segunda-feira, 25 de agosto de 2014

DVD: Chamada de Emergência


Berry: será que ela leu o roteiro até o final?

Nada pode mudar o fato que Halle Berry é a primeira (e única) negra a ganhar o Oscar de melhor atriz. Para mostrar o mérito dessa tarefa, basta lembrar que recentemente Viola Davis (Histórias Cruzadas/2011) perdeu mesmo quando era favorita - e no passado o mesmo aconteceu com Whoopi Goldberg em A Cor Púrpura/1985. Em A Última Ceia/2000, Berry exibiu (além do corpo) dotes dramáticos que até então eram vistos com desconfiança (e o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim prova que o Oscar foi merecido). O problema é que a maldição do Oscar agarrou na atriz com gosto, já que ela encontra uma dificuldade gigantesca de escolher roteiros que prestem. Quando não está em uma franquia milionária (como X-Men), Halle padece em filmes que se perdem pelo meio do caminho - e de nossa memória. Chamada de Emergência até se tornou uma exceção na lista de fracassos, já que o orçamento minguado (13 milhões de dólares) permitiu que a arrecadação nos cinemas americanos o tornasse um sucesso (quase 52 milhões de dólares). O fato é que Chamada de Emergência funciona em seus dois primeiros terços como um suspense eficiente, apesar dos exageros no meio do caminho. Halle interpreta Jordan, uma atendente de do conhecido 911 que sofre um trauma quando o assassino conversa com ela e, dias depois, descobre que uma das suas clientes foi brutalmente assassinada. Impossibilitada de filtrar a situação, ela passa meses no trabalho de instrutora até que, diante de uma emergência, suas habilidades terão que ser utilizadas novamente. Halle convence quando Jordan precisa ser astuta ao telefone para guiar as ações de uma jovem vítima de sequestro (vivida pela crescida Miss Sunshine Abigail Breslin). O filme consegue criar saídas engenhosas e momentos de tensão que compensam os momentos apelativos (a vítima pedindo para dizer aos pais que os ama muito ou o desespero ao ver uma chamada  do namorado) e outros em que a edição sucumbe à linguagem de clipes. O fato é que existe uma boa química entre Berry e Breslin, o que mantém a atenção do espectador quando "contracenam" pelo telefone. Mas como roteiros enxutos e redondos estão fora de moda, torna-se necessárias surpresas a qualquer preço... e aí o filme vai ladeira abaixo. Quando o roteiro dá sua guinada e tudo parece perdido o espectador até se conforma com o desfecho eminente, perdoando até a coincidência que já era esperada. A coisa complica quando Jordan torna-se mais esperta do que qualquer detetive do filme, colocando a vida dela de da vítima em risco, caminhando sozinha para resolver a situação. Nesse ponto o filme fica desgovernado, vale traumas de infância, porões sinistros, motivações bizarras... mas nada é mais ridículo do que a bandeira dos Estados Unidos tremulando no último ato. Sinal da coragem feminina americana? Isso era realmente necessário? Pior que isso só o final desconjuntado que prega a justiça feita com as as próprias mãos da forma mais descarada possível. O diretor Brad Anderson (O Operário/2004), depois de passar anos dirigindo episódios para seriados variados, aceitou esse trabalho por encomenda e perdeu a chance de criar um suspense bacana para criar mais um destinado ao esquecimento. No entanto, a maior questão do filme é: Halle Berry (que é uma boa atriz) não tinha nada melhor para filmar? Ainda acho que essa bobagem tem relação com aceitar o convite de estrelar a série Extant da CBS, produzida por Steven Spielberg. 

Chamada de Emergência (The Call/EUA-2013) com Halle Berry, Abigail Breslin, Morris Chestnut, Roma Maffia, Michael Eklund e Michael Imperioli. 

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