sexta-feira, 4 de março de 2011

Na tela: O Discurso do Rei


Carter e Colin: bela sintonia num filme redondinho.

Dia desses conversando com um amigo ele me perguntava sobre para que serve o Oscar, já que invariavelmente ele não concorda com os ganhadores. Um dos efeitos mais imediatos é chamar a atenção de muita gente sobre um filme que geralmente não seria visto. Este é o meu caso com O Discurso do Rei, o laureado em quatro categorias do prêmio e que - admito na maior cara de pau - eu teria esperado sair tranquilamente em DVD se o filme não tivesse passado a perna em A Rede Social (e nos meus favoritos A Origem e Cisne Negro - devidamente empatados no pódio). Como o filme foi eleito pela Academia como o melhor da produção de 2010, a curiosidade se tornou incontrolável. Vendo o filme entendo todos os comentários que disseram sobre ele, que tem aquele jeitão que a Academia adora premiar (leia-se: linguagem clássica e pouca, ou nenhuma, ousadia narrativa). Tudo bem, o filme de Hooper pode ter aquele jeitão careta (apesar de alguns palavrões) que pouca gente aprecia, mas também tem suas qualidades. Sem falar que fazia tempo que não se fazia um filme tão classicamente redondinho - fato esse que deve ter colaborado para que a Academia  premiasse filmes mais ousados nos últimos anos (Guerra ao Terror/2009, Quem quer ser um Milionário/2008, Onde os Fracos não tem Vez /2007, Os Infiltrados/2006...). O filme de Hooper se concentra nas agruras do príncipe Albert (Colin Firth) em lidar com a gagueira. Depois de buscar vários especialistas e se sujeitar a terapias questionáveis (falar com bolinhas de gude na boca, fumar para relaxar a garganta...) sua esposa, Elizabeth (Helena Bonhan Carter, bem diferente do que a maioria do público está acostumado a ver e ótima como sempre) encontra um ator australiano conhecido por métodos anticonvencionais no trabalho com a voz, Logue (Geoffrey Rush, que fazia tempo não tinha um papel tão interessante) e acredita que ele pode ajudar seu eposo a resolver esse problema. Nesse relacionamento de amizade crescente, Hooper se dedica a desvendar as entranhas de Albert. Descobrimos aspectos de sua educação repressora, as perseguições na infância e o fato de estar sempre a sombra do irmão (Guy Pearce) que foi educado para ser rei  e que mais tarde abdicará da coroa devido a um romance escandaloso com uma americana bi-divorciada. Mais do que a história de alguém que não consegue falar (e que por acaso se tornará rei) o filme amplia a voz em seu caráter mais psicológico. A voz como expressão do que se passa dentro do indivíduo, seus conflitos, pensamentos, angústias e sentimentos contraditórios diante do futuro que se anuncia. Albert não tinha escolha, se tornaria rei apesar de sua vontade - ou graças ao seu desejo nunca confessado. Em busca de sua voz (ou seu lugar na história) Albert tem que superar seus medos para conseguir inspirar uma nação nos momentos mais difíceis da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. Hooper e seu elenco conduzem a trama estabelecendo diálogo constante entre drama e comédia,  o que funciona bem para que possamos nos identificar com um protagonista que facilmente nos distanciaria (um nobre)  e neste processo as atuações de Colin (precisamente vulnerável) e Helena tem grande importância ao encarnarem um casal real de grande empatia com o público - tal e qual dizem que os avôs do príncipe Charles realmente eram. Rush também tem um trabalho na medida certa e que deve servir para que tenha papéis mais bacanas do que os da série Piratas do Caribe. No fim das contas o filme pode não primar por sua originalidade ou mesmo formato, mas tem características técnicas (fotografia, edição, direção de arte, figurino, trilha sonora...) e dramatúrgicas (roteiro simples e bem escrito, direção sem malabarismos, atores competentes) que convergem para simpatia do público carente de histórias envolventes sobre a amizade de pessoas de universos tão diferentes.

O Discurso do Rei (The King Speech/Inglaterra - 2010) de Tom Hooper com Collin Firth, Geofrey Rush, Helena Bonahn Carter, Guy Pearce e Michael Gambon. ☻☻☻☻

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