Motti e a mãe: desafiando as tradições.
Eu admito que costumo ser bem impaciente com comédias. Geralmente desisto delas em poucos minutos - não me pergunte exatamente o motivo, só sei que acontece. No entanto, quando encontro alguma que me convence a assistir até o final eu fico não apenas surpreso como extremamente grato. Foi isso que aconteceu com O Despertar de Motti, filme que nunca havia escutado falar e que assisti sem maiores pretensões na noite de ontem. A trama gira em torno de Motti (o simpático Joel Basman), um jovem judeu que já está um tanto cansado da pressão familiar para que se case. A maior interessada (e articuladora) para que isso aconteça é sua mãe, a zelosa Judith (Inge Maux que não tem medo de exagerar em todos os estereótipos deste tipo de personagem). Judith não cansa de arranjar encontros para o rapaz, mas faz de conta que não percebe o desinteresse do moço nas futuras esposas judias que ela lhe arranja. Motti na verdade está interessado em uma colega da faculdade, Laura (Noémie Schmidt) que está bem longe do tipo almejado por sua mãe, principalmente no que se refere ao primeiro item das exigências: ter origem judaica. Conforme cresce o interesse de Motti pela colega, ele começa a se afastar do que seus familiares esperam que ele faça e, com isso, o filme ganha corpo sobre uma base bastante interessante: encontrar os rumos da própria vida. O roteiro é cheio de analogias às tradições que o protagonista precisa respeitar, algumas sérias e outras que parecem existir por puro hábito (as armações dos óculos por exemplo) e ajuda muito a forma como Joel Basman encarna o personagem como um jovem perdido que ainda tenta encontrar sua identidade dentro de um universo um tanto opressor. Leve e divertido, o filme aborda alguns aspectos da cultura judaica se equilibrando numa verdadeira corda bamba para não ser desrespeitoso, no entanto, não perde a chance de ensinar ao personagem que os caminhos do coração podem ser um tanto enganosos. Outro detalhe que aproxima o espectador da história é o fato de Motti quebrar a quarta parede, conversando com o público olhando diretamente para a câmera, o que ajuda a digerir até quando o roteiro não desenvolve alguns caminhos conforme deveria (como a armação pouco aproveitada do rapaz com uma de suas pretendentes ou quando ele vai morar com uma garota). O Despertar de Motti é um bom passatempo e tem um dos raros finais em aberto que faz pleno sentido.
O Despertar de Motti (Wolkenbruchs wunderliche Reise in die Arme einer Schickse / Suíça - 2019) de Michael Steiner com Joel Basman, Noémie Schmidt, Udo Samel, Inge Maux e Lena Kalisch. ☻☻☻
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