Radcliffe e Watson: no meio do fim.
Desde que a série Harry Potter foi ganhando traços cada vez mais sombrios era de se esperar que as coisas não ficassem muito agradáveis na adaptação da última obra de J. K. Rowling para a telona. Ciente do sucesso que o filme faria nos cinemas a Warner tomou uma providência polêmica e dividiu o livro em duas partes. A primeira chegou nos cinemas no ano passado e sai agora em DVD, já a segunda chega aos cinemas brasileiros no dia 15 de julho para o desespero dos fãs. Vale ir na locadora e manter a trama fresca na memória para se preparar para a segunda metade desta aventura. Não vou dar uma de crítica mal humorado e esculhambar o filme, que considerei bem competente. Obviamente que não vou assistir a um filme de Harry Potter querendo ver uma obra prima de David Lynch ou Lars Von Trier, mas simplesmente satisfazer meu lado infanto-juvenil que acompanha o bruxinho desde o primeiro filme. Devo admitir que o diretor David Yates não está entre os meus favoritos, mas o cara acertou no tom em seu trabalho com A Ordem da Fênix (2007), mas errou feio em Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2008), sorte que As Relíquias da Morte volta ao tom de sua primeira aventura com o bruxinho. Quem acompanha os livros sabe que J.K. teve a preocupação de amadurecer sua narrativa e personagens conforme os leitores cresciam com o protagonista e não vale a pena ficar chovendo no molhado dizendo que o filme não é divertido como os primeiros, afinal de contas o personagem está cada vez mais próximo de enfrentar aquele que não se deve dizer o nome. Depois que Dumbledore (Michael Gambon) morreu na única cena relevante do episódio anterior, sabia-se que as coisas não seriam fáceis para a escola Hogwarts e o filme começa justamente por aí. O vilão Valdemort (Ralph Fiennes) está prestes a colocar seus comparsas no comando da escola e do Ministério da Magia, sem falar que está movendo todas as suas varinhas para encontrar e destruir Potter (Daniel Radcliffe) - que é cada vez mais protegido por seus amigos, especialmente Hermione (Emma Watson) e Ronnie (Rupert Graves). Enquanto a escola de magia nem aparece sob o domínio de Severus Snape (Alan Rickman, que entra mudo e sai calado numa aparição mínima) o ministério da magia cai em desgraça com a caça aos bruxos mestiços (numa clara alusão aos regimes nazi-fascistas que cresce em alguns países europeus). Com Potter sendo caçado pelos malvados amigos de Valdemort (entre eles a estranha Belatriz Lestrange - que faz Helena Bonhan Carter se divertir um bocado - e a família Malfoy, liderada por Jason Isaacs) e Hermione na lista dos caçadores de "sangue ruim" (já que é filha de um trouxa e uma bruxa), a salvação está em descobrir as horcruxes (talismãs que abrigam partes da alma diabólica de Valdemort). Esta é a missão que os três amigos abraçam com grandes dificuldades. Com uma premissa dessas, o filme é obviamente o mais sombrio da série e mostra que as coisas tendem a piorar na sua segunda parte. Entre tantos efeitos especiais e tragédias envolvendo personagens queridos pelos fãs, Yates tem o cuidado de deixar claro que Hermione está cada vez mais atraída por Ronnie, ainda que este tenha ciúme dela com Harry (que por sua vez tem um namorico com sua irmã caçula). Se eu via com maus olhos a divisão do último livro em duas partes, esta impressão se dissipa logo graças à quantidade de informação com que o diretor lida em pouco mais de duas horas de sessão. Fosse um filme só, ainda que com cortes aqui e outro ali, dificilmente o filme teria menos de três horas. No fim das contas dividir a trama foi algo muito benéfico, já que a narrativa não parece corrida ou confusa. Empora não seja brilhante, Yates merece elogios pela forma como consegue lidar com as partes mais sombrias da trama alcançando a medida certa para o público de Potter (chegando a ousar com erotismos na ciumeira de Ronnie), sem falar que acabou convencendo os produtores de que o filme não precisava da tecnologia 3D para funcionar (\o/). Mas nenhum elogio merece ser maior do que a forma belíssima com que conta a história das relíquias da morte imitando um teatro de sombras. Quanto às atuações, vários dos medalhões ingleses que apareceram nos episódios fazem pequenas participações (Imelda Staunton, Miranda Richardson, Rhys Iphans, Fiona Shaw, Rickman, Carter...) no que parece mais uma pegadinha em torno dos atores principais. Falando nisso, Emma Watson e Rupert Grint melhoraram muito diante das câmeras e parecem ter chances de ter carreiras sólidas depois que a série chegar ao fim. Já Daniel Radcliffe precisa melhorar um bocado, talvez seja por que faz o mocinho cheio de conflitos, ou por usar óculos e franja (que acaba camuflando parte de suas expressões a maior parte do tempo), ou até por causa de uma doença que ouvi dizer que ele possui e afeta sua coordenação motora. O fato é que lhe falta presença marcante na tela. Sua performance é esforçada e não chega a comprometer com a narrativa cada vez mais opressora, porém, resta saber se sua carreira irá prosseguir depois que a magia de Potter esvair de sua varinha.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I (Harry Potter and the Deathly Hallows/Inglaterra, EUA-2010) de David Yates com Daniel Radcliff, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Helena Bonhan Carter e Jason Isaacs. ☻☻☻
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