quarta-feira, 4 de maio de 2016

Na Tela: Truman

Javier, Truman e Darín: crônica sobre a amizade masculina.  

O diretor catalão Cesc Gay tem se mostrado cada vez mais voltado para temáticas masculinas. Seu filme anterior, O Que os Homens Falam/2012 já era um belo exemplo disso pela forma como abordava alguns dilemas da masculinidade por um viés diferente. Em Truman, ele foca mais na amizade masculina, desta vez com o diferencial de olhar para ela com a proximidade da morte de um dos personagens. Quando o filme começa, nas gélidas paisagens do Canadá, nós conhecemos Tomás (Javier Cámara) que está prestes a visitar seu melhor amigo, Julián (Ricardo Darín) na Espanha. Percebemos que os dois não se veem há muito tempo e aos poucos conhecemos o verdadeiro motivo da visita. Julián está com câncer e decidiu não continuar com o tratamento para combatê-lo (argumentando que não quer viver seus últimos meses sofrendo com a agressividade da quimioterapia). Desde o início ele deixa claro que Tomás não deverá perder tempo em convencê-lo a retomar os procedimentos, assim, os dois amigos irão conviver juntos por alguns dias desfrutando apenas da companhia um do outro. Entre uma conversa e outra, Julián tenta arranjar um bom lar para cuidar de seu cachorro (chamado Truman), afinal, a despedida é inevitável.  O roteiro tempera os diálogos entre os amigos com sinceridades e um humor discreto, especialmente quando explora as relações de Julián com quem cruza o seu caminho (sejam amigos ou familiares). Gradativamente conhecemos a história do personagem, que compõe um painel sobre as memórias que as pessoas terão dele, assim como a forma como cada uma delas lida com a morte iminente. O que poderia ser um programa mórbido, torna-se bastante espirituoso, sem amargura, culpas ou ressentimentos, explorando com leveza a amizade de dois amigos que se afastaram com o tempo, mas que ainda mantêm uma forte conexão. O filme tem momentos realmente emocionantes, graças a Ricardo Darín, que tem mais uma atuação marcante, mas é Javier Cámara que merece destaque por sua atuação repleta de olhares e cumplicidade, muito distante dos tipos que encarna nos filmes de Pedro Almodóvar. Vale acompanhar a jornada dos dois amigos dentro da abordagem sutil do filme, já que Cesc Gay consegue universalizar uma história simples, deixando-a mais cheia de significados do que você pode imaginar.

Truman (Espanha-Argentina/2015) de Cesc Gay com Ricardo Darín, Javier Cámara, Dolores Fonzi e Oriol Pla. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário