Close e Malkovich: entre o amor e a orgia.
Antes da Revolução Francesa enquanto os intelectuais cuidavam de minar os preceitos da nobreza um outro grupo de pessoas, os escritores, cuidavam de minar a vida íntima dos nobres. Afinal de contas, consideravam que o povo precisava saber o que seus duques, condes, barões, reis e rainhas faziam enquanto a população se matava para pagar os impostos cada vez mais altos. Esse movimento literário ficou conhecido como Literatura Libertina (afinal, o que você pensa que os nobres faziam em seus castelos com dezenas de quartos?) e tem como símbolo máximo o Marques de Sade. No entanto, a obra que ficou mais famosa desse período é de Chordelos de Laclos, no caso o autor de As Ligações Perigosas que já recebeu umas cinco versões para o cinema e tem na versão de Stephen Frears a sua mais famosa transposição. O filme leva para as telas as tramóias de Marquesa de Merteuil e seu amigo Conde Valmont, mais do que amantes os dois são cúmplices em suas conspirações de alcova para macular mocinhas inocentes ou desvirtuar senhoras de respeito. Merteuil (Glenn Close, magnífica no papel de sua vida) para se vingar de um desafeto pede para que Valmont (John Malkovich) leve sua noiva virginal (Uma Thurman) para a cama, em troca Merteuil cederia aos apelos de Valmont. como seduzir uma mocinha é fácil, Merteuil pede algo mais para cumprir sua parte do acordo, que desvirtue a exemplar Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer, indicada ao Oscar de coadjuvante) que já foi avisada sobre a má fama do conde. O problema é que Valmont começa a se sentir atraído por todas as qualidades de sua presa. Essa paixão que o coloca no impasse de escolher entre a orgia e a devoção à uma única mulher pode ser sua salvação ou a sua ruína. É difícil dizer todos os acertos de Frears nessa produção exuberante, o roteiro é uma jóia (ganhou o Oscar de roteiro adaptado, merecidamente), as atrizes estão espetaculares, os figurinos, direção de arte (outro Oscar...), a fotografia tudo é perfeito. Não por acaso o filme foi o mais comentado de 1988, mesmo tendo uma outra adaptação da mesma obra no páreo (Valmont de Milos Forman), mas beira o impossível outra produção de época saber construir um clima de sedução com tanta maestria e ao mesmo tempo sufocar o romantismo com tanta crueldade (nem Frears conseguiu acertar novamente com o recente Chéri). É como se amor e sexo travassem uma guerra. Frears segura nosso fôlego até a antológica cena final em que Glenn Close tem uma das melhores cenas do cinema sem dizer uma palavra. Simplesmente um clássico.
Ligações Perigosas (Laisons Dangerous/EUA-Inglaterra, 1988) de Stephen Frears, com Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman e Keannu Reeves. ☻☻☻☻☻
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