Paul e Kathryn: esperando eternamente.
A americana Tamara Jenkins foi indicada ao Oscar de melhor roteiro original pelo seu segundo longa-metragem, a comédia dramática A Família Savage (2007) que partia de um tema raro no cinema: o dilema de dois irmãos ao colocarem o pai em um asilo. A ideia funcionou tão bem que Laura Linney foi até indicada ao Oscar de melhor atriz naquele ano (e Phillip Seymour Hoffman foi lembrado no Globo de Ouro). Ali, Jenkins demonstrou sensibilidade na escrita e na direção ao abordar momentos complicados da vida familiar. Sem apelar para glamour ou exageros (dramáticos ou cômicos), a diretora soube construir uma história envolvente sobre pessoas comuns. Esta habilidade ela demonstra novamente neste Mais Uma Chance, em cartaz na Netflix e que já apareceu em várias listas de melhores filmes do ano (pois é, elas já estão surgindo), filme que aborda as desventuras de um casal que já passou dos quarenta anos e que ainda tentam ter um filho. Poderia ser um drama pesadão, mas o resultado é bem melhor do que isso. Desde a primeira cena é fácil simpatizar com Rachel (Kathryn Hann) e Richard (Paul Giamatti) em seus esforços para ter um bebê, no entanto, o destino sempre reserva uma surpresa desagradável para o casal ao longo das tentativas. Ainda que se amem e sejam cúmplices, torna-se perceptível o desgaste provocado por tanto investimento financeiro, físico e emocional sobre um desejo que nunca se concretiza. Explorando todas as possibilidades (exames variados, adoção, inseminação artificial, doação de óvulos...) o roteiro também explora a forma desagradável como a vida íntima dos dois é exposta diante de todas as iniciativas tomadas ao longo da história. A coisa parece que vai melhorar com a chegada de Charlotte (Emily Robinson), a quase sobrinha de Richard (o irmão dele é padrasto dela), que promete ajudar o casal - e rende um verdadeiro mal entendido no dia de Ação de Graças. A chegada da adolescente não apenas rende novas esperanças ao desgastado casal como também lhes oferece o prazer de sentir o gosto de ter uma terceira pessoa que os admira em casa (Rachel é escritora e Richard mantem a companhia de teatro em que os dois se conheceram), a forma como esta "nova família" se forma deixa o filme ainda mais sensível e terno. Além do roteiro belamente escrito (que mistura emoções variadas como cumplicidade, frustração, crise, perda...) que mistura drama e humor na medida certa, outro grande acerto está no elenco. Kathryn Hann está ótima em cena, tendo a oportunidade de se destacar em um papel bem mais elaborado do que recebeu ao longo de sua carreira. Paul Giamatti está bem como sempre em mais um papel que parece escrito para ele - e a dupla está muito bem acompanhada pela novata Emily Robinson e Molly Shannon (mais uma vez despida de sua persona cômica). Enfim, Mais Uma Chance é mais um belo olhar da diretora sobre o drama de pessoas comuns realizado com olhar bastante astuto.
Mais Uma Chance (Private Life/EUA-2018) de Tamara Jenkins com Paul Giamatti, Kathryn Hann, Emily Robinson, Molly Shannon e John Carroll Lynch. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário