jay Duplass e Andre Royo. 

NªTV: Love Death + Robots

Three Robots: será que rola um longa, Netflix?

A série de animação Love Death + Robots da Netflix se tornou no maior acerto do serviço de streaming dos últimos tempos. Não para menos, já que não consigo lembrar de nenhum programa semelhante. Composto por dezoito episódios com histórias independentes, a série mostra-se um verdadeiro catálogo de estilos de animação - e para quem se acostumou com os traços da Disney e da Pixar nos últimos anos irá se surpreender com a diversidade que podemos ver em cada episódio. Existem algumas técnicas com tamanha riqueza de detalhes que temos até dúvidas se estamos diante de uma animação ou de uma produção live action (e a série até brinca com isso no décimo sexto episódio estrelado por Topher Grace e Mary Elizabeth Winstead em carne e osso). Reza a lenda que este projeto de David Fincher é uma forma de curar sua insatisfação de nunca ter conseguido convencer os estúdios de Hollywood de que era uma boa ideia refilmar a animação hardcore Heavy Metal (1981). Espécie de terapia para frustração, esta produção capricha não apenas na qualidade das imagens e sons, mas também mergulha em temáticas que dificilmente uma animação cinematográfica ousaria - ainda mais com o pesado e antiquado rótulo de que "desenho é para criança". Faz tempo que não é. Aqui temos algumas histórias com detalhes obscenos, palavrões e nudez suficientes para incomodar os mais puristas, mas também possuem criatividade que poderiam ganhar um Oscar de curta-metragem (são os casos de Quando o Iogurte Domina a Terra, do introspectivo Zima Blue e até do ousado A Testemunha - se a Academia fosse um tantinho mais liberal). Alguns poderiam gerar longa-metragens futuramente - sei que vão me achar um bobo, mas eu adoraria ver Três Robôs em uma história com, pelo menos, noventa minutos de duração ou rever os fazendeiros defendendo o gado com robôs gigantes em Trajes em uma história mais ampla. Particularmente não achei muita graça em episódios que parecem recriar histórias de games, mas eles estão longe de atrapalhar o todo. Com censura dezoito  anos a série criada por Tim Miller (que antes de dirigir o primeiro Deadpool/2016 foi indicado ao Oscar pelo curta Gopher Broke/2004) tem sinal verde para inovar e deixa nos fãs a curiosidade do que pode rolar numa próxima temporada (e eu adoraria que algumas histórias fossem revisitadas, mas deixa isso para outro momento). Por enquanto, quem gostou do estilo do programa poderia satisfazer a vontade visitando o canal Dust do Youtube, que tem algumas produções bem legais em animação (e live action) com algumas temáticas parecidas.

Love Death + Robots (EUA-2019) de Tim Miller com Topher Grace, Mary Elizabeth Winstead, Samira Wiley, Aaron Himelstein, Josh Brener, Graham Hamilton, Emily O'Brien e Neil Kaplan. ☻☻

segunda-feira, 8 de abril de 2019

4EVER: Seymour Cassel

22 de janeiro de 1935  08 de abril de 2019

Nascido na cidade de Detroit, Michigan (EUA), Joseph Seymour Cassel ficou conhecido no início de sua carreira por participar de vários filmes independentes, foi assim que se tornou um dos atores favoritos do ícone John Cassavetes. Foi John que rendeu a ele o seu primeiro filme, Sombras (1958). Ao lado do diretor, Cassel participou de vários filmes como Canção da Esperança (1961) e Amantes (1984), mas foi pela interpretação de um hippie que foi indicado ao Oscar de coadjuvante pelo filme Faces (1968). Descendente de irlandeses (por parte de mãe), judeus russos e alemães (por parte de pai), Cassel estudou interpretação no American Theatre Wing e no Actors Studio  e chegou a declarar que atuaria em qualquer filme indie que gostasse do roteiro pelo valor de valor de uma passagem de avião. A influência do ator transcende o cinema, já que foi ele que sugeriu que Saul Hudson utilizasse o nome artístico de Slash junto ao Guns'n Roses. Nos últimos anos, o ator foi visto com frequência nas obras de Wes Anderson, numa parceria que começou em Rushmore (1998) e rendeu outros frutos posteriormente. O ator faleceu em decorrência de complicações com Alzheimer.  

domingo, 7 de abril de 2019

PL►Y: A Sombra da Árvore

Sigurður em silêncio no coral: da comédia para a tragédia. 

Não é novidade que a intolerância está cada vez mais forte ao nosso redor. No meio das auto-verdades os conflitos se tornam cada vez mais presentes e inflamados, de forma que qualquer pequena discordância ou suspeita pode gerar uma verdadeira guerra. Embora seja ambientado na Islândia, a história de A Sombra da Árvore poderia ser ambientada em qualquer lugar que os acontecimentos poderiam ser exatamente os mesmos. Por esta capacidade de universalizar seu olhar sobre os relacionamentos humanos o filme foi escolhido pelo país para representar sua cinematografia no Oscar de filme estrangeiro. A obra acabou ficando de fora (afinal, são apenas cinco vagas para filmes de todo tipo do mundo inteiro), mas continua digno de atenção por sua trama que começa inofensiva e descamba para a tragédia. O início é quase cômico quando uma esposa percebe que seu marido gravava vídeos de sexo com a ex-namorada e ainda os utiliza para se satisfazer sozinho diante do computador. O episódio acaba o levando de volta para a casa dos pais, um lar aparentemente confortável no subúrbio de casas de quintal verde e tons pastéis. Enquanto ele tenta convencer a esposa a aceitá-lo de volta, sua mãe começa a ter conflitos crescentes com um casal de vizinhos. As discussões começam por conta de uma árvore que faz sombra no quintal deles, mas o que poderia ser resolvido sem maiores problemas, começa a gerar suspeitas e discussões cada vez mais aguçadas entre os vizinhos. Um dos pontos mais interessantes do roteiro é justamente apresentar personagens que são pessoas comuns, ainda que sejam calcados em alguns arquétipos, estão bem longe de se caracterizarem como heróis e vilões, são pessoas que poderiam estar próximas seja em Reykjavik, Buenos Aires ou Niterói - da mesma forma, todos podem perder as estribeiras quando o bom senso se perde no meio das percepções subjetivas sobre a realidade, afinal, a verdade é bem mais complicada do que a minha opinião. Ao escolherem suas verdades, o diálogo se torna cada vez mais inviável, a crueldade surge implacável disfarçada de "justiça", as palavras se tornam mais ásperas e as pessoas param de perceber que no fundo todos são feitos de carne e osso, qualidades e defeitos, erros e acertos.. Lá pelo fim das contas você até consegue entender o motivo de um personagem decidir sair daquele ambiente de um forma dolorosamente radical. A Sombra da Árvore ilude seu público com seu humor cortante e aos poucos se revela um drama devastador sobre seres humanos presos em sua Torre de Babel pós-moderna.    

A Sombra da Árvore (Undir Trénu/Islândia-2017) de Hafsteinn Gunnar Sigurðsson com  Steinþór Hróar Steinþórsson, Edda Björgvinsdóttir, Sigurður Sigurjónsson e Selma Björnsdóttir. ☻☻

Na Tela: Shazam!

Zachary e Grazer: DC menos sombria e mais 'família".

Confesso que estava bastante preocupado com a produção de Shazam! afinal, o universo da DC Comics nos cinemas era mais alvo de controvérsia do que sucesso nos últimos anos. Depois que Liga da Justiça (2017) não atingiu as expectativas do estúdio, o sinal de alarme soou e as produções em andamento já começaram receber outro direcionamento. Esta reformulação baniu Ben Affleck (o Batman), Henry Cavill (o Superman) e, recentemente, Ezra Miller (o Flash) e sobreviveram Gal Gadot salva pelo sucesso de Mulher-Maravilha (2017) e Jason Momoa que conseguiu fazer de Aquaman (2018) um redentor blockbuster. Restava a Shazam consolidar esta nova cara da DC no cinema e nada melhor do que um herói que é a versão poderosa de um adolescente de quatorze anos para fazer isso. Este ponto de partida é tudo que o estúdio precisa para demonstrar que aprendeu a lição após tentar costurar no improviso um Universo dos quadrinhos no cinema. É verdade que o bom humor dos filmes da Marvel serve de referência para o que vemos aqui, mas Shazam! em toda sua leveza tem personalidade própria. O filme começa tenso para depois mergulhar no drama do órfão Billy Batson (Asher Angel), que após se perder em uma parque de diversões, pula de lar em lar enquanto procura suaa mãe. Ainda que seja rebelde, Billy guarda dentro de si um bom coração e, por este motivo, será escolhido por um mago (Djimon Hounsou) para ser uma espécie de guardião dos sete pecados capitais - agora libertos pelo insano Doutor Sivana (Mark Strong). A questão é que quando Billy se transforma em Shazam! ele surge crescido, mas a mente continua sendo a de um adolescente. Para além deste toque jovial em sua narrativa, o filme ainda tem um apelo terno pelos laços que se constroem entre Billy e seu novo lar capitaneado por Rosa (Marta Milans) e Victor (Cooper Andrews), que cuidam de outras cinco crianças: a fofa Darla (Faithe Herman), o reservado Pedro (Jovam Armand), o nerd Eugene (Ian Chen), a crescida Mary (Grace Fulton) e o esperto Freddy (Jack Dylan Grazer), que aos poucos se torna o melhor amigo de Billy. Para além de cada personagem ter características que conferem àquele lar uma conotação marcada pela diversidade, o filme recebe uma atmosfera bastante emocional, sobretudo quando revisita a história de Billy fazendo com que sua forma de perceber o mundo seja alterada mais pelo afeto do que propriamente pelos poderes que recebeu. O diretor David F. Sandberg tem bastantes elementos para lidar e sua história transita por diversos gêneros, sorte que ele tem habilidade para costurar todas elas com várias referências sobre o mundos dos heróis (existem várias citações à Batman e Superman durante o filme e até mesmo sobre a confusa trajetória de Shazam nas histórias em quadrinhos - por isso ele recebe vários nomes ao longo da trama). Em termos de elenco todos estão bem. Quem conhece Zachary Levy das temporadas da série Chuck sabe que o ator tem bastante carisma  para encarnar o super-herói, ele é seguido de perto por Jack Dylan (antes visto em It: A Coisa/2017) e Mark Strong criando um vilão de respeito na pele de Dr Sivan. Leve e divertido, Shazam! é uma mostra interessante do que vem pela frente da DC nas telona, mas ainda não sei qual o preço deste tom luminoso e bem humorado a longo prazo. Por enquanto, o resultado tem sido filmes para dar risadas e  passar o tempo, mas um pouco de surpresa não cairia mal. 

Shazam! (EUA-2019) de David F. Sandberg com Zachary Levy, David F. Sandberg, Mark Strong, Asher Angel e Djimon Hounsou.