Ben e sua prole: abaixo ao sistema.
Ganhador da mostra Un Certain Regard em Cannes2016 e exibido no Festival do Rio, o filme Capitão Fantástico já instiga desde o início, já que o público que sentir-se atraído pelo pôster de personagens coloridos (que remete às obras de Wes Anderson) irá estranhar quando os personagens aparecerem cobertos de lama caçando numa floresta. A nova empreitada do ator Matt Ross (ator da série Silicon Valley e diretor do bom 28 Quartos de Hotel/2012) atrás das câmeras pode ser vista como um drama familiar cheio de humor, ou melhor, provocações. O personagem do título é Ben (Viggo Mortensen), um homem meio hippie que decidiu mudar-se com a família para o meio de uma floresta. Lá ele educa os filhos com treinos de sobrevivência (que inclui atividades de caça e escalada) e leituras variadas, que vão de livros literários, passando por filosofia e até medicina. Ele acredita que essa educação peculiar dos filhos, acoplado ao isolamento da sociedade os fará pessoas melhores. Mas, afinal de contas, onde está a mãe dos meninos? Se no início acreditamos que se trata de um viúvo traumatizado pela perda da esposa, a coisa não é bem assim. Ao revelar onde está a mãe dos seis filhos de Ben os personagens partem para uma jornada inesperada que colocará em teste a educação ministrada pelo pai. Quando se torna um road movie, o filme utiliza o uso do contraste nos encontros pelo caminho, seja com o casal de amigos (vivido com gosto pelos bons Steve Zahn e Kathryn Hahn) que questiona a opção de vida que Ben impôs aos filhos, um interesse amoroso que o filho mais velho encontra pelo caminho (e que rende uma declaração de amor tão intensa quanto hilariante) e, finalmente, o reencontro com os pais da esposa de Ben (os veteranos Frank Langella e Ann Dowd). Curiosamente, são nesses momentos que o filme perde a chance de tornar-se mais intenso, já que poderia explorar a infinidade de conflitos que essa fricção poderia gerar, especialmente pelas fragilidades que vem à tona - até porque, por melhor que seja as intenções, em momento algum os filhos optaram por aquele estilo de vida, pelo menos até ali. O problema é que todos os motivos para as escolhas de Ben estão bem expostas e articuladas, mas os seus opositores não recebem o mesmo destaque, rendendo um desequilíbrio onde o filme poderia tornar-se ainda mais rico ao expor o embate entre as lógicas antagônicas que se apresentam. Como essa dicotomia nunca se aprofunda (e chega a irritar quando todos os conflitos acontecem sem cenas seguidas que terminam soltas) o final resulta um tanto frouxo. Se Ross ainda precisa amadurecer sua escrita, não existe nada que comprometa a simpatia que o filme exala, graças também às boas atuações de todo elenco. Entre os pimpolhos de Ben, todos batizados com nomes inventados pelos pais (Kielyr, Verspyr, Rellian, Zaja e Nai), vale a pena ficar de olho no primogênito Bo, ou melhor, George MacKay, que começou a atuar aos nove anos de idade e mostra-se um ator cada vez mais maduro. Capitão Fantástico está longe do estilo que seu pôster evoca, mas compartilha com Wes Anderson a atração por uma figura paterna forte - e a atuação de Viggo Mortensen expõe as convicções de seu personagem com tanta energia que é impossível não compreender suas motivações.
Capitão Fantástico (Captain Fantastic/EUA-2016) de Matt Ross com Viggo Mortensen, George MacKay, Steve Zahn, Kathryn Hahn, Frank Langella, Ann Dowd e Nicholas Hamilton. ☻☻☻☻
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