terça-feira, 7 de setembro de 2010

CATÁLOGO: A Lula e a Baleia


O casal Berkman: retrato de um divórcio enquanto coisa.

Noah Baumbach surgiu para o mundo com seu A Lula e a Baleia no Festival de Sundance de 2005. É com muita coragem que assume as marcas autobiográficas de sua obra que chama atenção pelo seu humor amargo sobre a dissolução de uma família formada por um casal de intelectuais com filhos adolescentes. Desde a primeira cena, Baumbach mostra que não se trata de um diretor comum com um roteiro indie trivial, quando coloca a família numa partida de tênis deixa bem claro o que estamos prestes a assistir: o pai e o primogênito jogarão contra a mãe e o caçula. ssa divisão de times perpassa boa parte do filme. Baumbach sabe que a comédia mais refinada emerge do drama e utiliza uma espiral de acontecimentos, sem o encadeamento convencional a que nos acostumamos para criar um filme onde os personagens se aprofundam quase que por conta própria. A crise familiar aponta como causa o sucesso da esposa Joan Berkman (Laura Linney, que é sempre um bom motivo para ver um filme) prestes a publicar um livro e o período complicado pelo qual passa a carreira de seu marido Bernard Berkman (Jeff Daniels), que não consegue publicar uma obra há tempos. Entre discussões diárias e doses de egocentrismo os dois resolvem se divorciar, optando por uma guarda compartilhada dos filhos que  ira gerar sentimentos estrnahos entre os meninos. "A semana tem sete dias, como vão dividir a semana?" pergunta o mais velho, "e o gato? quem vai ficar com o gato?" diz o caçula, "Oh meu Deus! Não discutimos sobre o gato"! Entre pequenos gestos e atos, a admiração do mais velho Walt (um escovado Jesse Eisenberg, que anda fazendo uma carreira bacana em Hollywood atualmente) e o desajuste do caçula, Frank (Owen Kline, filho de Kevin Kline) se intensificam - sendo que a admiração de Walt se mescla à uma pressão para ser intelectual como seu pai, ao ponto de mentir sobre livros que nunca leu ou composições que são plágios do Pink Floyd. Enquanto Frank mostra-se decepcionado pela admiração que nutria pela mãe que agora flerta com seu professor de tênis (Willian Baldwin, mais competente que de costume) afogando as mágoas em bebidas alcóolicas (o moleque deve ter uns doze anos) e se masturbando pela escola. No filme existem ainda duas personagens femininas que revelam os efeitos do divórcio nesse microcosmo masculino, a aluna de Bernard, Lili (Anna Paquin) que flerta com o professor com om Frank e Sophie (Halley Feiffer), a bem intencionada namorada de Frank. Baumbach deixa nas entrelinhas a maior parte de sua trama, explorando a forma as marcas da separação afetendo a contrução das individualidades de seus personagens (sejam adultos ou crianças) sem deixar de alfinetar seu alvo favorito (os intelectuais, afinal, debaixo de sua casca intelectualóide, Bernard não é tão diferente assim dos outros mortais, nem mesmo dos filisteus, aos quais nutre profundo desprezo). O título trata de uma alegoria que aparece nos minutos finais, onde os dois seres marinhos se enfrentam - uma imagem assustadora e o mesmo tempo curiosa que ilustra bem o que os herdeiros da família Berkman vivenciam. Depois de ser premiado em Sundance o filme foi indicado ao Oscar de roteiro original, o que foi muito merecido, já que a escrita de Baumbach é sem frescuras e coeso o suficiente para casar brilhantemente com a edição, aspecto que também mostrou em sua obra seguinte (o execrado Margot e o Casamento).

A Lula e a Baleia (The Squid and the whale/EUA-2005) de Noah Baumbach com Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, Anna Paquin e Halley Feiffer. ☻☻☻☻

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