sábado, 30 de março de 2024

PL►Y: Wonka

Chalamet: mais docinho que nunca.

Sou de uma geração que assistia A Fantástica Fábrica de Chocolate em sua versão clássica na Sessão da Tarde. Eu nem imaginava que aquele filme foi lançado oito anos antes de eu nascer. O fato é que o longa dirigido por Mel Stuart se tornou um daqueles filmes que habita a cultura pop por décadas. Stuart fez o filme pouco depois de ter sido indicado ao Oscar pelo documentário Quatro Dias em Novembro (1965) sobre o assassinato de John Kennedy, o que só aponta a ligação inusitada de seu nome ao projeto. Confesso que Willy Wonka (vivido por Gene Wilder) sempre me deixou um tanto assustado em sua relação com aqueles visitantes e os Oompa Loompas. Talvez a obra de Roald Dahl provoque arrepios em alguns guris ainda hoje. Mais de trinta anos depois, Tim Burton investiu em uma versão repaginada estrelada por Johnny Depp. O resultado mais colorido fez sucesso nas bilheterias e, apesar das esquisitices, alcançou um resultado menos denso que o anterior. Foi nessa época que começaram a especular sobre uma produção que contasse as origens do estranho Willy Wonka. Quase vinte anos depois a ideia saiu do papel  e chegou aos cinemas conquistando elogios. Wonka conta a história do jovem sonhador Willy Wonka que sonha em fazer sucesso com os seus chocolates peculiares. No entanto, ele descobre que vencer no ramo é algo repleto de desafios. Além de ter que lidar com um verdadeiro cartel de fabricantes de chocolate, Willy ainda precisa lidar com um casal de aproveitadores que pretendem lhe arrancar cada centavo que receba. Vivido por Thimotée Chalamet, o jovem Wonka é dotado de uma ingenuidade irresistível e ganha torcida da plateia desde a primeira cena em que chega na cidade armado somente com seu sonho de produzir chocolates. É difícil reconhecer ali o personagem um tanto bizarro que já vimos em outros filmes, especialmente quando o filme começa a revelar sua verve musical com músicas engraçadinhas e momentos bem orquestrados pelo diretor Paul King (do fofo As Aventuras de Paddington/2014 e sua continuação de 2018). No entanto, conforme a história avançae as maldades em torno do personagem se acumulam, percebi que talvez o que o filme nos revele é como aquele jovem com maior jeito de mocinho de conto de fadas, se tornou num produtor amargurado de chocolates. É neste ponto que retorno ao que me assusta no personagem relatada no início dessa postagem, alguns momentos cruéis trouxeram um grande contraste com a embalagem colorida e adocicada que o filme traz. Esse contrasta acontece muitas vezes nas cenas musicais que parecem embaladas pelos delírios de grandeza de Willy e a realidade maldosa que o cerca, mal comparando, lembrei um pouco da sensação que assistia aos delírios musicais de Dançando no Escuro (2000). No entanto, Wonka pretende ser um filme para cima e otimista, sabendo camuflar o que já de amargo na sua trama. Chalamet me surpreendeu ao encarnar um personagem bastante diferente do que já fez até aqui e acho que posso dizer o mesmo de Hugh Grant como o Oompa Loompa pioneiro. O filme poderia ser um pouco mais enxuto e não se embolar nos mistérios que cria, mas tem magia suficiente para segurar o interesse até o desfecho que deixa a sensação que novos filmes devem ser lançados nos próximos anos. No entanto, só fiquei pensando nas viradas que o personagem poderá ter em suas próximas incursões para o cinema. 

Wonka (EUA - Reino Unido - Canadá / 2023) de Paul King com Thimotée Chalamet, Olivia Colman, Calah Lane, Jim Carter, Keegan-Michael Key, Hugh Grant, Sally Hawkins e Matt Lucas. ☻☻☻

sexta-feira, 29 de março de 2024

4EVER: Louis Gossett Jr.

27 de maio de 1936 29 de março de 2024

Louis Cameron Gossett Jr. nasceu em Nova Iorque, filho de um carregador e uma enfermeira. Ele começou a atuar aos 17 anos de idade após uma lesão comprometer sua carreira em atividades esportivas. Ao terminar o Ensino Médio, foi estudar na Universidade de Nova York. Com 1,93 de altura, ele poderia ter investido no basquete, mas estava mais interessado em atuar. Foi por sugestão de um professor que ele fez um teste para Broadway e foi selecionado para seu primeiro espetáculo no teatro profissional. Após participar de vários musicais, no final dos anos 1950, o ator começou a realizar trabalhos na TV. Sua estreia no cinema aconteceu em 1961 no filme O Sol tornará a Brilhar, mas na TV ele participou de séries cultuadas como Mod Squad, Bonanza, Os Pioneiros e O Homem de Seis Milhões de Dólares. Embora tenha realizado alguns trabalhos com destaque no cinema, a consagração veio somente em 1982 como o oficial militar que atormenta o mocinho de A Força do Destino. O papel fez história ao lhe tornar o primeira ator negro a receber o Oscar de ator coadjuvante na história da premiação. Após o prêmio, o ator recebeu papéis de prestígio em filmes como (eu adoro) Inimigo Meu (1985), Um Diretor Contra Todos (1987) e a franquia Águia de Aço (1986). Com mais de cinquenta anos de carreira e participação em mais de duzentas produções, seu último papel importante foi na nova versão de A Cor Púrpura lançada no ano passado.

terça-feira, 26 de março de 2024

PL►Y: Dogman

Calleb: talento que merece reconhecimento.
Não sei onde eu estava com a cabeça que imaginei que este filme era uma versão do filme italiano Dogman/2018 dirigido por Matteo Garrone, embora os dois possuam semelhanças, são produções completamente diferentes. Talvez os dois tenham como inspiração a mesma história real. Luc Besson disse que se baseou na história de um menino que foi trancado dentro de uma jaula com cachorros pelo próprio pai, assim surgiu a ideia de criar a história de Douglas Munrow (Calleb Landry Jones) que precisou sobreviver aos efeitos dos abusos físicos de seu pai, que o trancou em um canil junto com os cães que treinava para participar de rinhas ilegais. Diante de um lar marcado pela violência e a falta de afeto, seus melhores amigos se tornam os caninos, a quem passa a considerar seus melhores amigos. No entanto, o filme de Besson insere vários outros elementos nesta história que contribui para que a produção se torne uma espécie de fantasia sobre um personagem inacreditável, resta ao espectador comprar a ideia ou não. Eu comprei. Especialmente pela atuação vigorosa de Calleb no papel principal. Ele torna o personagem bastante convincente na forma conturbada com que encara o mundo - e não falta elementos que demonstrem a visão estranha de mundo que ele possui. Além do pai violento, o menino precisa de uma cadeira de rodas para se locomover por conta de um estilhaço alojado em sua coluna, ele ainda cresce em um reformatório em que encontra na arte alguma alegria. Fã de literatura e do teatro, quando crescido ele acaba vivendo com seus cães e realizando performances como drag queen para se sustentar. Fosse isso, a vida do moço teria se tornado tranquila, mas acaba enveredando pelo mundo do crime. Eu sei, são muitos elementos que por vezes só aumentam a desconfiança em torno do filme que participou da competição do Festival de Veneza do ano passado, mas afinal de contas estamos diante de um filme de Luc Besson que nunca foi um diretor sutil ou discreto, no entanto, de vez em quando ele acerta na mistura. Embora o resultado seja um bocado fantasioso, Dogman é um filme que funciona pela construção de um personagem interessante. Não seria exagero dizer que o filme funciona principalmente por conta de seu ator principal que faz tempo merece maior reconhecimento. Embora tenha como seu trabalho mais famoso o mutante Banshee de X-Men Primeira Classe (2011), Calleb Landry Jones já coleciona filmes com diretores renomados e possui o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes por seu trabalho avassalador em Nitram (2021). Infelizmente Calleb ainda não caiu no radar do grande público, mas é dono de um talento inquestionável (que notei desde que o vi em O Último Exorcismo/2010). É o tipo de ator que sempre vale a pena ficar de olho. O filme acabou de entrar no catálogo do Prime Video.

Dogman (França/2023) de Luc Besson com Calleb Landry Jones, Jojo T. Gibbs, Christopher Denham, Clemens Schick, Grace Palma, Lincoln Powell e John Charles Aguilar.

PL►Y: Nosso Amor

Liam e Lesley: casal impecável.

Sabe aquele filme que quando lançam você fica interessado em assistir, mas com o tempo ele fica difícil de achar e você acaba esquecendo que ele existe? Isso aconteceu com Nosso Amor, filme estrelado por Liam Neeson (dando uma pausa nos filmes de ação que acumulam em sua carreira atualmente) e uma atriz que gosto muito, embora seus trabalhos sejam raros no cinema, a Lesley Manville (de Um Ano a Mais/2010 e Trama Fantasma/2017 . No último sábado chuvoso, eu procurava algo para ver naquele preguiça de depois do almoço e o encontrei quase de presente na televisão. O filme é dirigido pela dupla Lisa Barros D'Sa e Glenn Leyburn de forma bastante sensível ao acompanhar um casal com décadas de relacionamento e agora às voltas com um tratamento contra um câncer. Joan (Lesley) e Tom (Liam) já passaram por muitas coisas juntos e quando ela descobre um caroço no seio, a rotina de exames, tratamentos e cirurgias se tornam constante na rotina do casal que tenta levar os dias mantendo o companheirismo e bom humor. O filme opta por uma abordagem sincera daquela situação, abordando medos, inseguranças, dores e enjoos. Existe a inevitável cena da queda de cabelo, algumas discussões e pessoas que encontram pelo caminho que precisam lidar com o temor a respeito do que virá pela frente, algo que aflige também os dois. O casal de veteranos está excelente em cena, Liam encarna o esposo que disfarça suas inseguranças com piadas a todo instante, enquanto Lesley é a mulher serena com pé no chão que precisa lidar com o desconhecido. O filme segue sem firulas narrativas e sabe manter todo o sofrimento da situação na rédea curta, evitando exageros. Sabe dosar as cenas que deixam claro que existe um amor forte construído ao longo do tempo entre aqueles dois personagens (de forma que a ideia de um perder o outro se torna um temor para o próprio espectador). É um tipo de filme que se torna diferente justamente pela abordagem que se propõe sobre a vida de um casal que viveu muitos tempo junto e que pretende passar ainda mais tempo um do lado do outro. Um filme discreto, bonito e sincero que é uma raridade nos tempos atuais e que revela como seus atores são ótimos quando tem um bom material nas mãos. 

Nosso Amor (Ordinary Love / Reino Unido - 2019) de Lisa Barros D'Sa e Glenn Leyburn com Lesley Manville, Liam Neeson, Esh Alladi, Maleanie Clark Pullen, David Wilmot e Amit Sha. 

segunda-feira, 25 de março de 2024

KLÁSSIQO: Mephisto

Klaus: A arte de ser repulsivo.
Mephisto é o sexto livro e obra mais conhecida de Klaus Mann, que o publicou em 1936 quando estava exilado em Amsterdam. A trama traz muitos elementos que relacionam diretamente o protagonista com o ator Gustaf Gründgens, ex-marido de Erika Mann, irmã de Klaus. Ambos são filhos do renomado Thomas Mann e vale a pena procurar mais informações sobre a história da família que já é interessante por si só. Durante a ascensão de Hitler na Alemanha, Gustaf teria se aproximado do partido sob o pretexto de continuar trabalhando, mas a que preço? Klaus constrói no livro uma analogia a Fausto de Goethe com as atitudes do ex-cunhado que vende à alma para um regime em troca de fama e sucesso, assim como Fausto o fez ao demônio que dá nome ao filme. O livro gerou muitas polêmicas após sua publicação na Alemanha na década de 1950, rendendo processos e tudo mais, no entanto, ela permanece relevante sobre o período que retrata, especialmente ao demonstrar que a participação de pessoas aparentemente comuns foram cruciais para ascensão do partido na Alemanha. Em 1981 o cineasta húngaro István Szabó resolveu realizar uma adaptação do livro e se consagrou com o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes e  Oscar de Filme Estrangeiro pela forma exuberante como retrata a sombria história de Hendrik Hoefgen (Klaus Maria Brandauer), um ator do teatro alemão que se aproxima cada vez mais da ascensão extremista alemã. Hendrik é apresentado como um sujeito talentoso e bastante envolvente em suas relações amorosas, mas também vaidoso ao ponto de se envolver com pessoas poderosas para conseguir alcançar um status que até então não havia sido reservado à sua carreira. Embora utilize o trabalho como escudo, suas atitudes se tornam cada vez mais reprováveis com relação às pessoas que o cerca. Em determinados momentos não sabemos quando ele está atuando e quando está falando a verdade, até que ele se revele de vez ao espectador. O trabalho de Klaus Maria Brandauer é o grande destaque do filme, ao construir um personagem escorregadio, capaz de sórdidas traições em nome de sua vaidade. É interessante perceber que o filme parece um capítulo seguinte ao que vemos em Cabaré (1972) de Bob Fosse (um filme oscarizado que merecia ser mais lembrado do que é), sobre o referido período na Alemanha. No entanto, os dois filmes não poderiam ser mais diferentes, enquanto o filme de Fosse é um musical temperado com um país em sombria transformação, Mephisto é um drama pesado sobre um homem que vende sua alma para conseguir cada vez mais poder em sua esfera. Visto hoje, há quem considere o filme um tanto exagerado e afetado, no entanto, nada faz com que perca a força da história que tem para contar. A enigmática cena final ainda soa tão provocadora quanto antes quando personagem indaga que ao espectador "o que mais poderia fazer?", existe a sugestão de que tudo seria em nome da sobrevivência, mas também a ideia de que poderia ter seguido por caminhos diferentes em nome de princípios que talvez ele nunca suspeitasse que existissem. Mephisto é um clássico que permanece impactante até hoje. 

Mephisto (Hungria/1981) de István Szabó com Klaus Maria Brandauer, Ildikó Bánsági, Krystyna Janda, Rolf Hoppe, Péter Andorai e György Cserhalmi

domingo, 24 de março de 2024

PL►Y: Segredos de um Escândalo

Natalie e Julianne: brilhantes em estranha dinâmica.
 
Desde que foi exibido pela primeira vez no Festival de Cannes do ano passado, May December se tornou um dos filmes mais comentados de 2023. Pena que conforme eram anunciados os indicados nas premiações de fim de ano o filme perdia fôlego quando as pessoas se davam conta da estranha história real em que se inspirava. O fato de filme ter chegado ao Oscar com apenas uma indicação ao prêmio de Roteiro Original é compreensível, mas imperdoável, já que o longa se tornou um dos filmes mais inquietantes dos últimos tempos, além de contar com três atuações memoráveis em seu elenco. Escrito pela estreante Samy Burch ao lado de Alex Mechanik, a trama é inspirada na história que assombrou o imaginário de muita gente ao final dos anos 1990: uma professora de 36 anos que manteve relações sexuais com um aluno de 13. O crime fez a glória dos tabloides que receberam capítulos surpresa quando ela estava grávida na prisão e, tempos depois, os dois acabaram se casando. O filme dirigido por Todd Haynes não se concentra nos fatos escandalosos dessa história, mas prefere focar no impacto desses acontecimentos a longo prazo na vida dos envolvidos. Aqui trata-se de uma mulher que trabalhava em uma pet shop que se envolve com um menino contratado para auxiliar nos trabalhos. A diferença de idade é a mesma e a repercussão da história se repete. O tempo passa e tudo parece mais calmo, com os filhos crescidos e uma vida pacata em uma ilha, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton) terão que lidar com a presença de uma atriz, Elizabeth (Natalie Portman), que pretende estudar a história de ambos para atuar em um filme sobre a história dos dois. É visível o desconforto do casal com a presença da atriz, mas ele se torna ainda maior quando os dois precisam olhar para o passado. Enquanto Gracie deixa claro que não se arrepende e não gosta de pensar no passado, Joe tenta seguir pelo mesmo caminho enquanto surge como uma espécie de irmão mais velho dos três filhos enquanto recebe ordens da esposa para cumprir seus afazeres. Existe uma dinâmica estranha entre os personagens, que ganha contornos ainda mais desconfortáveis com a trilha sonora exagerada e o temperamento over de Gracie para expressar uma eterna fragilidade. Julianne Moore está perfeita como uma mulher que aparenta não ser capaz de ter feito o que fez, mas que também não parece ser o que pensam que ela é. Ela expressa bem o que o filme tem de melhor: as entrelinhas. A maior parte da trama ocorre por baixo do jogo de aparências que é apresentado, até mesmo com relação ao interesse de Elizabeth pelo casal. Falando nisso, a personagem de Portman tem alguns momentos que embaçam seus princípios e se torna tão complexa quanto a personagem que pretende interpretar. Natalie e Julianne estabelecem uma dinâmica interessantíssima, em que uma captura os trejeitos da outra na tentativa de absorver sua identidade.  O resultado gera cenas arrepiantes, tão arrepiantes como quando percebemos que somente agora Joe se dá conta que uma parte de sua vida foi devorada pelo seu envolvimento com Gracie. Todd Haynes prima mais uma vez pela elegância para apresentar uma história  em que tudo está no lugar para soar como uma grande simulação de sentimentos e sensações. Batizado por aqui de Segredos de um Escândalo, o filme merecia ver seu trio de artistas entre os indicados ao Oscar,  mas ao final da narrativa, o desconforto deve ter  sido forte demais para os votantes. Aparentemente simples, May December (um trocadilho utilizado para falar de relações entre pessoas de faixas etárias muito diferentes) é um filme que merece ser visto várias vezes para perceber todas as nuances perigosas que apresenta. Comprado pela Netflix (embora não tenha entrado no catalogo do streaming até hoje), o filme merecia uma campanha mais potente para as indicações, mas acabou perdendo espaço para o xaroposo Maestro de Bradley Cooper. 

Segredos de um Escândalo (May December / EUA - 2023) de Todd Haynes com Natalie Portman, Julianne Moore, Charles Melton, Cory Michael Smith, Gabriel Chung e Andrea Frankle.

#FDS Diretoras: Pedágio

Kauan e Maeve: pecados pelo caminho.
 
Infelizmente não consegui fazer um Ciclo Diretoras no mês de março, mas tentei compensar dedicando esse #FimDeSemana a três cineastas que mereceram atenção na safra recente. Para fechar o fim de semana, assisti ao novo filme de Krolina Markovicz. Vale dizer que a cineasta brasileira está disposta a se tornar um dos maiores nomes do cinema nacional. Após a estreia avassaladora com Carvão (2022) a diretora retornou chamando atenção com Pedágio, seu segundo longa-metragem e que não apenas foi selecionado para o influente Festival de Toronto como também garantiu à diretora uma homenagem através do Tribute Awards que também destacou as contribuições de Pedro Almodóvar, Spike Lee e o fotógrafo polonês Lukasz Zal à sétima arte. Faltou só que o Brasil escolhesse Pedágio para disputar uma vaga na categoria de filme internacional do Oscar2024 (algo que Carvão também deveria ter conquistado). Pedágio conta a história de uma mãe que está cada vez mais incomodada com a homossexualidade do filho adolescente. Tudo que o rapaz faz a incomoda, dos vídeos que posta na internet fazendo propaganda de alguns produtos para ganhar um dinheirinho. As músicas que o menino escuta também a tiram do sério e até quando ele se fantasia para animar uma festa ela detesta. Eis que surge um curso de "cura gay" numa igreja da região e aquela passa a ser a grande chance de que o menino saia do "mau caminho". O problema é que com a mãe trabalhando no pedágio da cidade, a grana é sempre curta e o preço do tal curso é quase o valor de um salário mínimo, mas, certa de que não pode perder tão oportunidade, a "mãe zelosa" se arrisca a ser cúmplice de criminosos para alcançar seu objetivo. Pedágio demonstra mais uma vez como Karolina é dona de uma escrita esperta e de uma direção envolvente que evolui à narrativa gradativamente na ironias que o destino é capaz de arquitetar. Ainda que o visual seja um tanto sujo, as paisagens nebulosas de Cubatão nunca foram suspeitas de se tornarem tão cinematográficas. Na pele da mãe, a Suellen, a atriz Maeve Jenkins tem mais uma interpretação que a credencia como uma das atrizes mais interessantes de nosso país, afinal, ela incorpora com perfeição a ideia de que para fazer seu filho deixar de ser gay vale a pena qualquer sacrifício. Não por acaso, Tiquinho (Kauan Alvarenga) é o personagem mais sereno do filme, destoando dos outros personagens que o julgam e não veem problema em realizar outras ações que também são vistas como "pecados aos olhos de Deus". Existe uma camada religiosa no filme, mas ela só torna ainda mais estranha a motivação para que algumas pessoas ainda se incomodem com o fato de outro gostar de pessoas do mesmo sexo. Para além de todo o viés de discutir o tema do preconceito, Markovicz toca em temas bastante sensíveis relacionados ao tema, desde a relação entre mãe e filho como de Tiquinho às voltas com um mundo que o rejeita. Pedágio pode não ter o brilhantismo de Carvão, mas comprova que Markovicz merece sempre atenção.

 Pedágio (Brasil/2023) de Karolina Markovicz com Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Thomas Aquino, Isac Graça, Aline Marta Maia e Erom Cordeiro.

sábado, 23 de março de 2024

#FDS Diretoras: Anatomia de Uma Queda

Sandra Hüller e Swan Arlaud: entre a verdade e o sensacionalismo.

Enquanto nutria minha vontade gigante de assistir Anatomia de Uma Queda, realizei uma retrospectiva dos filmes anteriores de Justine Triet. Antes de ser premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, a cineasta francesa havia realizado outros três longa metragens, todos também escritos por ela e seu esposo, Arthur Harari (ambos premiados com pelo último Oscar de roteiro original de Anatomia de uma Queda). O mais interessante é perceber que vistos em ordem cronológica, seus filmes revelam pontos em que uma produção revela  um ponto de inspiração para seu sucessor, no entanto, nada realizado anteriormente pela diretora se compara ao brilhantismo que ela exibe aqui, seja na escrita ou no controle da narrativa. O mais interessante é que o filme nasce de uma ideia fixa na filmografia de Trier: casais em crise. Se em Na Cama com Vitória (2016) a relação do casal acaba parando nos tribunais, aqui, o que está em julgamento parece ser o próprio casamento dos personagens. O filme conta a história de uma escritora, Sandra (a excelente atriz alemã Sandra Hüller, indicada ao Oscar pelo papel) que vive afastada com esposo (Samuel Theis), filho (Milo Machado-Graner) e cachorro (Messi, um achado) nos alpes franceses da cidade em que o seu esposo nasceu. Quando o filme começa, ela tenta ser entrevistada enquanto marido coloca uma música altíssima para embalar a reforma do sótão. A entrevista é interrompida. O filho vai passear com o cachorro e ao voltar, ele se depara com pai morto sob a neve. Sandra escuta os gritos do filho e o que aparentemente era um acidente chega aos tribunais com a suspeita de que Sandra pode ser responsável pela morte do esposo. A partir daí, momentos bastante pessoais daquela casal começam a ser destrinchados e impostos para justificar um assassinato ou a tentativa de um suicídio. Aspectos pessoais da vida de Sandra (sua sexualidade, nacionalidade, profissão e obra) começam a impulsionar narrativas que questionam cada vez mais a sua inocência, num labirinto de versões e inferências sobre fatos que por vezes nem mesmo o espectador sabe mais o que pensar. Anatomia de uma Queda se torna assim um verdadeiro estudo sobre a construção da verdade, da difícil tarefa de chegar ao que de fato aconteceu quanto uma série de informações são apresentadas e manipuladas para chegar a um objetivo: a inocência ou a condenação de Sandra. Justine Triet conduz o filme com maestria ancorada por um roteiro excepcional e uma montagem esperta (também indicada ao Oscar), que sempre revela o necessário para manter a interrogação na mente do espectador. O filme é uma verdadeira aula de como manter o interesse do espectador com base nos diálogos encadeados e, por vezes, confrontados ao longo de duas horas e meia de narrativa. Anatomia de Uma Queda se constrói como quebra-cabeça, mas no fim não saberemos se todas as peças estão no lugar certo, especialmente depois do testemunho final deixado na interpretação do prodígio Milo Machado-Graner. É um daqueles filmes que faz você pensar por muito tempo e pode até se tornar uma referência para os surrados filmes de tribunal. O filme, que concorreu a cinco Oscars, incluindo o de Melhor Filme já está disponível no Prime Video. 

Anatomia de Uma Queda (França / 2023) de Justine Triet com Sandra Hüller, Milo Machado-Graner, Swann Arlaud, Samuel Theis, Antoine Reinartz e Anne Rotger.

sexta-feira, 22 de março de 2024

#FDS Diretoras: Priscilla

Priscilla e Elvis: conto de fadas do avesso.

Enquanto Baz Luhrman ainda desfrutava de todo sucesso de seu filme Elvis (2022), Sofia Coppola divulgou que contaria a história de Priscilla Presley, a esposa do Rei do Rock. Houve quem torcesse o nariz para a ideia, mas houve um grupo que considerou que seria interessante ver o outro lado da história que foi contada pelo exuberante diretor pelas mãos de uma cineasta de estilo completamente diferente como Sofia. Se a própria Priscilla havia elogiado o filme de Baz, ela agora se tornava produtora do filme de Coppola com seu roteiro adaptado de sua famosa autobiografia chamada "Elvis e Eu" lançada em 1985. A obra já havia sido adaptada para um telefilme em 1988 (que por aqui foi exibida no SBT), mas isso não era obstáculo nenhum para o trabalho de Sofia. Dona de um estilo único, vale lembrar que ela se tornou a primeira cineasta nascida nos Estados Unidos indicada ao Oscar de direção por Encontros e Desencontros (2003) e, desde então, seguiu uma carreira que não se curva perante os parâmetros da indústria de Hollywood. Priscilla é mais um exemplo disso, ela consegue ser o total oposto do brilho colorido glamouroso do longa de Baz Lurhman e se torna um filme bastante introspectivo ao criar um retrato bastante íntimo da personagem que se apaixona pelo maior astro da música mundial - quando era uma adolescente de dezesseis anos. Este deve ser o ponto mais incômodo do filme e a escolha de Cailee Spaeny ressalta ainda mais a diferença de idade entre Priscilla e seu futuro esposo, já que ela consegue ser muito convincente como alguém muito jovem, assim como a mulher madura que se torna. A protagonista morava em uma base militar na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, no mesmo período em que Elvis foi para a guerra. Obviamente que a garota ficaria fascinada com a chance de conhecer o ídolo de todas as garotas de sua idade e Elvis também ficou visivelmente atraído por ela. Não demora muito para que ambos fiquem debaixo do mesmo teto, ou melhor, para que ela se mude para casa dele enquanto ele cumpre seus compromissos de astro do rock. Durante a maior parte do tempo, Priscilla passa seus dias sozinha, indo para a escola, convivendo com as rápidas visitas de seu amado e as famosas oscilações de humor de seu futuro esposo. Muita gente reclama que o filme se arrasta nessa rotina da personagem, mas são justamente estes momentos que fazem do filme uma obra bastante incômoda sobre a realidade desta personagem real. Fico imaginando uma menina de dezesseis anos que é escolhida para ser a esposa de um homem mais velho e é tratada como uma espécie de propriedade preciosa, mas que precisa lidar com todos os percalços da personalidade complicada de seu parceiro. Cailee está ótima em cena e foi considerada a melhor atriz no Festival de Veneza do ano passado com justiça. Em sua interpretação podemos ver a montanha russa de emoções que se tornou a vida daquela adolescente, que precisou se tornar mulher à sombra das vontades de um dos homens mais famosos do mundo. Por outro lado, temos Jacob Elordi que não se parece com Elvis, mas consegue emanar um magnetismo irresistível, além de saber dosar os destemperos do cantor longe das câmeras na privacidade do lar. Existe algo de realmente angustiante nesta trama de conto de fadas virado do avesso, algo que o faz ser um filme complementar ao filme de Baz Luhrman.  Pode não ser um filme perfeito, mas é um exercício narrativo instigante proposto pela diretora. O filme está em cartaz na MUBI. 

Priscilla (EUA - Itália / 2023) de Sofia Coppola com Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post, Lyne Griffin e R. Austin Ball.

FILMED+: Monster

Hinata e Soya: nada é o que parece.

Talvez com a idade (44 anos e contando...) o tipo de filme que eu mais aprendi a gosta seja seja o drama que é contado como se fosse um suspense. Não sei se chega a ser um gênero, mas é algo que sempre prende minha atenção ao ponto que os olhos (cansados após um dia de trabalho) consigam ficar ligados na tela enquanto a trama se desenvolve. Caso eu tivesse conseguido assistir Monster de Hirokazu Kore-eda no ano passado, provavelmente o filme teria ficado entre os meus favoritos do ano passado. Lançado em novembro nos cinemas brasileiros, o filme chegou a pouco nos streamings e pode ser visto no TelecinePlay. O roteiro foi premiado no Festival de Cannes pela forma como o diretor costura a história de dois meninos sobre o olhar de outros dois personagens. Primeiro conhecemos Saori (Sakura Ando) que cuida sozinha do filho, Minato (Soya Kurokawa). Nas primeiras cenas (que apresentam um prédio em chamas causando alvoroço na cidade que servirá de marco zero para os atos do filme), vemos que mãe e filho se entendem e convivem super bem. No entanto, com o passar dos dias, o comportamento do menino se torna cada vez mais estranho e arredio. Ações e frases sem muito sentido começam a deixar a mãe preocupada e ao que tudo indica, o responsável por tudo isso é o jovem professor responsável pela turma do menino. Na parte seguinte, somos apresentados ao ponto de vista do professor (Eita Nagayama) sobre o que acontece com Minato, ganhando ênfase a relação do menino com um colega da escola, Yori (Hinata Hiiragi) que é perseguido e rejeitado pelos demais. Assim, descobrimos novas pistas sobre os dois meninos e o roteiro se constrói das bordas para o centro - que é apresentado no terceiro ato totalmente protagonizado pelos dois meninos.  O texto de Yûji Sakamoto é mais do que eficiente ao nos mostrar que nossa subjetividade (representada na tela pela mãe e o professor) afeta mais do que o desejado na hora de criarmos nossas conclusões sobre o que está diante dos nossos olhos. Sorte que no cinema pode ser apresentado diversos pontos de vista sobre uma mesma história e a plateia se comove quando o filme chega ao seu desfecho tão poético quanto triste. Na vida real, com as barreiras criadas por nossa inabilidade em reconhecer o querer e a dor do outro, o que existe é a incompreensão que paira sobre os dois meninos que estão crescendo e descobrindo sentimentos que ainda não sabem explicar, mas sabem que podem trazer consequências repressoras para ambos. Talvez por conta disso o filme tenha recebido comparações  com o belga Close (2022), que no ano anterior também foi apresentado no Festival de Cannes e saiu de lá com o Grande Prêmio do Júri. Monster (e o título, "monstro" se torna polivalente ao se encaixar em várias leituras ao longo da história) pode ser visto por alguns como o que teria acontecido aos meninos de Close se seguissem por outro caminho. Seja como for,  Kore-eda demonstra mais uma vez que está no auge de sua carreira ancorado em sua capacidade de universalizar temas pelo viés da sutileza. Se antes seus filmes primavam pelas emoções de situações corriqueiras (como vistas em Pais e Filhos/2013 e Depois da Tempestade/2016), agora ele demonstra que pode ser bastante denso sem perder seu estilo introspectivo. Monster é um filme sensível, mas também pode ser tão doloroso quanto um soco no estômago. 

Monster (Kaibutsu / Japão - 2023) de Hirokazu Kore-eda com Sakura Ando, Soya Kurokawa, Eita Nagayama, Hinata Hiiragi, Nakamura Shidō II e Yüko Tanaka. ☻☻

PL►Y: O Astronauta

Sandler e o amigo aracnídeo: reflexões sobre a vida na Terra.

(Querido diário... faz semanas que comecei a escrever essa resenha, mas andei tão ocupado que cheguei a pensar em parar de escrever aqui no blog. De vez em quando esta vontade aparece, mas escrever por aqui ainda é um dos meus momentos favoritos nas horas vagas - o problema é que elas são cada vez mais raras). Acho que todo mundo já disse tudo o que devia sobre este filme da Netflix, mas acho que ainda vale a pena postar meu texto.) Embora não seja grande fã de Adam Sandler, devo reconhecer que o ator sabe tirar muito bem o proveito de seu contrato com a Netflix. Afinal, com suas comédias que caem na graça dos fãs de sempre, ele aumentar o catálogo da gigante do streaming e ainda aumenta sua popularidade. Ao mesmo tempo, encontra espaço aqui e ali para se aventurar por alguns trabalhos diferentes. Foi assim com Joias Brutas (2019) e Arremessando Alto (2022), estes projetos podem até não cair no agrado da maioria dos fãs do moço, mas lhe garante algo muito importante para um senhor de 57 anos que permanece firme e forte na indústria Hollywoodiana: ser levado a sério, tanto que lhe garantiu vagas em algumas premiações. O último título em que o ator demonstra saber fazer mais do que graça é O Astronauta, que entrou no catálogo da Netflix enquanto todo mundo só falava dos filmes indicados ao Oscar, e conseguiu alcançar bom público com uma ficção científica intimista que conta com direção do sueco Johan Renck. Renck pode não ser um nome muito conhecido no cinema, mas foi responsável por uma das melhores produções televisivas de todos os tempos, a minissérie Chernobyl (2019) da HBO. No cinema ele não fazia nada desde sua controversa estreia com Distúrbios de Prazer (2008), longa que garantiu à Maria Bello algumas indicações a prêmios do cinema independente. Experiente em clipes de artistas como Madonna, New Order e Suede, Renck demonstra aqui mais uma vez que possui ótimo domínio estético ao adaptar para o cinema o livro de Jaroslav Kalfar que explora a solidão de um astronauta no espaço em suas reflexões sobre a vida na Terra. Sandler encarna Jakub Procházka, que cresceu órfão no interior da República Tcheca e se torna o primeiro astronauta de seu país. Embora o revele que ele se torna uma espécie de símbolo, a missão passa por alguns problemas técnicos e piora mais ainda quando o casamento de Jakub entra em crise com a esposa grávida, Lenka (Carey Mulligan). Enquanto a equipe na Terra procura contornar esse problema doméstico, Jakub passa a ter companhia de uma criatura (com voz de Paul Dano) que o faz ponderar ainda mais sobre sua vida e suas escolhas. Renck opta por uma atmosfera contemplativa que funciona no início, mas se perde no meio do caminho por não saber muito bem para onde ir, muitas vezes se tornando repetitivo, deixando à cargo de Sandler e Dano envolverem o espectador com as reflexões do personagem. Qualquer um poderia imaginar que um filme em que Sandler passa boa parte do tempo conversando com uma aranha gigante poderia cair no ridículo, mas os envolvidos conseguem evitar que isso aconteça pegando emprestado alguns recursos já vistos em outras produções do gênero. Embora considere que o filme perca seu ritmo lá pela metade, confesso que achei interessante interessante  a abordagem das crises vividas por uma odisseia espacial em crise financeira e pessoal. É um filme que exige um pouco de paciência do espectador e que não alcança todas as notas que almeja, mas ainda assim merece atenção, nem que seja pelo seu elenco. 

O Astronauta (Spaceman / EUA - 2024) de Johan Renck com Adam Sandler, Carey Mulligan, Paul Dano, Isabella Rossellini e Kunal Nayyar.


segunda-feira, 11 de março de 2024

Premiados Oscar 2024

Downey Jr, Da'Vine, Emma e Cillian: poucas surpresas.
 

Pela qualidade das produções envolvidas, pode se dizer que foi o melhor Oscar dos últimos anos. Parece que pela primeira vez a alardeada diversidade dos novos membros da Academia finalmente demonstrou efeito ao escolher seus indicados e até alguns premiados. É verdade que desde o início sabíamos que Oppenheimer era o grande favorito da noite, restava saber em quantas categorias seus oponentes conseguiriam se sobrepor. Pena que Assassinos da Lua das Flores do Scorsese com suas dez indicações não conseguiu cravar uma estatueta sequer, nem mesmo da categoria de melhor atriz - em que o páreo acirrado de estava entre Lily Gladstone e Emma Stone que acabou entrando para o seleto clube das atrizes com dois Oscars de atriz principal na estante, enquanto Lily entrou para a História como a primeira atriz indígena a concorrer ao Oscar de melhor atriz. Apesar da cerimônia ter fluído de forma ágil, não curti a apresentação de Jimmy Kimmel, sorte que os números musicais ficaram interessantes, sobretudo Ryan Gosling no momento histórico de I'm Just Ken um dos hits da trilha sonora de Barbie. A seguir os ganhadores da noite com marcando meus acertos da noite.  

  Filme
     Oppenheimer

     Direção
 
   Ator
        Cillian Murphy, por Oppenheimer
 
   Atriz
    Emma Stone, por Pobres Criaturas
     
    Ator Coadjuvante
       Robert Downey Jr., por Oppenheimer
     
    Atriz Coadjuvante
      Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados
 
    Roteiro Original
    Anatomia de uma Queda
     
    Roteiro Adaptado
    Ficção Americana
   
    Melhor Animação
    O Menino e a Garça
    
    Filme Internacional
     Zona de Interesse (Reino Unido)
      
    Melhor Documentário
    20 Dias em Mariupol
 
      Documentário em Curta-metragem
        A Última Loja de Consertos
 
    Melhor Curta-metragem
       The Wonderful Story of Henry Sugar
 
    Melhor Curta-metragem de Animação
       War is Over
 
    Trilha Sonora
       Oppenheimer
 
    Canção Original
       "What Was I Made For?" (Barbie)
 
    Melhor Som
    Zona de Interesse
 
   Fotografia
   Oppenheimer
     
    Cabelo e Maquiagem
   Pobres Criaturas
   
    Melhor Figurino
       Pobres Criaturas
 
    Melhor Montagem
      Oppenheimer
    
    Melhores Efeitos Visuais
       Godzilla Minus One

 

Em 23 categorias, foram 18 acertos! Um a mais do que no ano passado!
 
Placar
 Oppenheimer - 07
Pobres Criaturas - 04 
Zona de Interesse - 02
Anatomia de Uma Queda - 01
Ficção Americana - 01
Barbie - 01
Godzila Minus One - 01

sábado, 9 de março de 2024

MINHAS APOSTAS PARA O OSCAR 2024

Oppenheimer? Emma? Lily? Barbie?: Quem leva o Oscar 2024?

Não tem jeito, fazer as apostas para o Oscar é algo irresistível! Além disso é um baita exercício de objetividade versus subjetividade, afinal, adivinhar quem leva muitas vezes significa esquecer seu gosto pessoal e adivinhar o que os dez mil membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas preferem em sua maioria! Marcado para acontecer amanhã a partir das 20h da noite, transmitido por aqui pela TNT e também ao vivo pelo streaming do HBOMax, o ápice da temporada de ouro chegou! Já fez as suas apostas? A seguir a lista de quem eu acho que leva o careca dourado para casa:

   Filme
     Oppenheimer

     Direção
 
   Ator
        Cillian Murphy, por Oppenheimer
 
    Ator Coadjuvante
       Robert Downey Jr., por Oppenheimer
     
    Atriz Coadjuvante
      Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados
 
    Roteiro Original
    Justine Triet & Arthur Harari, por Anatomia de uma Queda
     
    Roteiro Adaptado
     Christopher Nolan, por Oppenheimer
   
    Melhor Animação
    O Menino e a Garça
    
    Filme Internacional
     Zona de Interesse (Reino Unido)
      
    Melhor Documentário
    20 Dias em Mariupol
 
      Documentário em Curta-metragem
        Nai Nai & Wai Po
 
    Melhor Curta-metragem
       The Wonderful Story of Henry Sugar
 
    Melhor Curta-metragem de Animação
       War is Over 
 
    Trilha Sonora
       Ludwig Göransson, por Oppenheimer
 
    Canção Original
       "What Was I Made For?" (Barbie)
 
    Melhor Som
    Zona de Interesse
 
   Fotografia
        Hoyte van Hoytema, por Oppenheimer
     
    Cabelo e Maquiagem
   Maestro
   
    Melhor Figurino
      Holly Waddington, por Pobres Criaturas
 
    Melhor Montagem
        Jennifer Lame, por Oppenheimer
    
    Melhores Efeitos Visuais
       Godzilla Minus One  

INDICADOS AO OSCAR 2024: Melhor Filme

"Anatomia de Uma Queda" é o ganhador da Palma de Ouro em Cannes2023 e não foi o escolhido da França pela vaga de filme estrangeiro, mas conquistou cinco indicações ao Oscar: filme, direção, atriz (Sandra Hüller) roteiro original e montagem. Se a elogiada produção não é a favorita ao principal prêmio da noite, o roteiro tem fortes chances após ser lembrado em outras premiações da temporada (como o Globo de Ouro). Justine se tornou a oitava mulher a ser indicada ao Oscar na categoria de direção, não mais do que merecido pelo excelente trabalho de um drama de tribunal que não se contenta em ser só isso, explorando, de forma bastante complexa, a forma como construímos verdades perante as informações que recebemos. Mesmo que não leve o prêmio para casa, já se tornou um dos filmes mais marcantes do século XXI. 

"Assassinos da Lua das Flores" de Martin Scorsese tinha chances de ser a pedra no sapato do grande favorito da noite, mas com o tempo o filme perdeu fôlego, especialmente após ficar fora da categoria de melhor roteiro adaptado (não pela qualidade do texto, mas por mudar o foco do livro em que se inspira). Ainda assim, o filme concorre em dez categorias: filme, direção, atriz (Lily Gladstone), ator coadjuvante (Robert De Niro), fotografia, montagem, design de produção, figurinos, trilha sonora e canção original. A história da nação Osage vítima de crimes camuflados na virada do século XX se tornou um filme de tirar o fôlego do ano. Scorsese demonstra uma energia invejável aos 81 anos. Indicado como diretor e produtor do filme, Scorsese acumula 16 indicações ao Oscar, mas tem apenas uma estatueta na estante pela direção de Os Infiltrados (2006). Dá para acreditar?
 
"Barbie" de Greta Gerwig se tornou o grande hit do ano e bastava ver todo o movimento de pessoas vestindo rosa para assistir ao filme nos cinemas. É verdade que muita gente torce o nariz, acusando o filme de ser superficial nos temas que aborda, mas gente, o ponto de partida do filme era um brinquedo - e olha o que Greta Gerwig consegue fazer! Greta acabou de fora da categoria de melhor direção, mas foi lembrada na categoria de roteiro adaptado (ao lado do esposo, Noah Baumbach). Margot Robbie também ficou de fora do prêmio de melhor atriz, mas concorre como produtora do filme. O longa ainda concorre a duas indicações a melhor canção (pelas favoritas What I was Made for e I'm Just Ken), ator coadjuvante (Ryan Gosling), design de produção e figurino. A torcida do filme deve garantir alguns números de audiência para a Academia.
 
Ficção Americana de Cord Jefferson é adaptado do livro de Percival Everett e foi aclamado como o melhor do Festival de Toronto. Ganhando fôlego nas premiações na reta final, o longa se tornou um dos indies mais queridos da temporada. A trama do escritor que precisa fingir ser outra pessoa para ter seu talento reconhecido  se tornou um dos comentários raciais mais interessantes dos últimos tempos. O filme concorre em cinco categorias: filme, roteiro adaptado, ator (Jeffrey Wright), ator coadjuvante (Sterling K. Brown) e trilha sonora. Infelizmente o filme não é favorito em categoria alguma, mas tem chances na disputa acirrada na categoria de melhor roteiro (categoria que serviu de consolação para o diretor que ficou de fora da categoria de direção em seu ótimo trabalho de estreia).
 
Maestro de Bradley Cooper é o filme (chatinho) da Netflix que caiu no gosto da Academia. Contando a história do maestro Leonard Bernstein (vivido pelo próprio diretor) ao lado da esposa Felicia Montealegre (Carey Mulligan), o longa é tecnicamente impecável, mas deixa bastante evidente o desespero de Bradley para ganhar um Oscar. Ao longo da carreira o astro já concorreu nove vezes (seja por atuação, produção ou roteiro) ao Oscar  e com seu novo trabalho atrás das câmeras,  recebeu mais três nomeações: produção, ator e roteiro original. O filme concorre em outras quatro categorias: atriz (Carey Mulligan), maquiagem, som e fotografia, num total de sete nomeações. Embora não seja apontado como favorito em categoria alguma, o longa tem chances na categoria de maquiagem e penteados, mesmo com a polêmica por algumas próteses utilizadas pelo ator.
 
"Oppenheimer" de Christopher Nolan tem tudo que a Academia adora, a começar pela escolha de uma figura histórica um tanto controversa pela construção da bomba atômica. O filme de Nolan patina em gelo fino quando tenta apresentar seu protagonista como herói pela construção de algo que causou tanto temor e destruição. Restava fazer o trabalho certo para as pessoas esquecerem as polêmicas e mirarem nas qualidades do filme. Eis que o filme se tornou o favorito na categoria com 13 indicações: filme direção, ator (Cillian Murphy), ator coadjuvante (Robert Downey Jr), atriz coadjuvante (Emily Blunt), roteiro adaptado, fotografia, montagem, figurino, design de produção, trilha sonora, som, maquiagem e penteados.  Com o filme, Nolan alcança oito indicações ao Oscar, entre elas sua segunda em melhor direção (concorreu antes por Dunkirk/2017) .
 
"Os Rejeitados" de Alexander Payne satisfaz a saudade que os cinéfilos estavam do diretor em sua melhor forma: histórias sobre pessoas comuns que misturam drama com bom humor. O longa se revela um dos melhores filmes natalinos feitos nos últimos tempos com a história de um trio de personagens que se conectam nos feriados de fim de ano. Paul Giamatti está perfeito como o professor mal humorado e ainda pode levar seu primeiro Oscar! Quem deve levar mesmo é Da'Vine Joy Randolph na categoria de coadjuvante que ganhou todos os prêmios da temporada. O filme também concorre ainda nas categorias de roteiro original e montagem. Quem também merecia ter sido lembrado é o estreante Dominic Sessa, que está ótimo como o aluno rejeitado que se aproxima do professor rabugento.
 
"Pobres Criaturas" de Yorgos Lanthimos em outros tempos dificilmente conseguiria cravar este filme no gosto da Academia, no entanto, nunca subestime o grego que colocou um filme feito Dente Canino (2009) no páreo de melhor filme estrangeiro. O ganhador do Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza conta a história de Bella Baxter (Emma Stone) que é fruto de uma experiência, com o cérebro de um bebê no corpo de um mulher adulta, ela deseja conhecer o mundo e lida com o sexo de forma um tantinho diferente da sociedade do seu tempo. O filme concorre em 11 categorias: filme, direção, atriz (Emma Stone), Ator coadjuvante (Mark Ruffalo), roteiro adaptado, trilha sonora, fotografia, figurino, direção de arte, montagem, maquiagem e penteados. Yorgos já acumula cinco indicações ao Oscar, tendo concorrido anteriormente como diretor por A Favorita (2018).

"Vidas Passadas" de Celine Song talvez seja o indie mais querido do ano, tanto que ganhou vários prêmios ao longo do ano, incluindo o Independent Spirit de melhor filme e melhor direção. Celine bem que poderia ter entrado no páreo de melhor direção, mas foi lembrada na categoria de roteiro original. O longa conta a história de dois amigos de infância ao longo de vinte e quatro anos. Os dois acabam seguindo trajetórias diferentes ao longo da vida e um dia se reencontram contemplando as possibilidades de tudo o que poderia ter vivido. Apesar de não ser um filme biográfico, o filme de estreia da diretora traz muitos elementos pessoais que tornam a trama ainda mais sensível e verdadeira. Apenas com duas indicações ao Oscar, o filme poderia ter sido lembrado ainda nas categorias de atuação com as performances irretocáveis de de Greta Lee, Teo Yoo e John Magaro. 
 
"Zona de Interesse" de Jonathan Glazer parecia ter sido coroado como um dos filmes mais importantes do ano já em sua estreia no Festival de Cannes. O longa ganhou o Grande Prêmio do Júri e desde então só colheu elogios com sua forma diferente de contar os horrores do holocausto. Mais do que emoldurar cenas que já vimos em vários filmes, o filme é ambientado na casa ao lado do campo de concentração de Auschwitz na Polônia. Nesta casa vive o comandante do campo e sua família que convive com todos os cheiros e sons assustadores do holocausto numa assombrosa história sobre a banalidade do mal. Favorito ao Oscar de Filme Internacional o filme ainda concorre aos prêmios de direção, roteiro adaptado e melhor som (que se levar em conta o design de som da produção o torna o grande favorito da categoria também). É a primeira vez que Glazer é lembrado no Oscar. 

O ESQUECIDO: Segredos de Um Escândalo de Todd Haynes foi aclamado por muitos como um dos melhores filmes do ano. Em determinado momento da temporada de ouro o filme foi tão badalado que era favorito a várias categorias no Oscar que se aproximava. No entanto, parece que conforme o filme se tornou conhecido, as polêmicas em torno do caso em que se inspira lhe custaram alguns votos entre os votantes da Academia. Embora muitos o considerem o melhor filme de Haynes e com a melhor atuação de Natalie Portman, ambos foram esquecidos, assim como Julianne Moore e Charles Melton - que revivem o caso da professora que se envolveu com seu aluno de 13 anos e constituiu uma família. Ainda assim, o filme foi lembrado na categoria de melhor roteiro original para os estreantes Samy Burch e Alex Mechanik. Parece que o tom jocoso do filme não agradou todo mundo.