Tenho certo problema ao ver filmes de espionagem, geralmente eu nunca entendo muito bem o que está acontecendo e só costumo me aventurar pelo gênero de forma satisfatória quando descubro que está é a intenção mesmo. Assisti a Código Preto com o pé atrás, mesmo diante das resenhas positivas que já havia escutado sobre o filme dirigido por Steven Soderbergh. Faz algum tempo que a assinatura ilustre do diretor oscarizado por Traffic (2000) deixou de ser uma referência de grandeza, afinal, o cara já fez de tudo desde então, entre eles alguns filmes dignos de nota e outros que servem como passatempo (este a grande maioria de sua produção nos últimos anos). A graça é que Código Preto é um filme o qual se assiste com grande prazer, especialmente pelo trato elegante que o diretor oferece para uma trama que parte de um ponto de partida bastante corriqueiro: temos um traidor entre nós (e, não chega a ser muito original, a suspeita recai sobre a esposa de um dos agentes que também é uma agente). Para encher mais os olhos, o casal é vivido por Michael Fassbender e Cate Blanchett (cujo o rosto aqui parece uma máscara usando uma peruca de cabelos castanhos). Assim, quando recai sobre George (Fassbender) a tarefa de descobrir se sua esposa, Kathryn (Blanchett) é uma traidora, uma série de situações envolvendo seus colegas de trabalho são reveladas e nem tudo é o que parece. Sobra para a psicóloga (Naomie Harris), o amigo Freddie (Tom Burke), o ambicioso James (Regé-Jean Page), a astuta Clarisa Dubose (Marisa Abella) e até o chefe (vivido por Pierce Brosnan). O que dá um tempero especial também são as pitadas de humor, como aquela em que um gélido George tremendo ao imaginar que sua esposa será desmascarada e Clarissa nos revela o segredo para enganar um polígrafo. O filme vai contra a maioria dos filmes do gênero e investe na tensão através de diálogos (bastante claros e bem escritos pelas teclas de David Koepp) e, por vezes, se dá ao luxo de criar os momentos mais tensos com os personagens sentados em volta de uma mesa de jantar. A ideia de ressignificar uma ideia tão prosaica como um jantar entre amigos faz com que o filme por vezes demonstre uma surpreendente verve teatral em sua execução, o que ajuda ainda mais a destacar que o elenco e a direção aqui fazem toda a diferença. Falando em fazer a diferença, que delícia é ver Marisa Abella em cena na pele da esperta Clarissa, é notável perceber como mesmo em cenas em que contracena com gigantes como Fassbender e Blanchett a atriz consegue rouba-las para si. Fiquei até com vontade de ver aquela biopic da Amy Winehouse lançada no ano passado (Back to Black) em que a moça vive a cantora. Para concluir, o filme que começa como uma trairagem entre espiões acaba se tornando uma história de confiança no casamento. O amor (quando o filme é bom) é lindo!
O Código Preto (Black Bag / EUA - 2025) de Steve Soderbergh com Michael Fassbender, Cate Blanchett, Tom Burke, Marisa Abella, Naomir Harris, Regé-Jean Page e Pierce Brosnan. ☻☻☻
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