terça-feira, 30 de maio de 2017

NªTV: Cara Gente Branca

Cara Gente Branca, a série: pergunte aos universitários. 

Em 2014 o diretor e roteirista Justin Simien lançou Cara Gente Branca, filme que fez sucesso modesto, mas que chamou atenção por explorar a tensão racial americana através de um campus universitário. O roteiro explorava através do bom humor em diálogos inteligentes situações envolvendo preconceitos e militâncias no espaço acadêmico, o resultado era um filme incomum que estava mais preocupado em fazer o público pensar nas situações que apresentava do que propriamente apontar para um ou outro personagem. O esmero de Simien lhe valeu alguns prêmios, inclusive o de melhor primeiro roteiro no Independent Spirit Awards e a proposta de criar uma série baseada no seu longa metragem. Lançado pela Netflix, Cara Gente Branca, assim como o filme, não recebeu a atenção devida, mas merece uma conferida por manter as características que fizeram o filme uma obra interessante. Simien manteve os mesmos personagens de outrora, embora com algumas mudanças no elenco, mas manteve o que mais importava. Os primeiros episódios são dedicados à mesma história do filme - a famigerada festa de Halloween onde os alunos brancos vão fantasiados de negros e todos os conflitos gerados por ela. Assim, Sam White (vivida agora por Logan Browning) continua a ter o seu programa de rádio e ser uma líder dentro da fraternidade formada somente por alunos negros - e ela também continua tendo um namorado branco (John Patrick Amedori) que lhe rende alguns olhares desconfiados junto aos amigos. Há também o filho do diretor, o cobiçado Troy (Brandon P. Bell) que sempre fica entre o que gostaria de ser e o que o pai quer que ele seja. No entanto, são dois outros personagens que se beneficiaram mais da transposição para o formato de seriado: o estudante de jornalismo Lionel (agora vivido por DeRon Horton) e Colandrea (Antoinette Robertson). O primeiro, que além de negro é gay, recebe aqui um tratamento mais interessante do que no filme, especialmente por ter mais espaço para aprofundar seus conflitos pessoais e o interesse por Troy. Já Colandrea, ou melhor, Coco, recebe uma abordagem menos polêmica do que no filme - onde éramos quase forçados a não gostar dela (embora ela trouxesse algumas das discussões mais interessantes sobre identidade e tivesse um envolvimento ainda mais profundo com a festa "blackface"). Coco recebe novas nuances que revelam muito mais sobre suas ambições e comportamento, se antes ela parecia ser uma deslumbrada, agora ela recebe mais elementos interessante que a colocam como um excelente contraponto à postura de Sam. Com dez episódios para criar um arco dramático, Simien parece bem mais a vontade quando se distancia da história original e se percebe livre para explorar as relações entre os personagens, especialmente após o incidente envolvendo a segurança do campus e Reggie (Marque Richardson) que leva a discussão parta outro nível dentro da série. O que deixa o programa ainda mais interessante é a forma como explora quanto os discursos podem ser complexos, como "uma causa" esbarra mais do que em conflitos, mas também em dicotomias, contradições e até armadilhas (neste ponto, senti falta de alguns diálogos espertos que ainda não encontraram espaço na série, mas acredito que devem aparecer nas próximas temporadas). O programa  pode até incomodar, não por tocar em um assunto que ainda fingem não enxergar (o racismo mal disfarçado), mas por demonstrar que o mundo não é feito de isso ou aquilo,  bom e ruim, mas de todo um conjunto de interesses (sejam individuais, coletivos, políticos, culturais ou até românticos) que se misturam no meio do caminho. Num mundo onde as pessoas escolhem suas verdades e desrespeitam as dos outros, Cara Gente Branca é ainda mais pertinente. 

Cara Gente Branca (Dear White People) de Justin Simien com Logan Browning, Brandon P. Bell, DeRon Horton, Antoinette Robertson, Marque Richardson, John Patrick Amedori e Ashley Blaine Featherson. ☻☻☻☻

domingo, 28 de maio de 2017

10+: Ganhadores da Palma de Ouro no Blog

Como ainda me culpo por não ter feito uma semana especial de filmes que já levaram a Palma de Ouro do Festival de Cannes para casa, resolvi fazer uma listinha de dez filmes contemplados que já apareceram aqui no blog. Essa deve ter sido a lista mais difícil que eu já fiz - e antes que me joguem pedras, devo dizer que do quinto lugar em diante, havia praticamente um empate (já que todos estão entre os meus filmes favoritos) e tive que usar critérios milimetricamente subjetivos para determinar a colocação de cada um. Assim como muitos outros filmes, gosto de todos eles de uma forma bastante particular:

Neste musical deprimente não basta a Björk estar perdendo a visão, ela precisa sofrer muito mais e comer o pão que o diretor dinamarquês amassou...

Quando ganhou o prêmio em Cannes em sua estreia, Soderbergh brincou de que dali em diante tudo iria por água abaixo. Ele acertou - e só conseguiu reerguer a carreira em 1998!

Cannes adora os filmes do diretor irlandês, mas foi com este drama sobre o labirinto burocrático dos direitos trabalhistas que o diretor conquistou a Palma pela segunda vez. 

O Festival também adora Haneke e  foi em Cannes que o doloroso Amor começou sua carreira bem sucedida e se tornou o filme mais emocional do cineasta (levando o Oscar de filme estrangeiro em no ano seguinte).

Pouca gente imaginava que QT em seu segundo filme ganharia o maior festival de cinema do mundo - e Quentin aprimorou ainda mais sua narrativa ao longo de tempo depois desta colagem sobre gangsters. 

O filme é construído a partir das memórias de um homem que lida com a morte do irmão - e segue uma narrativa solene, poética e cheia de simbologias (que o próprio diretor jamais conseguiu repetir). 

Clássico total, o filme sobre a a saga de Ada (Holly Hunter) num casamento infeliz nos cafundós da Nova Zelândia se tornou o primeiro (e único) filme dirigido por uma mulher a ganhar a Palma de Ouro. 

É o meu favorito deste dramaturgo e  coreógrafo que  também fez bonito como diretor de cinema. O musical é um mergulho irresistível na personalidade de Fosse (e mais moderno que La La Land/2016). 

Mesclando ficção e realidade, este filme francês surpreende pela forma como retrata, sem firulas, o cotidiano dentro de uma escola de periferia francesa. 

O diretor tem várias obras primas no currículo, mas a última delas é esta biografia do pianista Wladyslaw Szpilman que sobreviveu aos horrores do holocausto - assim como o próprio Polanski. O resultado é devastador.   

PREMIADOS CANNES - 2017

The Square: crítica ao mundo das artes é premiado em Cannes.

Terminou hoje a edição mais falada do Festival de Cannes. Faz tempo que não escuto tantas discussões em torno do evento cinematográfico mais badalado da Europa. Foram tantas discussões sobre os filmes da Netflix que estavam na disputa, sobre as opiniões do presidente do júri Pedro Almodóvar, sobre a quantidade de filmes dirigidos por mulheres na competição e as quatro produções estreladas por Nicole Kidman - que viu seus dois filmes no páreo serem premiados e ainda saiu com um prêmio especial da 70ª Edição do Festival. Foi Cannes mais Hollywood do que nunca e, por conta disso, já rende burburinhos para o Oscar do ano que vem. Muita gente já suspeitava que a comédia provocadora sobre o mundo das artes plásticas The Square sairia com a Palma de Ouro, restava saber quais os outros seriam contemplados. A seguir todos os premiados: 

Palma de Ouro
"The Square" de Robin Östlund

Prêmio Especial de 70º Aniversário
Nicole Kidman 

Grande Prêmio do Júri
"120 battements par minute" de Robin Campillo

Melhor Diretor
Sofia Coppola por "O Estranho que Nós Amamos" (foto)

Melhor Ator
Joaquin Phoenix por "You Were Never Really Here"

Melhor Atriz
Diane Kruger por "In the Fade"

Prêmio do Júri
"Loveless" de Andrey Zvyagintsev

Melhor Roteiro
"The Killing of a Sacred Deer"(foto) / "You Were Never Really Here"

 Camera d'Or
"Jeune Femme" de Léonor Serraille

Prêmio FIPRESCI
"120 battements par minute" de Robin Campillo

Un Certain Regard
"Lerd" de Mohammad Rasoulof

Palme Dog
Bruno de “The Meyerowitz Stories” (foto) 

Palma de Ouro de curta-metragem
"Xiao Cheng Er Yue" de QYU Yang

 Menção Especial
"Katto" de Teppo Airaksinen

Na Tela: Personal Shopper

Kristen: para ser ruim, ela ainda tem que melhorar muito...

Dia desses eu conversava com alguns amigos sobre os filmes que receberam vaias na atual edição do Festival de Cannes e lembramos de tantos outros longas que passaram por essa manifestação (deselegante) do público e no fim receberam algum prêmio no Festival de cinema mais influente do mundo. O primeiro que me veio à cabeça foi Xavier Dolan - por É Apenas o Fim do Mundo/2016 que terminou recebendo o prêmio especial do júri - e o segundo foi Olivier Assayas por este Personal Shopper, que lhe rendeu o prêmio de melhor direção no ano passado. Antes de falar sobre o filme em si, devo dizer que as vaias são mais do que compreensíveis, não apenas pelo sabor de decepção inevitável após o sucesso de Acima das Nuvens (2014), filme anterior do cineasta também estrelado por Kristen Stewart - mas sem uma atriz do porte de Juliette Binoche este consegue ser apenas fraco. A impressão constante é que Assayas tentou fazer muita coisa com as ideias que tinha (especialmente sobre o mundo abstrato que nos rodeia pelos celulares, computadores, mídia e até relacionamentos apenas físicos e sem amor), mas faltou escrever um roteiro que prestasse. O filme mistura drama sobrenatural, suspense, terror, lacunas e cenas que não servem para nada. Kristen vive a profissional do título, encarregada de comprar roupas para uma celebridade que ela quase não encontra e, apesar do filme carregar o nome da profissão, não há profundidade na abordagem sobre a carreira. Personal Shopper está mais preocupado na mediunidade da personagem que insiste em ter contato com o irmão gêmeo falecido - mas sempre parece assombrada por outros fantasmas. São nas cenas de susto que Assayas consegue render alguns bons momentos, mas, como é intelectual demais para fazer um filme de gênero, prefere passar a maior parte do tempo tentando fazer Kristen ser expressiva, já que a atriz sempre está desconfortável diante da câmera. Podem dizer que isso tem relação com a personagem, que sente-se deslocada por sua capacidade de se comunicar com os mortos, mas não é, Kristen exibe aqui, pela enésima vez, toda sua apatia cênica que a tornou famosa (e não adianta cena com capacete, cena de nudez, de masturbação, ela não decola...). Sempre com o mesmo olhar desviado, as costas arcadas, a voz sem emoção, a cabeça inclinada, os tiques labiais... a verdade é que Kristen é uma atriz sofrível que quando consegue ter alguma cena inspirada pensam que ela é uma boa atriz. Não é. Aqui ela se revela mais uma péssima escolha para um roteiro que já é bastante problemático. Se ela mal consegue demonstrar emoção contracenando com os atores do filme, imagine passando a maior parte do tempo conversando com "um fantasma" pelo celular? Desculpem fãs, mas ela não convence nem na cena em que está dormindo no trem (e houve quem considerasse que ela levaria o prêmio de melhor atriz em Cannes... antes de ver o filme, é claro).  Cheio de toques sobrenaturais o filme naufraga também pela superficialidade do roteiro ao lidar com o assunto - aquele papo de "sinto a presença dele" gera risadas quase sempre. Acredito que Assayas e Kristen poderiam até fazer um bom filme de terror juntos, mas Personal Shopper é apenas um conjunto de ideias mal organizadas e que servem para demonstrar o quanto a sua estrela é limitada - e a cena em que ela contracena com o ótimo Lars Eidinger (o favorito de Assayas) fica evidente o amadorismo da estrela (e acho que por conta disso o diretor até evita colocar os dois juntos naquela cena esperada perto do final). Ao final a pergunta se existe vida após a morte ecoa na mente menos do que os motivos que levaram o diretor a ser premiado em Cannes - ou por que Kristen não faz um bom curso de interpretação.

Eidinger: cinco minutos para roubar um filme inteiro. 

Personal Shopper (França/Alemanha-2016) de Olivier Assayas com Kristen Stewart, Lars Eidinger, Ty Olwin e Sigrid Bouaziz.

sábado, 27 de maio de 2017

Na Tela: War Machine

Pitt: preso na própria caricatura. 

Recentemente virou moda a ideia de se pegar um tema sério e transformá-lo em uma comédia - ancorada por tudo que os temas selecionados tem de absurdo. Dois exemplos bem sucedidos desta tendência hollywoodiana foram A Grande Aposta (2015) sobre a última crise econômica mundial e Cães de Guerra (2016) sobre a compra e venda de armamentos nos EUA. War Machine é o mais novo exemplar do gênero ao apresentar um olhar cômico sobre a ação do Tio Sam no Afeganistão após os ataques de 11 de setembro. Existem trocentos filmes sobre o assunto, mas o diretor australiano David Michôd tenta fazer diferente usando bastante gracinhas. A diferença é que os dois filmes citados anteriormente foram realizados por diretores de comédias que abordavam temas sérios em filmes bem humorados e... eu não lembro de Michôd ser reconhecido pelo bom humor. Celebrado pelo sucesso indie Reino Animal (2010) e por ter arrancado uma memorável atuação de Robert Pattinson em The Rover (2014), o diretor provou ser bom com dramas densos - e até poderia surpreender à frente de uma comédia, mas não é o que acontece aqui. O filme gira em torno da figura do general Glen McMahon (Brad Pitt), herói respeitado, admirado e condecorado com quatro estrelas que recebe a missão de comandar tropas americanas naquela operação mal-ajambrada no Afeganistão a partir de 2010. Vindo de uma família de militares, sobra idealismo ao general e seu bando - o que só demonstra que eles não fazem a mínima ideia do que estão realmente fazendo ali. A coisa só piora quando a mídia descobre o grupo de Glen e todo trabalho é tratado como um grande embuste. Obviamente que sobra absurdos durante toda a trama  - afinal, como vimos em Dr. Fantástico (1964), M*A*S*H (1970), Nascido para Matar (1987) e até Soldado Anônimo (2005)  a guerra é o absurdo dos absurdos. Porém, aqui tudo está fora do lugar. Basta ver a interpretação de Brad Pitt, que  se torna a melhor analogia sobre o filme: o ator constrói um personagem tão cheio de maneirismos que acaba não conseguindo se libertar de todos os gestos, tons de voz, olho arregalado, corrida esquisita... soando apenas sem graça. Michôd tinha de fato uma bela história nas mãos (e isso explica o interesse da Netflix produzir o filme e conseguir um elenco respeitável), basta ver a belíssima síntese feita na rápida participação da (sempre excelente) Tilda Swinton como uma jornalista que faz McMahon cair na real. Inspirado na história real do General Stanley McChristal - que gerou polêmica após virar matéria da revista Rolling Stone (e depois virou o livro que deu origem a esta produção)o resultado é tão exagerado que a ideia não decola. Bastava deixar a história por si que as risadas (nervosas) surgiriam naturalmente, sem esforço - do jeito que está, fica difícil apreciar.   

Hayes, Betts, Hall, Magaro e Grace: elenco desperdiçado. 

War Machine (EUA-2017) de David Michôd com Brad Pitt, Anthony Hayes, John Magaro, Anthony Michael Hall, Emory Cohen, Topher Grace, Daniel Betts, Tilda Swinton, Alan Ruck, Will Poulter, Meg Tilly, Ben Kingsley e Scoot McNayri. 

PL►Y: O Salão de Jimmy

Simone e Barry: romance que não decola. 

O cineasta Ken Loach é famoso por fazer filmes engajados, suas temáticas sempre contém algum tema social demarcado com firmeza. O que diferencia o diretor da maioria de tantos outros que se aventuram por este tipo de postura é que o discurso de Loach nunca soa demagógico, oportunista ou artificial. Seu gosto por pessoas comuns em duras realidades já conquistou muitos fãs, que geralmente estranham quando ele se aventura por outros territórios  - a comédia A Parte dos Anjos/2012 ou o filme de (quase) ação Rota Irlandesa/2010. Quando voltou ao drama com O Salão de Jimmy e concorreu à Palma de Ouro em Cannes (ele é um dos favoritos do festival), seus fãs abraçaram o longa com bastante carinho - embora este seja um dos seus trabalhos menos contundentes. O filme é baseado na história real de Jimmy Gralton (vivido por Barry Ward), irlandês que ficou conhecido por ser o único homem já deportado de seu país após a independência. A história se passa no ano de 1932, quando Jimmy retorna ao interior da Irlanda após um período de exílio forçado nos Estados Unidos. Jimmy, ao lado de um grupo de amigos, havia construído um salão onde os moradores poderiam dançar e realizar cursos variados que fossem oferecidos, no entanto, autoridades locais nunca viram com bons olhos a influência da ideologia de Jimmy sobra as pessoas que se aproximam do estabelecimento. Jimmy é acusado de ser socialista e, por isso mesmo, é visto como uma ameaça para a população - especialmente pelo padre Shedidan (Jim Norton), que usará até suas missas para constranger e coibir qualquer pessoa que se aproxime do salão quando reaberto. O texto de Paul Laverty (parceiro costumeiro de Loach) demora para engrenar e não aprofunda algumas questões que poderiam tornar o filme muito mais rico e interessante. Afinal, fica a cargo dos conhecimentos prévios do espectador imaginar como Jimmy pode ser apresentado como um homem inofensivo e o padre torna-se a personificação do mal, da mesma forma, o romance proibido do protagonista com Oonagh (a interessante Simone Kirby) é pouco aproveitado (e quando vemos a triste cena de dança entre os dois temos a ideia de como longa teria outro nível se aproveitasse a interação entre os dois. Parece que a vontade de honrar a história de Jimmy fez o roteirista ficar com receio de aprofundar alguns pontos polêmicos de sua vida, o resultado é um filme cheio de boas intenções, mas que poderia ter muito mais do que isso. Essa sensação fica ainda mais forte com a atuação esforçada de Barry Ward, o ator parece inspirado, mas esperando aquele momento espetacular que nunca chega. Pelo menos, após o lançamento do filme houve uma campanha, com petição online, para que a ordem de deportação de Jimmy fosse anulada. Pelo menos o filme cumpre a sua função de contar uma história sobre opressão pouco conhecida. 

O Salão de Jimmy (Jimmy's Hall / Irlanda - Reino Unido - França) de Ken Loach com Barry Ward, Jim Norton, Simone Kirby, Karl Geary e Francis Magee. 

FILMED+: Entre os Muros da Escola

François: professor, escritor, ator e seus alunos. 

Amanhã serão divulgados os nomes dos filmes premiados do Festival de Cannes-2017 e aqui no blog eu gostaria de ter feito um ciclo com filmes ganhadores da cobiçada Palma de Ouro, mas não foi possível - ano que vem eu prometo fazer isso. Para celebrar o Festival resolvi lembrar de uma produção que se tornou um dos meus ganhadores favoritos da Palme D'Or: Entre os Muros da Escola de Laurent Cantet. Quando eu escrevia no meu blog anterior, o longa foi o meu favorito de 2008 e, por isso, vale a pena destacá-lo aqui. Entre les Murs foi lançado justamente quando eu estava no meio do meu mestrado e nem vou me aprofundar nos inúmeros debates (muitas vezes bem chatinhos) que o filme gerou, afinal, meu olhar sobre o filme de Cantet vai mais fundo do que o discurso que preferem encontrar ali um "filme educativo" e o criticam por não aparecer muito da vida dos alunos fora da escola (para esses eu apenas recomento que leiam o título). Considero que poucos filmes conseguiram captar tão bem os dilemas da escola perante os problemas sociais que a perpassam, afinal, não é por acaso que o centro da história é um professor de francês que precisa lecionar para um grupo de alunos de origem bastante diversificada e, portanto, com leituras de (um mesmo) mundo bastante distintas. Cantet não está interessado em criar um filme edificante sobre uma escola cheia de delinquentes e um professor-que-irá-ensinar-lições-que-servirão-para-toda-a-vida de seus alunos (algo que Hollywood estabeleceu como uma espécie de padrão para "filme de escola"). Durante todo o filme o que se vê não é o retrato estereotipado de um docente e sua turma, mas a interação de um grupo de pessoas que procuram conviver uns com os outros num ambiente educacional e suas regras. Para os espectadores professores as cenas como as do Conselho de Classe ou da provável expulsão - que poderá mudar para sempre a vida de um aluno - devem parecer bastante próximas de nossa realidade (assim como a descoberta de que uma aluna que você nem imagina gosta de ler Platão ou a outra, que nunca teve problemas com notas, declarar que não aprendeu nada de importante durante o ano inteiro). Sempre que revejo o filme ecoam várias cenas, seja dos alunos perguntando sobre a sexualidade do professor ou a cena do futebol que poderia ter acontecido logo no início do ano letivo - e aliviado todo aquele clima de guerra entre professores e alunos desde o início do ano letivo. Afinal, todos são pessoas em seus papéis sociais aprendendo a viver em sociedade e, por vezes, fazendo o outro notar que guardamos todo um universo dentro de si. Nesse encontro de universos (e seus conflitos e alegrias), Cantet utiliza uma linguagem quase documental que transpira realismo, especialmente por conta de lidar com ótimos atores amadores - que parecem ser, de fato, os personagens, no caso do protagonista (François Bégaudeau) é isso mesmo: ele é  o professor que escreveu o livro (sobre suas experiências) que deu origem ao filme. Um dos maiores méritos de Entre os Muros da Escola é justamente borrar a linha que divide a ficção da realidade, colabora ainda mais para isso o fato de que as filmagens  aconteceram dentro de uma escola no subúrbio de Paris por sete semanas. Ao final, você talvez perceba que vários pontos abordados no filme acontecem em todo lugar. 

Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs / França -2008) de Laurent Cantet com François Bégaudeau, Agame Malembo-Emene, Angélica Sancio, Arthur Fogel, Boubacar Toure e Damien Gomes. ☻☻☻☻

terça-feira, 23 de maio de 2017

4EVER: Roger Moore

14 de outubro de 1927    23 de maio de 2017

Nascido em Londres, Roger George Moore, ou simplesmente Sir Roger Moore atuava desde a década de 1940, mas começou a ter papeis importantes somente na década seguinte. No entanto, nada se compara quando em 1973 foi escolhido para  substituir Sean Connery no papel do espião James Bond em 007 - Viva e Deixe Morrer. O ator voltou à pele do famoso espião em outros seis filmes até a despedida em 007 - Na Mira dos Assassinos (1985), quando já tinha 58 anos!  Embora tenha participado de quase uma centena de produções variadas, considero justo que o ator seja imortalizado como o astro que mais vezes encarnou um dos personagens mais sedutores do cinema. Famoso pelo humor sarcástico, a elegância e as sobrancelhas de movimentos irônicos, Moore se tornou embaixador da Unicef em 1983 e por suas ações humanitárias foi condecorado Cavaleiro do Império Britânico em 1999. Moore faleceu na Suíça após lutar contra o câncer.   

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Na Tela: A Bela e a Fera

Emma e Dan: de carne, osso e pelos. 

Admito que A Bela e a Fera (1991) é um dos meus desenhos favoritos da Disney. Não apenas pela sua beleza visual, mas pela forma como conduz a história de fantasia com uma devoção inebriante. Não por acaso, o filme foi indicado a seis Oscars - incluindo Melhor Filme. Era uma época em que não existia categoria de Melhor Animação e que eram apenas cinco os indicados ao principal prêmio da noite, ou seja, o filme fez história ao se tornar a primeira animação a concorrer ao prêmio máximo do Oscar. Retomar uma produção tão bem sucedida numa versão de carne e osso mostrava-se um grande desafio - e a empreitada caiu nas mãos do irregular Bill Condon, que tem filmes excepcionais no currículo (Deuses e Monstros/1998 e Kinsey/2000) e outros desastrosos (A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1 e 2). No entanto, o que parece ter pesado para a escolha do cineasta foi sua habilidade em lidar com um musical (lembram de Dreamgirls/2006 ?), já que o filme mantem vários números musicais no decorrer da história. Sabiamente o diretor não inventa muito e segue direitinho a trama da animação: jovem mocinha de um vilarejo, Bela (uma esforçada Emma Watson), aceita ser prisioneira de uma Fera (debaixo de tudo está Dan Stevens o muso da série Downton Abbey) para libertar seu pai. Na convivência os dois aprendem a gostar um do outro para além das aparências e somente o amor verdadeiro pode quebrar a maldição em torno da Fera. O filme também dá vida aos objetos assim como na animação (com destaque para as vozes de Emma Watson, Ian McKellen e Ewan McGregor - soltando o gogó na pele de Lumiére), faz Luke Evans ser a encarnação perfeita do canastrão Gastão - que é apaixonado e rejeitado por Bela - e seu fiel escudeiro LeFou (Josh Gad), este alvo de uma polêmica imbecil sobre a sexualidade do personagem que nem merece maiores comentários (algo tão besta quanto a de que a trama seria sobre uma vítima da Síndrome de Estocolmo... menos, pessoal, menos...). Voltando ao filme: tudo é feito no capricho, os figurinos, os cenários, os efeitos especiais, o trabalho de maquiagem (e todos devem ser lembrados no Oscar do ano que vem), é verdade o uso da trilha sonora em quase todas as cenas cansa, mas os fãs dos contos de fada não devem perceber isso. Embora considere que os atores escolhidos não fossem as melhores escolhas para os seus papéis, Emma e Dan conseguem ser convincentes e tem química, o que não deixa de ser um mais um ponto positivo para a Disney - que irá fazer novas versões de suas clássicas animações enquanto caírem nas graças da meninada e dos pais ansiosos por reviver um pouco da própria infância. 

A Bela e A Fera (Beauty And The Beast / EUA - Reino Unido / 2017) de Bill Condon com Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Josh Gad, Kevin Kline e vozes de Ewan McGregor, Ian Mckellen e Emma Thompson. ☻☻☻

Na Tela: Trainspotting2

Spud, Renton, SickBoy e Begbie: acertando das contas 20 anos depois. 

Fazia tempo que o diretor Danny Boyle havia comentado sobre o interesse que filmar uma continuação de seu segundo filme, Trainspotting (1996). A saga junkie filmada a partir da obra de Irwine Welsh se tornou um divisor de águas para carreira de Boyle e de seu astro, Ewan McGregor. Ambos foram para Hollywood e Boyle já ganhou até um Oscar de direção (por Quem Quer Ser Um Milionário/2008 que também recebeu a estatueta de melhor filme). No entanto, a filmagem de Trainspotting2 parecia ter virado um desses projetos que nunca saem do papel. Em algumas entrevistas os envolvidos diziam que ainda não era o momento certo de realizar o filme. Boyle pareceu ter retomado a ideia em 2002 quando foi lançada a continuação literária da trama (Pornô também de Irwine Welsh) que revisitava os personagens dez anos depois - desde então o roteiro parece ter sido lapidado. O tempo foi passando e o roteiro ganhando forma... e acrescentou mais uma década até que os personagens se encontrassem. O ruim é que, por melhor que seja, Trainspotting2 já nasce à sombra de um dos filmes que redefiniram a linguagem cinematográfica dos anos 1990. A edição nervosa, a trilha sonora saborosa e os delírios visuais influenciaram centenas de filmes e retomar a história duas décadas depois corria o risco de estragar aquele momento preciso em que deixamos os amigos de Mark Renton (McGregor) depois que ele os trai em nome do vil metal. Agora, Mark volta para visitar os amigos e precisa lidar com a fúria de Simon/Sick Boy (Johnny Lee Miller), o desejo assassino de Francis/Begbie (Robert Carlyle) e o fundo do poço de David/Spud (Ewen Bremner) - o único que recebeu algum dinheiro de Renton (e torrou tudo em drogas). O tempo passou e há um inevitável tom amargo nos personagens, eles estão mais velhos e parecem ainda mais cansados da sarjeta. Begbie sofre com a distância da família que não aguentava mais seu vício. Begbie está com sede de sangue após passar uma temporada na cadeia - e um dos seus desejos é acertar as contas com Renton definitivamente. Enquanto isso, Simon vive de aplicar golpes, filmando figurões em cenas comprometedoras com a namorada, Veronika (Anjela Nedyalkova) para chantagea-los depois. Sorte que não apenas Renton queria rever os únicos amigos que teve na vida (mesmo com todos os ressentimentos que poderiam ter), mas Danny Boyle também queria reencontrar este universo - e o faz com doses de maturidade e saudosismo. Embora ainda traga o humor negro do primeiro filme, T2 é mais melancólico e Boyle sublima essa sensação ao evocar cenas antológicas do seu clássico dos anos 1990 (da corrida na abertura, passando pela trilha sonora, a cena do banheiro, o discurso de outrora reformulado...) e, não satisfeito, reconta a amizade dos rapazes até o início, quando eram apenas um grupo de crianças escocesas. O roteiro de John Hodge (que concorreu ao Oscar pelo primeiro filme e fez outros quatro textos para longas de Boyle) faz o possível para dar conta de personagens que fazem parte da mitologia do filme (retoma Diane de Kelly MacDonald e até o finado Tommy de Kevin McKidd) e cria uma estrutura que solidifica ainda mais os laços entre os personagens, ainda que isso comprometa um pouco o ritmo da narrativa nervosa desejada por Boyle. Trainspotting2  não fez o sucesso esperado de bilheteria, embora funcione como um reencontro de amigos amargurados que não se veem há muito tempo (e daqui uns 20 anos poderia ter outro).

Trainspotting 2 (T2 Trainspotting / Reino Unido - 2017) de Danny Boyle com Ewan McGregor, Ewen Bremner, Johnny Lee Miller, Robert Carlyle, Anjela Nedyalkova, Scot Grenan e Kelly MacDonald. ☻☻☻☻

PL►Y: A Criada

O triângulo : nada é o que parece. 

O sul coreano Park Chan-Wook ficou famoso mundialmente por conta do sucesso de Oldboy (2003), o episódio do meio de sua trilogia da vingança. Aclamado em Cannes e com sucesso ao redor do mundo, Chan-Wook fez um filme de vingança impressionar pela energia e estilo. Definitivamente não é qualquer diretor que alcançaria o mesmo - e se paira dúvida, basta ver a horrorosa refilmagem americana feita por Spike Lee dez anos depois. Ironicamente, foi em 2013 que o diretor filmou sua primeira obra em Hollywood (Segredos de Sangue com Nicole Kidman) mantendo a violência estilizada e  os personagens de sentimentos tão ocultos quanto latentes. O diretor ficou três anos sem lançar um longa de ficção e entregou A Criada no Festival de Cannes no ano passado. O filme fez sucesso perante a crítica, especialmente por ter se revelado uma versão habilidosa do romance Fingersmith de Sarah Waters (que virou minissérie da BBC em 2005). O filme transporta a trama dos arredores de Londres para a Coréia dos anos 1930. No período da ocupação japonesa no território coreano conhecemos Sook-Hee (Tae-ri Kim), uma jovem que trabalha no estranho comércio de bebês para famílias japonesas. Esses dias de trabalho inglório ficam para trás quando ela é escolhida para cuidar da sobrinha do Sr. Kouzuki (Jin-Woong Jo), um japonês com muito dinheiro na cidade (e a residência de Kouzuki é um verdadeiro achado entre as referência pelas quais o filme transita). A sobrinha de Kouzuki se chama Hideko (Min-Hee Kim) e vive isolada esperando o dia em que se casará com o tio - e transferir para ele toda a fortuna que herdou dos pais. Traumatizada pela morte da tia (que se enforcou pendurada numa cerejeira que assombra a janela de seu quarto), a moça mostra-se melancólica perante as inseguranças de seu futuro. Não demora para que o laço entre Hideko e Sook-Hee se intensifique cada vez mais, porém, a presença do Conde Fujiwara (Jung-Woo Ha) sempre nos lembra que nem tudo é o que parece.  Park Chan-Wook divide sua história em três partes e, na transição para cada uma delas, mantem a respiração da plateia suspensa depois de fazê-lo pensar que sabia exatamente o que iria acontecer. Ledo engano. Se no início o filme parece que será um romance de época convencional (com bela fotografia, figurinos irretocáveis, direção de arte impressionante...) o diretor revela, aos poucos, o que o universo em torno de Sr. Kouzuki tem de mais sórdido - e contrasta isso com cenas tórridas entre suas atrizes. Se o diretor consegue arrancar o melhor do seu elenco, vale ressaltar os desempenhos de Tae-ri Kim que é um verdadeiro achado de talento e carisma, além de  Jung-Woo Ha na pele do conde sedutor - que ajuda a formar um triângulo amoroso imprevisível. Em alguns momentos, Chan-Wook sucumbe a alguns exageros (quase cômicos), mas o espetáculo narrativo-visual que constrói é tão abrasivo que você nem se importa com os deslizes deste filme cheio de surpresas e erotismo. 

A Criada (Ah-ga-ssi/Coréia do Sul - 2016) de Park Chan-Wook com Tae-ri Kim, Jung-Woo Ha, Min-Hee Kim e Jin-Woong Jo ☻☻☻☻ 

sábado, 20 de maio de 2017

Na Tela: Corra!

Alison e Daniel: do amor ao terror. 

Antes de estrear, sempre que lia a sinopse ou via as fotos promocionais de Get Out! eu pensava que seria mais um filme sobre o dia da visita no namorado negro à casa da família branca da namorada. Depois que o filme estreou nos Estados Unidos ele se tornou um sucesso surpreendente de público e crítica pro ser um criativo filme de... TERROR?!!! Corra! funciona melhor se você for ao cinema imaginando que é apenas mais um filme sobre o que citei acima, mas é algo que pretende ser mais elaborado. O diretor Jordan Peele já surpreende na cena inicial, com o tom sombrio e a trilha sonora estranha que embala os primeiros momentos antes de conhecermos o casal Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Alison Williams). Os dois estão prestes a viajar para a casa dos pais dela e ele está preocupado por ela não ter contado para a família que namora um rapaz negro. Sorridente e meiga, Rose convence Chris de que não haverá problema algum durante a visita, já que seus pais não são racistas. Chegando lá, o casal Dean (Bradley Whitford) e Missy (Catherine Keener) parecem além da perfeição. Simpáticos, sorridentes e muito receptivos eles só não conseguem evitar o estranhamento de que todos os empregados da casa serem negros e parecem agir feito uma espécie de transe. Este é apenas o primeiro ponto que aflige Chris, que aos poucos irá ouvir comentários estranhos de alguns convidados (afinal, aquele é o fim de semana de uma festa tradicional da família e... Rose nem se lembrava) e o tom sempre incômodo do cunhado inconveniente, Jeremy (Caleb Landry Jones). Aos poucos, Chris irá desconfiar que os Armitage formam uma família muito estranha - e que é melhor ele se mandar dali antes que algo pior aconteça. Só que... Jordan Peele faz um filme que parece ser um capítulo do seriado Além da Imaginação, só que se torna melhor pelo que existe de simbólico no horror que apresenta. A trama em si não se preocupa com muitas explicações e deixa muita coisa nas entrelinhas para o espectador descobrir sozinho (embora a presença de Keener de Quero Ser John Malkovich/1999 não soe por acaso quando o segredo da família é revelado). O destaque fica mesmo com a habilidade com que Peele cria guinadas narrativas de forma bastante envolvente, oscilando entre o terror, o romance, o suspense, o surreal e até, a comédia. Podem dizer que sou mal humorado (e sou mesmo), mas as partes cômicas (sobretudo as relacionadas com o personagem de LilRel Howery, que chega a falar sozinho em uma cena sofrível) são as que eu menos aprecio no filme - eu teria cortado todas elas. Sorte que com exceção de Howery todo mundo acerta o tom na empreitada, sobretudo Daniel Kaluuya (que já fizera bonito como o agente amigo de Emily Blunt em Sicario/2015, onde parecia ser bem mais velho do que aqui e ele também estará no aguardado Pantera Negra no ano que vem) e Alison Williams que (embora magra feito um espeto) deve ter vida depois da Marnie no finado seriado Girls da HBO.

Corra! (Get Out!/EUA-2017) de Jordan Peele com Daniel Kaluuya, Alison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener, Caleb Landry Jones e Marcus Henderson. ☻☻☻☻

PL►Y: Little Boxes

Os Burns: preconceitos aqui e ali. 

Depois do controverso "Oscar So White" do ano passado, vários filmes envolvendo temáticas raciais foram produzidos nos Estados Unidos. Alguns se tornaram sucesso de bilheteria (Estrelas Além do Tempo/2016), outros ganharam prêmios importantes (Moonlight/2016, Um Limite Entre Nós/2016, O Nascimento de Uma Nação/2016), alguns fracassaram nas bilheterias (Um Estado de Liberdade/2016 , Loving/2016) e outros queriam apenas contar uma história. O indie Little Boxes é despretensioso demais para ser lembrado no Oscar ou fazer bilheterias milionárias, mas toca em algumas questões de forma que parece ser "quase sem querer". A trama gira em torno de uma família formada por uma professora universitária de artes, Gina (Melanie Linskey), um escritor Mack Burns (Nelsan Ellis) e o filho adolescente Clark (Armani Jackson). Todos se mudam de Nova York para uma pequena cidade de Washington. Deixando a diversidade de Big Apple para trás, o casal se vê numa vizinhança majoritariamente branca que os fará lembrar o tempo todo de que formam uma família inter-racial. O roteiro de Annie Howell opta por avançar a trama a partir de pequenos conflitos que surgem na vida do trio. Primeiramente com as caixas da mudança que demoram para chegar (as "pequenas caixas" do título), depois com os olhares surpresos quando alguém percebe que o esposo de Gina é negro. A seguir temos os comentários aparentemente "inofensivos" e o olhar curioso das nova amigas de Clark  que consideram interessante ter um amigo negro para exibir para os outros. Ainda que os conflitos estejam todos ali e apareçam encadeados um ao outro, o diretor Rob Meyer opta por manter o tom discreto da narrativa, sem exageros, histeria ou gritaria, ele faz uma comédia de costumes que funciona alfinetando a temática racista com a mesma naturalidade que elas aparecem nas ações mais comuns do cotidiano. Se por um lado Nelsan Ellis imprime um olhar blasé ao seu personagem, Melanie Linskey prefere assumir sua esposa/mãe imperfeita, que também tem lá os seus preconceitos (afinal, como ela poderia deixar o filho namorar com uma menina sem perspectiva de futuro?). Ainda que seja agradável de assistir, Little Boxes poderia aprofundar algumas situações que são abordadas superficialmente (como o incidente de Clark  no quarto com a amiga, a relação de Gina com as colegas de trabalho ou a visita do primo distante), no entanto, pela forma como o filme termina, podemos imaginar que a família continuará presa àquelas situações por um bom tempo - graças às pequenas caixas mentais etiquetadas em que o ser humano costuma guardar suas referências pessoais sobre o mundo em que vive. 

Little Boxes (EUA-2016) de Rob Meyer com Melanie Linskey, Nelsan Ellis, Armani Jackson, Oona Lawrence, Christine Taylor e Janeane Garofalo. ☻☻ ☻

sexta-feira, 19 de maio de 2017

4EVER: Kid Vinil

10 de março de 1995  19 de maio de 2017

Antonio Carlo Cenofante nasceu em São Paulo e ficou conhecido como Kid Vinil nos ano 1980. Kid tocou em várias bandas, a mais conhecida delas foi a Magazine - responsável por canções de sucesso como "Tic tic Nervoso", "A Gata Comeu" e "Sou Boy". O cantor também foi um dos maiores incentivadores do movimento punk paulista e além de cantor e compositor, Vinil ficou conhecido como radialista, jornalista e apresentador de televisão - especialmente por seu trabalho no programa Lado B da MTV, em que apresentava artistas underground do Brasil e do exterior. Kid Vinil estava em coma desde abril, após passar mal durante um show em Minas Gerais e faleceu após uma parada cardíaca. 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

FESTIVAL DE CANNES 2017

Festival de Cannes 2017: ainda o mais influente do mundo. 

O Festival de Cannes deste ano antes mesmo de começar já precisava lidar com o fato de ter escolhido dois filmes produzidos pela Netflix em sua lista de concorrentes à Palma de Ouro. Okja e The Meyorowitz Stories levantaram debates antes mesmo de serem exibidos. Toda a polêmica vem da ideia de que é um sacrilégio que um filme que ganhe o prêmio do festival de cinema mais influente do mundo não seja exibido em uma telona. Polêmicas à parte, só penso no bando de produtores procurados pelos respectivos cineastas e toda sorte (ou azar) de coisas que os autores ouviram antes de ser rejeitados sistematicamente. Se querem reclamar, deveriam reclamar com estes produtores de cinema que não acreditaram nos projetos que estão num renomado festival - não com a Netflix que bancou os dois filmes dando total liberdade criativa, respectivamente  a Bongo Joon- Ho e Noah Baumbach. Enfim, além destes, Cannes ainda tem muito mais: os aguardados filmes de Sofia Coppola, Lynne Hamsey, Yorgos Lanthimos, Todd Haynes, do sempre premiado Michael Haneke e de  Michel Hazanavicius, doido para ressuscitar a carreira. No dia 28 de maio serão divulgados os escolhidos pelo júri presidido por Pedro Almodóvar - e que ainda conta com Jessica Chastain e Will Smith. A seguir os concorrentes ao prêmio 

"Loveless" de Andrey Zvyagintsev
 "Good Time" de Benny Safdie e Josh Safdie
 "You were never really Here" de Lynne Ramsay
"L'Amant double" de François Ozon
 "Jupiter's Moon" de Kornél Mandruczo
 "A gentle creature" de Sergei Loznitsa
 "The Killing of a sacred deer" de Yorgos Lanthimos
 "Radiance" de Naomi Kawase
 "Le jour d'après" de Hong Sangsoo
 "Le Redoutable" de Michel Hazanavicius
 "Wonderstruck" de Todd Haynes
 "Happy end" de Michael Haneke
 "Rodin" de Jacques Doillon
 "O estranho que nós amamos" de Sofia Coppola
 "120 battements par minute" de Robin Campillo
 "Okja" de Bong Joon-Ho
 "In the Fade" de Fatih Akin
"The Meyerowitz stories" de Noah Baumbach

Okja e Meyerowitz da Netflix: polêmicas antes do Festival. 

4EVER: Chris Cornell

20 de julho de 1964 17 de maio de 2017

Nascido na cidade de Seattle, Christopher John Boyle, mais conhecido como Chris Cornell, fez parte do movimento musical que colocou a chuvosa cidade novamente no mapa sonoro mundial. Com a banda Soundgarden, ele dividiu os holofotes com Nirvana, Alice in Chains e Pearl Jam no etilo que ficou conhecido como grunge e pregava oposição ao rock comercial dos anos 1990. A voz peculiar de Cornell ajudou o Soundgarden a tornar o sombrio álbum Superunknown um dos melhores álbuns de rock de todos os tempos com os hits Black Hole Sun, The Day I Tried do Live e Feel on Black Days. No século XXI, Chris ficou famoso pelos vocais de outra banda, a Audioslave, mas com o término desta em 2007 o cantor prosseguiu em carreira solo. Para quem não lembra, o cantor foi responsável pela canção "You Know my Name" tema do filme 007 - Cassino Royale (2007) que marcou a estreia de Daniel Craig na pele de James Bond. Cornell fazia tratamento contra ansiedade e realizava uma turnê pelos Estados Unidos até ser encontrado morto em um hotel sob suspeita de suicídio. 

terça-feira, 16 de maio de 2017

Na Tela: Alien - Covenant

Catherine e Michael: a síndrome do filme do meio. 

Não sei quanto a vocês mas li umas trocentas críticas negativas a Alien - Covenant - e em todas a principal reclamação era que o filme estava longe de trazer a velha forma da série Alien. Para estes, o resultado é ainda mais frustrante que Prometheus (2012), o filme que marcou o retorno do diretor Ridley Scott para o universo que ele criou em 1979 com toda a mitologia do extraterrestre com sangue ácido e a eterna pendenga com a vigorosa Tenente Ripley (Sigourney Weaver). Eu entendo todas as reclamações, mas vou tentar ser bem prático: Ridley Scott não está interessando em reproduzir aquela atmosfera, ele pretende ampliar aquela história e lhe dar um ângulo ainda mais sombrio ancorado num personagem fascinante: o andróide David. Quem viu Prometheus já percebeu que David está longe de ser confiável, ele está mais interessado em criar seus próprios experimentos e superar seu próprio deus - no caso o cientista e empresário vivido por Guy Pearce. Não bastasse a Inteligência Artificial de David inspirar medo, o personagem ainda conta com uma atuação avassaladora de Michael Fassbender, que camufla toda a frieza do personagem com uma serenidade perturbadora. Se Fassbender já eleva o interesse pelo filme, imagina quando podemos ter dois Fassbenders diante da câmera - afinal, ele também interpreta Walter, o andróide responsável por ajudar a tripulação da nave colonizadora Covenant. A Covenant tem como destino um planeta que será o destino de dois mil humanos em hibernação e milhares de embriões, além de uma tripulação formada por vários casais que acordam após um acidente.  Entre a tripulação os destaques seriam Oram (Billy Crudup) - que assume o posto de capitão após a morte do anterior - e Daniels (Catherine Waterston), a viúva do falecido. Os outros personagens não recebem muita atenção no roteiro, que, aliás é o maior problema do filme. Ambientado dez anos depois dos acontecimentos de Prometheus, Covenant dá seguimento aos fatos daquele filme, explicando o que aconteceu com os personagens que sobreviveram à busca por respostas sobre a origem da humanidade e se deparavam com o monstrengo do título (vale a pena ver o prólogo que faz a ponte entre as duas produções para entender melhor a ideia). Pena que o roteiro tem aquele estranho sabor de filme do meio - ou seja, não tem as novidades do primeiro e não revela tudo o que deveria, guardando o ápice que se espera para o terceiro - mas a receita piora quando a maioria dos diálogos são sofríveis e não desenvolvem seus personagens como deveria - mesmo a religiosidade de Oram é caricata e Daniels padece da missão de se tornar a nova Tenente Ripley (mesmo sem ter convicção para tanto). Evite o engano de que o núcleo da história é a criação do monstro, o que mais interessa a Scott é enriquecer a figura de David em sua sociopatia-cibernética. Aqui as intenções sugeridas no longa anterior se tornam explícitas e ampliadas por Fassbender - que ainda dá conta do "melhorado" Walter com as mesmas limitações de expressividade que o papel exige (Walter é uma figura tão importante que também rendeu outro filminho antes do lançamento do longa). Covenant parece uma versão espacial de A Ilha do Doutor Moreau com direito a furos (mesmo descontando o estresse da tripulação, ela é de uma incompetência gigantesca durante a missão - ao ponto de não conhecer sequer os atributos do andróide que tem a bordo e fazer tudo errado o tempo todo). Existem alguns sustos, devaneios sobre o divino e o profano, mas o que importa é que ao final fica claro quem é o centro desta nova trilogia elaborada por Scott. Enfim, o personagem e o ator certo ele já tem, mas faltou um roteiro capaz de extrair o que a sua ideia tem de melhor.

Alien - Covenant (EUA-2017) de Ridley Scott com Michael Fassbender, Catherine Waterston, Billy Crudup, Jim McBride, Guy Pearce, Noomi Rapace e James Franco. ☻☻ ☻

§8^) Fac Simile: Groot

Groot Timber Wood
Nosso repórter imaginário conseguiu uma verdadeira façanha na última semana: marcou uma entrevista com o astro mais recluso de Guardiões da Galáxia: Groot Timber Wood! Muito simpático, o conhecido ator de 35 anos respondeu a cinco perguntas nesta entrevista que nunca aconteceu - no conforto de sua casa em Los Angeles (onde ainda conhecemos sua esposa, Natalie):

§8^) Afinal de contas, quem é você?

Groot Eu sou Groot! Sei que parece estranho, mas meu pai era fã das HQs dos Guardiões desde a década de 1960 e ao ver um personagem de nossa espécie ele se sentiu verdadeiramente homenageado. Então ele me deu o nome do seu herói favorito! 

§8^) Você enfrentou muitos preconceitos quando resolveu ser ator?

Groot Muito! A começar pela minha família, todos foram Guardas Florestais, devido a nossa aparência podemos vigiar sem ser percebidos e isso é uma grande vantagem! Mas eu queria fazer algo diferente! Em Hollywood faço figuração desde a década de 1990, quando era apenas um adolescente! Aparecei até em filmes que ganharam Oscars como Forrest Gump/1994, Além da Linha Vermelha/1998 e Gladiador/2000, sempre fazendo figuração como árvore. Meu primeiro papel importante veio em O Senhor dos Anéis - As Duas Torres (2002) onde interpretei todas as árvores humanoides do filme! Foi um grande desafio, mas pude mostrar toda minha versatilidade.

§8^) É como é viver o Groot no cinema?

Groot É outro grande desafio! Já que repito sempre a mesma fala com entonações diferentes e preciso ser muito expressivo fisicamente! Acho que consigo realizar um bom trabalho e me tornei realmente popular! Só fiquei frustrado quando não fui indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo primeiros Guardiões da Galáxia. Ainda tive que ouvir meu pai dizendo "uma árvore nunca será indicada ao Oscar"! Como assim? Até Mark Wahlberg já foi indicado uma vez!

§8^) Agora no Guardiões da Galáxia - Vol. 2 você aparece em uma versão em miniatura, foi difícil fazer o Baby Groot?

Groot Foi interessante criar uma nova realidade para um personagem já conhecido. Tive que realmente voltar à minha infância! O resto é todo de efeitos especiais que utilizaram para me deixar menor. É um excelente trabalho de computação gráfica, mas o que fizeram com o meu rosto é pura maquiagem! As pessoas acham que eu não utilizo este recurso, mas na maioria dos meus trabalhos utilizo muita caracterização! O mais curioso é que no meu filme anterior, Sete minutos Depois da Meia Noite (2016) eu vivi uma árvore gigante e neste eu sou, praticamente, um brotinho!

§8^) Nossa! Era você em Sete Minutos Depois da Meia-Noite?! Eu adorei sua atuação!

Groot Muito obrigado! Foi um belo trabalho! Muito intenso e emocional. Além disso o Lewis (MacDougall, o menino protagonista do filme) é um prodígio muito talentoso! 

§8^) Você também é um ótimo ator, mas houve algum papel que você não conseguiu e ficou frustrado?

Groot Vários! Eu já tentei fazer personagens comuns, mas nunca sou o tipo certo! Fiz teste para 007 e até para um político cara de pau em House of Cards, mas sempre perco esses papéis! Fiz até teste para La La Land (2016), me elogiaram, disseram que eu cantava e dançava melhor do que os outros candidatos mas não era o tipo que eles procuravam! Mas ainda acho que o mais frustrante foi quando cortaram todas as minhas falas de Fonte da Vida (2006), onde eu faço a Árvore amiga do Hugh Jackman! Eu também era protagonista de A Árvore da Vida (2011) de Terrence Mallick e cortaram todas as minhas cenas!! Dá para acreditar? Fiz até terapia por causa disso!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Na Tela: Guardiões da Galáxia - Vol. 2

Guardiões: mais família do que nunca. 

Quando estreou o primeiro Guardiões da Galáxia (2014) o tom gaiato impresso pelo diretor James Gunn e seu elenco garantiu que o filme fosse uma grata surpresa não apenas dentro do universo Marvel, mas dentro do próprio nicho blockbuster. Os Guardiões nunca foram do primeiro time da editora e um verdadeiro mundo de possibilidades se abria para a produção - muitos estavam com o pé atrás, porém, Gunn provou que poderia fazer um filme de aventura, muito divertido e que quase não se vê mais. Os Guardiões se revelaram um verdadeiro amálgama dos elementos dos filmes de ficção científica e ainda colocou Chris Pratt na cobiçada posição de astro na pele de Peter Quill. Restava saber se a franquia manteria o pique na segunda aventura. Era de se esperar que o diretor aprofundasse as relações entre os personagens, especialmente quando explorasse a identidade do pai de Quill - e quem conhecia nos gibis sabia que seria um bocado complicado lidar com isso, afinal, Quill não é filho de um homem, mas de um verdadeiro planeta. Sorte que além de diretor engenhoso, Gunn também é um roteirista esperto e conseguiu lidar com esse ponto de forma bastante fluente. Ao colocar Kurt Russell na pele de Ego, o filme dedica sua espinha dorsal a explorar a relação deste ser celestial com seu filho, meio humano, meio divino e um tanto incerto do que deve fazer. No entanto, o tom "família" extrapola essa relação, abrangendo ainda  Yondo (Michael Rooker) - o saqueador que sequestrou Quill quando pequeno -, o zelo que todos tem com baby Groot, além da rixa entre Gamora (Zoe Saldana) com a irmã Nebula (Karen Gillan). Com tantos laços emocionais, o filme tenta manter o tom de diversão do anterior, mas o resultado soa um tanto diferente, mais emocional. Sobram cenas de aventura (afinal, a equipe é perseguida por saqueadores, "soberanos" e um vilão que se revela aos poucos), mas mantem o humor que fez Gunn manter o controle criativo da série - é verdade que o humor às vezes parece apenas infantil - especialmente nas cenas de Drax (Dave Bautista, ainda mais a vontade diante da câmera) com a auxiliar de Ego, Mantis (Pom Klementieff) -, mas as risadas no cinema demonstram que o povo não se importa. Embora tenha perdido o gosto de novidade do anterior, Guardiões da Galáxia 2 tem alguns méritos que merecem ser destacados. O primeiro é conseguir lidar com um grupo de personagens ainda maior com equilíbrio; o segundo é conduzir um exagero de referências para alimentar ainda mais os próximos filmes da série; o terceiro (e mais importante) criar um vilão de respeito (ponto que já foi destacado como o mais fraco nos filmes da Marvel, incluindo no primeiro Guardiões). Ao fim da sessão (e suas cinco cenas pós-créditos), James Gunn parece ter realizado as três tarefas a contento - e estar fervilhando de ideias para uma terceira aventura.

Guardiões da Galáxia - Vol.2 (Guardians of the Galaxy - Vol. 2) de James Gunn com Crhis Pratt, Zoe Saldana, Bradley Cooper, Karen Gillan, Micahel Rooker, Dave Bautista, Kurt Russell, Pom Klementieff, Sean Gunn e Vin Diezel. ☻☻☻ ☻

domingo, 14 de maio de 2017

Combo: Mãe e Filha

05 Ricki and the Flash (2015)
Ainda que o último filme de Jonathan Demme tenha lá os seus defeitos, a história da roqueira (Meryl Streep) que reencontra os filhos problemáticos depois de anos se dedicando à carreira ganha pontos pela química entre Meryl e a atriz que faz sua filha depressiva, Mamie Gummer (filha de Meryl com o escultor Don Gummer). Vale lembrar que Meryl ainda tem outra filha atriz, Grace Gummer (atualmente na série Mr. Robot) e que Mamie já interpretou a versão jovem da personagem de Meryl em Ao Entardecer (2007).

Depois de Creative Nonfiction/2009 e antes da série Girls (2012-2017), Lena Dunham chamou atenção pelo seu trabalho neste filme independente onde a jovem atriz já deixava claro o seu estilo: diálogos sinceros, relacionamentos truncados e a busca por um realismo despojado. A protagonista da história é Aura (Dunham) que ainda não sabe muito bem o que fazer da vida e ainda precisa acertar alguns ponteiros no relacionamento com a mãe, a fotógrafa Siri (Laurie Simmons). A veracidade no relacionamento das duas não acontece por acaso, Laurie e Lena são mãe e filha na vida real. 

03 Casa de Areia (2005)
Por conta de um mal negócio, mãe e filha estão condenadas a viver no meio de um verdadeiro deserto por muito tempo. Conforme o tempo passa, as atrizes se revezam nos papéis de mãe e filha e o resultado seria bem menos interessante se os papéis não fossem vividos pelas consagradas Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. São elas que conseguem manter o interesse num filme que mistura melancolia e surrealismo - e alguma dose de inspiração na obra de Gabriel García Marques. Fernanda mãe e Fernanda filha estão muito bem em cena, como sempre. 

02 Ao Entardecer (2007) 
Só o elenco já merecia que este filme fosse mais conhecido. O fato é que Ao Entardecer se tornou um dos últimos trabalhos de Natasha Richardson (esposa de Liam Neeson), a atriz faleceu dois anos depois por conta de um acidente. Além disso, o filme promove o último encontro de Natasha com a mãe na telona, a icônica Vanessa Redgrave. O encontro das duas é mais um trunfo do filme. Elas vivem mãe e filha numa história em que a memória e o tempo fazem toda a diferença. A renomada Vanessa possui outra filha atriz, Joely Richardson que ficou famosa por seu trabalho na série Nip/Tuck (2003-2010) de Rian Murphy. 

01 As Noites de Rose (1991)
Diane Ladd e Laura Dern são praticamente especialistas em como mãe e filha devem trabalhar juntas! As duas já apareceram juntas várias vezes (Coração Selvagem/1990, Ruth em Questão/1996, na série Enlightned...) e por este filme da diretora Martha Coolidge (que atualmente se dedica mais à TV) as duas foram indicadas ao Oscar, Laura como melhor atriz e Diane como coadjuvante. Ao todo, Diane foi indicada ao Oscar três vezes e Laura duas, se somarmos as duas do papai Bruce Dern, veremos que juntos os três formam uma das famílias mais queridas de Hollywood!