Benedict: futuro destruído pelo passado.
Fiquei um tanto zonzo ao assistir ao primeiro episódio da minissérie Patrick Melrose. Não lembro de ter visto um personagem utilizar, por tanto tempo, tamanha variedade de drogas diante da câmera enquanto a produção tenta reproduzir os efeitos delas com a edição, o som, a luz... Darren Aronofsky demonstrou que isso era possível naqueles cinco (?) minutos intermináveis de Réquiem para Um Sonho/2000, mas aqui o mal estar se estica por quase uma hora. O motivo para este abismo fica um tanto nebuloso, já que assim que o episódio começa, Patrick (o ótimo Benedict Cumberbatch) não parece muito triste quando recebe a notícia do falecimento do pai (Hugo Weaving). A causa parece ser algo muito maior e pior até. Alguns críticos identificaram que o programa exagera no glamour (e a elegância de seu protagonista ajuda ainda mais a tecer esta observação) perante uma história sombria, mas se o protagonista (e quem está ao seu redor) pertence à elite da sociedade londrina, considero justificável que esta casca endinheirada esconda camadas de podridão vestidas com roupas de perfeitas e joias caras. Baseado nos cinco livros de Edward St. Aubyn, a minissérie opta por começar pelo segundo livro para só depois retomar o primeiro da coleção, explicando o que se esconde por trás das atitudes de Patrick. Com uma infância marcada por um pai abusivo e uma mãe ausente, crescer não foi nada fácil para ele. O refúgio em todo tipo de substância que pudesse lhe proporcionar momentos de fuga torna-se até compreensível, mas a série quer mostrar algo mais ao condensar cada livro em uma hora de programa. No terceiro episódio, Patrick está lutando para ficar sóbrio, no quarto sua vida parece ter entrado nos eixos (mas ele permanece desconfortável) e no último está tudo prestes a se perder ou se encaixar novamente. Benedict Cumberbatch vive cada momento deste personagem com maestria e ressalta o que o texto tem de mais agudo e cruel em vários momentos - incluindo aqueles em que nada deveria ser dito. Enquanto junta seus cacos por dentro, Patrick Melrose cria episódios que compõem uma espécie de filme com cinco horas de duração com um elenco apropriado para trazer vida à uma jornada que flerta constantemente com a autodestruição. O programa lida com aquelas feridas que demoram para cicatrizar e mistura drama e doses de humor maldoso para disfarçar toda a dor que existe debaixo da pompa endinheirada que emoldura cada cena. Ao que parece, Edward St. Aubyn criou a história com bastante propriedade inspirado em sua própria vida e reconhece que em alguns momentos no humor cruel de sua narrativa. Esta é a base para que Patrick Melrose pareça um ácido que faz cócegas enquanto corrói a própria carne.
Patrick Melrose (Reino Unido - 2018) de Edward Berger com Benedict Cumberbatch, Hugo Weaving, Jennifer Jason Leigh, Sebastian Maltz, Jessica Raine e Pip Torrens. ☻☻☻☻
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