domingo, 13 de março de 2011

Catálogo: A Vida é Dura


Darlene e Dewey: Johny & June com muita peroba.

Hollywood parece ter esquecido como se faz uma paródia e o efeito disso é que o público esquece o que é uma paródia legítima em meio a bobajadas como Todo Mundo em Pânico, Super Herói - O filme, Espartalhões. O que piora  tudo é que enquanto essas porcarias encontram lugar nos cinema, uma comédia esperta como A Vida é Dura é lançada diretamente no DVD e corre o risco de ficar empoeirando nas prateleiras brasileiras. O filme é um deboche muito bem armado sobre as cinebiografias de astros da música, especialmente as voltadas para a vida de Ray Charles (Ray/2004) e Johny Cash (Jonhy & June/2005). As ousadias ficam por conta dos roteiristas Judd Apatow (O virgem de 40 anos) e Jake Kasdan (filho de Lawrence Kasdan) que atiram para todos os lados com uma mira acidamente certeira. A Vida é Dura conta a vida do astro da música Dewey Cox (o ótimo John C. Reilly) desde os seus quatorze anos (e Reilly com seus mais de 40 anos interpreta o astro desde então), Dewey é traumatizado por ter partido seu irmão ao meio com um facão (com direito a uma longa despedida após o acidente). A partir de então, Cox se dedica a ser um músico competente, mas acaba sendo expulso de casa e vai viver com sua namorada de doze anos com a qual terá infinitos filhos. Cox acaba fazendo sucesso ao cantar num bar voltado para a música negra americana e daí para frente torna-se famoso com canções auto-biográficas como Walk Hard (indicada ao Globo de Ouro de canção original). A trajetória de Dewey é repleta de astros famosos, seja um Elvis de fala incompreensível (Jack White do White Stripes), um Buddy Holly adolescente (cortesia de Frank Muniz) ou Beatles brigões (numa hilariante participação de Jack Black, Paul Rudd, Jason London e Jason Schwartzman), Eddie Vedder e amantes (com filhos, muitos filhos). Mas o gramde amor de Dewey é sua backing  vocal Darlene (Jenna Fischer, do seriado The Office) com quem acaba cometendo o crime de bigamia. O filme é uma sucessão de piadas sem medo de ser politicamente incorretas (existem piadas sobre negros, judeus, músicos, viciados, programas de TV) e o que amarra tudo são as referências às biografias célebres do cinema. É deste ponto que surgem as piadas sobre a idade dos atores que interpretam jovens personagens, a maquiagem tosca de Darlene, as declarações sobre drogas, as quebradeiras de desespero (coitadas das pias), as despedidas intermináveis no leito de morte, as mensagens de vida que não interessam, a sensação de que o filme não vai acabar nunca, a homenagem no final e o desfecho em legendas. Claro que o filme ainda percorre décadas de alfinetadas na música pop (a megalomania de Dewey chegando ao auge com um álbum cheio de efeitos sonoros, o ritmo acelerado da versão hardcore de Walk Hard...) e possui várias ousadias (como o cara peladão que aparece umas três vezes) tornando-se uma das poucas paródias recentes que sabe realmente o que está fazendo: humor (e não cópia chula de outro filme). Para completar ainda tem os extras sobre a vida do verdadeiro Dewey Cox e a perigosa preparação de Reilly para o papel. Impagável.

A Vida é Dura (Walk Hard: The Dewey Cox Story/EUA-2007) de Jake Kasdan com John C. Reilly, Jenna Fischer, Tim Meadows, Margo Martindale, Harold Ramis, Jane Lynch e David Kumholtz.☻☻☻

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