domingo, 10 de abril de 2011

DVD: Tudo Pode dar Certo


Evan e Larry: Casal incomum com o (mau) humor de Woody Allen.

Há alguns anos houve uma greve de roteiristas que deixou Hollywood muito preocupada. Projetos foram adiados, outros cancelados, o calendário de estréias nos cinemas e na Tv foi alterado e as cerimônias de premiação sofriam com ameaças de boicote. No meio desta manifestação, os roteiristas americanos se mobilizaram para não escrever uma linha sequer. Enquanto tudo isso acontecia, Woody Allen sentia a necessidade de manter sua rotina de lançar um filme por ano e resolveu tirar da gaveta um roteiro que dificilmente sairia do papel se não fosse a sua greve de escrita. O resultado desta empreitada é Tudo Pode Dar Certo, filme que não foi bem nas bilheterias americanas apesar de ser um dos mais acessíveis já realizados pelo diretor e marcar seu retorno à Nova York após cinco anos por bandas européias. Apesar de ter marcas da época em que foi escrito (década de 1970) o filme segue o caminho que o diretor optou no seu longa de sucesso anterior (o aclamado Vicky Christina Barcelona, 2008) e o posterior Você vai encontrar o homem dos seus sonhos (2010), nos três o diretor analisa a lógica (ou ausência dela) nas relações amorosas contemporâneas. Em Tudo Pode Dar Certo o protagonista é o ranzinza Boris Yelnikoff (Larry David, um dos criadores do seriado Seinfeld e ator da série Segura a Onda), um físico já indicado ao Nobel que amarga um divórcio e o fato de mancar por conta de uma tentativa de suicídio mal sucedida. Boris tem uma visão pessimista do mundo e nisso sobra piadas para todos os lados (incluindo a eleição de Barack Obama, o modo de vida republicano, a música atual e seus pequenos alunos de xadrez), afinal de contas ele é um gênio num mundo de “invertebrados”!  Sua vida vê uma expectativa de mudança quando conhece a doce Melody Celestine (Evan Rachel Wood, ótima como sempre e mais magra que de costume), que acredita ser uma mendiga vinda do sul do país e destinada a ser prostituta. Num  surto de bondade, Boris permite que a mocinha divida o teto com ele e apesar da rabugice do velhote uma amizade acaba brotando. Este casal incomum que se forma é apenas o prato de entrada bem humorado de uma trama onde Allen mostra outras formas de relacionamento amoroso. Melody e Boris se entendem num equilíbrio entre o pessimismo da vida vivida de um idoso e as expectativas de uma jovem de vinte e um anos. Quando entra em cena os pais de Melody, Allen amplia seu olhar aguçado sobre as relações. Apesar de extremamente conservadora e republicana, a sogra (Patrícia Clarkson, que virou a musa de Allen em seus filmes mais recentes) descobre que tem talento para a fotografia e viver um casamento à três depois que o marido a traiu com a amiga. Já o sogro acaba assumindo um lado que vinha hesitando há tempos. Bem humorado e – acreditem, até - otimista o filme tem vários bons momentos e ainda parece fazer várias auto-homenagens aos filmes de Allen (é inevitável a comparação com Manhattan/1979, a vida à três do recente Vicky Christina Barcelona/2008, o mau humor de Descontruindo Harry/1997 , as lagostas em toda a parte de Noivo Neurótico Noiva Nervosa/1977, o figurino feminino de Poderosa Afrodite/1995 temperado com a visão de que um filme é um universo paralelo ao nosso de A Rosa Púrpura do Cairo/1985). No fim das contas Allen parece estar em sua fase mais romântica, afinal argumenta que não interessa os bons motivos que fizeram você mergulhar num relacionamento, se você pensou neles a coisa já se tornou racional demais e portanto destinada ao fracasso. Allen parece afirmar que o amor é algo a ser sentido e não pensado - mesmo que você consiga listar todas as razões pelas quais ama alguém. Atenção para Henry Cavill que interpreta um admirador de Melody, ele será o novo Superman.

Tudo Pode dar Certo (Whatever Works/EUA-2009) de Woody Allen com Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson e Henry Cavill. ☻☻☻

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