terça-feira, 21 de julho de 2015

Na Tela: Correr e Pular

Will e Maxine: fazendo o que o título manda. 

Eu não imaginava que o filme Correr e Pular fosse ficar tanto tempo em cartaz no Brasil. Depois de ser exibido no Festival Internacional de Cinema de São Paulo em outubro, o filme entrou em cartaz no dia 18 de dezembro de 2014 em algumas cidades do país e encontra-se ainda em cartaz na cidade do Rio de Janeiro (ainda que em uma única sala). Minha surpresa não é por questionar as qualidades do filme, mas por ser uma obra onde as situações falam mais alto do que os diálogos, que na grande maioria das cenas são até dispensáveis. O sucesso do filme pode ser atribuído pela forma sensível como a diretora Steph Green conta uma história difícil, afinal, gira em torno de uma família irlandesa que sofre fortes mudanças depois que o patriarca sofre um AVC. Quando o filme começa, Conor (Edward MacLiam) acaba de retornar para a casa após despertar do coma. Sua esposa (Maxine Peake) está disposta a ajudar em tudo o que for possível para que a rotina da casa volte ao normal, ou pelo menos, encontre um ponto cômodo dentro da nova realidade da família perante as sequelas do esposo. Conor ganhava a vida como marceneiro e seu retorno para casa inclui reatar os laços com os filhos, a pequena Noni (Ciara Gallagher) e o filho adolescente Lenny (Brendan Morris). Junto com o patriarca, chega à casa o médico americano Ted Fielding (Will Forte), responsável por estudar o caso, registrando o  cotidiano do paciente com uso de uma câmera e relatórios, além de acompanhar seu desenvolvimento com alguns exercícios prescritos. Correr e Pular se desenvolve de forma bastante simples, com cenas que parecem soltas,  que só denota o flerte com o tom documental (não apenas por conta das filmagens de Ted, mas porque a própria diretora Steph Green é uma documentarista  de mão cheia - foi até indicada ao Oscar pelo curta New Boy em 2008). O tom realista retrata a dificuldade cotidiana dos familiares ao lidar com a presença de um Conor diferente que demonstra alguns avanços, não apenas em sua conduta física como sócio-afetiva ao longo da história. Ainda que o roteiro invista no interesse de Vanetia por Ted (mais por conta da confusão dos sentimentos que ela atravessa do que por tesão propriamente dito), esse é apenas um indício do que o filme tem de mais interessante: o olhar de um pesquisador sobre o universo pesquisado. Ted é basicamente apresentado como um cientista e, como tal, evita envolver-se com o ambiente de sua pesquisa, o que é praticamente impossível. Ele mesmo explica para Vanetia que seu relatório é apenas científico (e explica utilizando as palavras mais frias possíveis sobre o estado de Conor), mas a neutralidade mostra-se impossível. Seja através da interação com os problemas de Lenny ou as brincadeiras de Noni, Ted está envolvido até o pescoço com a família que interage, ainda que evite ao máximo se envolver. O então comediante Will Forte, que fez o filme no mesmo ano que o aclamado Nebraska, demonstra mais uma vez que dá conta de um personagem dramático sem esforço, seu olhar triste é tão abrasivo quanto o de sua parceira de cena, Maxine Peake. Diante da proposta do filme, a interação entre os atores mostra-se o mais importante no desenvolvimento da história. Embora eu considere que alguns aspectos merecessem ser mais aprofundados (como os dilemas de Lenny e a própria atração de Vanetia por Ted), Correr e Pular consegue ser um bom filme por sua sinceridade e carinho no retrato dos personagens que buscam novos papéis numa família diferente da que estavam acostumados.

Correr e Pular (Run and Jump/Irlanda-Alemanha/2013) de Steph Green com Will Forte, Maxine Peake, Edward MacLiam, Ruth McCabe e Brendan Morris. ☻☻☻ 

2 comentários:

  1. Eu assisti e achei tudo muito delicado e envolvente. A trama é muito realista e consegue mostrar a vida como ela é. Recomendo.

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  2. Eu assisti e achei tudo muito delicado e envolvente. A trama é muito realista e consegue mostrar a vida como ela é. Recomendo.

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