Winslet & Carrey: O importante é lembrar.
Com a proximidade do dia dos namorados, acho que vale a pena rever o filme mais romântico escrito por Charlie Kauffman.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças foi o filme mais inventivo de 2004 e o roteiro mais harmônico do autor (que acabou ganhando o Oscar de roteiro original ao lado de Gondry), colabora para essa sensação o trato lírico surpreendente do francês Michel Gondry (que recentemente fez o desfavor de pagar mico em
Besouro Verde). A ideia biruta pode ter passado pela cabeça de muita gente, mas ninguém teria a ousadia de traçar os rumos que Kauffman realiza. Jim Carrey tem aqui sua melhor atuação como Joel um homem que descobre que sua ex-namorada, Clementine (Kate Winslet de cabelos multicoloridos em um de seus raros personagens que não são de época - e que lhe valeu uma indicação ao Oscar) o apagou da mente mediante um tratamento revolucionário e muito esquisito. Por um acidente de percurso essa medida drástica que deveria ser mantida em sigilo chega conhecimento de seu ex (que como vingança resolve fazer a mesma coisa). O que ele não sabia era que no meio do tratamento ele redescobriria lembranças que gostaria de guardar para sempre. Parece simples, mas nada com roteiro de Kauffman é simples. O filme começa a contar a história do final, sei que isso é praticamente um SPOILER mas facilita um bocado a compreender a trama que se passa quase totalmente na mente de seu personagem. Kauffman tem verdadeiro fascínio pela forma como nossa mente trabalha - desde o sentimento de esconder-se de si mesmo (como em
Quero Ser John Malkovich) ou o processo de criação (em
Adaptação e
Sinedóque NY). Como nesses filmes a matéria prima do roteiro se concentra nas memórias e nossas interações com ela, além da insatisfação que despertam e nossa reflexão sobre isso. É justamente nessa interação do casal com as lembranças que Gondry faz a festa! Seu senso estético é superior ao da maioria dos cineastas e cria cenas belíssimas, muitas vezes sem efeitos especiais e apenas utilizando truques de câmera. Isso ajuda ao filme a ter uma densidade visual impressionante, não parecendo artificial em momentos cruciais. O mais interessante é que como o tratamento parte das lembranças mais recentes para as mais antigas, Clementine é mostrada como uma chata (e essas lembranças vão embora sem problemas). As coisas complicam quando chega a hora de se livrar das lembranças dos bons momentos entre os dois (mais frequentes no início do relacionamento). Diante deste quadro, Joel procura esconder Clementine em momentos em que não estava presente. Os meandros deste tratamento surreal deixa o filme embolado, mas serve apenas para tornar ainda mais estranho um tratamento que não existe. Mas nem só de Winslet e Carrey vive o filme, o sempre honesto Tom Wilkinson está muito bem como o criador do tratamento, assim como Kirsten Dunst como sua secretária namorada de Mark Ruffalo (mais nerd do que nunca). Para confundir ainda mais a mente de Clementine está Elijah Wood, como o assistente que se apaixona por ela e sabe exatamente os caminhos de seu coração. Até o final do filme, a mensagem que se fortalece é que mais importante do que o namoro em si, são os bons momentos vividos juntos - e estes valem ser lembrados (mas nem pense em ver o filme sozinho no dia dos namorados!).
Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças (Eternal Spotlight of a Spotless Mind/EUA-2004) de Michel Gondry, com Jim Carrey, Kate Winslet, Tom Wilkinson, Kirsten Dunst, Elijah Wood e Mark Ruffalo. ☻☻☻☻☻
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