sexta-feira, 3 de março de 2023

#FDS Terror: Pearl

 
Pearl: Mia Goth digna de Oscar. 

Ao assistir o filme X de Ti West (disponível no Prime Video) era fácil perceber que havia algo de diferente por ali. A ideia de uma trupe da indústria pornô dos anos 1970 que padece nas mãos de um casal de velhinhos aparentemente inofensivos trazia camadas interessantes sobre o conservadorismo, o medo de envelhecer e a própria história dos slasher movies. Além disso, trazia uma grata surpresa ao colocar Mia Goth na pele de duas personagens, a ambiciosa pornstar Maxine e a idosa dona do local, Pearl. Mia já brilhava ao dar conta das duas mullheres que se refletiam feito um espelho distorcido e West percebeu que explorar um pouco mais aquela enigmática senhora poderia ser muito interessante. Dizem que Pearl nasceu das conversas de Goth com o diretor sobre a história da personagem que fez com que ela se comportasse da forma como vimos anteriormente, escrito pela atriz e o cineasta, o filme recebeu elogios assim que foi lançado (incluindo do mestre Martin Scorsese) e algumas comparações com Coringa/2019 de Todd Phillips. Pearl (Mia Goth) é uma jovem que sonha em ser artista de cinema, mas vive quase isolada na fazenda de sua família, o pai (Matthew Sunderland) precisa de cuidados especiais por conta de um AVC e a mãe (a ótima Tandi Wright) é pura rigidez para conter os impulsos que sua filha é capaz de ter. Pearl também é casada, mas seu esposo está na guerra e se antes já a decepcionou por optar por morar longe da cidade, a ideia de que ele a deixou para morrer nos campos de batalha a torna ainda mais decepcionada. Se não há nada demais nas ambições da protagonista, os problemas aparecem logo nas cenas iniciais quando ela desconta sua raiva de um mundo que parece ignorá-la nos animais da fazenda e, mais tarde, com outros personagens que atravessam seu caminho. Neste trajeto, além de seus pais, dois personagens merecem destaque, a cunhada (Emma Jenkins-Purro) e o projecionista do cinema local (David Corenswet) que alimentam as ambições da garota sem se darem conta do que está por vir. West bebe nos clássicos do terror mais uma vez para construir uma narrativa ainda mais tensa do que em X, além disso mistura tudo com o tempero de O Mágico de Oz (1939) na construção de uma estrutura de fantasia que está prestes a ruir. Assim, ele cria cenas tão estranhas como memoráveis (como a do espantalho ou o jantar mórbido com a família), mas nada que se compare ao monólogo de Pearl com a cunhada em que confessa todos os seus pecados. Vale destacar que Mia Goth está magnífica em cada cena criando uma personagem complexa, tão triste quanto insana e não era exagero dos fãs que aguardavam uma indicação ao Oscar para a moça (mas o Oscar tem lá sua resistência com os filmes de terror). Mia teve que se contentar com indicações a prêmios da crítica e ao Independent Spirit, mas, de fato, merecia mais. O filme carimbou de vez na carreira de Goth (que é neta da atriz brasileira Maria Gladys) o selo de musa do terror cult atual, além de criar ainda mais expectativas para MaXXXine a terceira parte da trilogia imaginada por Ti West e sua musa. 

Pearl (EUA-2022) de Ti West com Mia Goth, Tandi Wright, David Corenswet, Emma Jenkins-Purro, Matthew Sunderland e Amelia Reid. ☻☻☻☻

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