domingo, 25 de maio de 2014

10+: Esquecidos de Julianne Moore

Faz tempo que sou fã incondicional de Julianne Moore (precisamente desde que a vi em A mão Que Balança o Berço/1996, onde ela interpreta Marlene, amiga da família que percebe que há algo de estranho com a babá contratada por eles). De lá para cá, muita coisa mudou e Julianne pode ser considerada uma diva diferente em Hollywood. Seus cabelos ruivos, sua pele muito clara e cheia de sardas (ela até escreveu uma série de livros infantis sobre isso: Morango Sardento) e o gosto para fazer todo tipo de filme com versatilidade inabalável. É verdade que seu talento nem sempre é capaz de salvar roteiros ruins, mas (na grande maioria das vezes) a atriz desaparece em seus personagens. Por suas atuações ela já recebeu prêmios nos maiores festivais de cinema: Veneza (com Longe do Paraíso/2002), Berlim (com As Horas/2002) e, recentemente, Cannes (Maps to the Stars/2014). Além disso tem dois Globos de Ouro (por Short Cuts/1994 e Game Change/2012, pelo qual ganhou ainda um Emmy) num total de 57 prêmios e 69 indicações!!! Falta agora só o Oscar aguardado pelos seus fãs. A estrela foi indicada quatro vezes ao prêmio: Boogie Nights/1997, Fim de Caso/1999, As Horas/2002 e Longe do Paraíso/2002). Parece papo de fã, mas em trinta anos de carreira (!!!) a atriz merecia ter sido lembrada em, pelo menos, mais umas dez ocasiões:

10 Totalmente Apaixonados (2005) Pouca gente lembra que Julianne é casada com o cineasta Bart Freundlich (oficialmente, desde 2003). Eles se conheceram em 1997 quando ele realizou O Mito das Digitais. O casal repete a parceria, já casados, neste simpático filme sobre dois casais amigos que repensam sua relação em meio a situações bem corriqueiras de qualquer relação. Brincando com clichês, o diretor consegue criar uma comédia urbana acima da média e dá à patroa o papel de uma diva dos palcos que começa a sentir o peso da idade enquanto divide o tempo entre a carreira e a família.  Juli e Bart tem dois filhos...

09 Pelos Olhos de Maisie (2013) Ando apaixonado por esse filme independente pouco conhecido - que é na verdade uma adaptação do romance que Henry James publicou no fim do século XIX. O filme acompanha Maisie, uma adorável menina de sete anos que alterna seu tempo entre o pai e a mãe, ou melhor, entre o padrasto e a madrasta - já que são eles que cuidam da garota durante todo o filme. Nesse território de negligência emocional, Julianne aparece pouco, mas vibrante como a mãe rockstar que, na intimidade, é uma megera. A cena em que Maisie  a faz se deparar com a verdade é arrepiante graças às reações de Moore à atuação da menina. 

08 Amor a Toda Prova (2011) Poucas atrizes dariam conta de uma esposa que trai o marido e se depara com a crise no casamento de forma tão carismática quanto Julianne Moore, por isso mesmo, sua atuação altamente crível na pele de Emily Reaver aparece por aqui. Dando conta das cenas cômicas dentro do tom dramático da personagem, a atriz conta a com a ajuda de colegas de elenco mais que eficientes (sobretudo Steve Carrell que faz o seu esposo apaixonado e ainda cheio de dúvidas). O mais bacana é que entre todos os tropeços, a dupla sempre deixa claro que o amor da juventude permanece ali o tempo todo. 

07 Tio Vanya em Nova York (1994) O primeiro papel em que a crítica percebeu que Moore estava destinada a ser uma grande atriz veio pelas mãos de Louis Malle nessa filmagem dos ensaios da versão de David Mamet para a famosa peça de Anton Chekov. Na pele da atriz que dá vida à Yelena, Julianne ganhou vários elogios e o prêmio da Associação de Críticos de Boston. Intensa e humana, a Yelena de Moore é uma aula de atuação em qualquer mídia e provou que a atriz merecia destaque em seus futuros trabalhos. Além disso, o filme serve para quem acha que parte a linguagem de Lars Von Trier em Dogville (2003) era uma novidade. 

06 A Salvo (1995) o diretor Todd Haynes tem em Julianne sua maior musa. Antes ele havia realizado o intoxicante Veneno (1991) e desde o seu segundo filme, firmou parceria com a estrela (que participou dos outros dois). Em A Salvo, a atriz vive uma mulher que enfrenta vários problemas de saúde até descobrir que é alérgica ao século XX. Muito antes de todo mundo discutir o mal-estar da contemporaneidade, Haynes já fazia sua protagonista encarnar isso com maestria. Pela atuação, Julianne foi indicada a vários prêmios (incluindo o Independent Spirit) e entrou de vez no radar dos diretores mais autorais de Hollywood. 

05 O Grande Lebowski (1998) Além de celebrado talento dramático, Julianne Moore provou que pode fazer uma comédia desmiolada sem muito esforço. Nesse filme dos irmãos Coen ela vive a excêntrica artista plástica, filha de um milionário que se envolve com um homônimo do próprio pai (Freud explica!). Num elenco repleto de talentos masculinos (Jeff Bridges, Phillip Seymour Hoffman, John Goodman, Steve Buscemi, John Turturro), Juli é a atriz que dá vida ao personagem feminino mais importante da história (isso sem falar na fetichista fantasia com pinos de boliche ao lado de Jeff Bridges). Pela atuação foi lembrada no Satellite Awards de atriz coadjuvante. 

04 Ensaio sobre a Cegueira (2008) A obra de José Saramago é uma de minhas favoritas e a adaptação do brasileiro Fernando Meirelles era um enorme desafio. Moore é a Esposa do Médico que se torna a única pessoa a enxergar num mundo revelado por uma misteriosa cegueira. A treva branca mostra-se menos ameaçadora do que o ser humano que retorna aos seus traços mais primitivos. No caos que se instaura, ela serve de guia para que retornemos à nossa humanização. A recepção morna da crítica desde o Festival de Cannes e a bilheteria modesta comprometeram o sucesso do filme nas premiações, mas Julianne está perfeita no papel central (e foi indicada ao prêmio de melhor atriz do ano pelos críticos de Vancouver).

03 Minhas Mães e Meu Pai (2010) Quando Cannes viu a atuação de Anette Benning e Julianne Moore como uma casal de lésbicas que entra em conflito ao encontrar o pai dos filhos, a crítica anunciou que as duas tinham a grande chance de ganharem o primeiro Oscar de suas respectivas carreiras. O tempo passou, o filme foi lançado com sucesso e elogios para ambas - que foram indicadas a vários prêmios. Mas depois de serem lembradas no Globo de Ouro, o Oscar preferiu indicar somente Anette. Julianne ficou de fora na pele de Jules, a mãe mais alternativa da dupla e que cai em tentação pelo sexo oposto (há quem diga que a Academia esqueceu de Julianne pelo seu destemor de fazer cenas de sexo à beira dos 50 anos)

02 Direito de Amar (2009) Detesto o nome em português de Single Man que força a barra para os desavisados pensarem que era uma novela do amor entre Colin Firth e Julianne Moore. Sorte que a estreia de Tom Ford é tão boa que você até esquece do nome que recebeu por aqui. Julianne interpreta Charlie, a melhor amiga (apaixonada) por George (Firth), professor homossexual que tenta se curar da morte do parceiro na silenciadora década de 1960. A atriz tem menos de dez minutos em cena, mas o tempo é suficiente para lembrar porque somos apaixonados por ela. O porte de diva que rejeita ser a sombra do que era no passado lhe valeu indicações a prêmios de coadjuvante, incluindo no Globo de Ouro.

01 Magnólia (1999) Uma golpista redimida mergulhada na culpa de ver o milionário (em que deu o golpe do baú) definhar diante dos seus olhos (sem que possa fazer nada). Essa angústia de perceber a impotência diante da inevitabilidade da morte é o que me faz escolher a atuação da atriz na pele de Linda Partridge para o topo dessa lista. Na jornada, de um dia, em que acompanhamos a personagem do caleidoscópico filme de Paul Thomas Anderson, Moore consegue exibir a conturbada alma da personagem perante sua culpa e medo da solidão. Um belo trabalho que ficou de fora do Osca no ano em que ela concorreu ao prêmio de melhor atriz por Fim de Caso. Em Magnólia, a atriz foi indicada ao Prêmio do Sindicato dos Atores na categoria de atriz coadjuvante e melhor elenco. 

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