Os Crawley e seus empregados: tentando colocar a série nos eixos.
Comecei a assistir Downton Abbey quando ela estava prestes a chegar à sua quarta temporada. Até então ela era elogiada pelo retrato da relação de classes numa sociedade que se despedia da aristocracia com o caminhar do século XX. O retrato da época e seus conflitos era excelente, numa obra irretocável. Criada por Julian Fellowes, roteirista oscarizado por Assassinato em Gosford Park (2001), a série aprofunda aspectos que o filme de Robert Altman já abordava em suas mais de duas horas de duração. Produzida desde 2010 e com temporadas curtas, com menos de dez episódios, a série teve seu auge até pouco tempo, mas despertou a revolta do público quando na terceira temporada resolveu matar a feminista Lady Sybil (Jessica Brown Frindlay) durante o parto e o adorado Matthew Crawley (Dan Stevens), ambos quando suas vidas amorosas rendiam suspiros da plateia. Diante da catástrofe, os roteiristas tiveram que sofrer para dar conta da quarta temporada, que patinou para segurar uma temporada não mais do que morna e só evidenciou que talvez o assunto daquele universo estivesse chegando ao fim. Sem os romances desenvolvidos até ali, com personagens interessantes na geladeira (como o homossexual Thomas vivido por Rob James-Collier que nunca recebe o destaque que merecia) ou em tramas pouco interessantes, a quarta temporada serviu para apresentar uma prima pouco interessante (que curte jazz), massacrar um pouco mais a solteirona Lady Edith (Laura Carmichael) e colocar o casamento dos empregados John (Brendan Coyle) e Anna (Joanne Frogatt) em crise por conta de um estupro. No meio do marasmo que virou a vida em Downton, a única que se deu bem foi Joanne Frogatt, afinal, a atriz foi lembrada pela primeira vez no Globo de Ouro (na categoria atriz coadjuvante de produção para TV e derrotou as favoritas da premiação). A quinta temporada tem como função passar a borracha na última temporada, sem chorar pelo leite derramado (já que não pode ressuscitar Matthew e Sybil para curar a melancolia que se abateu pela família Crawley) e ainda retomar temas importantes para a série como os conflitos de classe, o feminismo e outros aspectos de um mundo em tranformação. Pelo que se viu nos dois episódios já exibidos da quinta temporada, percebe-se que Lady Mary Crawley (Michelle Dockery) está disposta a dispensar o luto para viver um romance capaz de levantar a audiência com Lord Gilligham (Tom Cullen), embora polêmicas se anunciem. Outra que promete ter problemas é Lady Edith, que tem problemas com a filha secreta (que mantem escondida da família enquanto espera seu pretendente aparecer depois que sumiu na Alemanha). Os roteiristas pretendem colocar fogo na família Crawley (como o primeiro episódio deixou tão claro) e deve sobrar polêmicas até para o lado das matriarcas Violet Crawley (Maggie Smith) e Cora (Elizabeth McGovern). Criando tramas paralelas para quase todos os seus personagens (que incluirá ainda suspeitas de assassinato) os produtores pretendem levantar o ânimo de uma série adorada mundialmente, mas que pagou alto pelo seu vício de eliminar personagens importantes no meio do caminho (a nova temporada já se livrou de um: Ed Speleers, objeto de desejo de Tom que se despediu da mansão no segundo episódio). Em termos de narrativa sobre um mundo em transformação, percebi que a edição dos episódios ficou mais ágil (o que não considerei apropriado) e com mais humor entre as cenas (que funciona bem com personagens que já conhecemos tão bem). Espero que Downton Abbey fique no ar por tempo suficiente para colocar suas ambições novamente nos eixos, especialmente com relação a conflitos de personagens veteranos que merecem voltar ao centro dos episódios (e eu adoraria ver mais participações de Shirley McLaine e Paul Giamatti).
Downton Abbey (Reino Unido - EUA) de Julian Fellowes com Jim Broadbent, Maggie Smith, Michelle Dockery, Elizabeth McGovern, Allen Leech e Joanne Frogatt. ☻☻☻
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