Teo, Greta e Magaro: entre duas vidas.
Quando pequena, Nora (Greta Lee) mudou com sua família para o Canadá. A mudança implicou até no nome de todos de sua família que buscava um recomeço fora da Coreia do Sul. Em sua partida, ela deixou o seu melhor amigo, Hae Sung (Teo Yoo) sem uma despedida apropriada. O tempo passou e Nora se tornou escritora e reencontrou o amigo com ajuda das redes sociais. Porém, o reencontro não ocorre conforme o esperado e os dois perdem contato novamente até que se reencontram vários anos depois. Ela agora é casada com Arthur (John Magaro) e Hae Sung irá viajar para Nova York para se reencontrar com ela. Indicado ao dois Oscars (Melhor filme e melhor roteiro original) o longa de estreia da diretora Celine Song consegue ser elegante, sutil e bastante melancólico ao contar uma história de amor que nunca se concretiza, mas que consegue ser ampliada pelas atuações de Greta Lee e Teo Yoo. Ambos dão vida a personagens que estão amarrados aos rumos que suas vidas tomaram e, ao mesmo tempo, sempre se indagam sobre o que a vida poderia ter sido se a separação nunca tivesse acontecido. Esta sensação fica bastante evidente em Hae Sung, que sempre contido, muitas vezes não sabe reagir diante de sua amiga. São visíveis os sentimentos que o estão mastigando por dentro, por outro lado, Nora quando o vê lembra da menina que foi um dia, mas agora tem ciência de que é a mulher que se tornou quando está ao lado de seu esposo. É neste ponto que outro personagem merece destaque, o marido. O texto e a direção de Celine fazem questão de fazer Arthur tão adorável quando Hae Sung, embora ambos sejam bastante diferentes. É visível a mistura de insegurança e empatia que o personagem sente sobre aqueles dois amigos que se reencontram após tanto tempo. Não por acaso, escolhi a foto que ilustra esta postagem com base na cena que abre o filme em que surgem várias especulações sobre quem são aqueles três personagens, ao mesmo tempo que se trata da conversa mais honesta entre Nora e Sung quase no final da sessão. Falando em conversa, o filme tem alguns dos diálogos mais cirúrgicos dos últimos tempos, sobre isso, por mais que existam algumas conversas sobre as outras vidas que podemos ter vivido antes da atual, o filme tem sua força maior sobre a expectativa do casal protagonista sobre uma vida que nunca teve. E se tivessem ficado juntos? Teria sido melhor? O romance entre os dois teria funcionado? Estariam juntos ainda? Quando chega a última cena a sensação é que nunca saberemos e talvez, aquela mistura de sentimentos sobre quem já fomos alguns dia seja o mais seguro a experimentar. Quando o filme terminou eu confesso que não o achei nada demais, mas conforme eu voltava a pensar nele, suas emoções genuínas o deixavam mais interessantes em minha memória. Não tem como, visto pelo prisma sobre o que deixamos para trás para sermos o que somos hoje o filme se torna ainda mais marcante. O filme saiu do Oscar de mãos abanando, mas se tornou um dos indies mais celebrados do ano passado, foi eleito o melhor filme no Gotham Awards e no Independent Spirit, no qual ainda ganhou o de melhor direção.
Vidas Passadas (Past Lives / EUA - Coreia do Sul / 2023) de Celine Song com Greta Lee, Teo Yoo e John Magaro, Moon Seung-ah e Choon Won-Young. ☻☻☻☻
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