sábado, 30 de abril de 2011

FILMED+: O Bebê de Rosemary


Farrow: testando seu amor materno.

É difícil escrever sobre um filme que lida mais com sensações do que qualquer outra coisa, mas mesmo assim vou tentar. Talvez meu filme favorito de Roman Polanski seja sua primeira aventura por Hollywood: O Bebê de Rosemary, adaptação do romance homônimo de Ira Levin e que deixa muita gente arrepiada até hoje. Um dos truques mais bacanas de Polanski é pintar o filme como um romance nos seus primeiros minutos mostrando o jovem casal cheio de esperanças e ambições se mudando para um prédio antigo e bem localizado em Nova York. Depois deste feito, a doce Rosemay Woodhouse (Mia Farrow, na atuação de sua vida) só pensa em engravidar, enquanto seu esposo, Guy Woodhouse (o diretor John Cassavetes) só pensa em se estabelecer enquanto ator. Tudo segue docemente, até que aspectos obscuros começam a atrapalhar a vida do casal. A começar pela morte de uma jovem moradora, que por consequência, gera a atenção cada vez maior do casal de velhinhos que mora ao lado. Não demora muito para Rosemary ouvir estranhas vozes, receber um colar com ervas fedorentas e ter pesadelos com o capeta. Entre estes acontecimentos Rosemary descobre que está grávida e aí que Polanski faz a festa com nossas percepções. Sem nunca revelar quem diz a verdade, o diretor conduz a trama nos deixando sempre desconfiados de sua protagonista. Será quem está em depressão? Será que ela está enlouquecendo com a gravidez? Para logo depois nos fazer desconfiar de todos ao seu redor. Aos poucos Rosemary se rende a impulso estranhos (como comer carne crua ou cortar o cabelo curtíssimo) e sua aparência parece cada vez mais doente - usando como desculpa o diagnóstico errado de gravidez de risco. Assim, nem a caridade vitamínica dos vizinhos é bem vista por ela. Aos poucos Rosemary começa a desconfiar que é vítima de uma conspiração e, para piorar, começa a desconfiar que seus vizinhos são satanistas que querem oferecer seu bebê ao coisa ruim. Entre delírios e impressões o filme caminha para o seu fim mexendo com o psicológico de sua personagem e do público. A trama serve para Polanski mostrar que é um mestre em causar tensão no público, seja com o ritmo lento de sua narrativa ou com as estranhas fantasias que parecem camuflar o lado mais obscuro do ser humano. Impossível ficar indiferente à cena final onde Mia se divide entre a maternidade e a repulsa por seu rebento (deitado no clássico berço das trevas).   O filme ganhou o Oscar de atriz coadjuvante (para a comicamente sinistra Ruth Gordon) e concorreu ao prêmio de roteiro adaptado - pelo que se vê a Academia sempre teve receios com filmes de terror.

O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby/1968 - EUA) de Roman Polanski com Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon e Sidney Blackmer.
☻☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário