terça-feira, 4 de novembro de 2025

PL►Y: Amores Materialistas

Chris, Dakota e Pedro: dados de um algoritmo.   

Celine Song chamou atenção do mundo quando lançou Vidas Passadas em 2023. Exibido nos cinemas meses antes das premiações, o filme recebeu elogios e foi abraçado pelo público com sua história de saudades de um amor que nunca se consolidou. Com orçamento modesto, atuações sutis e narrativa que primava pelo não dito, o filme se tornou um dos mais celebrados daquele ano e foi indicado a dois Oscars, melhor filme e roteiro original. Diante do sucesso, era de se esperar que o próximo projeto da cineasta viesse cercado de expectativas. Seu novo filme, Amores Materialistas não causou o mesmo barulho que o anterior, mas cumpre o papel de deixar claro que a diretora tem um olhar bastante peculiar sobre romances e que não está disposta a se repetir em projetos futuros. Se no filme anterior quase tudo ficava nas entrelinhas, neste aqui os personagens podem causar estranhamento por falar exatamente o que pensam, especialmente quando consideramos a protagonista, Lucy (Dakota Johnson). Ela é uma casamenteira profissional, trabalhando em uma agência que promete encontrar a cara metade da clientela e, se tudo der certo, render até um bom casamento. Lucy é quase um Tinder ambulante, calculando as características de homens e mulheres afim de que encontrem o relacionamento ideal - o que aumenta consideravelmente o prestígio e influência da profissional no trabalho. Por diversas vezes, a personagem fala de pessoas como se estivesse analisando um produto, refletindo sobre seu valor no mercado amoroso e imaginando qual seria o melhor par para esta pessoa. A ideia por vezes é engraçada, em outras exala uma frieza e exatidão digna de um algoritmo que descarta a possibilidade das pessoas serem imprevisíveis. No entanto, essa imprevisibilidade irá atravessar a vida de Lucy pelo menos duas vezes na trama, a primeira tem relação com um milionário que se interessa por ela. Harry (Pedro Pascal) tem tudo para ser o homem perfeito para a agência em que a moça trabalha, mas prefere investir no amor por conta própria, só que no meio do caminho tem John (Chris Evans), o ex-namorado de Lucy, cuja carreira de ator nunca decola e exige que faça trabalhos extras como garçom e divida o apartamento minúsculo com dois amigos bagunceiros. Se a vida fosse um algoritmo o resultado da soma dos catetos seria óbvia, mas como o roteiro tende mais para a comédia romântica, a lógica é outra. Dakota Johnson está convincente na pele da personagem um tanto cética com o amor, mas que entra em crise quando sua lógica não parece tão controlável assim, seja na vida de suas clientes ou na própria vida. Pedro Pascal parece não se esforçar muito para ser o homem perfeito, já Chris Evans bancando o patinho feio exige um pouquinho mais de esforço da plateia. O que considerei o mais interessante do filme é a forma como ele revela um olhar sem disfarces sobre a forma como olhamos a busca pelo amor como se fosse necessário entender uma fórmula para fazer tudo dar certo. Talvez esta fórmula até exista, mas será que ela é compreensível quando se está apaixonado? Nas entrelinhas do filme a diretora deixa suas impressões, mas é melhor assistir para descobrir.  

Amores Materialistas (Materialists / EUA - 2025) de Celine Song com Dakota Johnson, Pedro Pascal, Chris Evans, Zoe Winters, Marin Ireland, Eddie Cahill e Sawyer Spielberg. ☻☻

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