Sally e Jones: amor entre espécies diferentes.
Com treze indicações ao Oscar (incluindo nas categoria de melhor filme, direção, atriz e roteiro original), chega aos cinemas brasileiros A Forma da Água, o novo filme de Guillermo del Toro. Apontado como o grande favorito ao prêmio, o filme já recebeu o Leão de Ouro de melhor filme no último Festival de Veneza e, surpreendentemente, apela para um gênero que a Academia costuma ver com desconfiança: a fantasia. Porém, o que faz a diferença aqui é o fato de del Toro ter se tornado um especialista no gênero - e ele está a vontade ao utilizar referências sobre oa própria história do cinema, além de misturar vários gêneros em uma única narrativa. Prova de que sua habilidade especial para contar histórias sobre monstros está no auge é o fato de já ter levado o Globo de Ouro e o Critic's Choice Awards de melhor direção. Guillermo já havia realizado uma obra-prima em O Labirinto do Fauno (2006) e aqui se aproxima mais uma vez da perfeição. A trama conta a história de amor entre uma mulher e um monstro - e vai além do que um filme tradicional costuma ir. Ela é Elisa (Sally Hawkins), faxineira de um laboratório em Baltimore em 1962. Ela é muda e tem como melhor amiga a colega de trabalho Dalila (Octavia Spencer). Em um conturbado dia de trabalho, elas percebem que existe algo muito secreto escondido ali. Não demora muito para Elisa descobrir que se trata de uma criatura marinha, um anfíbio de forma humanoide que foi capturada na Amazônia. A criatura (vivida por Duncan Jones) é mantida trancafiada e constantemente maltratada pelo Coronel Richard Strickland (Michael Shannon), mas nada impede que os laços entre Sally e o monstro se torne mais intensos e coloquem em prática um plano para libertá-lo. A afinidade entre os dois pode nascer da identificação da personagem por sentir-se deslocada num mundo que sempre a vê de forma diferente, mas o roteiro intensifica ainda mais este relacionamento sem medo de criar cenas repletas de erotismo (e que surpreendem a quem espera um filme de fantasia inofensivo). Além de fantasia, romance e erotismo o filme ainda tem cenas de horror, espionagem, sapateado, humor, ação, suspense... ou seja, torna-se um desafio para qualquer diretor. Del Toro nos convida mais uma vez para apreciar seu estilo único e depende muito de nosso nível de aceitação para que o filme funcione, sorte que ele capricha em cada detalhe para que este convite seja irresistível. Fotografia, trilha sonora, direção de arte, efeitos especiais, tudo é irretocável em seu preciosismo. O diretor é visivelmente apaixonado por suas criaturas, talvez por ter ficado impressionado com o clássico "B" O Monstro da Lagoa Negra (1954) quando era um menino de sete anos. O menino cresceu e continua fiel às suas origens enquanto constrói alegorias sobre o mundo atual. Em A Forma da Água o que ele nos pede através de Elisa (e Sally Hawkins está ótima no papel) e seu amado é que aceitemos as diferenças em um mundo cada vez mais intolerante. Levando em consideração que se trata de um diretor mexicano trabalhando nos EUA da era Trump, não é pouca coisa - e se levar o Oscar de direção irá completar a trinca de amigos diretores mexicanos a levar o prêmio para a casa. Os hermanos (Alfonso Cuarón e Alejandro Gonzalez Iñárritu) estão na torcida.
A Forma da Água (The Shape of Water/EUA-2017) de Guillermo del Toro com Sally Hawkins, Octavia Spencer, Duncan Jones, Michael Shannon, Richard Jenkins e Michael Stuhlbarg. ☻☻☻☻
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