sexta-feira, 26 de junho de 2015

Na Tela: Enquanto Somos Jovens

Stiller, Dree, Naomi e Adam: crise de idade ou identidade?

Lançado oficialmente em março nos EUA após participar de alguns festivais, Enquanto Somos Jovens chega ao Brasil sem estardalhaço - quanto qualquer outro filme de seu diretor Noah Baumbach. Conheço muita gente que curtiu o cultuado  A Lula e a Baleia/2005 (que rendeu uma indicação ao Oscar de roteiro original ao diretor) e que desanimou com os trabalhos seguintes de Noah. A esses devo dizer que podem assistir Enquanto Somos Jovens sem preocupações, já que desde Frances Ha (2012), o diretor tem se mostrado mais simpático com os personagens (Greenberg/2010 tornou-se quase insuportável... mas eu ainda considero que a antipatia fez de Margot e o Casamento/ 2007 meu filme baumbachiano favorito). Acho que dez anos após sua consagração, o diretor começou a sentir o passar do tempo em sua forma de fazer e pensar cinema, buscando o frescor que alguns já consideravam perdido. O filme tem a simplicidade estética de sempre, mas toca em questões sérias com uma leveza absurda, especialmente para um diretor que já rebuscou psicologismos anteriormente... em se tratando de um tema tão batido quanto conflito de gerações a coisa poderia ficar ainda pior... só que não. A forma com que o diretor/roteirista constrói sua narrativa mostra-se bem articulada, divertida e extremamente contemporânea. O filme acompanha um casal maduro que já passaram dos quarenta, Josh (Ben Stiller) e Cornelia (Naomi Watts). Ele é diretor de documentários que há dez anos tenta criar seu novo filme (uma longa entrevista com um intelectual renomado), ela é produtora de filmes, filha de um famoso documentarista (Peter Yarrow) que está prestes a ser homenageado por sua brilhante carreira. Josh e Cornelia tem um casal de melhores amigos que acabam de ter o primeiro filho (e acabam ressuscitando nos amigos sentimentos estranhos por serem casados há tanto tempo sem ter filhos). Com a vida dos amigos voltando-se cada vez mais para o primogênito, Josh e Cornelia se aproximam de um casal mais jovem que nem chegou aos trinta anos: Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried) são recém casados. Ele quer fazer documentários enquanto ela produz sorvetes caseiros. Logo, Josh fica fascinado com o gosto de Jamie por cinema, música e cultura em geral e a proximidade dos dois cresce cada vez mais, ao ponto de Josh colaborar no trabalho do jovem amigo. O interessante é como o roteiro, sutilmente, cria algumas situações que demonstram o quanto o casal maduro possui problemas com a passagem dos anos, ao mesmo tempo que Jamie precisa da ajuda dos mais experientes para alavancar seus projetos. Alguns apontam como um problema do roteiro o fato das esposas ficarem meio de lado na história, mas talvez a proposta de Noah seja explorar o lado mais masculino da história (inclusive em suas nuances mais egocêntricas). Para além da relação entre Josh e Jamie, existe uma figura paterna no meio disso tudo: o sogro de Josh. Ele é o personagem do qual os outros homens da história esperam aceitação - embora Josh evite admitir isso (sob o discurso de "encontrar a própria voz", nem que seja produzindo uma interminável entrevista condensada em seis horas de duração), percebe-se desde o início, que a aceitação de Jamie por parte do sogrão irá causar um bocado de ciúme - que cresce ainda mais quando Josh questiona os métodos utilizados pelo amigo para construir seu promissor documentário (que nem está pronto, mas já colhe elogios unânimes). Cheio de camadas, o filme fala mais do que "o processo criativo dos personagens na construção de suas carreiras como autores": fala de suas identidades, anseios, angústias, tudo com uma leveza desconcertante. Existem momentos para gargalhar, mas eles dividem o espaço com indagações interessantes sobre envelhecimento, amadurecimento, ética e um tanto de rabugice. Se no fim da sessão, o protagonista percebe que o jovem cineasta não é "tão" vilão quanto ele imaginava (posto que quase fica para o próprio Josh), ele parece ficar ainda mais assustado com o que as próximas gerações lhe reserva. O cinema de Baumbach continua pensando na vida, mas dessa vez pensou de uma forma mais bem humorada - talvez porque desde 2011 seu olhar sobre a vida mudou depois do casório com sua atual musa Greta Gerwig  (que conheceu nas filmagens de Greenberg e dividiu com ele os holofotes de Frances Ha). Ela ficou de fora dessa empreitada, mas os fãs do casal não precisam se preocupar: ela é a estrela do novo filme de Baumbach, Mistress America (previsto para estrear em julho de 2015 na Terra do Tio Sam). 

Enquanto Somos Jovens (While We're Young/EUA-2014) de Noah Baumbach com Ben Stiller, Adam Driver, Naomi Watts, Amanda Seyfried, Peter Yarrow, Maria Dizzia, Adam Horovitz e Dree Hemingway. ☻☻☻☻

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