quarta-feira, 8 de março de 2023

Na Tela: Os Fabelmans

 
Gabriel: talento promissor. 

Os Fabelmans é um daqueles filmes que revelam como estou me tornando um velho rabugento. Vou começar dizendo que o filme é tecnicamente impecável: fotografia, trilha sonora, montagem, reconstituição de época... tudo está no lugar certo, no entanto, o filme não me empolgou. Confesso que fui de peito aberto para gostar do filme em que Steven Spielberg apresenta suas memórias familiares e cinematográficas para a plateia. É interessante como ele mistura estes dois aspectos de forma quase uníssona, passando pelo apoio incondicional da mãe (vivida por Michelle Williams) e até do pai (Paul Dano). A parte inicial do menino indo ao cinema pela primeira vez faz qualquer um lembrar de como o cinema entrou em nossas vidas, também é bonitinho como ele começa a realizar suas primeiras produções domiciliares, mas depois... tem mais de duas horas de filme. É verdade que em toda a onda recente de cineastas que contam sua relação com o cinema (fruto da autorreflexão gerada pelo isolamento da pandemia?), a de Spielberg é a visualmente mais exuberante, o que não impede que tenha vários aspectos vistos em outras obras que beberam na mesma fonte recentemente. No entanto, este não é o maior problema. Spielberg já foi criticado pela sua forma como apresenta as famílias saídas de um comercial de margarina e aqui ele capricha ainda mais. É tudo feito com doses fartas de açúcar que por vezes soa até artificial, tão artificial como a atuação de Michelle Williams, que está indicada ao Oscar de melhor atriz sendo coadjuvante na história. Michelle é uma ótima atriz, mas seu desempenho em alguns momentos é tão exagerado que por vezes se torna irritante. Enfim, está fora do tom. Entendo que ela gera o grande drama familiar da história de uma família que, por conta do trabalho tecnológico do pai, teve que lidar com várias mudanças de um lugar para o outro. Paul Dano está melhor como o pai que merece o céu na terra, mas é tão consciente de seus deveres que por vezes esquece de viver (e talvez por este motivo tenha sido esquecido entre as indicações ao Oscar, sendo preterido em nome do veterano Judd Hirsch que tem menos de dez minutos em cena e cravou uma indicação de coadjuvante). A sorte mesmo é ter Gabriel Labelle como o alter-ego de Spielberg, o jovem Sam Fabelman, ele convence em sua paixão pelo cinema, convence como  o rapaz que não se adequa à nova escola e nos conflitos que se instauram com a mãe. Consigo imagina-lo como o pequeno gênio que encontra decisões criativas para simular que uma arma de brinquedo dispara ou que um pássaro resolveu sujar alguns colegas no vídeo do dia na praia. O problema é a costura adoçada com doses exageradas de glicose, mesmo nos momentos mais dramáticos que parecem resolvidos magicamente. Até mesmo a alardeada participação de David Lynch na cena final me pareceu menor do que eu desejava. É evidente que a Academia adorou o filme e lhe rendeu sete indicações na premiação que se aproxima (filme, direção, atriz, ator coadjuvante, roteiro original, trilha sonora e design de produção): um dos diretores mais famosos de Hollywood, uma trama de amor ao cinema e a produção caprichada contam pontos suficientes para lembrarem do filme. É bonitinho (e só). 

Os Fabelmans (The Fabelmans / EUA -2022) de Steven Spielberg com Gabriel Labelle, Michelle Williams, Paul Dano, Seth Rogen, Judd Hirsch e Sam Rechner. 

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